sábado, 29 de junho de 2019

Sobe-desce do bitcoin preocupa mercado (Jaqueline Mendes, Correio Braziliense)

Sexta-feira, 28 de Junho de 2019 - 02:02
Correio Braziliense | Economia

Depois de disparar 50% em uma semana e cair 10% em poucas horas, a mãe de todas as criptomoedas espalha dúvidas sobre o futuro de sua valorização, atormentando investidores 


» Jaqueline Mendes
São Paulo -- Quem acreditava que a volatilidade das ações nas bolsas de valores no mundo todo era o máximo de adrenalina que os investidores poderiam sentir não conhecia o bitcoin (BTC). A mais famosa das criptomoedas chegou a valer, na quarta-feira, a impressionante cifra de US$ 13,8 mil, maior valor registrado em 2019, alta de 230% desde o começo do ano.

No dia seguinte, porém, a moeda virtual derreteu 10% em poucos minutos, uma queda de quase US$ 2 mil. A cotação caiu a US$ 11,9 mil em menos de uma hora, de acordo com a Refinity data, e voltou a suscitar dúvidas sobre a sustentabilidade da moeda. "Está muito claro que o bitcoin é para quem está preparado para enfrentar fortes variações, sendo uma aposta de altíssimo risco", disse o diretor de estratégia de crédito do Deutsche Bank, Jim Reid, em entrevista à CNBC.

As recentes altas, seguidas por fortes quedas, têm sido alimentadas principalmente pelo anúncio da libra, a criptomoeda liderada pelo Facebook, na última semana. Além disso, a guerra comercial travada entre os Estados e a China, com possíveis mudanças nas regras de mineração da criptomoeda, também são fontes de incertezas. "Até mesmo os mais otimistas diziam que um movimento de valorização de 50% em uma semana era rápido demais", afirmou Michael Moro, presidente da Genesis Global Trading. "Era natural que um salto desse tamanho, em um pequeno intervalo de tempo, não iria se sustentar."

Já o cofundador da Fundstrat Global Advisers, Thomas Lee, acredita que a volatilidade do bitcoin comprova a tese de que se trata de um investimento de longo prazo, e que não deve ser explorado como ativo de retorno rápido para investidores amadores. "O Bitcoin é um ativo hipervolátil. Para a maioria dos investidores, o mais apropriado é ter uma visão de longo prazo", disse ele.

Como não poderia ser diferente, voltaram a crescer as especulações de que a valorização é uma bolha. "O atual aumento de preço do bitcoin reúne muitas pessoas com medo de perder uma grande oportunidade de ganhar muito dinheiro. Mas comprar bitcoins ainda é semelhante a uma aposta", disse a economista Michelle Singletary, colunista do jornal americano Washington Post. "É preciso ter em mente que essas bolhas estouram."

A montanha-russa na cotação da moeda virtual está preocupando os bancos centrais. Como sabem que não podem proibir ou ficar de fora de um caminho sem volta da digitalização do dinheiro, a maioria dos BCs está desenvolvendo suas próprias criptomoedas. Segundo pesquisa elaborada pelo Bank for International Settlements (BIS), 70% dos bancos pesquisados já começaram a trabalhar em um Central Bank Digital Currency (CBDC, ou ativos digitais de bancos centrais) ou estão considerando a implementação e desenvolvimento de ativos digitais. A pesquisa mostra que 50% dos bancos disseram que já estão em um estágio de prova de conceito em seus empreendimentos no criptomercado.

O BIS é uma instituição comandada por diversos bancos centrais de todo o mundo e tem como foco principal providenciar uma melhor cooperação financeira e monetária internacional. De acordo com as informações publicadas, 63 bancos centrais participaram da pesquisa do BIS. Essas 63 instituições financeiras representam jurisdições que cobrem mais de 80% da população mundial. Os bancos que responderam à pesquisa têm mais de 90% da produção econômica mundial.

O Banco Central Europeu tem sido um dos mais agressivos nas críticas às criptomoedas. A instituição está semanalmente alertando sobre os riscos de se investir nelas. No fim do ano passado, o vice-presidente, Vitor Constancio, chegou a comparar o bitcoin às tulipas holandesas do século 17, responsáveis pela primeira bolha registrada na história econômica.

Nessa mesma linha, a China deixou claro que quer ter total controle sobre as criptomoedas. Reprimiu as exchanges e os ICOs e fala em emitir uma criptomoeda oficial do governo chinês. Enquanto isso, o presidente do Banco Central japonês, Haruhiko Kahoda, declarou que não há data definida, mas que existem estudos para se lançar uma moeda digital no país.

@economia @tecnologia

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Facebook entra em águas perigosas (Martin Wolf, Valor Econômico)


Quarta-feira, 26 de Junho de 2019 - 05:22 
Valor Econômico | Opinião 


Na semana passada o Banco da Inglaterra divulgou o resultado de uma avaliação independente do futuro do sistema financeiro, juntamente com sua reação a isso. Como se quisesse provar a importância dessas questões, o Facebook e 27 parceiras anunciaram um plano de lançar uma moeda digital mundial que se chamará Libra e um sistema de pagamentos associado a ela. Como se deveria estimar a relevância, o potencial e os riscos desses desdobramentos? Como os órgãos reguladores deveriam reagir? A resposta é: com cautela.

A revolução da informação, agora ampliada pela Inteligência Artificial (IA), certamente vai revolucionar o sistema financeiro. Oferece enormes vantagens potenciais, sob a forma de pagamentos mais rápidos e mais baratos, serviços financeiros de melhor qualidade e melhor gestão de risco. Já assistimos a uma queda acentuada no uso de dinheiro vivo e a um crescimento explosivo dos pagamentos digitais. Na China, a revolução da tecnologia de pagamentos, encabeçada pela Alipay (atualmente parte da Ant Financial), é extraordinária. O Facebook está tentando criar um concorrente. Note-se bem: nesse caso, os EUA estão seguindo o exemplo da China.

Mas o sistema financeiro também é uma infraestrutura decisiva. Um colapso do sistema financeiro tende a criar uma enorme crise econômica. A inovação mal compreendida revelou ser, muitas vezes, a parteira de calamidades como essas. É vital, portanto, garantir que as implicações de grandes inovações, como a Libra, sejam bem entendidas. Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra, argumentou na semana passada em seu discurso na Mansion House que o banco “se aproxima da Libra com a cabeça aberta, mas não com a porta aberta”. A cabeça não pode se abrir totalmente, no entanto.

Uma primeira pergunta tem de ser se podemos confiar no patrocinador de uma inovação tão delicada. O Facebook foi repulsivamente irresponsável com relação a seu impacto sobre as nossas democracias. Não podemos, obviamente, lhe confiar os nossos sistemas de pagamento. O Facebook dispõe de uma resposta para isso: tem apenas um voto na Libra Association, que terá governança independente localizada em Genebra. A meta é ter 100 membros até o lançamento, em 2020. Mas o Facebook parece tendente a dominar o desenvolvimento técnico da Libra. Isso cer

tamente lhe dará uma influência hegemônica.

Randal Quarles, presidente do Conselho de Estabilidade Financeira, tem razão ao dizer aos dirigentes dos países do G-20, reunidos no Japão, que “um uso mais amplo de novos tipos de criptoativos para fins de pagamento de varejo asseguraria um monitoramento estreito pelas autoridades a fim de garantir que eles cumpram altos padrões de regulamentação”.

Portanto, independentemente das dúvidas com relação ao patrocinador, um novo sistema mundial de pagamentos tem de ser avaliado por sua estabilidade técnica, seu impacto sobre a estabilidade monetária e financeira (especialmente nos países em desenvolvimento) e sua vulnerabilidade aos fraudadores, criminosos e terroristas. Surgem também inquietantes interrogações sobre as concentrações de poder, no caso de a empreitada ter êxito.

O plano atual prevê apenas um sistema pagamento. A moeda em si, nas palavras do relatório técnico, deverá ser “integralmente lastreada por uma reserva de ativos reais. Uma cesta de depósitos bancários e de títulos governamentais de curto prazo será mantida na Reserva de Libras para cada Libra que for criada, consolidando confiança em seu valor intrínseco”. Esse valor, no entanto, será vulnerável às flutuações cambiais e aos choques financeiros (entre os quais os controles cambiais). Suas oscilações em relação às moedas podem incomodar os usuários. Os órgãos reguladores terão de avaliar as instabilidades associadas a um sistema desse gênero.

Não posso julgar a estabilidade técnica do sistema pretendido. A afirmação de que ele se baseia em tecnologia de “blockchain” [uma espécie de livro contábil eletrônico que armazena o registro das operações em blocos digitais] parece bastante questionável. Mas apenas apoiadores fanáticos de sistemas “não autorizados” têm de se preocupar com isso. O mais importante é que o sistema seja robusto, resistente a violações e que proteja a privacidade pessoal, sendo, ao mesmo tempo, suficientemente transparente para reguladores, autoridades judiciais e outros agentes legitimamente interessados pelos que o usam.

Uma questão decisiva é como a Libra vai interagir com os bancos tradicionais. Poderá privá-los de uma grande parcela de seus clientes, do lado dos pagamentos. Em contraposição, o sistema da Libra poderá deter enormes depósitos nos bancos, equiparados, do outro lado de seu balanço, a carteiras de Libra mantidas pelos clientes.

De forma alternativa, como disse Carney: “Com o surgimento de novos fornecedores e sistemas de pagamento, o acesso à infraestrutura central [do Banco da Inglaterra] deverá mudar, e faz sentido considerar se eles também poderiam deter recursos por um só dia no balanço do banco”. Dependendo do grau em que os bancos centrais criarem essas reservas (uma decisão que só cabe a eles), um sistema como o da Libra poderá contornar totalmente os sistemas tradicionais de pagamentos bancários. As vantagens históricas dos bancos como instituições de crédito especializadas poderão desaparecer.

Desponta uma possibilidade muito mais significativa: o sistema da Libra, com seu conhecimento dos clientes, se tornaria, ele mesmo, uma instituição de crédito, usurpando assim os balanços dos bancos tradicionais do lado dos ativos. Na pior das hipóteses, o mundo poderá ter um monobanco dominado pelo Facebook. Os riscos disso são enormes: instabilidade monetária e financeira, concentração de poder econômico e político, falta de privacidade e muitos outros problemas potenciais.

Uma moeda mundial, criada pela concessão de empréstimos de um banco mundial (uma vez que os bancos criam dinheiro como subproduto de seus empréstimos), em uma moeda (a Libra) não respaldada por qualquer banco central e desprovida de regulador dominante, parece criar um risco apavorante à estabilidade.

Existe, efetivamente, potencial para sistemas de pagamento grandemente aprimorados. Mas o surgimento de um sistema de pagamento em uma rede da escala do Facebook levantaria algumas interrogações gigantescas. No caso de a Libra se desenvolver, em última instância, num verdadeiro sistema bancário, com capacidade para criar sua própria moeda autorizada (artificial), as interrogações se tornarão ainda mais prementes. Mesmo se forem descartados os empréstimos por meio do sistema da Libra, os reguladores não deveriam permitir que esse plano avance sem entender, plenamente, as implicações. Isso seria verdadeiro mesmo se o principal patrocinador não fosse o Facebook. Mas é. Portanto, tenhamos cuidado.

A primeira pergunta é se podemos confiar no patrocinador de inovação tão delicada. O Facebook foi repulsivamente irresponsável com relação a seu impacto sobre as nossas democracias. Não podemos lhe confiar nossos sistemas de pagamento

@economia @tecnologia

terça-feira, 25 de junho de 2019

Ferrovia norte sul

@economia @Brasil

O fim da história? (Edward Amadeo, Valor)

Segunda-feira, 24 de Junho de 2019 - 05:37 

Valor Econômico | Opinião 

Há 20 anos, o Ocidente comemorava o “fim da história”, os Bancos Centrais (BCs) comemoravam a “grande moderação” e a China sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC).

“O Fim da História” é o título do livro de Francis Fukuyama para designar a supremacia do modelo de democracia liberal depois da debacle da União Soviética e a queda do muro de Berlin. A Grande Moderação é o título de uma palestra de Ben Bernanke ao se referir à suavização dos ciclos econômicos resultante do ganho de credibilidade dos BCs. Pela OMC a China ingressou no mundo cada vez mais interligado do comércio e do investimento entre empresas.

Não mais. Em vários países, os líderes políticos vêm desafiando as instituições da democracia liberal, os BCs vêm pelejando para reativar o crescimento e atingir suas metas de inflação, e a China está em guerra comercial e tecnológica com os EUA. O que se passou nesses 20 anos? Primeiro, houve duas crises sobre endividamento com repercussões financeiras mundo afora — as crises do “suprime” nos EUA e dos governos de Itália, Espanha, Portugal e Grécia.

Segundo, com a integração da China ao comércio mundial deu-se a entrada de centenas de milhões de chineses no mercado global que subtraiu renda e empregos no Ocidente.

Terceiro, a piora na distribuição de renda e o receio das crises, do desemprego, das novas tecnologias e dos imigrantes levou ao sucesso eleitoral de políticos nacionalistas dispostos a desafiar as instituições de mercado e democráticas, bem como as instituições internacionais. Putin (Rússia), Orban (Hungria), Le Pen (França), Salvini (Itália), Trump (EUA) são os exemplos mais conhecidos. O crescimento de partidos nacionalistas de direita na Áustria e Alemanha, e o Brexit (Reino Unido), são resultados do mesmo movimento.

Quarto, a ascensão e os métodos da China despertaram o temor dos EUA. O que começou com uma promessa de campanha de Trump –reduzir o déficit comercial dos EUA com a China—se tornou uma guerra sobre propriedade intelectual, subsídios e segurança nacional. Não tardará até que os EUA ataquem o modelo político chinês, até agora convenientemente tolerado.

Quinto, diante do risco de depressão econômica os bancos cennecerem

trais de vários países lançaram mão de armas não convencionais (compras de dívidas pública e privada e juros negativos). Mesmo depois de anos usando-as, a inflação continua muito baixa e a munição está acabando, principalmente na Europa e no Japão.

Sexto, para manter a economia girando na cilindrada máxima a China produziu um dos maiores booms de endividamento da história, e lá também o paiol está esvaziando. Desde 2009, o déficit fiscal vem crescendo até atingir a marca de 11% do PIB (estimativa do FMI) financiado por bancos paraestatais e vendas de terras. Mesmo assim a economia vem desacelerando, e os riscos de instabilidade financeira começam a impor limites ao governo.

Na esteira de um longo ciclo de endividamento global surge um mundo mais propenso a crises políticas, inclusive no contexto geopolítico, em que os BCs têm menos instrumentos para estabilizar o ciclo. É bem verdade que, com juros tão baixos, em alguns países a fronteira de endividamento dos governos ainda tem algum espaço para expandir.

Com efeito, os estímulos fiscais Xi Jinping e Trump em 2016-17 foram essenciais para sustentar o crescimento global. Porém, com as incertezas associadas à escalada do conflito entre EUA e China, as empresas mostram-se cada dia menos propensas a investir.

A interrupção das negociações entre os EUA e a China e a proibição de empresas americanas forprogressividade à chinesa Hauwei agravam o quadro. Primeiro, porque ficou evidente a abissal distância que separa os espaços de negociação dos dois países. Segundo, porque os EUA saíram da esfera comercial para criar atritos na conexão tecnológica entre empresas dos dois países, interrompendo um longo processo de integração.

As empresas do setor de tecnologia vão esperar a definição do conflito para decidir onde e quanto investir. Os países que estão implantando seu 5G com equipamentos da Huawei, e são a maioria, precisam decidir se mudam para outro fornecedor. A Foxconn está movendo suas plantas da China para Taiwan e Malásia e a GoPro para o México. A Apple e a Google já pararam de fornecer para a Huawei, e a Tokyo Electron, japonesa, e a Samsung, coreana, vão aderir ao embargo americano. Enfim, pela preponderância do setor, são evidentes os indícios de queda do investimento privado na China e, pela integração entre as empresas, dos fluxos de comércio e investimentos entre países.

É de se esperar que a Ásia, que concentra a produção de tech, sofra bem mais que o Ocidente. Pela sua exposição à Ásia, a Europa será atingida em cheio. À diferença do BC americano, o ECB tem poucos instrumentos à disposição, o que torna a Zona do Euro propensa a uma recessão. Mesmo com juros mais baixos no bloco desenvolvido, em um ambiente de incertezas, as economias em desenvolvimento tendem a sofrer.

Por fim, existe o canal financeiro de transmissão do choque. Até há pouco trabalhava-se com uma probabilidade de 80-90% de que a China e os EUA chegariam a um acordo. Agora as probabilidades são o inverso. Desde a interrupção das negociações os mercados de juros passaram refletir maior probabilidade de recessão e corte de juros, em um mundo de juros já próximos de zero. As bolsas reagiram bem menos, talvez pela expectativa de que os BCs acomodarão o choque. Mas não é pequena a chance de sofrerem um abalo se o BC americano não ratificar os cortes precificados.

Mas os efeitos desse enredo são mais que episódicos. O mundo passa por uma transição do modelo político e econômico do pós-Guerra para outro, ainda desconhecido, que pode levar décadas até ser atingido. A polarização no Ocidente, com os partidos liberais e socialdemocratas sendo espremidos pelos polos, torna muito mais instável o ambiente político, isto é, os ciclos eleitorais podem produzir oscilações drásticas. O renascimento do nacionalismo acirra o conflito entre países. Com a escassez de instrumentos monetários, a política fiscal — muito mais propensa ao embate político — ganhará proeminência. Com isso, a própria política econômica tende a ser mais errática.

Tudo indica que a história não chegou ao fim.

O renascimento do nacionalismo acirra o conflito entre países. Com a escassez de instrumentos monetários, a política fiscal — mais propensa ao embate político — ganhará proeminência. Com isso, a própria política econômica tende a ser mais errática

@economia @política

segunda-feira, 24 de junho de 2019

O que a memória ama, fica eterno (Adélia Prado)


   Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender.
   O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano.
   É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Crianças têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para elas, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada de eternidade.
   Diante do tempo, envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente parte. Porém, para a memória, ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão perto, nossos pais ainda vivem.
   Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.
   A capacidade de se emocionar vem daí, quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, aquela época...
   Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar dentro da gente. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos – já adultos ou até idosos – e voltando a se comportar como adolescentes bobos e imaturos. Encontros de turma são especiais por isso, resgatam as pessoas que fomos, garotos cheios de alegria, engraçadinhos, capazes de atitudes infantis e debilóides, como éramos há 20 ou 30 anos. Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos... mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.
   A memória não permite que sejamos adultos perto de nossos pais. Nem eles percebem que crescemos. Seremos sempre "as crianças", não importa se já temos 30, 40 ou 50 anos. Pra eles, a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas ao cair da noite... ainda são muito recentes, pois a memória amou, e aquilo se eternizou.
   Por isso é tão difícil despedir-se de um amor ou alguém especial que por algum motivo deixou de fazer parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é simples assim. Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na dor. Mas aquilo que amamos tem vocação para emergir das profundezas, romper os cadeados e assombrar de vez em quando. Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado por novos gatilhos: somos traídos pelo enredo de um filme, uma música antiga, um lugar especial.
   Do mesmo modo, somos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores, amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nos amaram.

domingo, 16 de junho de 2019

Congresso de Hackers

@tecnologia

Guilherme Tell no monte Fuji

Queima de fogos em comemoração ao dia do Monte Fuji no Japão.
A diferença entre soltar fogos e fazer uma obra de arte no céu! 
Ao som da abertura da ópera "Guilherme Tell" de Rossini.

@música @Japão

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Reforma da Previdência não é suficiente’, diz Nobel


segunda-feira, 10 de Junho de 2019 - 05:21 
Valor Econômico | Finanças 


Sérgio Tauhata e Flávia Furlan
Após seis meses de novo governo no Brasil, Eric Maskin, prêmio Nobel de Economia de 2007 — juntamente com Leonid Hurwicz e Roger Myerson — e professor de Harvard, ainda se assusta com o que ele classifica de “inclinações autoritárias” do presidente Jair Bolsonaro. “Mas suponho que poderia ser pior”, avalia o economista, em entrevista ao Valor, durante participação em seminário da FGV, em São Paulo.

Maskin vê similaridades entre Bolsonaro e o presidente dos EUA, Donald Trump. Na análise do prêmio Nobel, os dois mandatários são fruto do mesmo fenômeno: o aumento da desigualdade, potencializado pela crise de 2008. “As pessoas passaram a achar que os políticos tradicionais não estavam lidando adequadamente com o fato de que tantas pessoas estivessem sendo deixadas para trás.”

Apesar das críticas a Bolsonaro, Maskin afirma que a reforma da Previdência “é um passo para a frente” do país sob a nova adminsitração. Mas alerta que apenas o ajuste da seguridade social não será suficiente para resolver o problema da economia. O economista diz que o Brasil vai precisar de outros ajustes, sem mencionar quais, para impulsionar a produtividade e o crescimento.

O professor de Harvard também acredita que, apesar do problema fiscal, o governo poderia fazer mais pelo crescimento do país. “Sou um firme defensor [da tese] que o governo pode gastar em momentos em que a economia não está indo tão bem. Tenho a impressão que o Brasil não está seguindo essa prescrição.” Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: O que o Sr. pensa dos seis meses do governo Bolsonaro?

Eric Maskin: Estava preocupado com a eleição de Jair Bolsonaro [para presidente do Brasil]. Temo que ele, em muitos casos tem agido como eu esperava: tem fortes inclinações autoritárias, e essas tendências, infelizmente, têm vindo à tona. Mas suponho que poderia ser pior. Algumas pessoas disseram que não é tão ruim quanto se esperava, mas não é tão bom também. Não tenho observado a equipe econômica brasileira de perto, mas baseado nos comentários de Bolsonaro, não tenho certeza se ele entende de economia.

Valor: O sr. teme pela democracia no Brasil, como apontaram alguns especialistas antes da eleição?

Maskin: Um ponto que o Brasil tem a seu favor, e isso é importante nos Estados Unidos também, é que há limitações sobre as ações do presidente. O Brasil tem uma boa história de um Judiciário responsável. Embora não tenha muita certeza se o Congresso ficará de olho em Bolsonaro, os tribunais podem fazer isso. Nos EUA, as cortes certamente impuseram sérios limites para o presidente americano, Donald Trump. O que é algo bom. Vejo Trump e Bolsonaro como muito similares. No longo prazo não estou tão preocupado com a democracia brasileira. Acho que a democracia pode sobreviver a Bolsonaro assim como a democracia americana pode sobreviver a Trump.

Valor: A reforma da Previdência será suficiente para colocar o país de volta aos trilhos?

Maskin: A reforma que está sendo considerada é um passo na direção certa, mas não será suficiente. Terá de haver novos ajustes mais tarde. Sou totalmente a favor de dar os passos certos na direção certa ainda que não sejam tão óbvios, porque frequentemente os países se movem para trás. Nesse caso [da reforma da Previdência] será um passo para a frente.

Valor: A falta de investimentos públicos pode ser uma armadilha para a retomada de crescimento?

Maskin: Sou um firme defensor [da tese] que o governo pode gastar em momentos em que a economia não está indo tão bem. O governo pode ter um papel muito útil ao fazer investimentos públicos. Se a economia ficou presa em um caminho de deterioração, o governo tem a responsabilidade de ajudar a sair dessa armadilha por meio do aumento de gastos, mas ao mesmo tempo, tem a responsabilidade de devolver o que for gasto, ou seja, repagar esses déficits quando os tempos forem bons. Em outras palavras, os governos têm de fazer superávits quando a economia está indo bem e fazer déficits quando a economia não está indo tão bem. Tenho a impressão que o Brasil não está seguindo essa prescrição nesse momento e também não seguiu no passado recente.

Valor: O BC brasileiro pode cortar juros para ajudar a economia?

Maskin: Essa é uma decisão técnica. Não sinto que sei o bastante das condições atuais do país. Mas o que eu posso dizer é que um dos princípios gerais que os bancos centrais deveriam seguir é similar aos dos gastos do governo. Se a economia estiver em recessão ou em perigo de entrar em uma recessão, então o BC deveria afrouxar a política monetária e aumentar a liquidez. E, em contraste, se a economia estiver indo muito bem ou em pleno emprego, quando há perigo de a inflação superaquecer, esse é o momento no qual o BC deveria restringir o suprimento monetário. Onde o Brasil está neste momento cabe ao BC determinar.

Valor: Porque o sr. considera Bolsonaro e Trump tão similares?

Maskin: Ambos fazem parte de uma mesma tendência mundial. Nós tivemos duas grandes disrupções econômicas na última geração. A primeira foi a globalização. E a segunda foi a recessão há dez anos. A globalização, na média, acho que tem sido uma força positiva. Certamente fez muitos países ficarem mais ricos, mas os ganhos do crescimento não foram distribuídos igualmente. Os ricos ganharam muito mais do que os pobres e nada foi feito sobre isso. A recessão fez as coisas ficarem piores. Quem sofreu mais com a recessão? Os pobres. Os ricos nem sofreram muito. Foi o fracasso dos políticos antes de Bolsonaro e Trump de fazer algo sobre a desigualdade é que permitiu o surgimento dos dois. Eles vão resolver esses problemas? Acho que não. Bolsonaro e Trump propuseram respostas muito simplistas. Mas as pessoas acham que vão resolver e por isso foram eleitos. E por isso também outros populistas foram eleitos ao redor do mundo. As pessoas passaram a achar que os políticos ‘mainstream’ não estavam lidando adequadamente com o fato de que tantas pessoas estivessem sendo deixadas para trás.

Valor: A tensão comercial entre Estados Unidos e China vai se resolver no curto prazo?

Maskin: Não podemos prever nada sobre o acordo comercial entre os EUA e a China porque teríamos de ser capazes de entrar na mente de Trump. Tudo depende dele e de Xi Jinping [mandatário chinês]. Xi talvez acredite que exista uma boa chance de Trump perder a eleição e ir embora no ano que vem. Então pode estar dizendo, ‘vou esperar, não vou fazer nenhum acordo agora na esperança de que alguém mais razoável esteja no comando’. Se ele estiver pensando assim não vamos ter acordo até a eleição. Na verdade isso se torna mais uma questão de psicologia que economia.

Valor: Essa estratégia de conflito comercial do governo Trump pode levar o mundo a uma recessão?

Maskin: Pode. Até o momento ainda não, mas há esse risco. Acho, porém, que esse não seja o principal risco. Acho lamentáveis tanto o conflito entre EUA e China quanto as razões disso acontecer. Acho que a maneira como o presidente Trump tem provocado os chineses introduzindo tarifas é perigoso e desnecessário. Conduzir negociações pela imposição de tarifas não é a maneira de inspirar cooperação. O que eu estou preocupado é a forma como a cooperação internacional tem sido ameaçada. Antes de Trump, nós tivemos muitos anos de uma cooperação muito boa entre os EUA e a China. Essa relação foi boa para ambos os países. A China se desenvolveu de uma nação pobre para um país de renda média e os Estados Unidos se beneficiaram enormemente. Na época da grande recessão, entre 2008 e 2009, o fato de a China estar lá foi muito importante para prevenir um cenário pior. Não deveria ser esquecido que a China resgatou o Ocidente naquele momento. Então, isso é o que me preocupa mais do que a perspectiva de uma recessão iminente. Cooperação é um ativo muito valioso para o mundo. É preciosa, não temos muito e desperdiçá-la em nome de uma barganha é um grande erro. Não acho que o embate tarifário vai se tornar um conflito militar. Mas o risco de China e EUA não cooperarem sobre questões sérias agora é muito maior do que era.

FOTOS de Nair Higa



@CEP85

sexta-feira, 7 de junho de 2019

A Petrobrás, o Supremo e o jogo das corporações (Celso Ming)

Sexta-feira, 7 de Junho de 2019 - 04:02 
O Estado de S. Paulo | Economia 

CELSO MING
Nesta quinta-feira, o colegiado do Supremo Tribunal Federal corrigiu uma distorção pretendida por algumas das corporações que atuam no País. Definiu que uma empresa estatal pode vender subsidiárias sem ter de submeter sua decisão à autorização prévia do Poder Legislativo. 

A questão específica da Petrobrás começou no final de maio, quando, depois de longo processo de licitação interna orientado pelo Tribunal de Contas da União, a direção decidiu vender uma de suas redes de gasodutos, a Transportadora Associada de Gás, a TAG, para a francesa Engie e para o fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec, a CDPQ, por US$ 8,6 bilhões. 

Os sindicatos dos petroleiros e de operadores de refinarias recorreram ao Supremo para suspender essa venda. Baseavam-se num despacho assinado em caráter liminar pelo ministro Ricardo Lewandowski, em junho de 2018, que deu provimento a um recurso de funcionários e sindicalistas da Caixa Econômica Federal. Essa liminar determinava que toda a venda de empresa estatal tinha de passar por autorização prévia do Legislativo. 

Os petroleiros que pretendem sustar a venda da TAG foram atendidos dia 26 de maio por nova liminar, desta vez assinada pelo ministro do Supremo Edson Fachin. Essa decisão foi a que passou a ser examinada nesta semana pelo colegiado do Supremo. 

A questão principal em jogo não é a de que a Petrobrás, que foi esmerilhada pela corrupção, pela má administração e pelo inchaço do seu quadro de funcionários, precisa ser saneada e reduzir sua dívida asfixiante e, portanto, precisa de certa autonomia para vender seus ativos. 

Há duas questões a considerar mais importantes do que essa. A primeira é a de que a administração do patrimônio público não pode ser emperrada por questões puramente ideológicas ou por interesses de funcionários que não querem perder as benesses de que desfrutam apenas por pertencerem aos quadros de uma empresa estatal. 

A outra questão é a de que a economia e os investidores precisam de chão firme onde pisar, precisam de previsibilidade. Não podem tomar decisões importantes e despejar recursos vultosos em projetos ou em empresas já constituídas diante de um quadro persistente de incerteza jurídica. 

A argumentação de fundo também tem seu peso e foi sintetizada no voto do ministro Luís Roberto Barroso, o terceiro a se manifestar. Não se pode exigir autorização do Legislativo para a venda de uma subsidiária de uma empresa-mãe, se para sua criação não foi necessária essa licença. Por outra argumentação, a Constituição, cuja defesa é a principal razão de ser do Supremo, não pode respaldar o agigantamento do Estado nem tampouco o interesse de certas corporações que claramente contrariam o interesse público. 

A decisão do Supremo favorável à Petrobrás foi tomada com algumas diferenças pontuais expostas por alguns ministros, que não prejudicam o principal. Do ponto de vista das estatais, elimina a pinimba corporativista de que tudo tem de passar por processos políticos bem mais complicados e, muitas vezes, enviesados, que, na prática emperram o processo.

@petrobras

quinta-feira, 6 de junho de 2019

O conflito secular entre EUA e China (Martin Wolf, Valor Econômico)

Quarta-feira, 5 de Junho de 2019 - 05:17 
Valor Econômico | Opinião 



Ofim da União Soviética deixou uma grande lacuna. A “guerra contra o terror” não foi um substituto adequado. A China, porém, preenche todos os requisitos. O país pode ser o inimigo ideológico, militar e econômico que tantos precisam nos Estados Unidos. Enfim, aqui temos um oponente à altura. Essa foi a principal conclusão que tirei das reuniões do Grupo Bilderberg deste ano. A rivalidade generalizada com a China vem se tornando o princípio organizador das políticas econômica, externa e de segurança dos EUA.

Não é tão importante se isso se trata do princípio organizador de Donald Trump. O presidente dos EUA, de fato, entra com os instintos de um nacionalista e protecionista. Mas são outros os que entram com a estrutura e os detalhes. O fim é a dominação pelos EUA. O meio é controlar a China ou separar-se da China. Quem quer que acredite que uma ordem multilateral baseada em leis, uma economia globalizada ou mesmo relações internacionais harmoniosas têm chances de sobreviver a este conflito está iludido.

O estarrecedor relatório sobre o conflito comercial publicado no domingo pela China é prova disso. O fato — para mim, deprimente — é que as posições chinesas estão corretas em muitos aspectos. O foco dos EUA em desequilíbrios bilaterais é de analfabetismo econômico. O ponto de vista de que o roubo de propriedade intelectual provocou enormes danos aos EUA é questionável. A ideia de que a China infringiu flagrantemente compromissos assumidos em seu acordo para entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC) é altamente exagerada.

Acusar a China de trapacear é hipocrisia quando quase todas as políticas comerciais adotadas pelo governo Trump violam as regras da OMC, um fato implicitamente admitido por sua determinação em destruir o sistema de resolução de disputas. A posição de negociação dos EUA em relação à China é “quem tem poder, tem a razão”. Isso é particularmente verdadeiro na insistência de que os chineses aceitem o papel dos EUA como juiz, júri e verdugo do acordo.

Uma disputa sobre os termos

da abertura do mercado ou da proteção da propriedade intelectual poderia ser resolvida por meio de negociações cuidadosas. Tal acordo até poderia ajudar a China, já que iria aliviar a mão pesada do Estado e promover reformas pró-mercado. Agora, no entanto, os problemas geram demasiada irritação para serem resolvidos dessa forma. Isso, em parte, se deve ao amargo rompimento das negociações. Mas, em maior parte, porque o debate nos EUA cada vez mais gira em torno de decidir se é realmente desejável uma integração com a economia chinesa liderada pelo Estado. O medo quanto à Huawei tem foco na segurança nacional e na autonomia tecnológica. O comércio liberal é cada vez mais visto como “negociar com o inimigo”.

Vem emergindo uma caracterização das relações com a China como um conflito de “soma zero”. Recentes declarações de Kiron Skinner, diretora de planejamento de políticas do Departamento de Estado dos EUA (um cargo que já pertenceu a George Kennan, estrategista da época da “Guerra Fria”), são reveladoras. A rivalidade com Pequim, sinalizou Skinner em fórum organizado pelo centro de estudos New America, é “uma luta contra uma civilização realmente diferente e uma ideologia diferente; e os EUA não tiveram isso antes”. “[Esta seria] a primeira vez que vamos ter uma grande potência concorrente que não é caucasiana”, acrescentou. A guerra contra o Japão foi esquecida. A grande questão, porém, é o fato de ela ter enquadrado a situação como uma guerra racial e civilizacional e, portanto, como um conflito insolúvel. Isso não pode ter sido acidental. Além disso, ela continua no cargo.

Outros retratam o conflito como sendo de ideologia e poder. Os que enfatizam o primeiro aspecto falam da retórica marxista do presidente da China, Xi Jinping, e do papel reforçado do Partido Comunista. Os que enfatizam o segundo falam sobre o poder econômico ascendente da China. Ambos os pontos de vista indicam um conflito perpétuo.

Este é o desdobramento geopolítico mais importante de nossa era. Especialmente, o fato de que cada vez mais vai obrigar todos a tomar partido ou a precisar suar muito pela neutralidade. Mas não é apenas importante. Também é perigoso. Sem nenhum bom motivo, isso ameaça transformar um relacionamento administrável, ainda que estremecido, em um conflito total.

A ideologia da China não é uma ameaça à democracia liberal da forma como a União Soviética era. Demagogos de direita são muito mais perigosos. Esforços para estancar a ascensão econômica e tecnológica da China quase certamente vão falhar. Pior, vão fomentar na população chinesa uma profunda hostilidade. No longo prazo, as demandas de uma população cada vez mais estudada e próspera pelo controle de suas vidas ainda poderiam se sobressair. Isso se torna bem menos provável, porém, se a ascensão natural da China for ameaçada.

Além disso, a ascensão da China não é uma causa importante das mazelas do Ocidente. Elas são muito mais um reflexo da indiferença e da incompetência das elites domésticas. O que é visto como roubo de propriedade intelectual reflete, em grande parte, as inevitáveis tentativas de uma economia ascendente em dominar as tecnologias da atualidade. Acima de tudo, uma tentativa de preservar um domínio de 4% da humanidade sobre o resto é algo ilegítimo.

Sem dúvida, isso não significa aceitar tudo o que a China faz ou diz. Ao contrário, a melhor forma de o Ocidente lidar com a China é insistir na obediência dos valores da liberdade, da democracia, do multilateralismo baseado em regras e da cooperação mundial. Essas ideias tornaram muitas pessoas ao redor do mundo em defensoras dos EUA no passado. Elas ainda cativam muitos chineses hoje. É perfeitamente possível defender essas ideias — na verdade, insistir nelas com ainda mais força — e ao mesmo tempo cooperar com uma China ascendente no que for essencial, como a proteção do ambiente natural, do comércio exterior e da paz.

Uma combinação de cooperação e de competição é a forma certa de seguir adiante. Tal abordagem para gerenciar a ascensão da China precisa incluir uma cooperação próxima com aliados que pensem de forma similar e tratar a China com respeito. O trágico no que acontece agora é que o governo está simultaneamente lançando um conflito entre duas potências, atacando os aliados dele e destruindo as instituições da ordem mundial do pós-guerra encabeçada pelos EUA. O ataque de hoje contra a China é a guerra errada, lutada da forma errada e no terreno errado. Infelizmente, é nesse ponto que estamos agora.

A melhor forma de o Ocidente lidar com a China é insistir na obediência dos valores da liberdade, da democracia, do multilateralismo baseado em regras e da cooperação mundial. Essas ideias tornaram muitas pessoas ao redor do mundo em defensoras dos EUA no passado

@USA @CHINA @POLÍTICA

segunda-feira, 3 de junho de 2019

Quando os mais jovens treinam os experientes

Domingo, 2 de Junho de 2019 - 02:02
O ESTADO DE S. PAULO | ECONOMIA

 CRESCE NÚMERO DE EMPRESAS QUE COLOCAM MILLENNIALS PARA ENSINAR PROFISSIONAIS SENIORES



Renée Pereira
Foram sete meses de licença maternidade até Monica Yon voltar ao trabalho no fim do ano passado. A empresa era a mesma, mas o ambiente apresentava novos desafios. "Me senti um peixe fora dágua. Em poucos meses, tudo parecia estar diferente. Ouvia expressões, como blockchain, machine learning, e não entendia muito bem o que aquilo significava", afirma a executiva da Bayer, de 42 anos. Foi nesse momento, que ela decidiu se inscrever num novo programa da empresa, que 4 consistia em diminuir o abismo que existe entre as gerações dentro das companhias atualmente. 

A ideia - adotada em vários grupos - é unir um executivo sênior com um profissional jovem. Nesses programas, os mais experientes são treinados por "coaches" com idades entre 23 e 30 anos, os chamados millennials (ou geração Y). Normalmente, eles se reúnem uma vez por mês e discutem temas variados. O mais recorrente, porém, é como lidar e melhorar a comunicação com a nova geração no mercado de trabalho. 

No caso de Monica, sua mentora foi Fabiana Sanchez, uma analista de Projetos para Transformação Digital, de 24 anos. As duas se reuniram durante quatro meses em seis sessões de uma hora cada. "Os encontros me fizeram entender como é a mentalidade dessa nova geração, o que eles gostam e o que os motivam", diz Monica, chefe da área de farmacovigilância. Segundo ela, o programa mudou o jeito dela liderar sua equipe. 

Do outro lado, Fabiana também conseguiu absorver um pouco da visão que um chefe tem no dia a dia. "Antes tinha a percepção que ninguém me ouvia", diz. "Hoje percebo que essa resistência diminuiu." O objetivo ao entrar no programa, afirma, era aumentar a rede de contatos dentro da empresa, se fazer entender e discutir assuntos sobre tecnologia - tema que também agradava Monica na sua retomada ao trabalho após a licença-maternidade. 

Nos últimos tempos, o conflito entre gerações tem sido pauta das grandes companhias no mundo inteiro. No Brasil, esse movimento tem sido provocado especialmente pelo aumento da longevidade da população, que tende a crescer ainda mais nos próximos anos. "Isso faz com que as empresas tenham três gerações trabalhando juntas no mesmo ambiente", afirma Ricardo Basaglia, diretor-geral da PageGroup no Brasil. "Em mais algum tempo, é possível termos até cinco gerações trabalhando juntas." 

Para ele, o maior desafio das empresas é tirar proveito de cada geração e conseguir o engajamento dos trabalhadores, com maior retenção. Esses foram alguns pontos que levaram o Citi Brasil a implementar por aqui o programa que já é adotado no exterior. 

"Queríamos atacar questões como o nível de turnover (rotatividade) mais alto entre os jovens e também a falta de entendimento entre gerações", afirmou Felipe Cotta, responsável por recursos humanos no Citi. No banco, os mentores têm entre 25 e 30 anos e os executivos seniores, entre 40 e 50 anos. Miguel Queen, de 41 anos, e Mariana Elmais, de 26 anos, participaram dessa experiência exatamente para entender as visões de cada geração (ler ao lado). 

Pesquisa recente feita pela empresa de recrutamento Randstad, com 130 mil pessoas em vários países, mostra que 80% dos trabalhadores sentem que a principal diferença em trabalhar em um ambiente multigeracional são os estilos de comunicação. "O desafio é unir as duas gerações, pois ideias inovadoras vêm da mistura das diferentes experiências", diz Fabio Battaglia, presidente da Randstad no Brasil. 

Velocidade 

"Me senti um peixe fora dágua. Em poucos meses, tudo parecia estar diferente. Ouvia expressões como blockchain, machine learning e não as entendia muito bem" 

Monica Yon EXECUTIVA DA BAYER

@adm @economia

Vídeo:seriados antigos de TV: viagem ao fundo do mar


@TV

sábado, 1 de junho de 2019

Mais 5 G

*A Evolução da Comunicação à Distância*

Fonte :   ISTO É de 24/05/2019

Um passageiro assiste um programa na TV de tela grande do seu ônibus, na China. Ao lado dele, outro usa óculos de realidade virtual. *Na Coreia do Sul, torcedores veem um dragão criado digitalmente voar sobre suas cabeças em um estádio de beisebol, por meio de realidade aumentada (RA).*

 Esses são exemplos concretos e atuais da nova geração 5G de transmissão de dados.

*Não é apenas de uma evolução de velocidade, como ocorreu na última transição para o 4G.*

Trata-se de uma completa mudança de paradigma das comunicações, que criará novos produtos, serviços e modelos de negócio, além de gerar indústrias inteiras.
Tamanho impacto está por trás das disputas entre o governo Trump e a China. As investidas do presidente americano contra a gigante asiática Huawei, que lidera a tecnologia 5G no mundo, têm sido cada vez mais duras. No lance mais recente, no último dia 15, o presidente americano proibiu a companhia chinesa de participar em redes de telecomunicações vitais para a segurança americana e de adquirir componentes de empresas dos EUA — a decisão teve seus efeitos depois postergados por três meses. Como consequência, a gigante Google anunciou que não mais forneceria seu sistema operacional Android para a Huawei. É um duro golpe para a empresa chinesa, que é o segundo maior fabricante de smartphones do mundo. Mas não deve afetar sua posição de domínio. Ela já possui o maior número de patentes associadas ao 5G e investe em pesquisa mais do que todos os competidores juntos.

Início da operação

A disputa comercial é compreensível. Países que saírem na dianteira se beneficiarão de vantagens econômicas. Com velocidade dez vezes mais rápida que a geração 4G, a nova tecnologia beneficiará não apenas os usuários finais, mas também empresas, expandindo as aplicações que usam big data, inteligência artificial (IA) e a infraestrutura urbana inteligente. A tecnologia já é realidade em cidades da China, Coreia do Sul, Reino Unido e EUA. Terão serviço comercial até o próximo ano Canadá, Noruega, Alemanha, Suíça, Japão e Austrália. No Brasil, a Anatel prevê que o leilão que definirá a distribuição de frequência acontecerá no primeiro trimestre de 2020. A atração de investimentos pelas operadoras terá prioridade sobre o valor de outorga, segundo Nilo Pasquali, superintendente de Planejamento e Regulamentação da agência. O serviço comercial no Brasil deve chegar até o começo de 2021.

Veja Tabela a seguir :