sexta-feira, 31 de março de 2017

Roberto Campos pregou no deserto (Renato Fragelli)



 VALOR ECONÔMICO - Sergio Lamucci - 31/03/2017

Roberto Campos "pregou no deserto em favor do liberalismo econômico" no Brasil, diz o economista Renato Fragelli, professor da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da Fundação Getulio Vargas (FGV) e colunista do Valor. "No Brasil, a direita quer um Estado grande para que ele seja saqueado pelo patrimonialismo, enquanto a esquerda quer um Estado igualmente grande para que seja saqueado pelo corporativismo. Campos queria um Estado pequeno para que ele não fosse saqueado." A seguir, os principais trechos da entrevista. Valor: Qual foi a principal contribuição de Roberto Campos?
Renato Fragelli: Se eu tiver que eleger apenas uma de suas atuações como sua grande obra, é o PAEG. O programa contou com a colaboração de outros economistas de renome, como Otávio Gouveia de Bulhões e Mário Henrique Simonsen. Bulhões foi o baluarte do rigor fiscal, bem como do realismo cambial e tarifário. Simonsen concebeu a estratégia de combate à inflação, imposta a partir de meados de 1965, que a debelou rapidamente. Mas Campos, na condição de ministro do Planejamento, foi o maestro daquela afinadíssima orquestra. O PAEG foi o mais coerente e abrangente plano de desenvolvimento implantado no Brasil desde o Descobrimento. De caráter liberal, o programa foi implantado num país cuja economia encontrava-se estagnada, com inflação crescente, elevado déficit público, tarifas públicas defasadíssimas, crise cambial e até atrasados comerciais.
Valor: Em que áreas o PAEG teve mais impacto?
Fragelli: O PAEG corrigiu o atraso cambial e o irrealismo tarifário; implantou uma novidade mundial, a reforma fiscal através de impostos sobre o valor adicionado - IPI, ICM e ISS; criou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço [FGTS], em substituição à antiga estabilidade no emprego alcançada após dez anos de serviço, mesmo em empresas privadas; implantou a correção monetária, que viabilizou financiamentos de longo prazo; instituiu o Banco Central independente e combateu a inflação, para citar apenas as principais. O chamado "milagre brasileiro", período entre 1968 e 1974, em que o PIB cresceu 10% ao ano, com inflação razoavelmente controlada em torno de 20% ao ano, é uma expressão muito enganosa, pois não houve milagre algum, mas a merecida colheita dos frutos semeados pelo PAEG. Boa parte dessas reformas foram posteriormente desfeitas por sucessivos governos que sucumbiram aos grupos de pressão à esquerda e à direita, para infelicidade dos verdadeiramente pobres do país.
Valor: A correção monetária nasceu no PAEG. Em que medida isso afeta o período de Campos à frente do Planejamento?
Fragelli: A criação da correção monetária tinha várias funções. Em primeiro lugar, era um instrumento de redução do déficit público, pois, ao indexar impostos atrasados, ela constituía um importante instrumento de desestímulo ao atraso oportunista no recolhimento de tributos. Em segundo lugar, viabilizou a criação do mercado de títulos públicos, num país onde a única fonte de financiamento de déficits públicos era então a emissão monetária. Uma terceira função era viabilizar a formação de poupança de longo prazo, num país solapado por uma década de inflação. A correção monetária permitiu a criação do FGTS, instrumento que facultou aos trabalhadores de empresas privadas optar entre permanecer com direito à estabilidade no emprego após dez anos de serviço ou receber um salário anual adicional sob forma de depósito no FGTS. Uma quarta função foi eliminar uma crônica e estrutural fonte de descapitalização das empresas. Com a correção monetária do patrimônio líquido lançada como despesa, para efeito de apuração do lucro, eliminou-se a tributação sobre lucros nominais ilusórios. Ao tomar posse, em abril de 1964, Castello assumiu com inflação em vertiginosa ascensão. Se a inflação do primeiro trimestre tivesse se mantido nos três seguintes, a inflação daquele ano teria atingido 140%. A inflação de 1967 foi 24%. Após a posse de Costa e Silva, o novo presidente retirou o combate à inflação da agenda, optando pela retomada do crescimento em ambiente de moderada inflação. Campos teria levado a inflação a um dígito, tornando desnecessária a correção monetária.
"Campos combateu a estatização, sem nunca ter sido um liberal ingênuo, desses que defendem (...) que o mercado pode tudo resolver", diz Fragelli
Valor: Qual foi o papel de Campos como defensor das ideias liberais num país marcado pela forte presença do Estado?
Fragelli: Campos, assim como antes Eugênio Gudin, pregou no deserto em favor do liberalismo econômico. No Brasil, a direita quer um Estado grande para que ele seja saqueado pelo patrimonialismo, enquanto a esquerda quer um Estado igualmente grande para que seja saqueado pelo corporativismo. Campos queria um Estado pequeno para que ele não fosse saqueado. As ideias de Campos não tinham eco num país com a mentalidade brasileira. Foi uma voz solitária contra o gigantismo estatal. Na década de 1950, perdeu a luta contra o monopólio do petróleo. Este fora adotado no México e na Venezuela, mas somente após as empresas estrangeiras terem localizado o petróleo no subsolo nacional. No Brasil, em franco contraste, a criação do monopólio implicou a monopolização do risco de sua exploração. O enorme custo associado ao risco da exploração do petróleo foi bancado por uma população de miseráveis que se viram privados de bom ensino e saúdes públicos. Na década de 1980, Campos perdeu outra batalha ideológica, aquela contra a reserva de mercado da informática, que uniu a improvável colcha de retalhos formada por esquerdistas, militares nacionalistas, a Conferência Nacional do Bispos do Brasil e até a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. A reserva foi responsável pelo atraso no setor. Sem a reserva de mercado para hardware e software, o país teria se concentrado neste último, como fez exitosamente a Índia.
Valor: Qual foi o aspecto mais importante das ideias defendidas por Campos no Brasil?
Fragelli: Campos combateu a estatização, sem nunca ter sido um liberal ingênuo, desses que defendem cegamente que o mercado pode tudo resolver. Sempre acreditou no planejamento, mas sabia que esse teria que se dar em doses moderadas e racionais. Já na década de 1950, defendia a adoção de uma taxa de câmbio nominal flutuante determinada pelo mercado, algo que só viria a ser adotado em 1999. Campos foi um grande incompreendido. Tanto pela esquerda estatizante, que maldosamente o alcunhou de Bob Fields, quanto pela direita retrógrada, uma eterna defensora de um Estado distribuidor de subsídios e proteções aduaneiras à burguesia nacional. Campos teria sofrido uma grande depressão se tivesse sobrevivido o suficiente para assistir a seu BNDE, sob o governo do PT, receber 10% do PIB em fundos públicos para que fossem emprestados a taxas subsidiadas a grandes empresas, assim inibindo o desenvolvimento do mercado de capitais.
@economia

quinta-feira, 30 de março de 2017

Pedro Simon rebate críticas de FH a Itamar (Sérgio Roxo - O Globo)

O GLOBO - 31/03/2017
Para ex-senador, tucano demonstra 'rancor e animosidade' contra o seu antecessor na Presidência
-SÃO PAULO- Líder do governo Itamar Franco (19921994), o ex-senador Pedro Simon rebateu as acusações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao ex-presidente mineiro no terceiro volume de seus "Diários da Presidência", lançado na semana passada. Para Simon, o tucano mostrou "rancor e animosidade" inexplicáveis contra o seu antecessor. - O Fernando Henrique disse que foi babá do Itamar, não é verdade. Eu nunca vi nada disso - afirma Simon, de 87 anos, que deixou o Senado em 2015. No livro, o tucano diz que foi a "amaseca" de Itamar na Presidência da República.
O ex-senador nega também que o então presidente tenha colocado obstáculos à implantação do Plano Real, como FH dá a entender no livro. O tucano era ministro da Fazenda, na época.
- Da onde ele tirou isso? Onde tem uma palavra do Itamar contra o Plano Real? O Fernando Henrique é um brilhante sociólogo e nunca foi economista. Teve o mérito de coordenar os economistas. Daí dizer que o Itamar não conhecia o plano, que não leu, é querer desmerecer. Foi o Itamar que determinou que as coisas acontecessem - diz o ex-senador. "CASO DE ANÁLISE" No livro, o tucano dispara críticas contra o Itamar, que, no período abordado (1999-2000), era governador de Minas, depois que ele anunciou moratória da dívida do estado. O episódio agravou a crise econômica da época.
Outro ponto do livro de Fernando Henrique contestado por Simon trata da revelação de que os chefes militares da época o consultaram em 1994 sobre a possibilidade de permanência no Ministério da Fazenda, em caso de uma substituição de Itamar, pelo Congresso, provavelmente por Jarbas Passarinho. A consulta a FH teria sido feita pelo general Romildo Canhim (19332006), então ministro da Secretaria de Administração Federal, logo após Itamar ser fotografado no carnaval daquele ano ao lado modelo Lilian Ramos, sem calcinha.
- Nunca ouvi falar nisso. Fui líder do governo o tempo todo. Em que momento aconteceu isso? - questiona Simon.
De acordo com o ex-líder do governo no Senado, Fernando Henrique mudou de postura com relação a Itamar ao longo do tempo.
- No início, quando queria ser ministro, o Fernando Henrique ficava rodeando o Itamar o tempo todo. A ponto de o Itamar dizer: "é impressionante como o Fernando Henrique gosta da gente.' Depois de ser eleito presidente, o tucano passou, na visão de Simon, a tratar Itamar de outra forma.
- Quando o Fernando Henrique se consolidou, passou a ver a ver o Itamar como estorvo. Acho que é um caso de análise. É uma coisa muita estranha essa animosidade, esse rancor.
O ex-senador ainda afirma que Itamar foi o primeiro a bancar a candidatura presidencial de FH em 1994, antes da adesão do PSDB. O gaúcho conta que apoiou inicialmente o tucano, mas se afastou após ele fechar apoio do PFL à sua candidatura.
Simon também provoca e diz que Itamar foi mais rigoroso que o seu sucessor na negociação de cargos com o Congresso.
- Uma das coisas que diferenciou o Fernando Henrique do Itamar foi o toma lá dá cá. Itamar não fez isso.
O ex-senador pelo Maranhão Luiz Fernando Freire, filho do também ex-senador Vitorino Freire, foi outro que saiu em defesa de Itamar Franco. Freire disse que como senador teve a "honra e o privilégio" de conviver e de se tornar amigo de Itamar, a quem aprendeu a admirar por sua "incorruptível conduta na vida política e pessoal".
- Dizer que Itamar Franco era temperamental não é ofensa, mas apenas uma de suas características. O que ofende mesmo, tanto à memória nacional como a do próprio autor dos diários, é o pavoneamento permanente, o processo sistemático de falar mal de seus mais próximos amigos e colaboradores no governo ou fora dele, o ridículo e habitual autoelogio, a desmedida e despropositada vaidade, e pior do que tudo, a marca da ingratidão dirigida a quem o inventou como ministro e presidente da República, e a quem absurdamente acusa de sequer ter lido o Plano Real - disse Freire.
O ex-senador afirmou que Fernando Henrique sabe que nenhum presidente da República - "mesmo os mais cheios de si como o próprio FHC" - deixaria de ler um projeto tão ambicioso como a troca da moeda do seu país. EX-MINISTRO APONTA INTERESSE POLÍTICO Já o ex-ministro da Justiça no governo Itamar Alexandre Dupeyrat destacou que uma das facetas da política é tratar-se de uma atividade onde a traição faz parte das regras do jogo e condenou a postura de FH no livro: - Ao que parece, o autor se coloca num pedestal, acima de tudo e de todos, criticando, de forma veemente, a "podridão" e a "corrupção" do sistema político brasileiro e, em especial, "a insistência do PMDB na busca de cargos". FH, ao que tudo indica, parece pretender surfar na onda anticorrupção que tomou conta do país após as revelações da Lava-Jato.
Segundo Dupeyrat, o paradoxo é que o governo de FH não passou imune à corrupção, mas preferiu debitar ao excessos do Ministério Público os ilícitos no curso da sua gestão, "como o episódio envolvendo a diretoria do Banco Central".
Dupeyrat questiona porque FH enfatiza, justo neste momento, a personalidade de Itamar, a ponto de dizer que foi "a ama-seca dele" e, nesta condição, impediu crises, inclusive com os militares" - Não é preciso muita perspicácia para entender o objetivo. Ele quer se apresentar como a pessoa que o país necessita num momento de grave crise política, social e econômica.

@política

quarta-feira, 29 de março de 2017

Não é só a direita: por que parte da esquerda britânica apoia o Brexit?


Quando os britânicos acordaram no dia de 24 de junho de 2016, a apertada vitória da decisão de deixar a União Europeia, aprovada em um plebiscito, não foi a única surpresa: embora tenha sido uma bandeira defendida durante anos pela direita no Reino Unido, a saída do bloco foi, de certa forma, também abraçada pela esquerda, mais especificamente pelo Partido Trabalhista.

De acordo com uma série de pesquisas publicadas após o histórico resultado, que desencadeou o processo conhecido como Brexit, eleitores trabalhistas votaram de forma majoritária pela permanência britânica no bloco (63%).

Mas a minoria significativa teve peso determinante no resultado final do pleito - o Brexit venceu por pouco mais de 1 milhão de votos entre as 33 milhões de pessoas que foram às urnas.


A surpresa foi ainda maior pelo fato de que regiões tradicionalmente de esquerda, como o nordeste da Inglaterra e o País de Gales, engrossaram a vitória eleitoral da saída da UE ─ no nordeste, por exemplo, o Brexit venceu com um percentual de votos (58%) maior do que do resultado geral (52%).

Esquerdistas pró-Brexit ganharam seu próprio apelido: lexiteers, um híbrido das palavras "left" (esquerda, em inglês) e Brexit.

O termo chegou a ser mencionado durante a campanha para o plebiscito, mas pareceu ter passado despercebido até o resultado das urnas.



Por que a esquerda?
Contudo, como a própria arquitetura do Brexit, as motivações que levaram eleitores desse espectro político a apoiar uma causa tradicionalmente associada à direita são mais complexos do que um simples apelido.

"O euroceticismo nunca foi exclusividade da direita britânica, e durante a campanha para o referendo havia setores da esquerda declarando apoio ao Brexit", explica o cientista político Jon Tonge, da Universidade de Liverpool, um dos principais analistas eleitorais britânicos.

"Porém, suas vozes eram minoria e tampouco contavam com personalidades políticas fazendo campanha pela Brexit, como foi o caso do Partido Conservador e do Ukip (legenda fundada nos anos 90 exclusivamente com a plataforma de saída da UE)", acrescenta.

Em meio a um Partido Trabalhista marcado pela guinada rumo ao centro nos anos 90, que mudou a imagem associada ao socialismo e, pela primeira vez na história política britânica, garantiu à legenda três mandatos consecutivos no governo, entre 1997 e 2010, a causa eurocética foi abafada.

Ao contrário do que aconteceu em 1975, quando o governo trabalhista de Harold Wilson precisou convocar um plebiscito sobre a permanência no bloco, ao qual havia se juntado apenas três anos antes, para aplacar a ira do partido e, sobretudo, dos sindicatos de trabalhadores, históricos aliados da legenda. Ironicamente, com ajuda crucial dos conservadores, o Brexit original foi derrotado com sobras - 67% a 23%.

"Em 2016, tivemos a situação oposta, em que um premiê conservador (David Cameron) precisou convocar a consulta por pressão das alas eurocéticas do seu partido. Só que o resultado não lhe favoreceu", conta Alan Charlton, embaixador britânico em Brasília entre 2008 e 2013, referindo-se à renúncia de Cameron, que fez campanha aberta contra o Brexit.
Desconfiança

Tonge, porém, explica que o euroceticismo trabalhista nunca "morreu".

"A esquerda tem problemas com a UE e é errado assumir que lexiteers são simplesmente xenófobos. O argumento é que a união facilitou o trabalho do capitalismo e suprimiu os direitos dos trabalhadores, algo reforçado pelas medidas de austeridade que o bloco impôs a países como a Grécia e a Irlanda quando precisaram de ajuda econômica", explica Tonge.

"Sem falar que durante muito tempo houve alas trabalhistas lamentando a entrada do Reino Unido na UE (1972) porque isso mataria de vez o projeto de um governo socialista no país", acrescenta.

O cientista político explica, porém, que a convicção política não é a única explicação para a popularidade do Brexit entre eleitores de esquerda - que também inclui o Partido Nacionalista Escocês, cuja terça-parte do eleitorado (36%) votou pelo Brexit na Escócia, apesar da vitória tranquila dos defensores da permanência do Reino Unido na UE (remainers) no país.

"Não estou dizendo que o argumento sobrevive a uma análise forte, mas eleitores dessas regiões usaram o plesbiscito para manifestar sua percepção de que a UE não ajudou a classe trabalhadora e criou dificuldades por causa da livre movimentação de imigrantes dos países do bloco", diz Tonge.

"E, sim, há eleitores de esquerda que dividem com os de direita a reclamação de que a UE é uma instituição burocrática e que afetou a soberania britânica", diz Tonge.
Estereótipos

Em um artigo publicado na terça-feira pelo jornal americano The New York Times, o acadêmico britânico Alan Johnson expressa a preocupação com generalizações.

"Somos lexiteers, mas nem por isso somos xenófobos. Votamos pelo Brexit porque tememos o projeto autoritário neoliberal de integração proposto pela União Europeia. Defendemos um sistema político democrático", escreveu Johnson.

O web designer Trev Prellie, de 51 anos, que fez campanha aberta pelo Brexit em suas contas de mídias sociais, diz que o argumento de que todos os lexiteers são contrários à imigração é o que mais o deixou frustrado em debates e conversas.

"Para mim, o voto não teve nada a ver com imigração. Votei contra uma organização formada por banqueiros que não foram eleitos por mim. Quando olho para o que a UE fez com a Grécia, não vejo uma instituição benevolente, mas sim uma que passou por cima do voto popular dos gregos, cuja maioria era contra a austeridade", afirma.

Prellie vive em Birmingham, segunda maior cidade do Reino Unido e tradicional bastião da esquerda britânica.

"Além do mais, sou socialista e defendo, por exemplo, a nacionalização de serviços públicos essenciais, algo que a legislação da UE não permite", completa.



'Fronteiras reorganizadas'
Jon Tonge afirma que o resultado do plebiscito britânico mostra o que se pode chamar reorganização de fronteiras políticas no Reino Unido e na Europa, em que tanto partidos de esquerda quanto de direita buscam um discurso mais nacionalista e protecionista.

Isso ainda que o sucesso de políticos da considerada extrema-direita, como Marine Le Pen, na França e Geert Wilders na Holanda, obtenha mais atenção.

"O populismo está nos dois lados em um momento em que muitas pessoas na Europa e no mundo estão desiludidas com a globalização e se sentem alienadas do processo político", finaliza.




http://www.bbc.com/portuguese/internacional-39431590 

Estado Islâmico continuará ameaçador mesmo sem Mossul e Raqqa (DN - Portugal)

Enfraquecimento territorial no Iraque e na Síria poderá levar a um aumento dos ataques de baixo custo no Ocidente, defendem especialistas ouvidos pelo DN
O Estado Islâmico (Daesh em árabe) parece cada vez mais enfraquecido. A prová-lo estão as sucessivas derrotas territoriais que tem vindo a sofrer. Tudo indica que será uma questão de tempo até que Mossul caia definitivamente nas mãos das forças iraquianas. E Raqqa, na Síria, será a batalha seguinte. Terá a organização terrorista os dias contados? "Infelizmente, não creio. Perder esses dois bastiões será uma mossa muito grande, mas não o princípio do fim", defende ao DN Felipe Pathé Duarte, professor universitário e autor do livro Jihadismo Global - Das Palavras aos Actos.
Mossul, o último grande bastião do Daesh no Iraque, tem também um valor simbólico. Foi a partir daí que Abu Bakr al-Baghdadi declarou o califado em 2014. Foi a partir daí que a organização islâmica arrancou para a conquista de território na Síria e no Iraque. Depois dessa expansão inicial, os últimos meses têm sido pouco auspiciosos para o Daesh do ponto de vista militar. De acordo com o IHS Conflict Monitor, no início de 2016 os militantes do Estado Islâmico controlavam, na Síria e no Iraque, 78 000 km2. Doze meses mais tarde, em dezembro, a extensão de território nas mãos da organização tinha recuado para 60 400 km2 (o que equivale a cerca de dois terços da dimensão de Portugal). Feitas as contas, o Daesh perdeu 22,5% de território em 2016 - o que compara com uma perda de 14% em 2015. Também segundo um relatório do IHS citado pela BBC, no auge do domínio cerca de dez milhões de pessoas estariam a viver sob a égide do Estado Islâmico. Em outubro de 2016 eram apenas seis milhões e hoje serão menos ainda.
Até que ponto estará o Daesh verdadeiramente enfraquecido? "A perda territorial traz outros dois problemas ao Daesh: dificulta o financiamento e faz que seja mais complicado receber combatentes estrangeiros", explica Pathé Duarte. "Ainda assim, isto não significa que o Estado Islâmico esteja a deixar de representar uma ameaça", diz o mesmo analista. Para o professor universitário, estamos a falar de uma guerra que depende principalmente de uma ideia mais do que de domínio territorial ou de líderes: "Enquanto existir a ideia do EI, haverá sempre alguém que estará disposto a lutar em nome da causa." Por outro lado, Felipe Pathé Duarte acredita que os desaires territoriais levarão a que o Daesh sinta necessidade de provar a sua capacidade operacional, incentivando ataques de baixo custo, nomeadamente através de lobos solitários, como aconteceu, por exemplo, em Nice ou em Berlim.
"Dá a ideia de que quanto mais território o Estado Islâmico perde na Síria e no Iraque maior é a sua capacidade de fazer ataques no Ocidente", sublinha ao DN Mitchell Belfer, presidente do Centro de Informação Europa-Golfo, com sede em Roma, e diretor do Central European Journal of International and Security Studies.
O analista justifica este aparente paradoxo com o investimento que o Daesh tem realizado em células adormecidas nos países ocidentais e também com o trabalho que continua a ser feito pelos pregadores do ódio que continuam a radicalizar jovens. "O EI nunca teve grande poderio militar. Não tem aviões, nem tanques, nem artilharia e é um aglomerado de soldados que não falam a mesma língua nem se regem pelas mesmas regras. Mas essas deficiências são compensadas com o tipo de armas que usa: carros-bomba, explosivos e guerreiros ultrazelosos e corajosos", acrescenta Belfer.
Esses combatentes continuarão fiéis ao Daesh mesmo que Mossul e Raqqa acabem por cair. "É uma violência que vive muito mais da ideia do que das infraestruturas. A ideia é o centro de gravidade. Continuará a existir um incentivo aos ataques de baixo custo que mostrem a vulnerabilidade das sociedades ocidentais", sublinha Felipe Pathé Duarte.

@islã

http://www.dn.pt/mundo/interior/estado-islamico-continuara-a-ser-uma-ameaca-mesmo-perdendo-mossul-e-raqqa-5740169.html

Tapioca pode matar? Não é verdade!

Circula pelas redes sociais uma notícia que diz que a tapioca pode matar. Não é verdade, de acordo com o pesquisador Joselito Motta, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que faz estudos sobre a mandioca há mais de 30 anos.

O texto em circulação diz que "a mandioca contém ácido cianídrico, que é transformado em cianeto, um veneno mortífero, que ataca células nervosas, causa danos nas funções dos pulmões e dos rins e, sobremaneira, no sistema digestivo".

Motta, que é engenheiro agrônomo com mestrado em difusão de tecnologia, explica que a informação é falsa porque o ácido é eliminado durante o processo de fabricação da farinha de mandioca. 

"A Embrapa possui uma coleção de cerca de 2.250 variedades, sendo a maioria bravas e em torno de 300 mansas ou aipins. As variedades bravas contêm o ácido cianídrico, princípio tóxico que é eliminado com o processamento para o fabrico da farinha de mandioca. A fécula ou amido é retirada de qualquer uma das variedades depois de um processamento ainda mais completo que para o fabrico da farinha. Não existe portanto a menor possibilidade de haver a presença de HCN - ácido cianídrico - na tapioca, pois ele é removido com a água durante o processamento da raiz", afirma Joselito Motta. Ele escreveu um post no Facebook para rebater a polêmica do artigo compartilhado e reiterou o que classificou de "absurdo" ao G1.


O artigo que circula nas redes diz que é necessário cuidado ao comprar a goma para o preparo da tapioca, por não se saber de que forma foi preparada.

Para o professor da Embrapa, não existe o menor risco em relação a isso, justamente porque o ácido cianídrico é retirado nas primeiras etapas de fabricação da farinha.


"A fécula é a última etapa do processamento da raiz da mandioca. Se a farinha já não tem HCN, imagine a goma ou o amido, que são a alma da farinha", diz o professor. 


domingo, 26 de março de 2017

Tenha aspirina à mão em caso de infarto (G1)

Texto compartilhado no Whatsapp lista providências a serem tomadas. Sociedade Brasileira de Cardiologia diz que mensagem tem credibilidade.

Por Roney Domingos, G1 26/03/2017 07h00
Uma mensagem que circula pelo Whatsapp faz um alerta para que as pessoas mantenham aspirina na cabeceira da cama no caso da iminência de um ataque cardíaco. Ela é verdadeira.
A mensagem aponta como sintomas de ataques cardíacos dor no braço esquerdo, dor intensa no queixo, náuseas e suores abundantes. Segundo a mensagem, diante da dor no peito, é importante dissolver imediatamente duas aspirinas na boca e engolir com um pouco d'água. Em seguida, ligar para os serviços de emergência.
A mensagem merece credibilidade, segundo o médico Celso Amodeo, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
O texto recomenda ainda que a pessoa sente em uma cadeira ou em um sofá e force uma tosse para fazer o coração "pegar no tranco".
Segundo Amodeo, a aspirina funciona como um antiagregante plaquetário e ajuda a evitar o agravamento de um possível infarto, provocado pelo entupimento das artérias.
A aspirina só não é recomendada caso haja uma contraindicação médica (como em caso de alergia ou hipersensibilidade, por exemplo).
Amodeo afima ainda que o ato de tossir pode, de fato, estimular o coração, revertendo o agravamento de uma arritmia. Ele ressalta, no entanto, que não é qualquer dor no peito que demanda esse tipo de recurso nem que esse expediente seja a principal medida a ser tomada nesses casos.
O médico citado na mensagem, o cardiologista Enio Buffolo, também confirma as orientações dadas.
Ao G1 ele diz que não escreveu o texto, mas afirma que as recomendações foram dadas em algum momento em que atendia um paciente e que alguém se encarregou de preparar uma mensagem de alerta. Segundo o médico, o compartilhamento sem fim fez com que ele recebesse telefonemas até da Califórnia (EUA) questionando sobre a veracidade do texto.

‘É ou não é?’, seção de fact-checking (checagem de fatos) do G1, tem como objetivo conferir os discursos de políticos e outras personalidades públicas e atestar a veracidade de notícias e informações espalhadas pelas redes sociais e pela web. Sugestões podem ser enviadas pelo VC no G1, pelo Fale Conosco ou:
pelo Whatsapp/Viber, no telefone (11) 94200-4444, com a hashtag #eounaoe.


http://g1.globo.com/e-ou-nao-e/noticia/e-verdade-mensagem-pede-que-pessoas-tenham-aspirina-a-mao-em-caso-de-infarto.ghtml

@saúde @coração

VISA se transforma em uma empresa de tecnologia (Carlos Sambrana)

Isto é Dinheiro - Março/2017
Desde agosto do ano passado, quando assumiu a presidência da Visa no Brasil, o executivo Fernando Teles passou a trabalhar incessantemente em um projeto: impulsionar ainda mais a bandeira de cartões como uma companhia de tecnologia focada em criar soluções para meios de pagamento. "O papel da Visa é ser uma criadora de tendências", diz ele à coluna. Com 3,1 bilhões de cartões no mundo e um movimento de US$ 8,2 trilhões, a companhia americana vem desenvolvendo de pulseiras inteligentes a chatbots que auxiliam a compra de consumidores em lojas varejistas. Teles falou à coluna:
Nos últimos anos, devido à evolução tecnológica, o mercado de meio de pagamentos mudou muito. O que a Visa tem feito para não ficar para trás?

O DNA da Visa é a inovação. Arrisco dizer que, na verdade, o papel da empresa é ser uma criadora de tendência.

E o que a empresa está fazendo?

Tem muito investimento em inovação sendo feito. Antes, desenvolvíamos o produto, pes-quisávamos e trazíamos para o mercado. Mudamos esse modelo. Agora, a palavra de ordem é colaboração. Hoje, desenvolvemos soluções, mas sempre em parceria. Por exemplo, em vez de desenvolver um produto e procurar demanda, nós partimos dos problemas dos nossos clientes, que são os bancos, os estabelecimentos e adquirentes, para desenvolver um produto.

Há exemplos disso no Brasil?

Desenvolvemos uma solução para o ShopFãcil, o marketplace do Bradesco. Eles tinham muito tráfego, mas a conversão de vendas não estava no patamar desejado. Então, criamos um assistente virtual, que funciona através de um chatbot. Basta entrar no Messenger, digitar ShopFãcil e conversar com um assistente virtual. Você é o consumidor, entra lá, diz o que quer comprar e ele começa a conversar com você. É tudo baseado em inteligência artificial. Ele começa a fazer perguntas, entende o seu perfil e faz uma sugestão de produto que atenda a sua necessidade. Aí, ele leva o consumidor para a loja e, quando estiver no ambiente, tem outra solução da Visa, o Visa Checkout, que também vai permitir fazer o pagamento. Então, num ambiente de troca de mensagem, você tem assessoria, visita uma loja, escolhe um produto, faz o pagamento e define o local de entrega. Esse é o primeiro chatbot de varejo da Visa no mundo e essa solução será exportada para outros países.

Quando o dinheiro vai desaparecer para dar lugar a outros meios de pagamento? Acho que existem alguns desafios. Em algumas formas de comércio, precisamos investir na aceitação. Estamos falando de transporte, do boleto do condomínio, modalidades que não são pagas com cartão. A outra coisa, que estamos fazendo, é a popularização do meio de pagamento, no caso o meio físico. Na hora que vou barateando esse acesso e vou transformando o cartão em uma pulseira, num device mais simplificado, isso ganha velocidade. Com a internet das coisas, então. No momento em que a cafeteira da sua casa se transforma em um instrumento de compra, você não vai precisar sair de casa e muito menos pagar em dinheiro. O pagamento Invisível, como já acontece com o Netflix, é a tendência.

E as Fintechs, de que forma impactam os negócios?

Achamos que elas são um fator positivo para a indústria. As fintechs se tornarão grandes parceiras das instituições de pagamento, dos bancos, pois existe essa complementaridade. Nós, por exemplo, temos uma parceria com a Startup Farm, a maior aceleradora de startups da América Latina. Fizemos um programa com eles que se chama Ahead Visa, para acelerar startups que tragam soluções inovadoras para o setor de meios de pagamento.

Como o senhor enxerga esses cartões, os private labei, não tiram clientes da Visa?

Enxergamos com bons olhos. Esse é um bom caminho, uma substituição de meio de pagamento para meio eletrônico e está trazendo um consumidor novo para o mercado.

E a Elo, bandeira do BB e do Bradesco, mexeu com o negócio de vocês?

Não mudou a nossa relação com os bancos, eles continuam sendo parceiros. O que aconteceu é que há mais um competidor disputando o mercado.

Em relação à mudança do rotativo do cartão. Qual é o impacto para a Visa?

Ainda é prematuro dizer, mas acho que vai diminuir a inadimplência, trazer uma nova forma de uso do cartão - talvez até mais esclarecida. O brasileiro, quando tem uma parcela, ele encara como uma dívida a pagar. Em alguns casos, a opção pelo rotativo, como você continua em dia com o banco, ele não encara como dívida. Acho que pode ajudar em termos de educação financeira.

O Banco Central começou a olhar para o mercado de cartões com mais atenção. O senhor sente isso?

Sim, uma parte desse mercado não era regulada e o BC entendeu que precisava estar mais próximo. O mercado eletrônico de pagamento é o futuro, não é o dinheiro e nem o cheque. O intuito do BC de se aproximar é, sim, ter um controle maior, ajudar o mercado, entender as condicionantes e o impacto na economia. Um mercado mais regulado dá mais trabalho, mas a saída disso é sempre mais positiva.

Como o sr. está observando a economia?

Eu sou um otimista, acho que a gente tem hoje indicadores de que a economia vai melhorar, estamos saindo de uma recessão muito acentuada. Vamos ter um 2017 um pouco melhor e um 2018 a um vapor muito diferente, uma curva de crescimento mais acentuada. E uma curva de crescimento com uma base muito mais sólida.
@Finanças @informática

sábado, 25 de março de 2017

A Janela de Overton (Merval Pereira)

O Globo - 25/03/2017

A surpreendente declaração do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), comparando a anistia ao caixa 2 eleitoral à repatriação de dinheiro levado para o exterior não declarado no Brasil, reforça a ideia de que ele está respaldando, com sua posição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a tentativa dos políticos denunciados na Operação Lava-Jato de encontrarem uma saída legislativa que os livre de condenações criminais nos processos a que respondem no STF.

Esse movimento crescente dos políticos para aprovar uma anistia aos que usaram dinheiro ilegal nas campanhas eleitorais, distorcendo o jogo político, vem de longe, quando pela primeira vez lançou-se a ideia de uma anistia ao caixa 2. A comparação com a anistia que permitiu a repatriação do dinheiro mandado no exterior não encontra abrigo nos fatos, pois para legalizar esse dinheiro mandado para fora do país o contribuinte, além de pagar multa e impostos, tem que provar sua origem legal.

A lei proíbe a repatriação de dinheiro oriundo de crimes, pois atinge apenas o dinheiro lícito. Mas abriu brecha para a anistia a crimes como falsificação de documentos público e particular, falsidade ideológica, uso de documento falso, todos previstos no Código Penal, o que deve interessar aos políticos acusados. Afinal, um dos crimes de que podem ser acusados é o de não ter declarado à Justiça Eleitoral todos os recursos utilizados na campanha, uma falsificação da declaração oficial.

Quem acompanha a movimentação pela anistia ao que chamam genericamente de caixa 2 já antevê que uma lei desse tipo dará respaldo aos acusados, que irão para a Justiça alegar que foram anistiados. Mas, e os crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro? Tudo isso acabará tendo que ser definido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que determinará os limites da aplicação da nova lei, ou a considerará inconstitucional.

O que o STF decidir influenciará os demais julgamentos da primeira instância, e no mínimo proporcionará que os advogados recorram de decisões que sejam diferentes das do Supremo. Mas, como um assunto como esse já se tornou banal a tal ponto que um ministro do Supremo se considerar em condições de defender a normalidade de uma anistia ao caixa 2, mesmo advertindo que os casos terão que ser analisados "no momento oportuno"?

É aí que entra a teoria da Janela de Overton, criada por Joseph P. Overton, um ex-vice presidente do Mackinac Center for Public Policy, um centro de estudos liberal nos Estados Unidos, que morreu prematuramente aos 43 anos em um desastre de avião. Overton imaginou uma "janela" onde as teses que são aceitas pela sociedade naquele momento determinado podem ser defendidas pelos políticos.

Seriam teses "aceitáveis" ou "populares". Se ideias "impensáveis" ou "radicais" forem defendidas, elas saem da "janela", e o político não ganha votos. Portanto, os políticos defendem as teses "populares", e não o que realmente pensam.

Mas a sociedade muda com o passar do tempo, e ideias antes "impensáveis" podem se tornar "aceitáveis" para a maioria. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o casamento de homossexuais. Mas há também quem queira alargar a "janela", criando situações que tornem ideias "radicais" em "aceitáveis". No momento, a discussão sobre a descriminalização do uso de drogas, começando pela maconha, está nesse processo de tentar alargar sua aceitação na sociedade.

Eéo que também acontece com a anistia ao caixa 2. Usada assim genericamente, a discussão transforma todos os crimes em questões menores, que podem ser anistiados. Se a discussão fosse em torno da anistia à corrupção, que é o que realmente acontecerá se for vitoriosa a tentativa de tornar o tema palatável, a rejeição da sociedade seria enorme.

Por isso, é preciso banalizar a questão, comparando-a a temas já aceitos pela sociedade, como a repatriação de dinheiro colocado ilegalmente no exterior. Aliás, a própria repatriação já foi um tema "impensável" até se tornar "aceitável" como política governamental.

@política @sociologia

sexta-feira, 24 de março de 2017

Terceirização e Precarização - Celso Ming


O ESTADO DE S. PAULO - 24/03/2017
A aprovação do projeto de lei da terceirização ficou inevitável diante das novas exigências da economia e da modernização das relações de trabalho. A regra anterior à lei aprovada na Câmara foi estabelecida a partir da Súmula 331 da Justiça do Trabalho, de 1993, mas ficou impraticável. Ela autorizava a terceirização apenas na contratação de atividades-meio e não nas atividades-fim. A partir dessa decisão, uma indústria podia terceirizar serviços de limpeza, de telefonia ou de segurança - setores que, em princípio, não fazem parte do núcleo de seu negócio - e não de atividade inerente à sua linha de produção.
Na prática, ficou impossível definir o que fosse atividade-fim e atividade-meio. Por que uma construtora não poderia contratar empresas que se encarregassem da instalação elétrica, da rede hidráulica, da aplicação de azulejos e dos serviços de pintura, todas essas atividades-fim de uma construtora? Por que uma indústria de celulose, como a Cenibra, foi proibida de contratar serviços de corte de madeira em seus próprios eucaliptais, se poderia comprar a matériaprima de outros fornecedores? Uma empresa agrícola não pode utilizar serviços de terceiros para o preparo de terra ou para colheita?
Toda mudança importante nas relações de produção mexe com o emprego e quase inevitavelmente é percebida como precarização. E, muitas vezes, é.
Mas, hoje, o argumento de que a terceirização precariza o emprego é brandido ou por quem defende privilégios corporativos ou por quem tem dificuldades para lidar com novidade no trabalho.
A maioria das empresas estatais, por exemplo, concedeu no passado benefícios privilegiados a seus funcionários e tem recorrido à terceirização para reduzir custos. O pessoal assim contratado não tem direito às mesmas vantagens.
Quem se pendura nesses benefícios imagina que mais cedo ou mais tarde perderá alguns deles ou todos, porque a terceirização prevê outro tipo de contrato. E reage contra ela.
Outra classe de opositores adverte que a terceirização e/ou a "pejotização" (empresas de pessoas físicas) sabotam a cobrança de contribuições para a Previdência Social e contribuem para o aumento do rombo.
Esse enfoque está errado em um ponto essencial. Não é a terceirização que está transformando as relações de trabalho e, em certa medida, corroendo as bases da Previdência. É a nova arrumação da produção e a utilização cada vez mais intensiva de tecnologias poupadoras de mão de obra, como a automação, a robotização, a inteligência artificial, a tecnologia de informação e toda a parafernália digital, imprescindível nas relações de produção, que estão exigindo mudanças na contratação de serviços.
A história das relações de trabalho está permeada por resistências a novidades e por queixas de precarização.
Quando criou a imprensa baseada em tipos móveis, Gutenberg foi acusado de desestruturar o trabalho dos copistas que passavam a vida transcrevendo livros e documentos antigos. No início do século 19, os trabalhadores do setor têxtil da Inglaterra quebraram máquinas (movimento luddista) porque viram na utilização de teares automáticos o instrumento de precarização das suas condições de trabalho.
Esses exemplos mostram que é preciso se adaptar às mudanças e não brigar contra elas.
l Encalhe das carnes O escândalo da carne tende a produzir uma desintegrante queda da inflação.
Os enormes encalhes de todos os tipos de carne, para exportação e para o mercado interno, deverão produzir novas quedas dos preços dos alimentos. As tabelas do IPCA-15 já mostraram certo recuo nos preços desse item de 0,07% em fevereiro e de 0,08% em março (até dia 15).
l Rações Também devem cair temporariamente os preços das rações, na cola da redução da produção de aves e de suínos.
l Sem sustentação Esse é o tipo de queda de preços que não ajuda ninguém. Ela é necessariamente de curto prazo, porque persistirá apenas enquanto durar o excesso de estoques. Como o estouro do escândalo deve desequilibrar o setor, o que estiver sobrando agora vai acabar faltando dentro de mais algumas semanas, porque o fluxo de toda a cadeia produtiva do setor foi truncado.
E os preços seguirão atrás.

@economia

quinta-feira, 23 de março de 2017

Governo deixa 86% dos servidores de fora da reforma da Previdência (Adriana Fernandes)

O ESTADO de SÃO PAULO - 23/03/2017
Com mudança no projeto de reforma anunciada na terça-feira por Temer, apenas os servidores federais civis vão se submeter às novas regras previdenciárias propostas; de acordo com o governo, decisão foi tomada por questões de autonomia federativa.
 http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,governo-deixa-86-dos-servidores-de-fora-da-reforma-da-previdencia,70001710513

A decisão do presidente Michel Temer de retirar os servidores estaduais e municipais da reforma da Previdência, anunciada na terça-feira, acabou deixando 86% do funcionalismo público em atividade no País fora do alcance da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que altera as regras de aposentadorias e pensões em tramitação no Congresso Nacional.
Do total de 6,214 milhões de servidores públicos (federais, estaduais e municipais), 5,362 milhões não farão parte da reforma depois que o presidente cedeu às pressão dos grupos organizados e parlamentares e anunciou anteontem o recuo na proposta. O cálculo foi feito pelo consultor legislativo do Senado e especialista em Previdência Pedro Fernando Nery.
A decisão abre um precedente para que outras categorias escapem também do alcance da reforma. A equipe econômica passou o dia tentando minimizar o impacto da mudança para conter uma piora da confiança no ajuste fiscal pelos analistas do mercado, mas, no Congresso, a retirada de outras categorias do funcionalismo público federal já é dada como certa, segundo apurou o Estado.
Os policiais federais fazem forte pressão e as chances de conseguirem ficar de fora da reforma com apoio dos parlamentares aumentou com a concessão feita pelo Planalto. Juízes e procuradores federais vão brigar para ficarem de fora e há emendas já apresentadas para isso. E os Estados, que enfrentam problemas graves nas suas contas em razão do aumento crescente do déficit da Previdência dos servidores, reclamaram da decisão (ver página B4).
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse ontem que havia um risco grande de judicialização da proposta. "Não é apenas uma questão de conveniência política ou viabilidade para os governadores, é de autonomia federativa", afirmou. Segundo o ministro, as regras para a Previdência dos servidores estaduais serão tomadas por cada Estado.
"O governo tomou a decisão de focar o seu trabalho no que é responsabilidade direta da União, que é o Orçamento federal", completou. Para os servidores da União, não haverá exceção. Um fonte da equipe econômica disse que o governo "não considera a hipótese de retirar nenhuma categoria federal da proposta".
Troca. Os dados apresentados pelo consultor do Senado levaram em consideração os militares das Forças Armadas, que também, com muita pressão, conseguiram escapar da reforma antes mesmo de a proposta ser enviada ao Congresso no final do ano passado. Apenas 852,85 mil servidores civis da União (14% do total do funcionalismo público brasileiro) serão afetados pela PEC.
Para o consultor do Senado, o governo está "trocando uma reforma por várias reformas". Segundo ele, o lobby para a mudança partiu sobretudo dos juízes, promotores e professores. Pelos dados do consultor, dos 5.593 entes federativos (Estados e municípios) do Brasil, 60% (3.382) têm regime próprio de previdência social.
Na avaliação de Nery, não se sabe ainda como o mercado financeiro vai quantificar o impacto da mudança, já que aumentam as chances de o governo federal ter de socorrer os Estados no futuro.
"A gente sabe que no Brasil a União é sempre muito chamada a socorrer os Estados. Não se sabe como o mercado vai 'preci-ficar' esse passivo contingente, que é a possibilidade de no futuro o endividamento aumentar porque ela vai ter que socorrer eventualmente Estados que não conseguirem pactuar novas regras com as suas assembleias", avaliou.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Grandes marcas retiram sua publicidade do Google e YouTube (Rory Cellan-Jones, BBC)

BBC - 21 março 2017
O Google, "rei" das ferramentas de busca na internet, não passa pelo melhor momento após algumas das maiores marcas do mundo decidirem retirar a publicidade que faziam no YouTube, a plataforma de vídeos do gigante da tecnologia.
A baixa mais recente foi a da rede de supermercados britânica Marks & Spencer, que seguiu a decisão de outras cerca de 250 empresas, como Audi, L'Oreal, Volkswagen, Toyota, McDonald's, os bancos Lloyds, HSBC e RBS e clientes do Havas Group UK - braço britânico da sexta maior agência de propaganda do mundo -, e a própria BBC. 

A razão comum tem a ver com uma investigação do jornal britânico The Times, que concluiu que anúncios publicitários dessas e de outras empresas eram promovidos em vídeos extremistas de conteúdo político e religioso, o que provocou tensão entre os anunciantes e a companhia de tecnologia.
O Google, no entanto, já se movimenta para tentar reverter os danos.
Nesta segunda-feira, o diretor do Google na Europa, Matt Brittin, participou da Advertising Week Europe, um dos principais encontros do setor do continente, e anunciou que a empresa assumiu o desafio de tentar reparar prejuízos à reputação após esse caso.
"Lamentamos que algo assim tenha ocorrido. Não queremos deixar passar e assumimos a responsabilidade", disse ele logo no início de sua palestra. 

O executivo disse ainda que os anúncios em questão não tiveram visualização significativa. Afirmou que o Google leva o assunto a sério e está investindo milhões de dólares e empregando milhares de pessoas para garantir que a "má publicidade" fique longe da plataforma.
Apesar disso, Brittin foi evasivo ao ser questionado se a empresa iria contratar funcionários para a tarefa específica de eliminar vídeos extremistas. Afirmou que a melhor opção é combinar tecnologia inteligente e alertas de usuários sobre conteúdos abusivos.
O caso expõe dois problemas difíceis para o Google: identificar vídeos ilegais que deveriam ser removidos do YouTube e determinar quais são legais, mas não adequados para veiculação de publicidade.
Segundo o Times, as empresas estavam financiando, por meio de propaganda, não apenas vídeos de conteúdo extremista, religioso e político, como também conteúdo homofóbico, antissemita e apologia ao estupro.
O maior desafio será proporcionar mais transparência aos clientes sobre o processo de classificação de vídeos como "seguros para oferecer anúncios". E delimitar isso não será tarefa fácil.


Mas Brittin parece estar seguro de que o Google será capaz de recuperar a confiança das marcas, fazendo uma análise exaustiva de suas políticas e mostrando aos anunciantes como podem controlar o destino de suas mensagens publicitárias.
O Google insiste em se firmar como uma plataforma de tecnologia e não uma empresa de mídia, e encontra cada vez mais dificuldade em manter essa distinção.
Os meios de comunicação enfrentam normas estritas com relação à publicidade, e tais regulações poderiam chegar ao próprio Google caso a empresa não consiga resolver os problemas atuais.

http://www.bbc.com/portuguese/internacional-39347913

Carne, vitamina C e capitalismo (Helio Gurovitz)

O Globo - 20/03/2017
 A Operação Carne Fraca levantou um dos fantasmas mais antigos da humanidade, revelou crimes repulsivos de uma minoria dos frigoríficos, o despreparo da Polícia Federal (PF) e da imprensa para lidar com o tema e demonstrou a absoluta ignorância do brasileiro sobre o capitalismo.

Derivaram da ação dois tipos de preocupação. O primeiro diz respeito à saúde da população brasileira. O segundo, à da nossa economia. A ação da PF foi justificada com base no primeiro. A reação do governo, no segundo. Ambos são legítimos e precisam ser compreendidos.

O cuidado com os animais que comemos é uma das mais arcaicas questões humanas, presente no rito de várias religiões. O catolicismo restringe a carne em certas datas sagrados. O hinduísmo simplesmente a veta. Judaísmo e islamismo seguem até hoje regras rigorosas para o abate que, sob o argumento de respeitar determinações divinas, serviam para manter padrões mínimos de higiene nas comunidades antigas.

Depois da Peste Negra, as cidades medievais afastaram de seu perímetro matadouros e curtumes, de onde imaginavam que vinha a praga (ela era, na verdade, causada por uma bactéria transmitida por pulgas de roedores). O horror provocado pela carne contaminada resistiu até o século XX. Tornou-se uma bandeira dos movimentos sociais no mundo todo, usada como forma de gerar repulsão pelo “capitalismo que envenenava o povo”.

Na União Soviética, o cineasta Sergei Eisenstein representou, no clássico Encouraçado Potemkin, a crueldade dos capitalistas na imagem vermes que consumiam a carne destinada aos marujos do navio onde começou a rebelião de 1905, embrião da Revolução Russa. A carne podre também foi invocada pelo escritor Upton Sinclair para denunciar as condições sórdidas dos matadouros americanos no best-seller The Jungle (A Selva).

As cenas hediondas do livro deixaram a população tão atemorizada que o governo americano se viu obrigado a impôr regulações sanitárias rigorosas e a criar, em 1906, a Food and Drug Administration (FDA), com seu extenso sistema de inspeção alimentar. Símbolo da esquerda, SInclair perdeu nos anos 1930 uma eleição para governador da Califórnia em que prometia acabar com a pobreza.

O recurso à imagem da carne podre transcendeu há muito a religião e a psicologia para entrar na política. Quando o presidente da República, Michel Temer, aparece nas primeiras páginas dos jornais comendo picanha numa churrascaria (foto), tenta afastar da mente da população o horror trazido pelo esquema de corrupção que fazia vista grossa à carne contaminada, desmascarado pela Polícia Federal na última sexta-feira.

Dos 4.837 frigoríficos sujeitos a inspeção federal, a PF encontrou suspeitas de irregularidade em 21. Muitas delas são comprovadas por meio de escutas telefônicas. Apenas uma por meio de análise química. A imprensa embarcou de modo acrítico no relatório da PF que, entre tantos absurdos científicos, descreve como cancerígeno a vitamina C (cujo nome cientítico é ácido ascórbico).

Tanto o ácido ascórbico quanto o sórbico – outro composto citado nos grampos da PF – são conservadores comumente usados na indústria alimentícia, ambos autorizados pela Anvisa (nossa versão brasileira da FDA). Até onde se saiba, nenhum deles é cancerígeno.

A vitamina C, ao contrário, é um anti-oxidante a que são atribuídas propriedades anti-envelhecimento. Pode ser consumida em qualquer quantidade, o excesso é excretado na urina. Além de conservar alimentos, é nutritiva. Apenas em combinação com um outro conservante comum, o benzoato de sódio, pode ocorrer, em certas condições, uma reação química que resulta em benzeno – este sim cancerígeno. Mas não há notícia de uso de benzoato com o ácido ascórbico na carne. Benzoato é usado só em refrigerantes.

Esses são conhecimentos de química básica, acessíveis a alunos do ensino médio, mas infelizmente ignorados tanto na PF quanto na maioria das redações que reproduzem os relatórios de autoridades como se fossem textos sagrados. A vitamina C continua a ser necessária como nutriente e conservador alimentar e, na prática, a operação da PF não oferece nenhum argumento para alguém se tornar vegetariano.

Claro que o descaso com a saúde pública – fosse em um único frigorífico – já seria escandaloso. Saber que funcionários do Ministério da Agricultura recebiam propina para aceitar a maquiagem de produtos impróprios para o consumo deixa qualquer um indignado. Ainda mais quando a denúncia envolve duas das maiores multinacionais brasileiras, BRF e J&F, incensados ao longo dos governos petistas como campeões nacionais. Ambos têm o Estado como acionista e sempre contaram com generosos subsídios para exportação.

Aqueles, contudo, que, desde os tempos de Eisenstein e Upton Sinclair, imaginam o capitalismo como um sistema cruel, em que o povo é alimentado com carne podre por empresários inescrupulosos, precisam rever os próprios preconceitos. É perfeitamente legítimo criticar BRF e J&F pela associação com o capitalismo de compadrio promovido há décadas no Brasil. Mas é irreal imaginar que as empresas têm interesse em prejudicar a saúde pública.


 Só quem nunca vendeu um prego pode pensar que interessa a um açougueiro vender carne podre. Todo comerciante sabe que a clientela só volta quando o produto é bom. É para garantir a qualidade que existem as dezenas de normas sanitárias que todos precisam respeitar. No caso das grandes multinacionais, as exigências são ainda mais rígidas.

Ninguém exporta nada sem cumprir todas as regras dos países de destino. A Organização Mundial do Comércio (OMC) tem registrado aumento nas barreiras fitossanitárias, usadas como forma de proteger a produção nativa de alimentos. Houve, segundo o último relatório anual da OMC, 468 notificações do tipo em 2000 – ante 1681 em 2015.

Se indústrias nacionais de alimentos ainda conseguem exportar para mercados cada vez mais rígidos e exigentes, é porque têm de cumprir regras que garantam a qualidade de seus produtos em todos eles. Quem garante isso não é outro sistema econômico, senão o capitalismo em sua forma mais avançada – aquela que promove o livre-comércio por meio de instituições globais como a OMC.

Foi a regulação internacional, hoje combatida pelo nacionalismo populista nos países ricos, que abriu mercado aos países emergentes e permitiu à nossa indústria se tornar a maior exportadora de carne do mundo. É certo questionar se isso teria sido possível sem uma mãozinha do BNDES – é provável que sim. Mas é lamentável que a imagem dos produtores seja contaminada pela ação de alguns executivos que, aparentemente, preferiram desempenhar o papel dos vermes no filme de Eisenstein.


http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/carne-vitamina-c-e-capitalismo.html

@política @Brasil

segunda-feira, 20 de março de 2017

Vídeo: o tunel da morte

O túnel de Lefortovo (em língua russa, Лефортовский тоннель) é um túnel em Moscou, Rússia. Com 2,2 km, é o quarto maior túnel urbano da Europa.

O túnel corre por baixo do rio Yauza, e a água vaza em alguns pontos. Quando a temperatura abaixa durante o forte inverno russo, a superfície da rodovia pode congelar, tornando-a bastante escorregadia. Por esse motivo, dá-se a ele o nome túnel da morte, devido à alta taxa de acidentes.


@turismo

Novas tecnologias recrutam candidatos sem contato humano (Letícia Arcoverde)




VALOR ECONÔMICO- 20/03/2017
Quando se fala sobre o impacto da tecnologia no setor de recrutamento, a primeira imagem que vem à cabeça são redes sociais como o LinkedIn, que facilitaram o acesso a currículos dos mais variados. Um novo perfil de empresa, no entanto, com foco muito maior no desenvolvimento de tecnologia do que no processo de recrutamento em si, surge hoje como tendência. Com algoritmos e plataformas, muitas vezes criadas por profissionais estreantes no mercado de seleção, elas querem levar serviços de recrutamento a novos públicos ou tomar o espaço de algumas das principais companhias do setor. Fundado em 2014, o site Contratado.me traz ao Brasil uma ideia oferecida por empresas como Hired, nos EUA, e 100offer, na China. Por meio de publicidade segmentada e indicações, o site atrai profissionais com os perfis desejados para as vagas em demanda, mas sem publicar os anúncios abertamente. Para serem incluídos no banco de dados, os candidatos preenchem suas informações e fazem testes de habilidade técnica, e um algoritmo combina ambos para identificar os 5% melhores para cada vaga.
As empresas ficam responsáveis por avaliar a compatibilidade dos profissionais com a cultura organizacional. Cada entrevista ou contratação, no entanto, alimenta o algoritmo para identificar os perfis "preferidos" de cada empresa, e tentar tornar a escolha mais fácil. A média de duração de um processo de seleção é de 28 dias.
A plataforma concentra profissionais da área de tecnologia, em alta demanda e mais facilmente avaliados por testes técnicos, bem como de marketing digital, ciência de dados e "business intelligence". No ano passado, o site começou a recrutar também profissionais da área de negócios para consultorias estratégicas, mercado financeiro e para a área de desenvolvimento de negócios. No geral, as vagas do site têm salários entre R$ 5 mil e R$ 20 mil, com nível sênior até a gerência ou especialistas.
"Fizemos pesquisas com recrutadores de empresas para saber como elas fazem o processo seletivo e montamos uma inteligência artificial que imita o processo", explica o engenheiro Lucas Mendes, um dos fundadores. O que não significa que essa fórmula funcione para tudo. Mendes conta que a empresa tentou incluir a seleção de profissionais das áreas de vendas e comercial, mas os resultados foram ruins - são perfis que dependem muito mais de aspectos comportamentais do que habilidade técnica.
A startup, que em 2016 contabilizou R$ 21 milhões em volume de vendas, já atraiu 60 mil inscritos e 700 companhias. Hoje a empresa emprega 15 pessoas, nenhuma das quais trabalha como recrutador. "Somos uma empresa de tecnologia focada em recrutamento", diz Mendes, que espera ganhar espaço em um mercado hoje ocupado por companhias de recrutamento para média gerência como Robert Half e Michael Page.
Já a plataforma d´hire, lançada há cinco meses, foi idealizada por dois consultores que já atuavam em uma empresa de recrutamento, a People Oriented, mas que hoje lançaram um modelo descrito como "Uber" do mercado de seleção. A plataforma busca reunir headhunters autônomos - que passam por um processo de checagem de referência, testes e entrevista - com empresas que precisam preencher uma vaga. O algoritmo do site identifica os headhunters com perfil mais adequado para cada vaga, levando em conta seu expertise e localização. O site aloca então cinco profissionais para fazer aquela vaga.
Cada um tem até 12 dias para indicar três candidatos e as empresas avaliam os profissionais até chegar à contratação final. A taxa paga pela empresa - entre 1 e 1,5 salário da vaga - é dividida entre o site, o headhunter que selecionou o candidato final, que fica com 40%, e os outros headhunters que ofereceram candidatos rejeitados, com cerca de 5% do valor. Em 90 dias, se a empresa não ficar satisfeita com o candidato escolhido, pode refazer o processo gratuitamente.
Na visão de Guto Polycarpo, cofundador d´hire, o fato de a plataforma selecionar heandhunters com experiência no setor ou nível da vaga desejada faz com que a qualidade das escolhas seja mantida apesar da velocidade do processo. "São especialistas que já têm alguém que faz sentido no networking, e não perdem tanto tempo procurando", diz.
Especialistas alertam que a mineração de dados pode acabar reforçando certos preconceitos que está tentando evitar
Segundo ele, o modelo reduz 50% do custo da contratação na comparação com companhias de recrutamento especializado. Entre os headhunters, estão muitos profissionais que foram demitidos de consultorias nos últimos anos por conta da crise. Cerca de dois mil profissionais começaram o processo para se inscrever, mas apenas 100 atualmente fazem uso da plataforma. "Entendemos que em qualquer processo seletivo existe muita subjetividade, então ao invés de fazer o algoritmo para achar o candidato, focamos no valor do headhunter. Até porque tem candidato que está off-line", diz Polycarpo.
Pesquisadores e profissionais da área ainda estudam a eficiência do recrutamento por algoritmo. Um estudo de 2015 do National Bureau of Economic Research dos EUA analisou contratações para vagas de início de carreira e viu que os profissionais selecionadas por algoritmos ficaram mais tempo no emprego do que aqueles recrutados por humanos. Especialistas alertam, no entanto, que o uso de algoritmo em qualquer tomada de decisão pode passar a falsa impressão de neutralidade ao mesmo tempo em que reforça preconceitos quando usam bases de dados imperfeitas.
Algoritmos são, afinal, desenvolvidos por seres humanos falhos. "Técnicas de mineração de dados podem fazer com que decisões de emprego sejam baseadas em correlações, ao invés de relações causais, e podem obscurecer a base com que decisões de recrutamento são feitas", escreve Pauline Kim, da Universidade de Washington em St. Louis, em um artigo recente no qual destaca a necessidade de repensar como leis antidiscriminação se aplicam em um ambiente de trabalho dominado por decisões automatizadas.
Lucas Mendes conta que a Contratado.me faz um trabalho extra para identificar profissionais mulheres com um perfil profissional de potencial maior do que as vagas ou salários para as quais elas se candidatam, e então indicá-las para vagas melhores. Na masculina área de tecnologia, elas hoje são 8% dos candidatos disponíveis no site, mas 15% das contratações.
O site Recruta Simples, lançado na metade do ano passado, busca atuar junto a pequenas empresas, grupo que ainda contrata primordialmente sem ajuda externa. Criado por dois empreendedores com carreira no mercado financeiro e um programador engenheiro do ITA, a empresa tem a missão de simplificar o acesso a sites de vagas. "Na PME você dificilmente tem alguém só para recrutar, mas esse é um dos aspectos mais críticos para a empresa", diz o cofundador Humberto Barros. Outro fundador, Vinicius Poit trabalhou em uma empresa de reestruturação e sentiu isso na pele, tendo muitas vezes que se envolver em contratações pois as pequenas empresas tinham poucos recursos. "Vi um vácuo entre soluções e serviços", diz.
Como indica o nome, a solução oferecida pela empresa é simples: ela se propõe a ser um agregador de sites de vagas, fazendo o intermédio entre a empresa e, atualmente, mais de 60 sites de vagas espalhados por vários Estados. Além de postar a vaga apenas uma vez, a empresa pode receber os currículos todos no mesmo lugar e criar um banco de dados.
O site também está começando a desenvolver uma inteligência artificial para tornar a combinação entre candidatos e vagas mais "afinada". Com uma base de clientes formada em grande maioria por empresas de até 100 funcionários, entre eles muitos salões de beleza e restaurantes, o site já atendeu cerca de mil clientes que pagam em média R$ 49 por mês para ter acesso a uma vaga por vez.
Embora esse movimento seja liderado por empresas fundadas por estreantes no setor, nomes tradicionais do mercado já começam a incorporar tecnologias aos seus processos. No caso da prestadora de serviços de RH Randstad, isso se traduz em aquisições e investimentos em startups. Criado em 2014, um fundo do grupo já investiu em 10 empresas e fez a aquisição do site de vagas americano Monster no ano passado. "Somos uma empresa de RH em que nosso maior foco são os consultores, mas assim conseguimos unir o melhor que a tecnologia e as pessoas têm a oferecer", explica o presidente da Randstad no Brasil, Jorge Vazquez. O fundo ainda não investiu em nenhuma empresa brasileira, mas ele diz que sua equipe está de olho no mercado local em busca de oportunidades.
Uma das adquiridas foi a Pymetrics, uma empresa de testes de perfil cognitivo e emocional em formatos de jogos. Ao usar o serviço, oferecido no Brasil há seis meses, as empresas mapeiam os atuais funcionários e buscam perfis similares entre os candidatos. "Mas é claro que complementamos isso com as competências dos nossos consultores, com entrevistas, para ajudar na escolha do cliente. O valor está em um ajudar o outro", diz Vasquez.
@sociologia @informática

domingo, 19 de março de 2017

A Recuperação Está se Consolidando - José Roberto Mendonça de Barros

Estado de São Paulo - 19/03/2016
Desde o último trimestre de 2016, estamos convencidos aqui na MB de que a economia brasileira sairá da recessão em 2017 e voltará a crescer em 2018. Em termos de números, projetamos uma expansão do PIB de 1% em 2017 e de 2,6% em 2018.
Resumidamente, nossos argumentos a favor da recuperação são os seguintes:

1- No segundo semestre, a taxa de desemprego vai começar,lentamente, a cair, revertendo a trajetória negativa dos últimos anos. Além disso, os bancos relatam que está se reduzindo o número de empresas que são transferidas do departamento de crédito para a área de recuperação de crédito. Emprego e balanços estão deixando de piorar.

2- Já começou a liberação das contas inativas do FGTS. Tudo indica que algo como R$ 35 bilhões entrará no sistema, reduzindo o endividamento das famílias e, em menor escala, levando a gastos em bens e serviços.

3- A produção agrícola não apenas será muito boa, como já está sendo revisada para cima. A Conab agora estima o volume de grãos em 220 milhões de toneladas, numa expansão de 20%. Projetamos um crescimento de 7,7% do PIB agrícola deste ano. Com isso, a redução da inflação de alimentos será acentuada, o volume de renda injetado no setor será grande e as exportações crescerão. Em janeiro e fevereiro, houve um salto de 42% nas vendas ao exterior.

4- A inflação continua surpreendendo para baixo. Projetamos agora um crescimento de 4,1%, muito abaixo da meta de 4,5%. Como resultado, o ganho real da massa de salários será superior a 2,5%, com evidentes impactos sobre o consumo ao longo do ano.

5- O Banco Central vai acelerar a queda dos juros. Projetamos agora um número de 8,5% para o final do ano. Com isso, certamente, haverá uma indução à elevação de consumo, especialmente no segundo semestre.

6- Embora o investimento industrial ainda seja medíocre, devido ao excesso de capacidade ociosa, teremos avanços em algumas áreas. Amais importante delas é o petróleo: a Petrobrás vai executar o programa de investimento a que se propôs, bem como as empresas internacionais que já operam no Brasil elevaram seu orçamento de gastos para este ano e para os próximos. Finalmente, teremos pelo menos três leilões nessa área que provavelmente serão bem-sucedidos, levando-se em conta a revisão da regulação do setor e o interesse já manifestado.

Por outro lado, existem avanços relevantes também na regulação do setor elétrico, os quais já produzem resultados especialmente na área de transmissão de alta tensão, na qual já houve um leilão bem-sucedido, implicando um volume de investimentos da ordem de R$ 12 bilhões.

Além disso, vale a pena lembrar a entrada de novos players na disputa: a Equatorial, a CTEEP e o grupo comandado pelo Banco Pátria. Esse, na verdade, foi o primeiro evento com uma novidade altamente relevante: do certame não participaram as empreiteiras enroladas na Lava Jato. Os ganhadores do leilão é que terão a responsabilidade de contratar seus construtores.

Nas últimas semanas,uma sucessão de indicadores revela que a recuperação, de fato, está em marcha. E será puxada por melhoras significativas em uma grande gama de setores. Alguns exemplos: conforme revelado pelo Caged nesta semana, o número de empregos formais em fevereiro cresceu 35 mil postos de trabalho, invertendo a trajetória de perdas que já se prolongava por mais de 20 meses.

Setores industriais básicos mostram expansão. A produção da indústria química em janeiro cresceu 4%, enquanto o consumo aparente cresceu 7,2% em 12 meses. Como o setor está na base do sistema produtivo, isso mostra que a indústria começou a se mover.

Ainda em setores básicos, a produção de petróleo no início do ano está crescendo 3,4%; e a de minério, quase 6%.

Na área de concessões, dois eventos bem sucedidos ocorreram nestes dias. A concessão do lote "Centro-Oeste" de rodovias no Estado de São Paulo foi ganha pelo Pátria, implicando um investimento da ordem de R$ 1,4 bilhão.

Finalmente, a concessão de quatro aeroportos importantes também foi bem-sucedida, implicando um investimento de R$ 3,7 bilhões. Vale observar que as empresas ganhadoras são experientes e importantes na Europa e que também aqui as empreiteiras não participaram do consórcio ganhador.

Considerando tudo isso, reafirmo minha convicção de que teremos uma recuperação importante no crescimento do País.

ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS. 

sábado, 18 de março de 2017

Água rica em silício pode frear o Alzheimer sem remédios

Beber água mineral rica em silício pode interromper, colocar um freio, na doença de Alzheimer, sem necessidade de remédios.

A boa notícia, publicada pelo Hippocratic Post e pelo inglês Daily Mail, foi dada por Chris Exley, professor em Química Bioinorgânica e professor Honorário do UHI Millennium Institute.

Ele diz que beber água rica em ácido silícico ajuda a eliminar o Alumínio, elemento perigoso que se acumula no corpo e tem forte ligação com as causas de Alzheimer, Parkinson e Esclerose Múltipla.

E o alumínio está em quase tudo que comemos e bebemos, como chás, bolos, pão, vinho, cosméticos e drogas como a aspirina.

“Acho que todos deveriam beber água mineral rica em silício todos os dias para remover o alumínio tóxico de seus corpos e cérebros…através dos rins e, finalmente, urina”, ensina.
“No caso da doença de Alzheimer, descobrimos recentemente que beber água rica em silício durante apenas 12 semanas produziu melhorias significativas na função cognitiva sem quaisquer efeitos colaterais conhecidos ou observados”, relata.

“Isso significa que beber água rica em silício é uma maneira completamente não-invasiva para remover o alumínio do corpo e algo que potencialmente pode beneficiar todos, incluindo pessoas com doenças como a doença de Alzheimer”, continua.

Como

A equipe dele na Universidade Keele tem estudado o caso nos últimos 10 anos.

O professor conta que em pessoas que beberam água com silício durante 12 semanas (4 meses) conseguiram reduzir em até 70% sua carga corporal de alumínio.

Esta forma de silício manda as moléculas de água através da parede do intestino e para a corrente sanguínea, onde forma um complexo com alumínio chamado hidroxialuminossilicato.

Onde encontrar

O professor explica que “existem duas marcas de água mineral rica em silício disponíveis no Reino Unido, incluindo Fiji água e Volvic.

Também há águas desse tipo em outros países da Europa e no resto do mundo, mas o professor orienta:

“O que você precisa procurar é uma concentração mínima de 30 mg / L ou 30 ppm , escrita no rótulo como “sílica”.


Com informações do DailyMail e Hippocratic Post:

why-everyone-should-drink-silicon-rich-mineral-water