quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Hannah Arendt e sua biógrafa

Hannah e sua biógrafa


A francesa Laure Adler faz excelente análise da vida da autora de "Eichmann em Jerusalém", que também é objeto de 2 estudos no Brasil

Hannah e sua biógrafa
NEWTON BIGNOTTOESPECIAL PARA A FOLHA
A safra atual de publicações sobre Hannah Arendt no Brasil mostra como suas obras passaram a ocupar um lugar de destaque no interior das ciências sociais e da filosofia nacionais. Até o início dos anos 1980, ela era praticamente desconhecida entre nós.
Além dos trabalhos pioneiros de Celso Lafer e dos seminários e escritos de Eduardo Jardim, as referências à pensadora eram escassas e pouco informadas.
Esse quadro, aliás, se repetia na França e em outros países, que até então não haviam dado o devido valor ao conjunto de suas obras.
O livro de Adriano Correia é uma amostra de como a filosofia de Arendt se converteu em objeto de interesse para além das fronteiras dos especialistas.
Correia é autor de uma tese de doutorado sobre a filósofa e se dedicou, em seu pequeno livro, a apresentar a trajetória intelectual da pensadora judia desde sua tese sobre santo Agostinho até seu último livro.
A estratégia adotada pelo autor tem o mérito de guiar o leitor ao longo de uma vida marcada por seu tempo e em permanente diálogo com seus problemas e transformações.
Como se trata, no entanto, de uma obra de introdução, algumas vezes as exposições são por demais sumárias, o que não nos permite apreender toda a complexidade da "démarche" de Arendt. Essa limitação, imposta pela natureza da coleção na qual o livro foi publicado, é compensada pela clareza do texto e pelo domínio conceitual do autor.
O trabalho de Eugênia Sales Wagner é uma demonstração do vigor da produção brasileira atual sobre o pensamento arendtiano. Originariamente uma tese de doutorado, o livro é tecido em torno das idéias do amor e da liberdade, o que o leitor não descobre de imediato dado o título por demais genérico escolhido. Mas o livro não se resume a uma exposição burocrática dos conceitos, longe disso.
Escrito de forma clara e agradável, ele se propõe demonstrar uma tese ousada, que só se revela em toda sua extensão no último capítulo.
Em primeiro lugar, a autora toma o conceito de amor, presente na tese de doutorado de Arendt, como fio condutor de sua exposição. No lugar da tipologia de origem agostiniana, a autora fala de amor da sabedoria, do próximo, da liberdade, da vontade e do mundo.
Esse movimento vai levá-la a concluir que, mesmo não sendo visível em todas as etapas do percurso da autora, o amor deve ser compreendido como o fio da trama conceitual da obra arendtiana. Sua essência só se revela inteiramente quando é reconhecido como a finalidade última da ação humana e se transforma em amor ao mundo.
Eugênia Wagner corre riscos ao tentar, na parte final do livro, deduzir o que seria a filosofia de Arendt sobre a faculdade de julgar a partir apenas de fragmentos. Embora esse passo não destrua a coerência da argumentação, é sempre complicado dizer, no lugar do autor, como teria terminado sua obra.

Tarefa delicadaDe natureza muito diversa é o livro de Laure Adler. Diretora por alguns anos da prestigiosa Radio France Culture, ela é autora de uma biografia da escritora Marguerite Duras ["Marguerite Duras", inédito no Brasil].
Dessa vez enfrentou uma tarefa delicada ao propor uma nova biografia de Arendt, pois tinha diante de si o trabalho de Elisabeth Young-Bruehl, referência entre os especialistas.
Adler, que se serviu bastante dos trabalhos da antecessora, acrescentou um bom número de testemunhos e fontes, até aqui inéditos, o que por si só já seria um trabalho meritório.
Mas ela foi capaz de ir mais longe ao propor uma leitura da vida e da obra de Arendt na qual se misturam paixão e identificação com a filósofa, com a busca de uma posição equilibrada e lúcida, que leva a biógrafa a apontar os traços arrogantes da personalidade da filósofa e suas contradições ao mesmo tempo em que esclarece as condições difíceis que presidiram o nascimento de sua obra.

Caso de amorEmbora o objetivo não seja apresentar ou resumir os trabalhos mais importantes de Arendt, a análise dos principais argumentos e do contexto no qual nasceram certamente ajudam em sua compreensão.
Esse impulso de compreender a vida da filósofa a partir da mistura entre acontecimentos históricos e fatos pessoais se mostra inteiro quando Adler examina a relação de Arendt com Heidegger, a quem dedica muito espaço no livro.
Sem se deixar levar por conjecturas, a biógrafa tenta mergulhar nos meandros de um caso de amor que reuniu dois dos maiores pensadores do século 20, separados, no cenário político, por posições inconciliáveis.
O enigma desse encontro é vasculhado à luz de uma documentação que, ao mostrar de forma inconteste o pertencimento de Heidegger ao Partido Nazista até 1945 e a incapacidade de refletir sobre as conseqüências de seu engajamento pós-1945, só aguça a curiosidade sobre a trajetória de dois seres cuja relação ultrapassou fronteiras quase intransponíveis.
Mas Adler não cede à tentação do sensacionalismo nem da facilidade. Não enuncia teses sem comprovação ao mesmo tempo em que não deixa de manifestar sua antipatia pelo filósofo alemão e sua perplexidade diante do comportamento de Arendt em algumas ocasiões.
Não se trata de julgar o comportamento dos personagens do livro, mas a biógrafa também não se esconde por trás de uma máscara de neutralidade. Mesclando ironia, compaixão e admiração, Adler produz um mosaico cativante de uma vida que se misturou inteiramente com seu tempo.
O resultado é não apenas uma biografia rica e nuançada de Arendt mas um passeio vivo e bem informado pelo cenário intelectual do século 20.

Nos Passos de Hannah ArendtAutora: Laure Adler
Tradução: Tatiana Salem Levy e Marcelo Jacques
Editora: Record
(tel. 0/xx/21/2585-2000)
Quanto: R$ 75 (644 págs.)

Hannah Arendt - Ética PolíticaAutora: Eugênia Sales Wagner
Editora: Ateliê
(tel. 0/xx/11/ 4612-9666)
Quanto: R$ 42 (320 págs.)

Hannah ArendtAutor: Adriano Correia
Editora: Jorge Zahar
(tel. 0/xx/21/2240-0226)
Quanto: R$ 19,90 (84 págs.)

NEWTON BIGNOTTO leciona filosofia política na Universidade Federal de Minas Gerais.

Vídeo: Cely Campelo


domingo, 6 de outubro de 2019

Faltou ele no Rock in Rio


O tempo (Mário Quintana)

*(Mário Quintana )*

O tempo não pode ser segurado; a vida é uma tarefa a ser feita e que levamos para casa.
Quando vemos já são 18 horas.
Quando vemos já é sexta feira.
Quando vemos já terminou o mês.
Quando vemos já terminou o ano.
Quando vemos já se passaram 50 ou 60 anos.
Quando vemos, nos damos conta de ter perdido um amigo.
Quando vemos, o amor de nossa vida parte e nos damos conta de que é tarde para voltar atrás...

Não pare de fazer alguma coisa que te dá prazer por falta de tempo, não pare de ter alguém ao seu lado ou de ter prazer na solidão.
Porque os teus filhos subitamente não serão mais teus e deverá fazer alguma coisa com o tempo que sobrar.

Tenta eliminar o “depois”...
Depois te ligo...
Depois eu faço...
Depois eu falo...
Depois eu mudo...
Penso nisso depois...

Deixamos tudo para depois, como se o depois fosse melhor, porque não entendemos que:
Depois, o café esfria...
Depois, a prioridade muda...
Depois, o encanto se perde...
Depois, o cedo se transforma em tarde...
Depois, a melancolia passa...
Depois, as coisas mudam...
Depois, os filhos crescem...
Depois, a gente envelhece...
Depois, as promessas são esquecidas...
Depois, o dia vira noite...
Depois, a vida acaba...

Não deixe nada para depois porque na espera do depois se pode perder os melhores momentos, as melhores experiências, os melhores amigos , os melhores amores ...

Lembre-se que o depois pode ser tarde.
O dia é hoje, não estamos mais na idade em que é permitido postergar.
Talvez tenha tempo para ler e depois compartilhar esta mensagem ou talvez deixar para...”depois”

Sempre unidos:
Sempre juntos...
Sempre fraternos...
Sempre amigos...