domingo, 29 de julho de 2018

15 ilustrações brutalmente honestas

Adaptado de Rincón Psicología

Existem realidades que doem. E é por isso que preferimos olhar para o outro lado. Fingir que eles não existem, com a secreta esperança de que elas desapareçam enquanto preenchemos nossa mente com outras coisas, menos importantes, mas também menos desconfortáveis.

No entanto, quando “não pensar” se torna a palavra de ordem, temos um problema. Tanto pessoal como social. Sócrates havia dito séculos atrás: “Só existe um bem: o conhecimento. Existe apenas um mal: a ignorância “.

Pawel Kuczynski, um ilustrador de origem polonesa que ganhou 92 prêmios nacionais e internacionais por seu trabalho, é uma daquelas pessoas que não olham para o outro lado. Suas ilustrações não deixam indiferentes aqueles que têm um mínimo de sensibilidade e um olho afiado o suficiente para capturar o que acontece na sociedade.

Seus traços são extremamente reveladores, eles trazem os mesmos demônios internos dos quais não queremos tomar nota de que as relações líquidas que não contribuem para nada, a dependência da tecnologia e as formas sutis, mas terríveis de manipulação social a que estamos sujeitos, às vezes sem perceber, às vezes com um consentimento sutil.

Talvez o que mais nos impressiona em seu trabalho seja que suas imagens são tão reais quanto a própria vida, são aquelas outras faces que normalmente não vemos ou que não queremos ver. De fato, o próprio artista disse: “Eu me considero um observador de tudo que acontece ao meu redor”.


1. Pense sozinho. Pesquise, investigue, leia … Se você não o fizer, alguém o fará em seu lugar, ensinando o que pensar, dizer e até mesmo sentir. Lembre-se de que educar não é encher a mente, mas libertá-la de seus vínculos e que, muitas vezes, o aprendizado mais duradouro e profundo são aqueles que fazemos sozinhos.



2. Mais e mais conectados, mas também mais sozinhos. As redes sociais “satisfazem” nossa imperiosa necessidade de escapar da solidão, mas, contraditoriamente, fazem de nós uma ilha trancada em nós mesmos. Enquanto elas nos encorajam a nos conectar, elas tiram nossas habilidades sociais. Enquanto espantam o fantasma da marginalização, isolam-nos dos que nos rodeiam.


3. “A televisão pode nos dar muitas coisas, exceto o tempo para pensar”, disse Bernice Buresh e Fellini, dando mais um passo afirmando que “a televisão é o espelho que reflete a derrota de todo o nosso sistema cultural”.


4. Existem relacionamentos tóxicos que nos prejudicam muito, mas mesmo assim, continuamos a mantê-los. Talvez por hábito, por medo de não encontrar mais ninguém, por simples dependência …



5. “Quem detém o celular como símbolo de poder está declarando ao mundo inteiro sua condição desesperada como subordinado”, disse Zygmunt Bauman. Temos certeza de que usamos o celular ou a tecnologia que nos usa? Às vezes a linha é tão sutil que desaparece.


6. Há um novo Deus e uma nova verdade, que é compartilhada na Internet e impõe tecnologia, em torno da qual acabou transformando nossas vidas. Essa nova realidade alternativa acaba suplantando as relações no mundo real, servindo como alimento, muitas vezes de pouco valor, para satisfazer nossa fome de conhecimento e intimidade.


7. Ser a ovelha negra não é ruim, apenas implica pensar ou agir de forma diferente. De fato, Marc Twain nos alertou: “Toda vez que você se encontra do lado da maioria, é hora de parar e refletir.” E Albert Einstein disse: “A pessoa que acompanha a multidão normalmente não vai além da multidão, a pessoa que anda sozinha provavelmente chegará a lugares onde ninguém esteve antes.” Você decide.


8. A falsa sensação de liberdade alimentada pela sociedade que o escritor Étienne de La Boétie já havia nos alertado no século XVI, explicando que o princípio supremo dos novos tempos era que as pessoas tinham a “liberdade” de fazer o que eles devem. Pouco mudou nos últimos séculos.


9. “A Internet é projetada para nos dar mais do mesmo, qualquer que seja o mesmo, não importa o que é mais importante, e também para ficar preso ao que é diferente, tudo o que é diferente”, disse Bauman. Em uma época em que todos olham para baixo, quem olha além de tentar ver o horizonte pode se tornar um problema a ser erradicado.


10. A sensação de falsa segurança alimentada pela sociedade que Bauman já havia nos alertado quando disse: “A incerteza, a principal causa da insegurança, é o instrumento mais decisivo de poder”. Eles nos vendem segurança como um remédio, enquanto nos roubam nosso verdadeiro valor, deixando-nos a enfrentar riscos sem estarmos preparados.


11. Relações líquidas, um amor que conectamos e desconectamos com extrema velocidade e com a mesma facilidade com que trocamos camisas. É sobre esse amor líquido que procuramos não sentir a solidão e a insegurança, mas em que não estamos dispostos a investir mais do que o mínimo esforço e o menor sacrifício possível.


12. O cerco de tecnologia, chamadas, mensagens recebidas, notificações e e-mails se tornam perigos que nos assediam, colocando nossa atenção sob controle, impedindo-nos de relaxar.


13. Carlos Catañeda disse: “Enquanto você se sente a coisa mais importante do mundo, você não pode verdadeiramente apreciar o mundo ao seu redor, você é como um cavalo com vendas: você só se vê, alheio a todo o resto”. Internet, e especialmente redes sociais, geram esse efeito aterrorizante, impedindo-nos de apreciar as coisas e as pessoas ao nosso redor.


14. O confessionário das redes sociais, onde a ruptura entre o privado e o público é clara. Para dizer de Bauman: “o espaço público é onde ocorre a confissão de segredos e intimidades particulares”. A linha divisória entre os dois mundos foi obscurecida, esvaziando o sentido público de significado e subtraindo o poder de unir as pessoas ao privado.


      15. “A vocação do político de carreira é tornar cada solução um problema”, disse Woody Allen, mas não podemos esperar mais nada em uma sociedade que confia seu governo nas mãos de pessoas que se prepararam em uma cadeia para não ter voz ou ideias próprias.


https://www.pensarcontemporaneo.com/3201-2/

@filosofia @tecnologia

sexta-feira, 20 de julho de 2018

O país do futebol (Cacá Diegues)


Cacá Diegues

O país do futebol

Talvez eu esteja enganado, e vocês se assustem com o que vou dizer, mas acho que esta Copa do Mundo que se encerra hoje, na Rússia, foi muito importante para os brasileiros. Uma importância positiva para o nosso futuro.

Não quero que o Brasil deixe de ser o país que ama o futebol, não ligo para os hipócritas e mal-humorados que se incomodam com isso. O futebol é uma arte inigualável, uma proposta de movimento humano que se aproxima muito de tanta coisa que ficou combinado que deve merecer elogios. Como a dança, por exemplo. O futebol não é uma brincadeira sem princípios ou destino, mas a execução de um sistema de efeitos e resultados múltiplos que se parecem muito com o esforço que o ser humano faz para sobreviver desde sempre.

Sempre gostei da versão de que o drible fora uma invenção de nossos filhos de escravos que, no final do século XIX, completavam a escalação dos times formados pelos filhos da elite inglesa no país. Como eles não podiam reclamar das faltas do adversário poderoso, os negros desses times inventaram o drible para escapar da violência dos filhos de senhores.

Como na vida humana, o futebol não se resolve apenas com o exercício de um desejo, da criação de estratégias e de táticas que inventamos para sermos bem-sucedidos. Ele depende também do acaso, da possibilidade da jogada não se resolver do modo que planejamos. Podemos não fazer o gol que imaginamos, assim como podemos sofrer o gol que fizemos tudo para evitar. No futebol, a vontade dos atletas nem sempre é obedecida pela sorte em campo.

Só para dar alguns exemplos, a Holanda dos anos 1970, que reinventou o futebol, inventando um outro modo de jogá-lo, de um outro jeito muito mais belo e eficiente do que o até ali praticado, nunca foi campeã do mundo e teve poucos resultados da mesma envergadura em outros torneios internacionais. E o Brasil de 1950 ou de 1982 era muito melhor do que o Brasil campeão de 1994.

Não se trata apenas da “sorte” vulgar que se pode ter num jogo, dessa proteção metafísica que atribuímos muitas vezes a deuses, santos e forças semelhantes. Trata-se de uma característica imprevisível, alguma coisa que se parece muito com a própria imprevisibilidade de nossa vida, um acaso que pode nos negar o sucesso quando mais o merecemos. Ou, ao contrário, nos premia quando menos merecemos o prêmio. Não tem exercício físico, treinador competente, sábia estratégia ou craque absoluto que impeça esse acaso e sua cruel vitória em campo. Por isso que o futebol é tão belo e nos incomoda tanto. Porque não basta saber jogar.

Sempre fomos o melhor do mundo no futebol, sempre que fomos também o país do futuro. Não ganhar todas as Copas sempre foi uma maneira de a história tratar nosso país de um modo injusto e errado; assim como sempre foi injusto e errado que aquele futuro não chegasse nunca. Vivemos nosso presente nos braços de um futuro que não chegava nunca, alimentados e protegidos pela ilusão de sua certeza. Ou seja, para nós não fazia mal que estivesse tudo uma merda, gozaríamos um dia nosso formidável futuro. Essa crença absoluta no futuro nunca era baseada em dados reais, objetivos e científicos, estatísticas irrecusáveis; mas em suposições, mitos e fé absoluta.

Recentemente, tomei um susto quando me referi ao acaso que levou os mergulhadores ingleses a descobrir os Javalis Selvagens presos na caverna da Tailândia, e ouvi de volta a explicação de um brasileiro nem tão religioso assim. Ele me disse que eu estava enganado, que as crianças tailandesas eram 12 como os discípulos de Cristo e mais um treinador, o Mestre como o próprio Jesus. Em suma, a caverna da Tailândia era um recado que o Senhor estava querendo nos enviar sobre o fim do mundo. Talvez a reprodução da última ceia, digo eu, antes que todos acabassem num hospital perto de Tham Luang.

Esta Copa de 2018 nos encontrou num momento difícil da vida nacional. Ninguém tem mais a ilusão de que tudo isso acaba já, que o fim da crise está no horizonte e o país vai se reerguer em curto prazo, a se rir do susto que passou. Para a população, estamos vivendo um fim de caminho que ninguém sabe aonde vai dar. Não é apenas o desemprego, a inflação e os preços subindo que nos incomodam, como no passado; mas a própria natureza da nação, o desmantelamento de sua estrutura politica, econômica e moral, que vai nos obrigar a mudar de costumes, a mudar nosso jeito de ser, antes que as ruínas caiam sobre nossas cabeças.

Nosso pensamento sobre o que aconteceu na Rússia está atrelado a esse sentimento geral. Nossa seleção é apenas um time de futebol, o esporte que amamos tanto e vamos continuar a amar. Nossos rapazes jogaram o que sabiam jogar, e nem por isso nos envergonharam. Nosso orgulho ainda não nos deixa desejar trocar Coutinho, Casemiro ou Neymar por Modric ou Mbappé. Mas não somos e não queremos mais ser o país do futebol, muito menos o país do futuro. Somos o que somos e podemos ser, construindo com os pés no chão aquilo que precisamos. Com ou sem sucesso no futebol.”

@futebol @Copa do Mundo

quinta-feira, 19 de julho de 2018

O humor indestrutível dos brasileiros (Philipp Lichterbeck , DW)


Ao contrário dos alemães, que complicam a vida e mergulham na angústia, brasileiros encontram no humor uma maneira de suportar realidades muitas vezes insuportáveis
Escrevi nesta coluna alguns textos muito críticos sobre a situação do Brasil. A maioria dos leitores concordava com a condenação. Mesmo assim, também sentia o desconforto com o fato de um julgamento tão severo sobre o país vir logo de um estrangeiro. E, com cada vez mais frequência, ouço a pergunta: não tem nada que você goste no Brasil, por que você vive aqui?
Por isso, hoje quero falar sobre uma das características mais adoráveis dos brasileiros: o humor indestrutível. Além da incrível musicalidade, ele é o que eu mais admiro. Tenho a impressão de que os brasileiros – se é que posso generalizar assim – têm uma grande facilidade de rir. De certa maneira, eles são a imagem antagônica ao clichê do alemão sério.
Foi justamente durante o jogo do Brasil contra a Bélgica na Copa do Mundo que tive a ideia de escrever sobre isso. Ao meu lado, estavam sentadas duas senhoras que deviam ter uns 65 anos. Elas comentavam a partida de forma vivaz e, a cada ataque dos belgas, pediam aos risos que os "gigantes vermelhos" fossem derrubados. Quando o jogo acabou e o Brasil foi eliminado, uma das duas falou: "Agora vamos buscar o hexa no Catar. Nosso time vai amadurecer e ficar ainda melhor". A outra respondeu: "Igual à gente". As duas deram risada.
Testemunhei o mesmo tipo de descontração na rua. Não se ouviam xingamentos agressivos como na Alemanha, depois da eliminação. Em vez disso, as pessoas estavam preocupadas em mostrar os primeiros memes que iam aparecendo nas mensagens de celular, a exemplo da bandeira alemã redesenhada como bandeira belga: "A inimiga não foi embora. Ela está disfarçada".
A velocidade com que se inventam piadas no Brasil sempre volta a me deixar pasmado. É algo que já tinha chamado minha atenção durante o 7 a 1. No intervalo, as pessoas já diziam que nem a Volkswagen conseguia fazer cinco gols em 45 minutos.

Se o Brasil passa por uma crise – e, nos últimos anos, elas foram abundantes – pode-se ter certeza de que alguém vai começar a tirar um sarro da situação. E o humor, que frequentemente consiste no exagero e no cruzamento de coisas que não têm nada a ver umas com as outras, é o que mais se aproxima da descrição de uma realidade que costuma ser absurda. Ele torna o insuportável mais suportável.
Foi assim durante os protestos de 2013 ("Odeio bala de borracha, joga um Halls"). E voltou a acontecer no último fim de semana, durante o cabo de guerra jurídico envolvendo a soltura de Lula ("Justiça brasileira recorre ao árbitro de vídeo para julgar o caso Lula"). Especialmente em momentos de crise e de dor, as fábricas de memes brasileiras trabalham a todo vapor. O humor nasce da necessidade.
O colunista da DW Philipp Lichterbeck, que vive no Rio de Janeiro
Philipp Lichterbeck
Essa criatividade espontânea também existe no âmbito pessoal. Recentemente, por exemplo, ouvi um homem conversando ao telefone na rua. Ele estava brigando com a outra pessoa, até que falou: "Você plantou pimenta. Não vai colher morango, não."
Do mesmo jeito o Neymar que caía demais nos jogos da Seleção já virou verbo na fala popular. Num bar eu ouvi um homem falar: "Vou beber até Neymar". E o nome do ministro Gilmar Mendes, na linguagem popular, agora é sinónimo de "soltar". Ele virou o "Soltador-Geral da República".
Como alemão, é claro que admiro o jeito criativo com que os brasileiros lidam com situações difíceis. É que, enquanto as pessoas na Alemanha tendem a problematizar muitas coisas e mergulhar na angústia, os brasileiros, muitas vezes, riem da própria condição. Eles conseguem – bem diferente dos alemães – rir de si mesmos e da situação do país.
Naturalmente, isso tem relação com o fato de que não parece ter alternativa. Como viver num país no qual os ricos são os ladrões, e os pobres, os roubados? Como brasileiro, é preciso olhar para frente com esperança porque o presente não costuma ser motivo de alegria. Da tragédia de viver num país que sempre fica abaixo das próprias expectativas nasce a comédia. O riso como libertação.
Com frequência, a origem do riso brasileiro é datada nos tempos da escravidão. Os escravos eram obrigados a se apresentarem bem-humorados na Casa Grande. Depois, rir sobre a tristeza continuou no samba. Já é possível encontrar essa atitude em Pelo Telefone, o primeiro samba, que já tem 102 anos. O peru me disse/Se o morcego visse/Não fazer tolice/Que eu então saísse/Dessa esquisitice/De disse-não-disse.
E, também na literatura, há exemplos suficientes. Estou lendo o maravilhoso épico Viva o Povo Brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro. Além da fantasia sem fronteiras do autor, admiro seu tom subjacente levemente irônico. Paradoxalmente, o livro trata do violento surgimento do Brasil.
Porém, mesmo com todos os elogios à leveza brasileira, é preciso dizer que nem todo humorista autodenominado é engraçado. Quem faz gozação sobre os mais fracos, ou brinca com o ressentimento em relação a minorias, não tem humor no coração, mas ódio. Figuras como Danilo Gentile não entenderam a natureza do humor, que, desde seu surgimento, sempre serviu para que aqueles que não tinham poder rissem dos poderosos.
E, portanto, não é à toa que o presidente brasileiro seja um objeto tão apreciado de zombaria e escárnio. Parece ser um esporte nacional fazer piada dele. "Michel: Marcela, onde vamos jantar? – Marcela: Fora, Temer!"

Com seu humor espontâneo, os brasileiros são para a América Latina o que os ingleses são para a Europa com seu humor negro. Eles me lembram um pouco o Cristo no filme A vida de Brian, da trupe satírica Monty Python. Crucificado, ele canta: "Sempre enxergue o lado bom da vida."
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Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, ele colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para os jornais Tagesspiegel (Berlim), Wochenzeitung (Zurique) e Wiener Zeitung. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio.
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segunda-feira, 16 de julho de 2018

Alta tecnologia, grandes problemas. Por Kenneth Rogoff (O Globo, 9/7/18)


Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI, é professor de Economia e Política Pública na Universidade de Harvard


É preciso encontrar formas de regular as Big Tech para oxigenar o setor e permitir o surgimento de concorrência e inovações

As gigantes da tecnologia - Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft - terão se tornado grandes, ricas e poderosas demais para que autoridades reguladores e políticos possam controlá-las? A comunidade internacional de investidores parece crer que sim, pelo menos se considerarmos como indicadores a supervalorização das ações tecnológicas. Mas, embora isso possa soar como uma boa notícia para os oligarcas da tecnologia, se é bom para a economia ainda não está claro.

Para sermos justos, o setor de tecnologia tem sido o orgulho econômico dos Estados Unidos nas últimas décadas, uma fonte aparentemente interminável de inovação. A velocidade e o poder do mecanismo de buscas do Google é de tirar o fôlego, colocando sob nossos dedos um conhecimento extraordinário. A telefonia via internet permite que amigos, parentes e colegas de trabalho interajam face a face desde o outro lado do mundo, por um custo extremamente modesto.

E, no entanto, apesar de toda essa inovação, o ritmo do crescimento da produtividade na economia real permanece fraco. Muitos economistas descrevem a situação atual como o 'segundo movimento de Solow', referindo-se à frase do legendário economista do MIT Robert Solow: 'Pode-se ver a era da computação em tudo, menos nas estatísticas de produtividade'.

Há muitas razões para o lento crescimento da produtividade, inclusive uma década de baixos investimentos a partir da crise financeira global de 2008. Mesmo assim, é razão de preocupação que as cinco grandes firmas de tecnologia tenham se tornado tão dominantes, tão lucrativas e tão abrangentes, que se tornou difícil às startups desafiá-las, asfixiando assim a inovação. Claro, os ex-novatos Facebook e Google esmagaram Myspace e Yahoo!. Mas isso foi antes de a valorização das ações das tecnológicas terem disparado para a estratosfera, dando a esses atores uma grande vantagem de financiamento.

Graças a seus bolsos repletos, as chamadas Big Tech podem devorar ou reprimir qualquer nova empresa que ameace suas principais linhas de lucro, independentemente do quão indiretamente isso ocorra. Um jovem e intrépido empreendedor, é claro, ainda pode rejeitar uma tentativa de aquisição, mas isso é mais fácil dizer do que fazer. São poucos aqueles corajosos o suficiente (ou tolos o suficiente) para rejeitar bilhões de dólares hoje em dia na esperança de obterem um lucro maior mais tarde. E ainda há o risco de que as gigantes da tecnologia usem seus amplos exércitos de programadores para desenvolver um produto praticamente idêntico e seus aparatos legais para defendê-lo.

As grandes empresas de tecnologia podem argumentar que todo o capital que colocam em novos produtos e serviços está impulsionando a inovação. Pode-se suspeitar, no entanto, que em vários aspectos o objetivo é conter pela raiz um concorrente potencial. É notável que as Big Tech ainda obtenham o grosso de seu lucro dos produtos básicos que produzem - por exemplo, o iPhone da Apple, o Microsoft Office e o mecanismo de buscas do Google. Assim, na prática, novas tecnologias potencialmente ameaçadoras podem ser tanto alimentadas quanto enterradas.

É verdade, há casos de sucesso. A firma britânica de inteligência artificial DeepMind, comprada pela Google por US$ 400 milhões em 2014, parece estar avançando. DeepMind é famosa por desenvolver o primeiro programa de linguagem Go de sucesso, um momento decisivo, que levou as Forças Armadas chinesas a buscar um esforço total para liderar no campo da inteligência artificial. Mas, de todo modo, o DeepMind parece ser uma exceção.

O problema para os reguladores é que as estruturas convencionais antimonopólio não se aplicam num mundo onde o custo para os clientes (em boa parte na forma de dados e privacidade) não é de modo algum transparente. Porém, isso é uma frágil desculpa para não confrontar movimentações claramente anticompetitivas, como quando o Facebook adquiriu o Instagram (com sua vertiginosa e crescente rede social) ou quando a Google comprou seu rival na área de mapas, o Waze.

Talvez, a mais urgente intervenção necessária seja enfraquecer o domínio das Big Tech sobre nossos dados pessoais, um domínio que permite a Google e Facebook desenvolverem ferramentas de publicidade direcionada que estão tomando conta do negócio de marketing. Os reguladores europeus estão mostrando um caminho possível adiante, apesar de as autoridades americanas continuarem sentadas sobre o assunto. A nova Regulação de Proteção de Dados Gerais da União Europeia exige que as empresas permitam aos consumidores - ainda que apenas no bloco europeu - carregar seus dados.

Os economistas Glen Weyl e Eric Posner, em seu recente livro 'Radical Markets' ('Mercados radicais'), vão mais longe e argumentam que as Big Tech deveriam ter que pagar por nossos dados, em vez de reivindicá-los para seu próprio uso. Enquanto a prática disso continua em discussão, é evidente que os consumidores individuais deveriam ter o direito de saber quais dados pessoais estão sendo coletados e como estão sendo usados.

É claro, o Congresso e reguladores americanos precisam controlar as Big Tech em muitas outras áreas cruciais. Por exemplo, o Congresso atualmente dá às firmas de internet um verdadeiro passe livre na divulgação de fake news. A não ser que as plataformas das Big Tech sejam obrigadas a seguir os padrões que se aplicam a impressos, rádio e televisão, reportagens profundas e a verificação de dados continuarão uma arte fadada a morrer. Isto é ruim para a democracia e para a economia.

Reguladores e políticos no país das Big Tech precisam acordar. A prosperidade dos EUA sempre dependeu de sua capacidade de alavancar o crescimento econômico a partir da inovação puxada pela tecnologia. Mas, atualmente, as Big Tech são tanto parte do problema como parte da solução.

@economia @tecnologia

sábado, 14 de julho de 2018

Vídeo: So very hard to go (Tower of Power)


Tower of Power - 1973

"So Very Hard To Go"

Ain't nothin' I can say, nothin' I can do
I feel so bad, yeah, I feel so blue
I got to make it right for everyone concerned Even if it's me, if it means it's me what's gettin' burned
'Cause I could never make you unhappy
No, I couldn't do that girl
Only wish I didn't have to love you do
Makes it so, so very hard to go (So very hard to go)
'Cause I love you so (So very hard to go),
Ah, I love you so
I knew the time would come I'd have to pay for my mistakes
I can't blame you for what you're doin' to me girl
Even tho' my heart aches
Your dreams have all come true
Just the way you planned them
So I'll just step aside
I'm gonna step aside and lend a helping hand then
'Cause I could never make you unhappy
No I couldn't do that girl
Only wish I didn't love you so
Makes it so, so very hard to go (So very hard to go) '
Cause I love you so (So very hard to go)
Oh, I love you so (So very hard to go)
And it ain't easy to walk away
When a man love some body

@pop

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Brasileiro, o perfeito idiota


O BRASILEIRO PERFEITO IDIOTA
David Coimbra*
Zero Hora 06/07/2018

 O brasileiro sabe ser idiota. É uma especialidade nossa.

Nesta quinta-feira (5), fomos jantar em um restaurante no centro de Kazan e oito brasileiros se instalaram em uma mesa ao lado da nossa. Eram, todos, rapazes entre 20 e 35 anos de idade, fortinhos, de bermudas, alguns com tatuagens desenhadas nos braços ou nas panturrilhas, muitos com a camisa da Seleção, um com a camisa do Palmeiras. Instalaram-se, pediram comida e refrigerantes e então um deles sacou de uma bolsa uma caixa de som parecida com um rocambole. Colocou aquilo sobre a mesa. E ligou a música em alto volume. Bem alto. A melodia de alguma composição sertaneja encheu o ambiente como uma nuvem de gafanhotos.

Os brasileiros começaram a cantar. Por Deus, cantavam. Os clientes das outras mesas olhavam, perplexos. Havia mais brasileiros ali adiante. Esses estavam gostando da coisa. Mas os estrangeiros, perceptivelmente, não.

O restaurante já tinha música ambiente. Alguém aumentou o volume da música do restaurante, decerto para constranger os brasileiros. Mas a maior qualidade do chato é ser inconstrangível — ele sempre acha que está agradando. Como reação, os brasileiros inconstrangíveis aumentaram ainda mais o volume da música sertaneja, e quem ficou constrangido foi o pessoal do restaurante, que desligou o som ambiente.

Agora os brasileiros sentiam-se donos do lugar. Começaram a cantar as músicas da torcida, "ôôôô, cinquenta e oito foi Pelé…". E aí… Subiram nas cadeiras! Um tirou a camisa e começou a pular. E algumas brasileiras que estavam em mesas próximas levantaram-se e cantaram e pularam também.

As garçonetes não sabiam o que fazer. Pediam que os brasileiros descessem das cadeiras, mas eles não atendiam. Seguiam cantando aos gritos: "Noventa e quatro Romariô!".

Felizmente, minha conta veio. Saí do restaurante. Ganhei a rua, aliviado. Caminhei por um belo calçadão que leva ao meu hotel e, no trajeto, encontrei mais brasileiros. Eles gritavam e cantavam e faziam batucadas. Até aí, tudo bem, mas alguns, quando viam jovens russas, simplesmente as atacavam. Sério. Essa é a palavra: atacavam. Eles cercavam as meninas e investiam sobre elas. Primeiro, as russas riam, pensando que era só uma brincadeira boba. Mas, diante da insistência, elas acabavam percebendo que os brasileiros queriam mesmo agarrá-las ou beijá-las ou sabe-se lá o quê, e os afastavam com as mãos e diziam que não. Niet! Niet! Só que eles não desistiam, ficavam em volta delas, três, quatro, cinco homens em cima de uma ou duas meninas, até que guardas russos acudiam as moças e enxotavam os brasileiros como se fossem cachorros, e eles eram de fato cachorros.

Esses rapazes, eles certamente foram educados em boas escolas. Não tem brasileiro pobre passeando na Rússia. Eles fazem parte da elite nacional. São a juventude dourada do país. Como é que podem se comportar desta maneira? Será que nunca tiveram um pai ou uma mãe para lhes dizer que ser espaçoso é ser inconveniente? Eles se acham alegres, eles se acham divertidos. Por favor! São apenas grosseiros e obscenos.

Eis o que de melhor sai das universidades brasileiras. O crème de la crème da raça. Futuros líderes, futuros governantes. O futuro do país. Nada além de rematados idiotas. Se é desta juventude que dependemos, nem mil Lava-Jatos salvam o Brasil.


@futebol @sociedade

sábado, 7 de julho de 2018

Vídeo: Novo Boeing 797




As primeiras "fotos" do novo Boeing 797 Airliner (1.000 passageiros).

Mais de 1.000 passageiros e uma equipe de 50 pessoas. Prepare-se, está quase aqui. O Boeing 797 pode facilmente voar 10.000 milhas (16.000 km) em Mach 0.88 ou 654 mph (1.046 km/h) com 1.000 passageiros a bordo! Eles mantiveram esse segredo até agora. Este lançamento foi feito no mês passado.
A BOEING está preparando este Jet Liner que poderia remodelar a indústria de viagens aéreas. Seu design radical "Blended Wing & Fuselage" foi desenvolvido pela Boeing em cooperação com a NASA Langley Research Center. A aeronave terá uma extensão de asa de 265 pés em comparação com 211 pés do Boeing 747, e foi projetado para caber dentro dos novos terminais dos aeroportos.
O novo 797 é a resposta direta da Boeing ao Airbus A380, que já acumulou 159 pedidos.


@aeronáutica

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Garrincha, um craque barroco (Cacá Diegues)



Cacá Diegues : Um craque barroco


P or motivos às vezes muito diferentes uns dos outros, Garrincha, o mais original de todos os nossos jogadores de futebol, foi sempre equivocadamente mitificado pela imprensa, pelos especialistas e pelos torcedores. Tratado como exemplo sublime de nossa inocência e generosidade como povo, alguns talentosos jornalistas esportivos e, depois, quase todos os brasileiros de seu tempo o consideraram o suprassumo da simplicidade e do desligamento do que há de mau no mundo. Uma verdadeira alma de passarinho, como os passarinhos com que, dizia-se, ele convivia nas matas de Pau Grande, onde nascera e morava, nas montanhas vizinhas ao Rio de Janeiro.

E, no entanto, extraordinário jogador de futebol, craque consumado em qualquer posição que jogasse, numa pelada ou no Maracanã, Garrincha fazia, da ponta direita em que jogava, um matadouro de adversários perplexos, incapazes de evitar, não apenas seus dribles imprevistos e nunca vistos, mas também a desmoralização que ele os fazia sofrer, sempre com um sorriso se armando nos lábios e a ginga desmoralizante de seus largos quadris e pernas tortas. Garrincha foi o mais cruel jogador de futebol para quem o tentasse marcar, para quem estivesse à sua frente.

Seus contemporâneos lembram certamente um amistoso contra a Itália, jogado em Milão, na preparação da seleção brasileira para o campeonato mundial de 1958, o primeiro do qual saímos campeões, na Suécia. Garrincha disputava a posição com Joel, ponteiro aplicado do recente tricampeonato carioca do Flamengo, conquistado no início daquela década. E era Joel, clássico ponteiro de muitas qualidades, o preferido da torcida, da imprensa e da moderna comissão técnica. A favor de Garrincha, estavam apenas os visionários do futebol brasileiro, que sabiam que craques como ele e Pelé eram o emblema de uma nova geração de um novo futebol.

Pois naquela noite, em Milão, mesmo disputando uma partida que seria seu teste final para ocupar um lugar na seleção, Garrincha irritava, com o que fazia em campo, todos os dirigentes conservadores da então CBD. Sem dar bola alguma para as instruções que recebia aos gritos do banco brasileiro, ele praticava todo tipo de jogada que nossos técnicos cartesianos consideravam irresponsável, quase sempre brincando com a bola, os companheiros e os adversários, como costumava fazer regularmente, até nos treinos do próprio Botafogo, onde ele atuava. Em determinado momento, Garrincha recebeu uma bola no meio do campo e saiu com ela colada aos pés, driblando quem passasse à sua frente, uma, duas ou mais vezes, humilhando cada um que tentasse interromper seu ziguezague em direção ao gol adversário.

Diante do goleiro italiano, Garrincha parou, olhou para trás e viu que não vinha mais ninguém atrás dele. Aí não vacilou e, no mesmo ritmo que vinha, sentou o pobre arqueiro na grama de Milão. Mas não entrou com bola e tudo, como era de se esperar. Garrincha voltou com ela para a entrada da área italiana, driblou duas vezes o goleiro que se levantara em pânico (um drible para vir, outro para ir) e entrou enfim serenamente com a bola na rede adversária.

O banco do Brasil não gostou do que Garrincha havia feito. Durante toda a jogada, gritavam mandando passar a bola, ordenavam que tentasse logo o gol. O banco decisivo jurava que Garrincha nunca mais jogaria na seleção brasileira, ele era moleque demais para a seriedade da missão. Era desobediente, imprevisível, irresponsável, peladeiro. Ninguém sentiu pena dos defensores e do goleiro que Garrincha humilhara, ninguém falou nisso, não ocorreu a ninguém tocar nesse assunto. Muito menos depois, quando um complô comandado pelo gosto da torcida, jornalistas inteligentes e líderes da seleção como Nilton Santos e Didi, ele se tornaria o titular de nossa ponta direita e um dos maiores astros daquela primeira Copa do Mundo vencida pelo Brasil.

Durante a qual, o que Garrincha fazia com seus adversários era algo parecido com o que fizera com os italianos em Milão, o que costumava fazer com os laterais esquerdos do campeonato carioca. Parecido mais ou menos com o que depois descobrimos que fazia com seus passarinhos, na mata de Pau Grande: caçava-os sem muita poesia e sem nenhuma piedade. A poesia estava no jeito de ele ser no mundo.

Garrincha talvez tenha sido o nosso primeiro grande craque barroco, num país de forte cultura barroca, popular ou erudita, que não deseja reconhecê-la por medo do que isso possa significar, ameaçando o que os outros consideram civilizado. Sempre preferimos elogiar a racionalidade realista que parece conhecer o mundo e apaziguar nossa ignorância com essa ilusão. Num mundo tão incompreensível como esse em que vivemos hoje, talvez a volumosa cultura barroca de nossas origens pudesse ser mais libertária, a nos indicar um futuro menos comprometido com o que já se sabe. E que sabemos que não presta.​

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