terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Investimento no Brasil faz 'escala' em países europeus (Fabrício de Castro)

O ESTADO DE S. PAULO  - 31/01/2017
À procura de tributações mais baixas, investimentos de outras origens antes passam por nações como Luxemburgo e Holanda
Corporações globais têm utilizado economias menores da Europa como interposto para investimentos produtivos no Brasil. Dados do Banco Central mostram que no ano passado US$ 10,524 bilhões vieram da Holanda para o Brasil e foram aplicados em participação em empresas locais. No caso de Luxemburgo, foram US$ 7,395 bilhões. A Holanda lidera o ranking do BC de Investimento Direto no País (IDP) há quatro anos, à frente mesmo dos EUA, que possui dezenas de companhias com atuação global. Luxemburgo também aparece há anos nas primeiras posições, mas nos dois casos, boa parte dos recursos não tem origem nos países.
Especialistas ouvidos pelo Estado explicam que isso é consequência direta da globalização financeira, que faz o capital migrar para países onde a tributação é menor.
"A Holanda funciona hoje como um paraíso fiscal. Suas condições de tributação, principalmente sobre o lucro, são extremamente interessantes quando comparadas com outros países dentro do continente europeu", explica Otto Nogami, professor de economia do MBA Insper.
"A empresa nem precisa ter subsidiária produtiva dentro da Holanda, basta ter um escritório.
É ele que vai receber os recursos e aplicar em outros mercados, como o Brasil", disse.
O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luis Afonso Lima, explica que as facilidades são usadas, por exemplo, por investidores norte- americanos. "A Holanda investe aqui porque é passagem de capitais e tem muitos acordos comerciais com outros países.
Muitos capitais americanos, por exemplo, preferem passar primeiro pela Holanda".
Em 2016, o investimento direto dos EUA em participação no capital de empresas foi de US$ 6,544 bilhões - abaixo do valor vinculado a Holanda e Luxemburgo.
No entanto, a cifra americana seria muito maior, já que estes números do BC levam em conta o fluxo de recursos e apenas o investidor imediato - e não o investidor original.
No caso específico da Holanda, uma boa parcela dos aportes produtivos no Brasil está, de fato, vinculada a companhias holandesas, como a Shell (energia) e a Heineken (bebidas), que têm negócios consolidados no País. "Mas é difícil alguém citar alguma empresa de Luxemburgo presente no Brasil", diz Lima. O levantamento também mostra que outros países podem participar dessa triangulação de recursos, como as Ilhas Cayman e Bahamas, que investiram em empresas brasileiras no ano passado.
Anualmente, o BC realiza o Censo de Capitais Estrangeiros, que busca avaliar não o fluxo (dinheiro que entra), mas sim o estoque (capital estrangeiro que permanece investido).
Por meio dele, é possível verificar a origem do dinheiro, que chega no Brasil, e não apenas o País investidor imediato.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Existe Vida Após o Parto?

No ventre de uma mãe haviam  dois bebês.
Um perguntou ao outro: "Vc acredita em vida após o parto?" O outro respondeu: "É claro. Tem que haver algo após o parto. Talvez nós estejamos aqui para nos preparar para o que virá mais tarde." "Bobagem", disse o primeiro.
 "Que tipo de vida seria esta?" O segundo disse: "Eu não sei, mas haverá mais luz do que aqui. Talvez nós poderemos andar com as nossas próprias pernas e comer com nossas bocas. Talvez teremos outros sentidos que não podemos entender agora."
O primeiro retrucou: "Isto é um absurdo. O cordão umbilical nos fornece nutrição e tudo o mais de que precisamos.O cordão umbilical é muito curto. A vida após o parto está fora de cogitação."
O segundo insistiu: "Bem, eu acho que há alguma coisa e talvez seja diferente do que é aqui. Talvez a gente não vá mais precisar deste tubo físico." O primeiro contestou: "Bobagem, e além disso, se há realmente vida após o parto, então, por que ninguém jamais voltou de lá?" "Bem, eu não sei", disse o segundo, " mas certamente vamos encontrar a Mamãe e ela vai cuidar de nós."
O primeiro respondeu: " Mamãe, vc realmente acredita em Mamãe? Isto é ridículo. Se a Mamãe existe, então, onde ela está agora?" O segundo disse: "Ela está ao nosso redor. Estamos cercados por ela. Nós somos dela. É nela que vivemos. Sem ela este mundo não seria e não poderia existir." Disse o primeiro:" Bem, eu não posso vê-la, então, é lógico que ela não existe."
Ao que o segundo respondeu: "Às vezes, quando vc está em silêncio, se vc se concentrar e realmente ouvir, vc poderá perceber a presença dela e ouvir sua voz amorosa".


Este foi o modo pelo qual um escritor húngaro explicou a existência de Deus.

@filosofia @humor

O ministro está morto. Viva o ministro! ( Fernão Lara Mesquita)

Se a morte de Teori Zavascki e o peso crescente do STF põem mais uma vez em evidência a fragilidade da nossa (des)ordem institucional, a conversa de surdos em "looping", tão igual a si mesma que não faz senão aborrecer e alienar, em que se transformou a discussão pública do dramalhão nacional mata qualquer esperança de melhora.
Ao fim de três anos encalhado o País colhe as provas de que o destino do processo que pode mudar o seu destino não está referido a leis e procedimentos certos e sabidos nem a respeito de delitos tão elementares quanto o assalto recorrente aos bens públicos por agentes do Estado e empresários por eles cooptados. Tudo está pendente exclusivamente da maneira como houve por bem tratá- los desta vez, e somente desta vez, o ministro morto, em cujas mãos a impertinência de um juiz dissonante jogou a sorte dos políticos denunciados na Operação Lava Jato. E, sendo assim, tornar a sua sucessão neutra e tranquila como deveria ser se fôssemos regidos por instituições, e não por pessoas, é uma missão impossível, se não por todas as outras razões, porque na verdade ninguém sabe exatamente se e como Teori Zavascki se teria decidido a agir em relação aos seus quase réus.
Tudo a esse respeito é "segredo de Justiça", expressão que, já de si, é uma contradição em termos.
Havia só vagas indicações sobre o que ele "estaria pensando" em fazer.
Tudo, portanto, pode mudar se mudar o relator, ainda que não mudem os fatos que ele relata.
Sendo o objeto do processo a nata dos brasileiros "especiais", aqueles que vivem do e para o Estado e estão acima da lei, a única "providência" possível, mesmo para as nossas autoridades mais altas e mais bem-intencionadas, é procurar alguém que "seja parecido" ao ministro morto em matéria de "pensamento jurídico", seja o que for que tal expressão queira dizer, o que garante que não existe o menor risco de que qualquer coisa mude realmente para melhor no final dessa história. A hipótese menos ruim é que, com a ajuda da sorte, esse incidente não chegue a fazer tudo piorar muito, como tantas vezes já aconteceu em episódios semelhantes da História do Brasil.
Nada a estranhar. É essa mesmo a lógica do "sistema corporativista".
Transferir intacta, de sua majestade para os três Poderes do novo sistema, a prerrogativa de distribuir a quem lhe interessar pudesse, não mais títulos explícitos de "nobreza", mas sim "direitos adquiridos" eternos e frequentemente até hereditários, e encarregar o Poder Judiciário de "republicanamente" fazê-los valer nos seus tribunais, em vez de simplesmente no cadafalso como ocorria antes, foi o artifício com que a elite em torno do imperador exorcizou a revolução democrática que varreu o absolutismo da Europa e castrou a República que tentou se insinuar ao Brasil.
A "Nova República", a partir de 1988, apenas deu a última forma à velha aberração. Desde então a "privilegiatura" saiu do armário e a própria "Constituição da República" passou a ser oficialmente o repositório dos seus "direitos adquiridos", dos mecanismos que automatizam a sua contínua expansão e das "pétreas" garantias da sua intocabilidade.
Assim como sua congênere norte-americana, o modelo de onde tiramos a nossa, a Suprema Corte tem por função avaliar a consonância de todos os atos dos outros dois Poderes e mais os das instâncias inferiores do próprio Judiciário com a Constituição. O problema é que a Constituição americana, com 230 anos, tem sete artigos e 27 emendas, todos definindo exclusivamente quais são os direitos de todos ficando tudo o mais fora da lei, e a brasileira, com 29 anos, tem 250 artigos e 93 emendas, quase todos definindo aquilo que é apenas de alguns, em aberta contradição com os Princípios Fundamentais que enuncia no primeiro dos seus nove capítulos, o único que guarda algum parentesco com ideais democráticos autênticos.
É um falso problema, portanto, o tão criticado "protagonismo" do STF que um poder Legislativo desmoralizado invoca na sua disputa de poder com o Judiciário e em torno do qual a imprensa e seus "especialistas" de plantão, ingênua e infindavelmente, "batem caixa".
Assim como é uma completa perda de tempo qualquer tentativa de cerceá-lo sem tocar na sua causa estrutural, pois o "protagonismo" não é da Corte, é da Constituição, e tudo acabará sempre obrigatoriamente no Supremo se tudo e mais alguma coisa continuar podendo ser enfiado na Constituição.
Tudo, no drama brasileiro, está referido a essa mutilação essencial que fez da nossa tão propalada "democracia" um falso brilhante. Passados 118 anos de distribuição desenfreada desses privilégios cá está o Brasil, como era típico de todo o sistema feudal e pelas mesmíssimas razões, estertorando na miséria, enquanto a Corte onde tudo o mais anda sempre tão devagar passa lei atrás de lei a favor de si mesma, como se vivesse em outro planeta. Em pleno século 21 e com a democracia moderna, que foi inventada justamente para acabar com isso, comemorando o seu 241.º aniversário, não conseguimos superar sequer as angústias e incertezas vividas pelos súditos das monarquias desaparecidas desde o século 19, nas quais a morte do rei impunha a todos o que a sorte decidisse sobre a personalidade do herdeiro do trono, com a diferença de que hoje não temos rei, temos reis.
Não adianta sonhar com a redução da corrupção sem tocar na indemissibilidade do servidor público e no condicionamento da duração dos mandatos dos representantes eleitos estritamente à satisfação dos seus representados. Não adianta tentar impedir a manifestação dos efeitos sem tratar de remover as suas causas. Enquanto não nos decidirmos a banir da Constituição e da nossa ordem legal como um todo tudo o que nelas está em contradição com o princípio da igualdade de todos, em direitos e em deveres, perante a lei, continuará sendo ilegal tornar sustentável a economia e inconstitucional fazer justiça ou dar os passos necessários para extinguir a miséria no Brasil. 
Não existe o menor risco de que qualquer coisa realmente mude para melhor...
 JORNALISTA, ESCREVE EM WWW.VESPEIRO.COM

domingo, 29 de janeiro de 2017

Trump na terra de Oz - Gustavo H.B. Franco

ESTADO DE SÃO PAULO - 29/01/2017

Nada mais incerto do que vai se passar com Donald Trump na presidência dos EUA, mas não se fala de outra coisa.
O assunto desperta paixões, e por bons motivos.
Primeiramente, vale lembrar que a cena política é dominada por dois partidos cujas semelhanças predominam sobre suas divergências. É preciso recuar mais de um século para encontrar a presença relevante de um terceiro partido - justamente o Partido Populista, cujo apogeu se deu em 1896, quando esteve perto de vencer a eleição presidencial.
O candidato populista de então, William Jennings Bryan, do alto de seus 36 anos, ganhou a convenção dos Democratas com um discurso arrebatador atacando Wall Street e também o padrão ouro (o equivalente da época à globalização), com isso vencendo o presidente da República, Grover Cleveland, que buscava concorrer à reeleição. Em seguida, Bryan perdeu por pouco para o republicano William McKinley: a estranha coalizão democrata-populista, centrada nos pequenos fazendeiros do Kansas, mas que também incluía papelistas, sindicalistas, proibicionistas, sufragistas e progressistas de toda ordem, venceu em 22 estados, enquanto McKinley ganhou 23 (271 a 176 no colégio eleitoral).
No voto popular, McKinley fez 7,1 milhões contra 6,5 milhões de Bryan.
O embate se repete, ainda que mais morno, na eleição de 1900, quando McKinley vence com mais facilidade.
As duas eleições foram objeto de sátira em O Mágico de Oz, onde Bryan, conhecido como o "Leão de Nebraska" face à sua oratória truculenta e inflamada, e atacado pelos republicanos pelas posições não intervencionistas em política externa, foi retratado pelo Leão Covarde. O Lenhador de Lata era o eleitorado urbano, o Espantalho os fazendeiros e Dorothy a América, inocente e encantadora, querendo voltar apenas para o Kansas. Eles marcharam juntos nas duas eleições, usando os sapatos de prata na estrada de tijolos de ouro, mas o sistema, ou seja, o Mágico os enredou de várias formas: foi a derrota das pessoas comuns.
Entretanto, McKinley foi assassinado por um anarquista em 1901 e substituído por Theodore Roosevelt, de 42 anos, um dos mais dinâmicos e admirados presidentes americanos, e uma espécie de retrato do que ficou conhecido como a era progressista. Foi como se populismo tivesse sido deglutido pelos grandes partidos.
Jamais o populismo voltou a se apresentar nesses termos na política americana, embora sua sombra pareça sempre presente em eleições descritas como de realinhamento. Foi assim no caso das eleições de 1932, vencidas por Franklin Delano Roosevelt, quando se forma o "New Deal". No início, todavia, Roosevelt era quase um ortodoxo, mas uma ameaça populista em seu partido, de nome Huey Long, governador de Louisiana, e possível concorrente, foi o fator que o levou a uma guinada distributivista e a uma vitória consagradora em 1936.
Outra eleição de realinhamento é a de Ronald Reagan em 1980, refletindo a fadiga ou o esgotamento do keynesianismo herdeiro do New Deal. Novas ideias pró-mercado confrontaram o establishment industrial e sindical que crescera durante os anos do New Deal, sobretudo via competição estrangeira (moeda valorizada) e a imigração. A postura hostil com relação à União Soviética, que se dissolve no final da década, consagra Reagan, mas republicanos nacionalistas, como Ross Perot e Pat Buchanan, foram vozes dissidentes pela direita e boas prévias do fenô- meno Trump.
A crise de 2008 pode ser vista como resultante de excessos desse neoliberalismo, e deveria conduzir a outro realinhamento, mas não foi bem isso o que se passou com Barack Obama, que não confrontou Wall Street, nem trouxe alento para a classe média americana vitimada pela globalização. Ventos populistas se observam pela esquerda, com Bernie Sanders, e pela direita, com Trump, ambos reencarnando Bryan, e o resultado é um presidente eleito por conta de uma retórica estridente, em aberto desafio ao politicamente correto, propenso a um menor envolvimento em encrencas internacionais, protecionista e contrário aos grandes tratados comerciais, à imigração e ao offshoring pelas multinacionais americanas.
O leão, o lenhador e o espantalho desta vez conquistaram Oz. Bryan está no poder, para o horror do establishment.
Como o Mágico vai absorver as novas demandas, esta é a grande questão.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Os efeitos do Trumponomics (Raghuram Rajam)

VALOR ECONOMICO - 27/01/2017

   Em 2005, o indiano Raghuram Rajan, o então economista-chefe mais jovem do Fundo Monetário Internacional (FMI), fez um explosivo discurso em um simpósio em homenagem a Alan Greenspan, que se despediria pouco depois da presidência do Federal Reserve, o banco central americano. Na contramão do tom de homenagens, criticou o establishment financeiro e alertou para o perigo de um terremoto em virtude dos incentivos para as operações de subprime, que ofereciam crédito imobiliário de alto risco. Na época, causou certo mal-estar e o ex-secretário do Tesouro americano Larry Summers chegou a chamá-lo de ludita. Três anos depois, o Lehman Brothers quebrou e os EUA entraram na mais grave crise desde 1929.

Desde setembro ex-presidente do banco central da Índia, Rajan observa agora os movimentos da nova era de seu gabinete na Universidade de Chicago. Novamente demonstra preocupação, desta vez, com a ascensão do populismo. Alerta que caso o novo presidente dos EUA, Donald Trump, cumpra sua promessa protecionista, a China pode assumir a liderança vaga. "A questão é: se os EUA se afastarem dos acordos de livre-comércio, será que a China não vai começar a criar suas próprias redes? Será que a China não vai tentar substituir [a Parceria Transpacífico] por outra de sua autoria?", pergunta Rajan.
O professor de Chicago também está apreensivo com as propostas de estímulo fiscal de Trump, que podem significar forte pressão inflacionária. Aponta, ainda, o impacto para os emergentes de um PIB dos EUA mais vigoroso, fator que embute um complicador no horizonte. Por um lado, a alta do dólar, efeito colateral da expansão econômica, pode ser um atrativo para aumentar a exportação desses países, por outro, pode desencadear ações protecionistas do novo morador da Casa Branca.
Rajan, que esteve à frente do BC indiano por três anos, demonstra certo otimismo em relação ao Brasil e aplaude o controle da inflação do banco central comandado por Ilan Goldfajn e as medidas pró-equilíbrio fiscal para recuperar a macroestabilidade. "Medidas importantes estão sendo tomadas no âmbito fiscal, para colocá-lo sob controle", afirma.
Aclamado como um astro acadêmico, Rajan foi eleito uma das cem pessoas mais influentes pela revista "Time" no ano passado. Apesar de ter criticado o apetite voraz pelo alto risco do mercado financeiro e aparecer no documentário "Trabalho Interno", que ganhou o Oscar com sua crítica ao mundo pré-2008, Rajan é um liberal de Chicago.
Quase dez anos depois da crise que ele previu no simpósio de 2005, em Jackson Hole, considera ser necessária uma revisão de medidas que surgiram pós-quebra do Lehman. "No passado faltava regulação e o que criamos foi um monte de regulações, muitas delas necessárias e outras desnecessárias", diz o professor, que completa 54 anos no dia 3.
Também é um crítico contumaz do capitalismo de compadrio, termo que descreve uma economia em que o sucesso nos negócios depende de relações estreitas entre empresários e o governo. Para muitos analistas, sua permanência no banco central foi minada, em parte, por antagonizar com poderosos grupos empresariais da Índia, denunciando uma economia de compadres. Exerceu ainda forte pressão sobre bancos para que fossem rígidos com devedores problemáticos, uma orientação pouco usual na Índia.
Rajan negou várias vezes que o BC indiano sofresse pressões políticas. No entanto, analistas estrangeiros viram aí uma motivação para sua saída, já que seu mandato poderia ser estendido por mais dois anos. Como banqueiro central, foi glorificado pelo mercado, ao iniciar um processo de adoção de metas formais de inflação, fazer uma limpeza de balanços e modernizar o setor financeiro da Índia, principalmente o estatal. No entanto, foi ferozmente atacado por deputados do partido do primeiro-ministro Narendra Modi.
O professor tem evitado comentar sobre a experiência no BC. Em carta aos colegas do banco, quando pediu demissão, disse que voltaria ao seu verdadeiro lar: o reino das ideias. Aluno brilhante, graduou-se em engenharia pelo Indian Institute of Technology, instituição de elite, e pelo Indian Institute of Management Ahmedabad, onde conheceu Radhika, sua mulher e mãe de suas filhas. A economia surgiu mais tarde, com o doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT).
De Chicago, por telefone, Rajan expôs algumas de suas ideias na entrevista a seguir:
Valor: Trump defende o protecionismo e afirma que décadas de políticas de livre-comércio foram responsáveis pelo colapso da indústria americana. Nesta semana, retirou-se da Parceria Transpacífico (TPP). Quais serão os efeitos deste movimento protecionista e antiglobalização para o mundo?
Raghuram Rajan: Acho que isso foi antecipado. Se uma retirada tão cedo [da TPP] envia a mensagem de que o comércio será uma prioridade do governo, ou se ele pretende apaziguar os grupos anticomércio, mas não muito além disso, ainda está por ser visto. Há pessoas na equipe do governo com um histórico de críticas aos efeitos negativos do livre-comércio, mas há outras que têm sido mais otimistas com relação ao comércio, e, além disso, há posturas diferentes com relação a países diferentes. Devemos nos lembrar de que se os países se distanciam do livre-comércio, é bem possível que seu espaço seja preenchido por outros países.
Valor: O senhor acha que o discurso do presidente chinês Xi Jinping, em Davos, na semana passada, enaltecendo o livre-comércio e comparando o protecionismo a "trancar-se em um quarto escuro para se proteger do perigo", já é uma reação?
Rajan: Sim. Ele estava defendendo a continuação da abertura mundial. E a questão é: será que a China não vai tentar substituir [a Parceria Transpacífico] por acordo de sua autoria? E, talvez, as pessoas comecem a repensar: "Pode ser que estejamos nos distanciando do centro e ficando marginalizados em alguns acordos".
Valor: A expectativa de estímulo fiscal é o principal componente da previsão do Banco Mundial para a economia global em 2017. Espera-se que a economia dos EUA cresça 2,2% neste ano. A opinião preponderante é a de que ela vai se beneficiar com os cortes em impostos, os gastos em infraestrutura e a desregulamentação que Trump promete para alavancar a economia e "fazer com que os EUA voltem a ser grandes". Como esse discurso vai funcionar no mundo real e quais são os perigos?
Rajan: Qualquer espécie de estímulo fiscal tem de levar em conta que, de acordo com o relatório mais recente do Ministério do Trabalho, os salários cresceram 2,9% na comparação com o ano anterior. Se os salários crescem 2,9% e a produtividade está em cerca de 1%, a inflação subjacente é de cerca de 1,9%. Essa é mais ou menos a taxa que o Fed quer. Se o relatório faz parte de uma tendência, se não é um ponto fora da curva, isso sugere que os EUA estão muito perto do pleno emprego. A consequência de um estímulo adicional significativo em um país que está perto do pleno emprego é mais inflação, a não ser que o emprego meio que traga à tona [outras questões]. Uma das coisas que aconteceram nos EUA foi que muita gente ficou desiludida e abandonou a força de trabalho. A taxa de participação é de cerca de 62%, em vez de 66%. Em parte, isso também se deve ao envelhecimento da população. Mas a questão é: será que essas pessoas têm as qualificações necessárias para os novos empregos que são criados? Se não têm, estamos praticamente com pleno emprego. Logo, qualquer estímulo adicional geraria mais inflação, o que quer dizer que o Fed teria de ser mais enérgico [e aumentar mais os juros]. A grande incerteza neste momento é: quanto do estímulo fiscal será de fato implementado? Qualquer plano de infraestrutura levará bastante tempo para ser realizado. Portanto, haverá um hiato.
Valor: Qual o efeito da redução de impostos?
Rajan: A questão é: quanto há de espaço para efetuar cortes, que geram um déficit maior, sem que se reduzam substancialmente os gastos? O déficit poderia ser significativamente maior. Me parece que a real medida de estímulo ao crescimento não inflacionário por parte do governo poderia ser a revisão e o ajuste da regulação de alguns setores, melhorando sua eficácia para que as empresas possam investir e crescer. A proposta do novo Código Fiscal tem alguns bons elementos; é claro que a parte que diz respeito ao Border Tax [Imposto de Fronteira] preocupa algumas pessoas.
Valor: O senhor acha que um crescimento econômico mais vigoroso dos EUA pode ser benéfico para países emergentes como Brasil, Índia, China ou mesmo México?
Rajan: Há consequências boas e ruins. Se a economia americana cresce muito, acho que, em linhas gerais, isso é bom para o mundo, porque possibilita àqueles países exportarem mais aos EUA. Por outro lado, se a consequência for um dólar mais forte e a realocação de capital daqueles países para os EUA, isso tem duas consequências potencialmente adversas. Uma delas é que quem tem dívidas em dólar terá mais dificuldade em honrar seus compromissos, haverá um certo grau de estresse financeiro, e uma queda na disponibilidade de financiamento em dólar também gerará estresse. A segunda consequência é que um dólar relativamente forte pode gerar um impulso protecionista ainda mais forte nos EUA.
Valor: Um dólar mais forte seria bom para esses países em termos de exportação, mas levando em conta que o dólar mais forte geraria mais protecionismo, para esses países seria mais difícil exportar.
Rajan: É exatamente isso.
Valor: O senhor já disse que ocorre uma insurreição populista, não só nos EUA, mas também na Europa. Como o senhor explica o Brexit, Trump e mesmo a força populista na França?
Rajan: Trata-se da combinação de desemprego, ou medo do desemprego, de grupos que tinham uma existência confortável de classe média no passado, que tinham bons empregos em fábricas. Mesmo só tendo concluído o ensino médio, eles ganhavam salários razoáveis. Essas fábricas fecharam. Quando fecharam, não só perderam sua renda econômica, mas também viram suas comunidades se desintegrarem. Na opinião dessas pessoas, o sistema capitalista não funciona. Além disso, houve a crise financeira mundial, que essencialmente disse a essas pessoas que a elite que vinha dirigindo a economia, na verdade, não sabia fazê-lo e cometia erros. É isso que as deixa com mais raiva, porque o sistema perde legitimidade.
Valor: Nesse cenário surge alguém como Donald Trump, que diz: "Vou levar vocês de volta ao tempo em que vocês tinham empregos, a vida era boa e vocês eram felizes".
Rajan: Sim, e ainda que na verdade eles não acreditem que ele vai trazer de volta os empregos nas minas de carvão, Trump parece ser suficientemente radical se o compararmos com políticos à moda antiga. E ele não tenta "vender" o livre-comércio, a abertura das fronteiras e uma sociedade multicultural. Ele diz: "Vou levar vocês de volta ao passado". Acho que essa visão nostálgica funciona muito bem, ainda que seja praticamente impossível de realizar.
Valor: O que vai acontecer no Reino Unido? A primeira-ministra britânica Theresa May está conduzindo o país a um Brexit bem rígido.
Rajan: Penso que a intenção do governo do Reino Unido é tentar manter as virtudes do livre-comércio, sem herdar o livre movimento de pessoas, que era uma das liberdades essenciais que a União Europeia havia negociado. A questão é se eles podem ter as duas coisas. Se podem escolher o que querem do "cardápio" que a União Europeia oferece. E a União Europeia já disse muito claramente: "Não vamos permitir que se escolha livremente do cardápio". O que houve até agora foram pré-negociações, tentativas de definir posições básicas para a negociação. O que de fato vai acontecer no futuro? Não sei. Ambos os lados têm muito a perder no caso de uma ruptura abrupta entre o Reino Unido e a União Europeia. Vamos ter de esperar para ver que tipo de estrutura surgirá dessas negociações. Uma ruptura abrupta entre Reino Unido e Europa, sem qualquer acordo comercial, será prejudicial para ambos os lados.
Valor: As taxas de juros nos EUA subiram e devem continuar em alta, especialmente com a expectativa de a inflação gerada por um eventual estímulo, mas o Banco Central Europeu afirmou que manterá suas taxas nos níveis mais baixos da história em 2017. O Japão segue o mesmo caminho. Como ficará a política monetária mundial com os EUA caminhando em uma direção e Europa e Japão caminhando em outra?
Rajan: Nos EUA está acontecendo antes porque a economia americana está em uma situação muito melhor. À medida que outras moedas se desvalorizarem em relação ao dólar, elas vão se fortalecer um pouco; a inflação nesses países também vai crescer um pouco, e eles terão a oportunidade de colocar suas economias em uma situação de maior crescimento. É o começo da saída [da crise] e é uma boa notícia. As outras economias estão atrasadas em termos de crescimento e estágio do ciclo empresarial, portanto sua saída vai demorar um pouco mais. Mas acho que isso é necessário.
Valor: A economia brasileira atravessa crise profunda e muitos economistas, inclusive o senhor, já criticaram o Brasil por ter gastado mais do que podia. Como o senhor vê a profunda crise atual e qual sua visão para o futuro do país?
Rajan: O Brasil está tentando se reconstruir para sair do ambiente econômico adverso em que se encontra. Espera-se que daqui para a frente, o petróleo deixe de ser um fator negativo e ajude um pouco, porque seu preço está subindo novamente. As reservas do pré-sal, tão alardeadas no passado, se tornarão cada vez mais viáveis à medida que o preço do petróleo aumenta, e poderão ser uma grande fonte de força para o país no futuro. A economia brasileira é naturalmente vibrante, e isso tem de ser restaurado. Mas, além disso, vocês estão passando por um processo de autoanálise, de tentar eliminar certas práticas problemáticas, e acho que, quando um país consegue fazer isto sozinho, na ausência de uma crise realmente grave, isso reflete uma força do sistema, e não uma fraqueza. A força de tentar identificar onde estão os problemas e tentar saná-los por conta própria. E espera-se que ao fim desse processo, vai haver um sistema em que todos acreditam e confiam mais. É isso que cria as condições para um crescimento mais forte e sustentado.
Valor: O senhor preconiza reformas. O Brasil está tentando aprovar grandes reformas no Congresso, como da Previdenciária, e depois, possivelmente a Trabalhista e Fiscal. No ano passado, foi aprovada uma emenda constitucional que limita o aumento dos gastos públicos à inflação do ano anterior...
Rajan: Medidas importantes estão sendo tomadas no âmbito fiscal, para colocá-lo sob controle. Para sua sustentabilidade, todo mercado emergente deve colocar os gastos fiscais sob controle e abrir espaço para investimentos governamentais importantes, em coisas como infraestrutura necessária. Isso é parte do que tem de ser feito, e está sendo feito.
Valor: Quais são as outras partes?
Rajan: A segunda parte é, no lado monetário, retomar o controle da inflação, o que o Banco Central, sob o comando de Ilan Goldfajn, está fazendo bem. Esses dois elementos são essenciais à restauração da macroestabilidade. A partir do momento em que se atinge a macroestabilidade, também é possível empreender reformas estruturais para que fique mais fácil fazer negócios no país. E melhorar a qualidade do sistema educacional, melhorar a qualidade das universidades, que já são fortes etc.. Tudo isso seria bom, mas a primeira coisa é criar macroestabilidade, para que o crescimento não caia ainda mais e comece a retornar, e acho que o Brasil está fazendo isso.
Valor: O Brasil está às voltas com a Operação Lava-Jato. O escândalo mostra a profundidade com que a corrupção penetrou o establishment político e empresarial. O senhor é um crítico do capitalismo de compadrio. Seu amigo Luigi Zingales escreveu um livro, "Um Capitalismo para o Povo", sobre o tema, afirmando que também é um problema nos EUA. Como o capitalismo pode funcionar melhor, já que este é um enorme problema no mundo todo?
Rajan: Temos de descobrir como renovar constantemente o capitalismo. As soluções podem não ser as mesmas de antes. Precisamos encontrar novas soluções. Acho que o compadrio decerto existe em diversos países, e acho que o aspecto do capitalismo do qual muitas pessoas se ressentem é sua versão compadrio: algumas pessoas ficam com todo o lucro injustamente. Acho que Luigi faz uma distinção, que é bem importante, entre governos pró-empresário e governos pró-mercado. A diferença é que em um governo pró-empresário algumas companhias fortes capturam o governo, ao passo que um governo pró-mercado cria um ambiente justo em que todos podem competir. Acho que no mundo todo, se as pessoas puderem ser convencidas de que o sistema é pró-mercado e de que elas podem participar desse sistema com base em suas capacidades, elas veriam o capitalismo de forma muito mais positiva do que em uma situação em que veem que só o "compadre" se beneficia. Todos temos que trabalhar para fazer isso acontecer.
Valor: O senhor concorda com o professor Larry Summers, segundo o qual o mundo está vivendo uma estagnação secular? Quanto tempo o senhor acha que isso irá durar?
Rajan: Estagnação secular descreve um cenário mundial de crescimento relativamente lento, mas não define as causas, porque há inúmeras causas possíveis. Concordo que provavelmente estamos numa fase de crescimento relativamente lento, em parte pelo envelhecimento populacional, em parte pelo baixo crescimento da produtividade, mas se há algum outro fator que está mantendo o crescimento baixo, ou se temos que trabalhar para isso [não está claro]. Podemos buscar meios de aumentar a produtividade e, assim, o potencial de crescimento. Não há solução para o envelhecimento. O que pode ser solucionado é a produtividade, talvez. Mesmo no caso da produtividade, não sabemos por que há uma desaceleração. Mas acho que são necessárias reformas estruturais contínuas, para aumentar a capacidade produtiva da economia. É nisso que devemos nos concentrar.
Valor: O senhor é famoso pelo paper que divulgou em Jackson Hole alertando sobre o risco que o sistema financeiro representava à economia global, em 2005. Hoje, quase dez anos depois do início da turbulência financeira, muita gente acha que haverá uma reação negativa à regulações pós-crise, como a Lei Dodd Frank e a regra Volcker. A desregulação financeira será ruim para a segurança do sistema financeiro?
Rajan: No passado faltava regulação e o que criamos foi um monte de regulações, muitas delas necessárias e outras desnecessárias...
Valor: Por exemplo?
Rajan: Sabia que você ia me perguntar isso!
Valor: Só alguns exemplos...
Rajan: Em se tratando de capital, por exemplo, passamos do limite. Passamos a ter mais exigência de capital, e mais exigência de capital, e outra exigência de capital adicional. O excesso de regulação inibe a disposição de correr riscos. Este é o objetivo da regulação, mas o que se quer é inibir o risco excessivo, não todo e qualquer risco! É preciso atingir o equilíbrio. Acho que os bancos, hoje, por causa do compliance, por causa das exigências relativas ao capital, estão evitando lidar com players mais novos em mercados emergentes, por exemplo, por medo de que eles venham a ser problemáticos. Não estou dizendo que sabemos ao certo o que é excessivo e o que não é, mas é preciso reanalisar as regulações e saber onde se foi longe demais. Mas o que já temos é uma reação à reação. A reação à crise foi o aumento da regulação, e agora temos uma reação a isso, porque fomos longe demais...
Valor: O senhor, portanto, acha que é preciso mesmo uma revisão?
Rajan: A sociedade segue nesse processo. Talvez o processo tenha ficado um pouco mais comprimido. Estamos movimentando o pêndulo do "vamos regular" para o "vamos desregular" bem rapidamente. No passado, isso demorava mais. Eram 20 ou 30 anos de regulação crescente, seguidos de 20 ou 30 anos de desregulação. Hoje, são 10 anos de regulação e já vemos pedidos de desregulação. Mas contanto que se façam pequenos ajustes e se mantenha parte dos bons aspectos essenciais, não acho que seja ruim. Uma revisão abrangente da regulação é que seria problemática, haja visto que houve muita discussão para se chegar às regulações adequadas.
Valor: A maioria dos Brics enfrenta adversidades políticas e econômicas: a economia chinesa desacelerou, a Rússia está em recessão, o Brasil enfrenta os problemas que já mencionamos, o presidente sul-africano Jacob Zuma escapou do impeachment etc. Mas o senhor acha que os Brics têm futuro enquanto grupo diante do isolacionismo de Trump?
Rajan: Sempre foi um grupo improvável, um simples agrupamento dos maiores mercados emergentes. Isto posto, se os países conseguirem encontrar interesses comuns, assim como o G7 funciona para os países industrializados, há um papel a ser desempenhado por um G5 ou um G6 dos mercados emergentes. Eles poderão se reunir e dizer: "Eis algumas coisas que precisamos buscar para defender os interesses dos mercados emergentes; vejamos como coordenar nossas estratégias para esse fim". No tocante a várias questões em relação às quais os países industrializados têm uma visão em particular, eles se coordenam antes dos encontros internacionais, propõem sua visão e se apoiam mutuamente para este fim. Considerando que os mercados emergentes são cada vez mais importantes, isso é algo que eles devem fazer. Eles não têm experiência em fazê-lo, porque, muitas vezes, quando divergem em seus pontos de vista, eles ficam contentes se seu ponto de vista particular é atendido e não tentam se coordenar num grupo mais amplo. Logo, acho que será preciso que os mercados emergentes mudem alguns aspectos do seu comportamento, mas é bem possível que aconteça.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

There is no such thing as a "self-made man"

https://brightside.me/article/what-you-should-think-about-before-you-judge-others-10155/

Toby Morris, an Australian illustrator, has created a comic strip which can teach us an important lesson: that not everyone has the same opportunities in life. This is a short story about two people born into completely different families, whose members play contrasting roles in their children’s lives. We think it’s well worth reading.








quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Alfaiataria bancária - Celso Ming e Raquel Brandão

O ESTADO DE S. PAULO -  26/01/2017
Assim que tomou posse, o prefeito de São Paulo, João Dória, anunciou que agências bancárias desativadas seriam transformadas em creches. A proposta inusitada chama a atenção para uma tendência, aparentemente inexorável: agências bancárias físicas devem, em breve, virar coisa do passado.
Outro sinal do mesmo fenômeno tem sido a nova ênfase dada pelos grandes bancos às chamadas contas digitais. O Banco do Brasil, por exemplo, anunciou o fechamento de 402 agências e espera que os clientes migrem para os canais de atendimento remoto, como internet banking, acesso telefônico e mobile banking - plataforma acionada por dispositivos móveis, como smartphones.
Mas esse não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. Nos Estados Unidos, de outubro de 2015 até o final de 2016, foram fechadas cerca de 400 agências apenas em três instituições: Bank of America, Citigroup e J.P.Morgan. No Reino Unido, o Lloyds Bank pretende fechar 200 agências neste ano.
A última pesquisa divulgada pela Febraban, a Federação Brasileira dos Bancos, mostra que o mobile banking registrou 11,2 bilhões de transações bancárias em 2015, um crescimento de 138% em relação a 2014, quando 4,7 bilhões de operações foram feitas dessa forma (veja o gráfico). De todos os canais de atendimento, o mobile banking só perdeu em número de operações para a internet.
Caixas eletrônicos e agências físicas ficaram em terceiro e quinto lugares, respectivamente.
O sócio da área digital e de inovação da McKinsey Yran Dias avisa que o sistema financeiro passará por profunda transformação em apenas dez anos: "Deixará de apoiar-se prioritariamente nas agências físicas e focará mais atentamente o cliente e suas demandas".
Por meio de inteligência artificial e análise de big data - informações coletadas pelos dispositivos eletrônicos a cada uso do consumidor-, os bancos migrarão das operações em massa para os serviços de alfaiataria financeira, que atenderão às necessidades específicas de cada cliente.
O consumidor brasileiro já está hiperconectado.
A pesquisa da Febraban mostra que, em 2015, 73% das contas correntes bancárias utilizaram os canais remotos. Esses números deixaram os bancos em condições de endurecer a negociação com os sindicatos dos bancários. A mesma pesquisa mostra que, também em 2015, os bancos brasileiros investiram R$ 19 bilhões somente em tecnologia.
Especialista na indústria de serviços financeiros, o sócio da Deloitte Paschoal Baptista evita dar ênfase à destruição de empregos produzida por essas mudanças. Prefere dizer que o trabalho dos bancários está em transformação: "Até agora, os bancos valorizavam funcionários especialistas em finanças; hoje, querem cada vez mais gente familiarizada com e-commerce e tecnologia".
Aos poucos, gerentes têm sido transferidos para escritórios centrais em que atendem os clientes por dispositivos a distância e em horários que não se restringem ao expediente convencional das agências. Ainda assim, Baptista observa que, em comparação com os avanços da nova experiência com os clientes, os sistemas internos dos bancos ainda são ineficientes, antigos e lentos. E é isso que deve mudar rapidamente.
Por isso, os bancos observam mais atentamente o movimento das fintechs, as startups dedicadas às finanças.
São empresas que nasceram já no ambiente digital e perceberam a demanda por praticidade. Entre elas estão bancos exclusivamente digitais, como Nubank, facilitadores de crédito, robôs de investimento e guias financeiros.
A última versão do radar do FintechLab, grupo que monitora essas startups, contabilizou mais de 250 iniciativas no Brasil. No entendimento de um dos autores do radar, Marcelo Bradaschia, as fintechs ganham espaço porque "os serviços dos bancos continuam ruins e caros demais".
Como desafio, a parceria entre bancos e fintechs brasileiras esbarra nas enormes diferenças do País.
Nas áreas urbanas, 63,9% das moradias têm acesso à internet; mas nas rurais esse porcentual cai para 21,2%, segundo o IBGE. Mas o caminho rumo à digitalização indica que a frase de 1994 de Bill Gates precisaria de atualização: "Serviços bancários são necessários. Os velhos bancos não". 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Investimento direto é mais que o triplo do déficit (Eduardo Campos e Alex Ribeiro )

VALOR ECONÔMICO  - 25/01/2017
O cenário de recessão, impeachment, crise política e escândalos de corrupção não abalou o fluxo de Investimento Direto no País (IDP) que fechou 2016 em US$ 78,929 bilhões. Em relação ao Produto Interno Bruto, o IDP bateu recorde de 4,37%, ante 4,14% em 2015.
O ingresso de recursos, disseminado por diversos setores da economia, financiou com folga de mais de três vezes o déficit em transações correntes, que fechou o ano em US$ 23,507 bilhões, ou 1,3% do PIB.
Segundo o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Fernando Rocha, o IDP foi o principal destaque no lado do financiamento do déficit externo, que se mostra resiliente, acima da linha dos US$ 70 bilhões, desde meados de 2015. "O que mostra, mais uma vez, o fato de que o IDP tem característica especifica, vinculados à decisão de longo prazo e puderam se manter mesmo em anos de atividade econômica fraca", disse.
Em dezembro, o IDP surpreendeu com US$ 15,409 bilhões, o que elevou acima dos US$ 70 bilhões estimados pela autoridade monetária para o ano. Para 2017, a previsão está em US$ 75 bilhões ou 3,82% do PIB.
A abertura do IDP mostra que foram os empréstimos intercompanhia e não o investimento propriamente dito que impulsionaram o resultado. Aportes para participação no capital foram de US$ 54,021 bilhões, recuando dos US$ 56,421 bilhões de 2015. Já as operações intercompanhia subiram de US$ 18,053 bilhões para US$ 24,908 bilhões. Isso pode ser visto como forma de as empresas com operações fora do país financiarem empreendimentos por aqui, conforme o custo do dinheiro bateu recordes ao longo de 2016 no mercado interno, enquanto as condições de liquidez continuaram relativamente melhores fora do país.
O forte ingresso de IDP também financiou saídas na conta financeira, já que os investimentos em carteira mostram saída de US$ 19,815 bilhões. O mercado de renda fixa puxou as saídas com retirada líquida de US$ 26,6 bilhões. Segundo Rocha, a saída reflete a perda do grau de investimento, taxa de câmbio e também uma realização de lucros depois de anos de firme ingresso de recursos externos para títulos.
Com déficit de 1,3% do PIB, após leituras próximas a 4,5% do PIB em 2015, o resultado indica que o ajuste das contas externas pode ter se encerrado, com a diferença entre o que país gastou e o que recebeu nas transações de comércio, serviços, rendas e transferências se estabilizando entre 1% e 1,5% do produto. O BC prevê déficit de 1,43% do PIB para 2017.
O resultado do ano é o melhor desde 2007, quando houve superávit de 0,03% do PIB. Ele encerrou uma janela de cinco anos de contras externas superavitárias, maior período de conta positiva da história do país.
Para Rocha, o comportamento das contas externas guarda forte correlação com os ciclos de preços das commodities, que impactam os termos de troca do país. A janela de superávits está dentro do chamado superciclo de commodities entre 2003 e 2007. A crise de 2008 interrompeu o movimento, mas houve recuperação de preços em 2009 e 2010. Depois disso os preços foram caindo de forma mais lenta até se estabilizarem no ano passado e esboçarem reação agora em 2017.
Segundo Rocha, a magnitude do ajuste externo pode ser visto entre 2014 e 2016. Com o déficit caindo de US$ 104,2 bilhões, ou 4,24% do PIB, para os atuais US$ 23,5 bilhões, redução de pouco mais de US$ 80 bilhões, ou queda de 77% no período.
A redução foi disseminada nas diversas linhas do balanço. Entre 2014 e 2016, a balança comercial teve melhoria de US$ 51 bilhões, saindo de déficit de US$ 6 bilhões para superávit de US$ 45 bilhões. Na conta de serviços queda de US$ 17,7 bilhões e na conta de rendas, que tem juros e lucros a redução foi de US$ 11,1 bilhões. "O ajuste foi feito em todas as transações correntes."
De acordo com Rocha, o ajuste responde à atividade econômica e à taxa de câmbio. "Tivemos o país em recessão desde meados de 2014, atividade muito fraca, que reduzir a demanda em geral e também por produtos e serviços importados. Além disso, a redução também mostra o papel desempenhado pelo câmbio flutuante, que permitiu esse ajuste nas transações correntes", explicou.
Na conta de serviços, o déficit de 2016 foi de US$ 30,449 bilhões, menor desde 2010 com redução de ao menos US$ 2 bilhões nas três principais contas que são aluguel de equipamentos, viagens e transportes.
Aluguel de equipamentos teve déficit de US$ 19,5 bilhões, redução foi de 9,4% sobre 2015. Em transportes, o déficit caiu de US$ 5,664 bilhões para US$ 3,731 bilhões, devido à queda das importações. Na conta de viagens o déficit foi de US$ 8,473 bilhões, contra US$ 11,5 bilhões em 2015 e recuando do recorde de US$ 18,7 bilhões de 2014. É o menor déficit desde 2009.
Em dezembro houve elevação no déficit, de US$ 941 milhões, contra US$ 653 milhões em dezembro de 2015. "Isso é explicado pela taxa de câmbio corrente que afeta as decisões de fazer a viagem, mas também pela decisão de compra de moeda para viagens futuras", disse Rocha.
O pagamento de juros ao exterior ficou em US$ 21,9 bilhões em 2016 mostrando estabilidade em relação a 2015. A razão para isso é que uma parte é prefixada e não responde a flutuações de taxa. A outra fatia pós-fixada captou ligeira subida de taxas no fim do ano, mas o impacto foi contido pela queda no estoque de endividamento externo. A dívida externa caiu de US$ 334,7 bilhões em dezembro de 2015 para US$ 323,7 bilhões em dezembro de 2016.
Na linha dos lucros e dividendos, Rocha apontou que eles continuaram caindo apesar do aumento do estoque de investimento externo no país. As remessas de US$ 31,2 bilhões de 2014 caíram para US$ 19,4 bilhões em 2016.
Para janeiro, o BC projeta déficit em conta corrente de US$ 6 bilhões que será integralmente financiado por um IDP estimado em US$ 9 bilhões. As parciais até dia 20 já mostravam ingresso de US$ 7,8 bilhões. Em janeiro de 2016 o déficit foi de US$ 4,815 bilhões. Para Rocha, ainda é cedo para associar esse aumento a uma melhora da atividade. A variação pode estar mais relacionada ao comportamento do câmbio.

Ano novo, velhas preocupações (Marcelo Kfoury, Leonardo Porto e Mauricio Une)

Marcelo Kfoury é superintendente do departamento econômico do Citi Brasil.
Leonardo Porto e Mauricio Une são economistas do Citi Brasil

A agitação de 2016 foi tal que alguns episódios, como o impeachment da presidente Dilma, parecem ter acontecido já há bastante tempo. Para que o caos do ano recém-encerrado não se repita, deve-se atentar para a implementação de uma estratégia correta de políticas econômicas, em linha com um diagnóstico que já é claro há algum tempo.
Essa estratégia inclui, no mínimo, uma condução mais restritiva da politica fiscal e mais relaxada da política monetária, delineando um perfil de política econômica que permita que 2017 seja um ano mais alvissareiro que o que se findou. De qualquer maneira, as novidades recentes no cenário - a deterioração do ambiente político brasileiro, a incerteza sobre a política americana e a piora da atividade econômica doméstica - impõem novos riscos que deverão dificultar ainda mais os antigos desafios ao longo de 2017.
A agenda do presidente Temer tem na aprovação da emenda constitucional do teto dos gastos públicos e na reforma da Previdência os carros-chefes do governo para restaurar a confiança nas finanças públicas. A reforma da Previdência, apresentada no dia 5 de dezembro, é primordial para a consistência no tempo do teto dos gastos e, por isso, tem de ser aprovada até setembro. Sem ela, o teto não dará cabo sozinho de resolver todo o problema fiscal: ele deixará explícito o dilema de reduzir diversas rubricas para compensar o rombo crescente da Previdência.
Nesse contexto, as tensões entre os diversos grupos interessados em preservar seus ganhos históricos se acirrarão, inviabilizando consensos políticos em torno do orçamento. A próxima batalha a ser travada, portanto, será a de reformar a Previdência Social, de forma a conter o crescimento de seu pesado déficit. Essa agenda é condição necessária para que o presidente Temer consiga induzir uma recuperação econômica duradoura.
Há espaço para acelerar a queda da taxa Selic e reduzí-la em pelo menos 4 pontos percentuais
As inegáveis conquistas de Temer durante a votação da PEC do teto dos gastos podem ser atenuadas com os recentes acontecimentos na arena política e no contexto da Lava-Jato, que poderiam turvar o ambiente político para aprovação de novas reformas. Nesse sentido, as fricções de líderes do Congresso com as autoridades judiciárias são aperitivos ao estrago que as delações premiadas podem fazer em Brasília.
Temer, por outro lado, mostrou habilidade política e tenacidade ao abortar uma crise ainda maior entre o Legislativo e o Judiciário. A forma como esse jogo de forças se dará em 2017 será determinante para o sucesso do governo, visto que a contaminação política enfraquecerá a força do Planalto na tramitação da reforma da Previdência.
A posse do novo presidente dos EUA pode encerrar um longo período de bonança internacional, trazendo também reflexos negativos para o governo brasileiro. De acordo com as sinalizações dadas ao longo de sua campanha, Donald Trump prepara-se para promover um relaxamento fiscal via queda de impostos e aumento no investimento em infraestrutura, além de endurecer as políticas comerciais e de imigração e, por último, desregulamentar a economia (nos âmbitos financeiro, ambiental e do sistema de seguro de saúde).
Os impactos sobre a economia brasileira virão em três frentes: 1- menor crescimento das exportações, por meio da redução do comércio internacional; 2- menor espaço para cortar juros, dado o enfraquecimento do real com a expectativa de uma política monetária americana mais contracionista; e 3- menor flexibilidade para implementar uma consolidação fiscal gradual, caso aumentem a aversão ao risco e a decorrente volatilidade nos mercados.
Para piorar a situação, houve ainda a surpresa negativa com a piora do crescimento econômico brasileiro no terceiro trimestre de 2016, quando o PIB voltou a cair de maneira mais aguda (contração de 0,8% em relação ao trimestre anterior e de 2,9% em relação ao mesmo trimestre do ano passado). A notícia foi o gatilho para uma onda de revisões baixistas do crescimento de 2017. A expectativa de crescimento da economia brasileira para este ano, que era de 1,3% há pouco mais de um mês, reduziu-se para cerca de 0,5% recentemente, de acordo com a pesquisa Focus do Banco Central.
Se nosso cenário já incorporava uma leitura mais cética acerca da retomada do crescimento neste ano, os dados recentes e a indisponibilidade de instrumentos que impulsionem a atividade nos dão mais convicção de que essa recuperação será a mais tímida de todas as saídas de crises que o Brasil já experimentou. Em outras palavras, o entupimento de importantes canais (como o do crédito) acaba por limitar fortemente os estímulos possíveis à demanda da economia, o que, por sua vez, posterga a recomposição do consumo e do investimento no país.
Sendo assim, a única válvula de escape da economia nos parece ser a politica monetária. Levando em conta a queda acentuada da inflação corrente e a ancoragem das expectativas à meta, o Banco Central tem espaço para acelerar a queda da taxa Selic. Em nossa opinião, as taxas reais de juros poderiam cair rapidamente abaixo do seu patamar de equilíbrio para garantir uma política monetária acomodatícia. Apesar de toda a incerteza em torno do nível de equilíbrio da taxa real de juros no Brasil, nossos cálculos apontam que há espaço para uma redução de ao menos 4 pontos percentuais na taxa Selic.
Na medida em que o endividamento das firmas e famílias impedirá que esse estímulo monetário converta-se em uma melhora do mercado de crédito, cremos que o principal papel da política monetária nesse ciclo será o de reduzir o custo financeiro e aliviar a situação de alavancagem do setor privado.
Em suma, vemos pelo menos três grandes riscos para a economia brasileira ao longo do ano de 2017: as ameaças politicas à governabilidade do presidente Temer, que comprometem a aprovação de reformas necessárias para a recuperação da confiança na dinâmica das despesas publicas; a posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, com todas as consequências para a economia mundial; e, por fim, o baixo desempenho da atividade econômica, com a recente deterioração dos canais de estímulo ao crescimento econômico.
Isso posto, vemos a queda dos juros como a única alternativa viável para desfazer o pessimismo vigente. A janela de oportunidade de Temer se estreita a cada dia, mas ainda há tempo de 2017 ser de fato um ano muito melhor do que o que findou.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O 'segredo' da única grande pesquisa que previu vitória de Trump

ORIGINAL em: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37919512
(existe uma parte iterativa não capturada neste blog)



Direito de imagem GETTY IMAGES Image caption
Mesmo pesquisas de veículos de imprensa favoráveis a Trump não projetaram vitória do candidato republicano
A vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos foi ainda mais surpreendente por ter desafiado mesmo as previsões de setores da mídia que apoiaram o candidato do Partido Republicano no pleito de terça-feira.
A única exceção foi o jornal Los Angeles Times. Durante os últimos quatro meses, a publicação do Estado da Califórnia divulgou pesquisas, em parceria com a Universidade dde South California, mostrando intenções de voto para o bilionário bem maiores do que outras medições ao redor do país. De acordo com o LA Times, Trump registrou, em média, seis pontos percentuais a mais do que o atribuído por outros institutos de pesquisa.
"Nossas pesquisas foram recebidas com desconfiança e mesmo ultraje por alguns de nossos leitores, especialmente os democratas, que frequentemente nos criticaram. Mas a maioria das pesquisas no país mostrava (a candidata do Partido Democrata) Hillary quatro ou cinco pontos na frente", escreveu David Lauter, chefe do escritório do jornal em Washington.
Lauter lembrou que o LA Times já havia destoado da concorrência em 2012, quando projetou uma vitória bem mais folgada do presidente Barack Obama na disputa com o republicano Mitt Romney do que a maioria das pesquisas.

Direito de imagem USC Image caption: A pesquisa publicada pelo "Los Angeles Times" e a USC na véspera da eleição.
O segredo, segundo o jornal, é uma diferença de metodologia na hora de refinar os resultados das entrevistas em relação à diversidade da população americana. Ironicamente, embora tenha apoiado a candidatura de Hillary, o LA Times acredita ter ajudado Trump ao revelar tendências que a campanha do republicano parece ter explorado muito bem.
Um exemplo: as pesquisas indicaram em agosto que as chances de vitória do empresário dependiam muito da mobilização de eleitores brancos que não haviam ido às urnas na eleição presidencial de quatro anos atrás. De acordo com as estatísticas eleitorais, Trump conseguiu aumentar o comparecimento em Estados considerados chave para sua vitória.
As pesquisas do jornal teriam ainda antecipado problemas para Hillary e possíveis diferenças entre as projeções de voto para a democrata e seu desempenho real nas urnas: eleitores de Trump entrevistados para as medições da USC disseram que "não se sentiam confortáveis" declarando seu apoio ao republicano ou a candidatos independentes pelo telefone. 

Direito de imagem GETTY IMAGES Image caption:  Nate Silver (à esquerda) tinha dado chances de vitória de 71% para Hillary na véspera da eleição
As pesquisas do LA Times foram todas feitas online.
Se a publicação da Califórnia tinha motivos para celebrar, o mesmo não se pode dizer do principal "guru" americano das projeções. O economista Nate Silver, que ficou famoso por ter acertado o resultado das eleições presidenciais de 2008 e 2012 Estado por Estado, publicara na segunda-feira em seu blog, o Fivethirtyeight, que Hillary tinha mais de 70% de chances de ser eleita presidente.
Desta vez, porém, Silver parece ter menosprezado as chances do candidato republicano (o democrata Obama derrotou nos pleitos anteriores John McCain e Romney). Diversas vezes durante a campanha ele deu chances de menos de 20% de vitória para Trump. O economista não foi o único a errar, claro, mas saiu dessa campanha com a reputação chamuscada. Isso ao contrário do historiador Alan Lichtman, que no final de outubro tinha previsto uma vitória de Trump.
Desde 1984, ele tem acertado o vencedor, com base em um questionário simples e que leva em conta uma análise de fatores tão diversos como derrotas militares e carisma de candidatos. Mesmo quando Trump se viu envolvido em denúncias de assédio sexual, Lichtman não mudou sua projeção.