terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Nova década: sem celular ou dinheiro(Cora Rónai, 31 12 19)



É humanamente impossível escrever uma coluna de tecnologia para o último dia do ano sem cair em retrospectivas ou previsões ainda mais quando o ano é um falso começo de década, até mais potente, simbolicamente, do que o começo verdadeiro: 2020 não parece muito mais ponto de largada do que 2021?

Tantas coisas foram anunciadas e prometidas, tantas deixaram de se realizar, tantas aconteceram sem que ninguém desse por elas. Se nos antigos anos 20, aqueles, que ficaram lá atrás, alguém dissesse que passaríamos o dia grudados a pequenos retângulos de metal e vidro e que não haveria aspecto das nossas vidas que não fosse influenciado por esses pequenos retângulos, nossos avós, que se achavam - e eram - avançadíssimos com seus Fords e suas saias pelos joelhos ficariam assombrados.

Mas não é preciso ir tão longe. Era difícil imaginar, mesmo há dez anos, o espaço universal que os smartphones ocupariam hoje, e o estilo de vida que desenvolvemos a partir de seus aplicativos. O Uber foi lançado em 2010, e só chegou ao Brasil quatro anos depois; o iFood foi criado em 2011; o mobile banking, que no ano passado ultrapassou todos os outros canais na preferência dos correntistas, incluindo o internet banking (aquele que se usa no computador), mal chegava a 10% dos usuários em 2014.

Nas previsões para a próxima década, porém, não só o mobile banking perderá espaço, à medida em que suas funções forem se integrando a outros aplicativos, como os próprios smartphones poderão desaparecer. Esse palpite é de ninguém menos do que DJ Koh, o CEO da Samsung, que acha que, muito em breve, graças ao desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) e à universalização do 5G e da internet das coisas, usaremos apenas vestíveis - como pulseirinhas e óculos inteligentes. Isso vai acontecer de forma tão suave, diz DJ Koh, que sequer vamos reparar que estamos usando telas. Os objetos à nossa volta serão inteligentes e obedecerão a comandos de voz.

Isso ainda parece estranho para mim, que venho do milênio passado e tenho a sensação de estar falando sozinha quando dou ordens a assistentes digitais, mas é perfeitamente natural para os meus netos, que nasceram em 2010 e só se comunicam com os seus smartphones por voz. Eles acham engraçado o meu hábito antigo de digitar, e imagino que, em algum momento do futuro, vão comentar com os seus filhos como se lembram da avó, uma pessoa nascida antes da internet, que precisava de teclados (teclados, imaginem!) para se comunicar com os aparelhos.

A década que vem por aí será também a do fim do dinheiro e dos cartões de crédito reais, de pegar, tais como os conhecemos. Em breve todas as nossas transações financeiras serão realizadas por meio dos celulares, de pagamentos importantes a esmolas na rua. Na China, mendigos já usam cartazinhos com códigos QR para facilitar a vida dos cidadãos de bom coração. A geração que vai olhar moedas e notas de dinheiro com nojo, imaginando como tínhamos coragem de pegar coisas que haviam passado por tantas mãos desconhecidas, já nasceu há alguns anos e brinca por aí.

"Quem nasceu depois de 2010 vai achar - estranho que - alguém use um teclado ou manipule moedas e notas"



sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

O capitalismo não anda bem (Estado de São Paulo)

THE ECONOMIST: O capitalismo não anda bem

Domingo, 1 de Setembro de 2019 - 03:06

O Estado de S. Paulo  / Economia
Cenário Político-Econômico: Colunistas
THE ECONOMIST

O crescimento se arrasta, a desigualdade é alta e o meio ambiente está sofrendo. Quem vai encarar o resgate?

O capitalismo não está funcionando como deveria. Empregos existem, mas o crescimento se arrasta, a desigualdade é alta e o meio ambiente está sofrendo. Seria de se esperar que os governos fizessem reformas para enfrentar esses problemas, mas a política anda travada ou é instável. Quem, então, vai se encarregar do resgate?

Um número grande de pessoas acredita que a resposta é confiar nas corporações. Mesmo os executivos americanos, conhecidos por ignorar limites, concordam. Na semana passada, mais de 180 deles, incluindo os chefes do Walmart e do JPMorgan Chase, derrubaram três décadas de ortodoxia para anunciar que o propósito básico de suas empresas não é mais beneficiar apenas os donos, mas clientes, funcionários, fornecedores e comunidade.

A motivação deles é tática e parte de uma mudança de atitude contra os negócios. Funcionários jovens querem trabalhar para firmas que adotem padrões morais e políticos em relação a questões atuais.

Por melhores que sejam as intenções, porém, essa nova forma de capitalismo coletivo terminará provocando mais males que benefícios. Há riscos de se formar uma classe de executivos inexperientes e sem legitimidade. Há também uma ameaça à prosperidade de longo prazo, condição básica ao sucesso do capitalismo.

Desde que os negócios ganharam confiança limitada na Grã-Bretanha e na França, no século 19, discute-se o que a sociedade pode esperar em retorno. No anos 1950 e 1960, Estados Unidos e Europa experimentaram o capitalismo gerencial, no qual empresas gigantes trabalhavam com governo e sindicatos e ofereciam aos trabalhadores segurança no emprego e benefícios. Mas, após a estagnação dos anos 1970, o enriquecimento dos acionistas passou a dominar, no processo de maximizar os lucros. Sindicatos entraram em declínio e o sucesso dos acionistas conquistou os Estados Unidos e em seguida a Europa e o Japão.

É esse modelo que está sob ataque. Como parte da investida, há um perceptível declínio na ética dos negócios. Empresas listadas em bolsas são acusadas de uma série de pecados, como obsessão por ganhos de curto prazo, investimentos irresponsáveis, exploração de funcionários, achatamento de salários e recusa em pagar por danos ambientais que criaram.

Algumas das advertências são verdadeiras. Consumidores frequentemente saem perdendo e a mobilidade social afundou. De qualquer modo, a reação popular e intelectual ao lucro a qualquer preço já está alterando a tomada de decisões. Líderes empresariais passaram a apoiar causas sociais populares entre clientes e funcionários. Empresas investem levando em conta não apenas eficiência. A Microsoft está financiando um projeto habitacional de US$ 500 milhões em Seattle.

Parece ótimo, mas o capitalismo coletivo enfrenta dois grandes problemas: ausência de responsabilidade ética e de dinamismo. Em relação à ética, não está claro como os executivos ficarão sabendo o que a “sociedade” espera de suas empresas. As probabilidades são de que políticos, lobistas e os próprios executivos venham a decidir, não dando voz às pessoas comuns.

O segundo problema é o dinamismo. As empresas têm de abandonar pelo menos alguns participantes – um número necessário para enxugar uma empresa obsoleta e realocar capital.

O meio de fazer o capitalismo funcionar melhor não é limitar a responsabilidade ética e o dinamismo, mas aperfeiçoar ambos. Isso requer que os propósitos das empresas sejam estabelecidos pelos donos e não por executivos ou políticos. A maioria deles vai optar por maximizar valores de longo prazo.

Um bom modo de fazer empresas com mais responsabilidade ética é ampliar o número de proprietários. A proporção de famílias americanas ligadas ao mercado de ações é de apenas 50%. O sistema tributário deveria encorajar mais o compartilhamento da propriedade. Os beneficiários finais de planos de pensão e fundos de investimento deveriam poder votar em eleições de diretoria. Esse poder não deveria ser terceirizado para poucos barões da indústria de gestão de ativos.

Responsabilidade ética só funciona se houver competição. Isso faz baixar preços, impulsiona a produtividade e garante que empresas não consigam ter por muito tempo lucros fora do normal. Mais ainda: estimula as empresas a se anteciparem às mudanças – por medo de que um concorrente faça isso primeiro.

Infelizmente, desde os anos 90 a consolidação deixou dois terços das indústrias dos Estados Unidos mais concentradas. Ao mesmo tempo, a economia digital parece tender ao monopólio. Se os lucros das empresas estivessem em níveis historicamente normais, e os trabalhadores do setor privado usufruíssem os benefícios, os salários seriam 6% mais altos. Na lista dos 180 empresários americanos que se reuniram na semana passada, muitos estão em indústrias que são oligopólios – incluindo cartões de crédito, TV a cabo, farmacêuticas e empresas aéreas –, que cobram demais dos consumidores. Sem surpresa, ninguém estava ansioso para reduzir as barreiras para ingresso no clube.

Obviamente, uma economia competitiva e saudável requer um governo efetivo – para aplicar leis antitruste, reprimir lobismo e nepotismo excessivos, lidar com as mudanças climáticas. Essa política ideal não existe, mas dar poder a executivos de grandes empresas para atuar como substitutos não é a resposta. O mundo precisa de inovação, de um maior número de proprietários e de empresas que se adaptem às necessidades da sociedade. É esse realmente o tipo mais esclarecido de capitalismo.

TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ


https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-capitalismo-nao-anda-bem,70002991132?utm_source=facebook:newsfeed&utm_medium=social-organic&utm_campaign=redes-sociais:092019:e&utm_content=:::&utm_term=

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Hélio Schwartsman: Assassinos estatísticos (FSP, 24 12 19)

Se você tem a chance de salvar uma vida sem colocar-se em grande risco, fazê-lo é uma obrigação moral? Grande parte dos filósofos morais sustentará que salvar uma pessoa é um dever, desde que fazê-lo não exija um esforço sobre-humano e que você não tenha boas razões para querer ver esse indivíduo morto —é louvável, mas não obrigatório salvar a vida do assassino que o perseguia e sofreu um acidente.

Bem, a maioria dos prefeitos do Brasil e várias outras autoridades têm a possibilidade de salvar não uma, mas dezenas, às vezes centenas, de vidas estatísticas, apenas assinando um pedaço de papel, mas optam por não fazê-lo.

A receita é simples. Basta baixar os limites máximos de velocidade em que os veículos podem trafegar e mandar fiscalizar. Isso já deu certo em vários lugares do mundo e até mesmo do Brasil. Chamou-me a atenção o caso de Salvador. Autoridades soteropolitanas não tiveram medo de reduzir a velocidade máxima para 30 ou 40 km/h em vários bairros e aumentaram a presença de radares em 70%. Como consequência, as multas quase triplicaram entre 2012 e 2016. 

Os responsáveis pelo trânsito na cidade devem ter ouvido um bocado, mas fizeram com que as mortes no trânsito caíssem 55% entre 2011 e 2018. Hoje, Salvador ostenta uma taxa de 3,99 óbitos por 100 mil habitantes —a menor entre as capitais brasileiras e igual à da Dinamarca (não é muito católico comparar cidades, que não costumam ter muitas autoestradas de tráfego rápido em seu perímetro, com países, que as têm em maior número, mas deixemos esse detalhe de lado).

O caso de Salvador mostra que é perfeitamente possível, mesmo para uma localidade de Terceiro Mundo, salvar muitas vidas estatísticas e alcançar índices europeus de mortes no trânsito. A pergunta que fica é: diante do exemplo soteropolitano, autoridades que não adotam as mesmas medidas podem ser chamadas de assassinas estatísticas?





O cálculo da circunferência da terra


A homenagem ao super pinguim

Uma cerimônia militar para homenagear um pinguim para se aposentar como Brigadeiro em Inteligência Militar - Exército Norueguês. O pinguim viveu na fronteira russo-norueguesa por um ano e meio. Ele carregava câmeras e outros equipamentos de espionagem e costumava mergulhar nas profundezas do mar para descobrir a presença de submarinos russos ou qualquer outra manobra militar surpresa na fronteira como guarda em condições climáticas adversas. Seu nome é Sir Nils Olav - promovido como brigadeiro - homenageado e aposentado. Atualmente ele reside no zoológico de Edimburgo


sábado, 7 de dezembro de 2019

Noite Feliz, a história

OBERNDORF, pequena aldeia austríaca à beira do rio Salzbach, região de Salzburg, véspera do Natal de 1818.
O padre Joseph Mohr estava desesperado porque o órgão da capela havia quebrado. A cantata de Natal seria um fiasco. Logo no primeiro Natal naquela paróquia. Pediu orientação a Deus e se lembrou que dois anos antes havia escrito um poema simples, também na véspera de Natal, após uma caminhada pelos bosques das montanhas da região.
Encontrou o manuscrito do poema em uma gaveta da sacristia. Correu para a casa de um professor e músico humilde, chamado Franz Gruber e lhe perguntou se poderia musicar sua letra para que todos a pudessem cantar logo mais à noite, na missa do Galo.
Franz olhou e disse que sim, porque a letra era simples e permitiria uma melodia fácil. Mas teria de ser tocada no violão porque não haveria tempo para algo mais elaborado. Não era um problema porque não havia órgão disponível.
O padre Mohr agradeceu e correu de volta para terminar de organizar os detalhes da missa.
À noite, Franz Gruber chegou na capela com o violão e reuniu o coral para ensinar o hino improvisado. Que música era, afinal?
Stille Nacht(noite silenciosa, no original alemão) traduzida para o português como Noite Feliz.
Naquela noite de Natal de 1818, os participantes da missa da capela de Oberndorf cantaram maravilhados aquele hino tão singelo e profundo que viria a se tornar a canção natalina mais conhecida do mundo, sendo hoje cantada em mais de 50 idiomas.
Como ela se espalhou?
Semanas depois, o técnico que veio consertar o órgão ouviu a história e pediu para tocar a música.
Ficou impressionado com a riqueza melódica da composição que decidiu difundí-la por todas as igrejas por onde passava, até que chegou aos ouvidos do rei Friedrich Wilhelm IV da Prússia, a Nova Iorque em 1838 e difundida de forma ativa também pela emigração alemã que era corrente naquela época.
Está é a história do hino natalino Noite Feliz. O que começou como um momento de pânico e perspectiva de um fiasco, terminou como um eterno presente de Natal para toda a Humanidade em forma de música.
Feliz Natal.

le ciel de Paris


evolução da dança 1950 2019


domingo, 1 de dezembro de 2019

VÍDEO: bolas de gude e ilusões ilusões de ótica


O tamanho dos mercados financeiros


VÍDEO: Float(Pixar)

Float é um dos três novos curtas originais da Pixar que estreou em 12 de novembro - Float não tem nem seis minutos de duração. O animador da Pixar, Bobby Rubio, que escreveu, dirigiu e produziu o filme com base em seu próprio relacionamento com o filho.
A história em si não fala sobre autismo e, sem dúvida, pode se aplicar a qualquer pai ou pessoa que tenha um membro da família que seja “considerado diferente”. Em Float , o pai percebe que seu filho bebê flutua. Não é perigoso, necessariamente, mas é muito perceptível, e outros pais de crianças que não flutuam acham estranho e errado. Então, o pai tenta impedir o filho de flutuar. Ele o mantém dentro de casa,  enquanto cresce. Quando eles saem, ele tem seu filho na coleira e com sua mochila cheia de pedras. Um dia, seu filho foge e flutua pelo playground. A criança está feliz, mas os outros pais no parquinho não. O pai arrasta o filho que grita para longe e, em um momento de frustração, exclama - no único momento de diálogo do curta - "Por que você não pode simplesmente ser normal ?!"
Quando o pai percebe o quanto essa exclamação machuca o filho, ele se envergonha. Em vez de segurar o filho para proteger dos pais de crianças que não flutuam, ele deixa o filho flutuar livremente. O curta termina com uma dedicação de Rubio, que diz: “Para Alex. Obrigado por me tornar um pai melhor. Dedicado com amor e compreensão a todas as famílias com crianças consideradas diferentes.