terça-feira, 28 de setembro de 2021

Leandro Karnal - A biblioteca do fim do mundo?

 Leandro Karnal - A biblioteca do fim do mundo?

domingo, 26 de setembro de 2021 


 

O Estado de S. Paulo  / Na Quarentena

Leandro Karnal


O tema começa comigo. Cheguei a ter mais de dez mil livros. Uma vida comprando, ganhando e escrevendo tomos e mais tomos. Foram guardados com zelo e cresceram como coelhos libidinosos e férteis. Usaram as estantes, invadiram a parte inferior da cama, acumularam-se na escrivaninha. Foram se erguendo em torres. Não importava quão amplo era o espaço para o qual eu me mudava: os livros zombavam da minha ascensão geográfica e superpovoavam o novo território. Houve um dia, há alguns anos, que eu decidi não morar mais em um sebo.


Havia uma novidade além da falta de espaço. Eu contei quantas vezes eu tinha aberto os dicionários físicos nos últimos anos. Escrevo consultando todo tipo de glossário, léxico e referências, pois tenho dúvidas a todo instante. Percebi, porém, que só utilizava versões virtuais. E lá estavam eles, os solenes dicionários da língua portuguesa e de outras línguas, enfileirados, volumosos e com seu poder magnético para poeira. Tomei a decisão e doei 17 deles para


bibliotecas públicas. Mantive os mais antigos, como o Dicionário Analógico do Pe. Carlos Spitzer e os velhos volumes do Caldas Aulete. Reduzi de 27 Bíblias para 6. Doei todos os atlas, inumeráveis. Golpe de misericórdia, esvaziei minha sala da Unicamp e repassei milhares de volumes sobre História da América para pesquisadores da área. Que sigam iluminando outros como a mim foram luz contra minha ignorância. Que sirvam a mais gente. A minha biblioteca foi evaporada pela mudança tecnológica e bibliográfica.


Há três anos eu estava na British Library de Londres. De repente, eu percebi algo naquele novo prédio ao lado da estação Saint Pancras (São Pancrácio). Nos andares que percorri, todos estavam estudando com seus computadores, ninguém com livros. O volume físico existia naquele espaço, todavia todos queriam o Wi-Fi, o aquecimento e, talvez, acesso aos volumes digitalizados de quando em vez.


Por séculos, uma biblioteca foi um coroamento da civilização. Existiam nas sedes do império, como a já citada Britânica, a de Paris ou a do Congresso, em Washington. A destruição de uma grande coleção de livros era chorada por séculos. O Nome da Rosa, de Umberto Eco, ficcionaliza a tragédia de uma imensa torre-biblioteca em chamas. Queimar]livros é o sinônimo máximo da barbárie. O poeta Heinrich Heine profetizou que aqueles que ateassem fogo a obras publicadas acabariam queimando pessoas. Inquisidores haviam feito isso. Nazistas reforçaram a veracidade profética da frase.


O incêndio da biblioteca de Alexandria é um debate. Fogo ateado por Júlio César ao afirmar seu poder no delta do Nilo? Por cristãos? Por islâmicos? Temos relatos tão variados que podemos considerar viável a hipótese de que a acusação do incêndio seja uma peça de propaganda contra algum inimigo. Derek Flower estudou a biblioteca supostamente incendiada, desde seus relatos eruditos da antiguidade (Biblioteca de Alexandria, ed. Nova Alexandria) até hoje, com o novo prédio do governo egípcio. Lilia M. Schwarcz pesquisou outra biblioteca seminal, desta vez no Brasil: em A Longa Viagem da Biblioteca dos Reis (Companhia das Letras), pode-se descobrir como a Real Coleção de Livros de Portugal atravessou o oceano e gerou a atual Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.


Devastadas por tragédias como terremotos, destruídas por fanáticos, atacadas nas guerras: as bibliotecas são frágeis. Lembro-me de outro belíssimo espaço de livros no Brasil para indicar mais uma análise: o Real Gabinete Português de Leitura. É um dos lugares mais lindos do mundo para contemplar o amor da civilização aos livros impressos. Prédio lindo por fora e impactante por dentro. Fui muitas vezes. Entram e saem pessoas, fotografam. . . e vão embora. Virou um imenso wall paper ou um fundo de selfie. . . Sim, há leitores, claro, porém em número muito menor. Não queimamos mais bibliotecas, apenas não ligamos muito para elas, ao passo que postamos e postamos e postamos. Curiosamente, nas mãos de todos nós, estão bibliotecas inteiras, as maiores que o mundo já viu. Cada celular acessa edições completas e de domínio público da Divina Comédia ou de qualquer obra de Machado de Assis. Tudo o que já foi escrito e impresso pode ser verificado ao toque de um dedo. À memória de um bom celular e o auxílio da Nuvem, essa entidade nova e onisciente, transformam cada proprietário de um smartphone em um possuidor do saber universal para preencher muitas vidas.


Temos tudo ao alcance do indicador. Como o Deus barbudo do teto da Capela Sistina, estendo meu braço e surge não um novo Adão, todavia toda a humanidade e seu saber. Amparado pelos anjos chamados conexão, serafins de bites e querubins de memória, posso ler ou até ordenar que minha biblioteca manual fale por si, caso meus olhos fiquem exauridos. Nunca conseguimos tanto. Jamais fomos tão longe. Resta uma melancolia como se cumpríssemos o poema de T. S. Eliot de um mundo que expira 'não com uma explosão, mas com um suspiro'. Talvez seja uma notificação de que há mensagem, mais do que um poético suspiro. Querida leitora e estimado leitor: como anda sua biblioteca? PS: Dia 30 de setembro é dia de São Jerônimo, padroeiro de tradutores, secretários e. . . de todas as bibliotecárias e bibliotecários do mundo.


"Cada proprietário de smartphone se torna um possuidor do saber universal"


É HISTORIADOR, ESCRITOR, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, AUTOR DE 'A CORAGEM DA ESPERANÇA, ENTRE OUTROS

domingo, 26 de setembro de 2021

Vacina contra covid: 3ª dose não deve ser para todos, diz criadora do imunizante de Oxford(BBC 10 9 21)

 

Katie Wright

Da BBC News

10 setembro 2021

Professora Sarah Gilbert


A professora Sarah Gilbert diz que doses extras devem ser usadas para aumentar a imunidade em países com baixos índices de vacinação


A cientista que liderou a criação do imunizante de Oxford contra covid disse que vacinar todas as pessoas com terceira dose é desnecessário. Ela também fez um apelo para que as doses sejam enviadas para países necessitados.


A professora Sarah Gilbert disse ao jornal britânico Daily Telegraph que alguns grupos vulneráveis de pessoas precisam de reforços, mas que na maioria dos casos a imunidade está "durando bastante".


"Precisamos levar vacinas para países onde poucas pessoas foram vacinadas até agora", disse ela.



O órgão consultivo de vacinas do Reino Unido deve dar nos próximos dias um parecer final sobre doses de reforço no país.




O Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização (JCVI, na sigla em inglês) já disse que uma terceira dose deverá ser oferecida a pessoas com sistema imunológico enfraquecido, o que corresponde a até meio milhão de pessoas no Reino Unido. Mas o comitê ainda não decidiu se a terceira dose será ampliada para outros grupos.



O secretário de Saúde, Sajid Javid, disse na quinta-feira (09/09) que estava aguardando a "recomendação final" do JCVI, mas estava "confiante" de que um programa de dose de reforço começaria ainda no final de setembro.


A recomendação provisória emitida pelo JCVI em julho sugeriu que mais de 30 milhões de pessoas deveriam receber uma terceira dose, incluindo todos os adultos com mais de 50 anos.


O regulador de medicamentos do Reino Unido (MHRA, na sigla em inglês) aprovou o uso da Pfizer e da AstraZeneca como vacinas de reforço contra covid, abrindo caminho para uma implementação antes do inverno.



Professora Sarah Gilbert diz que a imunidade gerada por duas doses da vacina contra a covid está "durando bastante"


A cientista Sarah Gilbert, que começou a desenvolver a vacina Oxford-AstraZeneca no início de 2020, quando a covid foi identificada pela primeira vez na China, disse que a decisão sobre doses de reforço precisa ser analisada com cuidado.


Ela disse ao Telegraph: "Vamos examinar cada situação; os imunocomprometidos e os idosos receberão reforços. Mas não acho que precisamos dar reforço para todo mundo. A imunidade está durando bastante na maioria das pessoas."


No entanto, ela disse que o Reino Unido precisa ajudar mais países ao redor do mundo com o fornecimento de vacinas. "Temos que fazer melhor a este respeito. A primeira dose tem o maior impacto".


O professor Sir Andrew Pollard, diretor do Oxford Vaccine Group, concordou que há um "incêndio em todo o mundo, com enorme pressão sobre os sistemas de saúde em muitos, muitos países".


Ele disse à BBC que o Reino Unido tem uma "obrigação moral" de ajudar outros países, acrescentando: "Há um risco tão grande, moralmente, de nossa perspectiva — há um risco para o comércio, há um risco para as economias, mas são também nossos amigos e colegas que precisam ser protegidos e estamos os perdendo a cada dia que passa. "


Pollard também disse que o Reino Unido ainda tem altos níveis de proteção contra o vírus, apesar da queda nos níveis de resposta imunológica das pessoas algum tempo após terem recebido a vacina. O JCVI precisa investigar melhor os casos de pessoas que acabam hospitalizadas, acrescentou ele.


Mais de 48,3 milhões de pessoas no Reino Unido (88,8% da população com mais de 16 anos) receberam a primeira dose da vacina e 43,7 milhões receberam as duas doses.


O Reino Unido encomendou mais de 540 milhões de doses de sete das vacinas mais promissoras, incluindo as quatro até agora aprovadas para uso — Pfizer, Oxford-AstraZeneca, Moderna e Janssen.


No entanto, existem grandes diferenças no ritmo do progresso em diferentes partes do mundo e o governo se comprometeu a doar 100 milhões de doses excedentes aos países mais pobres antes de meados de 2022.

sábado, 25 de setembro de 2021

Décio Oddone: A interminável discussão sobre o preço dos Combustíveis(Broadcast, 24 setembro 2021)

 


Nas economias desenvolvidas os preços dos derivados do petróleo flutuam. Somente em casos extraordinários viram notícia. No Brasil, entretanto, variações significativas causam discussões intermináveis.




Combustíveis são commodities. Manter os preços alinhados aos do mercado internacional e ao câmbio não é crítico só para o setor de petróleo, gás e biocombustíveis. É fundamental para garantir o abastecimento, atrair investimentos e estimular a redução da dependência externa. Também é importante para a inserção da economia brasileira nas cadeias produtivas globais. Falar em controlar os preços ou calculá-los com base nos custos são equívocos conceituais, que foram tentados sem êxito por décadas. Quando, por fim, os preços seguem os internacionais, é importante consolidar essa prática.


O custo do diesel e da gasolina nas refinarias representa uma parcela do valor ao consumidor. Um pouco mais de 50% no caso do diesel e de 30% no da gasolina. No entanto, concentra a discussão. Isso ocorre porque a posição da Petrobras no refino faz da estatal a principal formadora dos preços. Como a empresa tem lucros, setores da sociedade entendem que seria possível alguma intervenção para proteger o consumidor. Esse raciocínio está equivocado. Mas, enquanto a companhia for dominante, estará presente a percepção que o governo é responsável pelo preço e que pode fazer algo para reduzi-lo.


Uma análise acurada do valor cobrado pelos derivados do petróleo deve abranger todos os seus componentes: produtos, incluído os biocombustíveis utilizados na mistura, margens de distribuição e revenda e tributos.


Diesel e gasolina são commodities, ou seja, produtos similares, produzidos e negociados mundialmente, como café, soja, milho, minério de ferro ou cobre. Nenhum país é formador de preço. Exceto os que adotam controles, todos praticam valores alinhados aos internacionais. A precificação não tem relação com o custo de produção. O Brasil, apesar de exportar petróleo, por falta de capacidade de refino, tem que importar derivados. Para viabilizar a venda no mercado interno de um produto adquirido no exterior é necessário assumir, além do valor de compra, todos os outros custos incorridos pelo importador, como perdas, fretes e seguros. Importações por privados e investimentos só se justificam quando os preços seguem esse conceito, chamado de preço de paridade de importação.


O biodiesel e o etanol misturados ao diesel e à gasolina também têm cotações atreladas ao mercado internacional. A do etanol tende a acompanhar a da gasolina, enquanto a do biodiesel segue a de outra commodity, a soja. Com o aumento do custo da matéria-prima, o preço do biodiesel disparou. O do etanol também subiu. Porém, não há questionamentos e nem o governo é responsabilizado pelo valor desses produtos. Tampouco aparecem demandas de intervenção por parte do executivo. Possivelmente, porque na produção de biocombustíveis não haja a concentração existente na do combustível fóssil. E, porque, o plantio e o beneficiamento da cana e da soja não sejam objeto da politização associada à exploração do petróleo.


As margens de distribuição e revenda são estabelecidas no mercado. Por isso, é necessário que a competição seja a mais ampla possível. Os tributos são definidos pelos governos federal e estadual. Embora a sociedade tenha a percepção que os tributos sobre os combustíveis são elevados, a definição do seu nível é uma questão de política pública. Há países em que os tributos são mais baixos que no Brasil. Também existem os que tributam mais.


Enquanto os preços e as margens devem ser estabelecidos em um mercado aberto, dinâmico e competitivo, os tributos devem ser cobrados de forma racional e eficiente. Há espaço para melhorias. A metodologia de cálculo do ICMS amplifica os movimentos de preço e não incentiva a venda a valores mais baixos que os de referência. As diferenças de alíquota entre os estados incentivam a sonegação. Por isso, é recomendável aplicar um valor fixo por litro, ao invés de um percentual do preço final. Também é desejável uniformizar as alíquotas e o preço de referência. Essas medidas dariam maior estabilidade de preço ao consumidor e mais previsibilidade à arrecadação de cada Estado, além de ajudar no combate à sonegação.


Apesar das dificuldades, alguns avanços são visíveis na formação dos preços dos combustíveis no Brasil. Os valores nunca estiveram tão próximos dos internacionais. O acordo firmado entre o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a Petrobras para que a empresa diminua sua participação no mercado de refino começa a dar resultados. A situação do País é diferente da vivida no passado, quando os aumentos no preço afetavam negativamente a balança de pagamentos. Agora a extração de petróleo está gerando recursos que poderiam ser empregados para atenuar a volatilidade da cotação dos combustíveis ao consumidor. Uma intervenção em nível de produtor ou importador seria um equívoco. Empregar, no entanto, parte da arrecadação adicional produzida quando o preço do petróleo superar o adotado no orçamento para reduzir tributos e compensar impactos no preço na bomba seria uma decisão política. A questão que surge é se, em tempos de transição energética e de busca do melhor emprego para os recursos públicos, esse seria o destino adequado para os ingressos extraordinários.


Para que a abertura tenha continuidade, as ideias intervencionistas precisam ser superadas. Só quando houver outras empresas refinando petróleo e disputando efetivamente espaço com a Petrobras, e existir maior competição ao longo de toda a cadeia, os preços serão formados da forma mais justa possível. Só assim, o governo perderá a capacidade de interferir, deixando de ser responsabilizado, e cobrado, pelo comportamento dos preços. Só assim, mais de 20 anos depois do fim do monopólio, a politização, as expectativas de intervenção e as eternas discussões sobre o preço dos combustíveis ficarão para trás. Só assim, o setor de petróleo e gás poderá dedicar toda sua energia à criação de riqueza, não desperdiçando esforços em intermináveis debates que só destroem valor.


*Décio Fabrício Oddone da Costa é CEO da Enauta S.A. Escreve mensalmente para o Broadcast Energia. Este artigo representa exclusivamente a visão do autor.


Broadcast Energia

domingo, 19 de setembro de 2021

Apesar das negações, vem mais carga tributária(Celso Ming, Estado de S. Paulo 19 9 21)

 Apesar das negações, vem mais carga tributária

domingo, 19 de setembro de 2021


 

O Estado de S. Paulo  / Economia

CELSO MING


O aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) : determinado pelo presidente Jair Bolsonaro aprofunda distorções na economia. E mostra que não vale nada a palavra do governo, tantas vezes repetida, de que não haverá aumento da carga tributária.


- A alíquota do IOF cobrada das empresas sobe de 1, 5% ao ano para 2, 04% ao ano. E a das pessoas físicas, de 3, 0% ano para 4, 08% ao ano. Esse adicional vem para obter mais R$2, 14 bilhões até o fim deste ano para cobrir as despesas do AuxílioBrasil. Esse auxílio social extra não vem mais para garantir uma compensação para o trabalhador de baixa renda em consequência da paralisação determinada pela pandemia, porque essa ameaça foi atenuada pelo avanço da vacinação. Trata-se de uma decisão de cunho populista cujo objetivo é dar alguma viabilidade à candidatura do presidente Bolsonaro nas eleições do ano que vem. - O uso do IOF está sendo de formado. Este é um imposto regulatório. Mas passa a ser usado como instrumento de arrecadação. O governo já não liga mais para a finalidade de seus instrumentos. É como usar o telefone para pregar prego na parede. Preferiu ser: vir-se de um imposto regulatório porque, ao contrário dos impostos arrecadatórios que começam a valer só no exercício seguinte, o imposto regulatório tem vigência imediata.


-A principal consequência prática dessa nova mordida é aumentar o custo do crédito para o tomador. Atinge : também as operações de câmbio (inclusive as despesas com cartão de crédito no exterior), as operações com cheques especiais e o prêmio pago para a contratação de seguros.


- Além de ter de enfrentar a alta vigoro sados juros definida pela política monetária do Banco Central, o consumidor terá de pagar mais esse pedágio para facilitar a campanha de Bolsonaro.


: O pagamento de novas despesas públicas com aumento de impostos só não é pior do que seria o recurso às emissões de moeda ou ao aumento da dívida pública.


Essa esticada no custo do crédito vem num momento em que as empresas e as famílias já estão fortemente endividadas e já não vinham conseguindo enfiar as despesas financeiras para dentro do seu orçamento. Parece inevitável agora certo aumento da inadimplência.


A nova restrição do crédito acontece no contrapé da atividade econômica. Os produtores já vinham sendo desestimulados pela disparada da inflação, pela crise hídrica, pela queda dos investimentos, pela deterioração das contas públicas e pelas incertezas políticas. Agora vem mais essa. O financiamento habitacional estava soltando soluços por falhas de motor. Agora, enfrenta mais um tranco.


Decididamente, esta não é a melhor maneira para combater o desemprego e a queda da renda. Para expressar a mesma coisa de outra maneira, ficou claro que a recuperação econômica não está entre as prioridades do governo. E, diante de mais esses custos para o consumidor, aumentam as dúvidas sobre o resultado final pretendido pelo governo, porque recessão e mais desemprego não são boas notícias para o eleitor. Na última sexta-feira, 17, a empresária Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Grupo Magazine Luiza, avisou que o brasileiro já não aguenta mais tanta carga de impostos. E nunca é demais lembrar que a Inconfidência Mineira começou com a derrama; começou com o aumento do confisco determinado pela coroa portuguesa sobre os produtores de então.


Cabe uma preocupação final. Se o governo não tem escrúpulo em marcar gol com a mão agora, imagine-se do que será capaz quando tiver de enfrentar o rombo dos precatórios, a disparada da dívida ou a rejeição do eleitor.