quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

O aumento da demanda por commodities é uma oportunidade para o Brasil(Décio Oddone)

 Décio Oddone: O aumento da demanda por commodities é uma oportunidade para o Brasil


Por Décio Oddone*


  


Rio, 21/12/2022 - Ao longo das últimas décadas, três setores vinculados à produção de commodities tiveram um crescimento destacado e mudaram a história econômica do Brasil. O agronegócio se desenvolveu de forma extraordinária, fazendo com que o País deixasse de ser importador de alimentos e se convertesse num dos celeiros do mundo. Tornou-se o setor mais promissor, dinâmico e importante da economia brasileira. A mineração, com a privatização da Vale, a exploração de Carajás e o aumento das exportações, especialmente para a China, também passou por uma transformação extraordinária. A indústria brasileira de petróleo, ao se converter em exportadora relevante, fez com que a sonhada autossuficiência se transformasse em realidade.


No entanto, apesar da trajetória virtuosa em comum, a forma como esses três setores são percebidos pela sociedade é diferente. Enquanto a agroindústria é bem-vista, aceita e respeitada, os negócios vinculados à extração mineral passam por constantes questionamentos.


Muitas razões podem ser levantadas para isso, como a politização do petróleo, os debates sobre a privatização da Vale, ou questões relacionadas ao meio ambiente, exacerbadas pelos acidentes na Baía Guanabara, no Rio Paraná e com a plataforma P-36, no passado; ou em Mariana e Brumadinho e com a presença de óleo nas praias do Nordeste, mais recentemente.

Também a dificuldade em comunicar, de forma didática, os benefícios das atividades complexas de mineração e produção de petróleo. Ou, ainda, as diferenças no perfil dos agentes atuando nesses setores. Enquanto as atividades agrícolas são executadas de forma pulverizada, por milhões de pequenos e grandes empreendedores, a mineração em larga escala e a exploração de petróleo e gás natural estão concentradas em poucas e grandes empresas.


No mundo, o setor de energia representa 86% das emissões de CO², enquanto o uso da terra responde por 10%. No Brasil, o quadro é distinto. O uso da terra provoca 67% das emissões. A energia, somente 31%. O petróleo brasileiro tem intensidade média de carbono de 15 kg CO² por barril produzido, menor que a média mundial, que é de 22. Apesar desses números, a produção de petróleo é percebida como mais prejudicial ao ambiente que o desmatamento ilegal.


Além disso, para parte da sociedade, a extração de recursos minerais é considerada estratégica e deve ser conduzida pelo governo. Como o Estado não tem recursos para fazer tudo, escolhas devem ser feitas. O ideal é que a extração mineral seja tratada como de fato é: um negócio que deve ser conduzido de forma responsável e transparente, com respeito ao meio ambiente e à sociedade, sob a regulação do Estado. Essa politização da mineração e do petróleo lembra um conhecido comentário da ex-primeira-ministra inglesa Margareth Tatcher, que, ao ser questionada por um jornalista brasileiro nos anos 1980 se o petróleo, por ser estratégico, não deveria ficar sob controle do Estado, teria dito que "nada é mais estratégico do que comida, mas isto não é razão para o Estado plantar batatas".


Ninguém defende que o Estado plante batatas, arroz, soja ou trigo, ou que um produtor de soja deve desenvolver uma planta esmagadora do produto, mas se debate se uma empresa estatal deve investir em refinarias de petróleo ou se uma mineradora deve construir siderúrgicas. É natural que a industrialização das commodities, tanto agrícolas quanto minerais ou energéticas, seja desejável. Mas a industrialização não deve se dar em detrimento da eficiência e do ganho global para as empresas e para a sociedade. Nem sempre a verticalização de uma empresa é a melhor forma de alocar capital. Frequentemente focar no aumento da produção traz melhores resultados que desviar recursos para construir plantas de processamento, siderúrgicas ou refinarias. Uma maior oferta de produtos agrícolas e minerais e de energia é fator importante para aumentar as exportações e para incentivar a industrialização de qualquer país. E a disponibilidade de minerais estratégicos será fundamental para a eletrificação e para a transição energética.


Parte do sucesso do setor de commodities brasileiro deveu-se ao aumento do consumo no Oriente, processo que se originou na China, mas que deve continuar nas próximas décadas, à medida que a Índia e outros países da Ásia e da África se insiram mais na economia global e que a descarbonização avance. Essa janela de oportunidade não pode ser desperdiçada pelo Brasil.


Em um país com dezenas de milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, carências imensas e falta de recursos para investir em saúde, educação e segurança, deixar de explorar os recursos naturais na sua plenitude e com o devido senso de urgência não é uma opção. O maior inimigo do meio-ambiente é a pobreza. O princípio da precaução adotado para regrar o licenciamento ambiental deve ser empregado de forma responsável, sem causar efeitos mais nocivos que os impactos evitados.


Não faltam tecnologia, disposição e responsabilidade nas grandes empresas para explorar adequadamente os minerais, o petróleo e o gás brasileiros. É preciso criar um ambiente em que projetos responsavelmente executados sejam aprovados com agilidade e que as discussões sobre o papel do Estado não sirvam de trava para investimentos.


A disponibilidade de áreas para exploração deve ser regular e contínua. O modelo de oferta permanente, adotado no setor de petróleo, em que blocos estão sempre à disposição dos investidores, poderia ser empregado de forma mais abrangente na mineração. A exploração de petróleo, gás e minerais só deve ocorrer em locais previamente selecionados. Por isso é fundamental avançar na definição das regiões do País e do mar territorial que, por razões ambientais ou sociais, não devem ser abertas para empreendimentos extrativistas. Nessas áreas não deve haver oferta nem licitações para exploração de qualquer espécie. Nas demais, no entanto, os requisitos ambientais e sociais mínimos devem ser estabelecidos previamente e cobrados nos estudos de impacto ambiental. Uma vez atendidos, não deve haver razões para demora na concessão das licenças ambientais correspondentes.


Pragmaticamente, é necessário superar as ideologias e percepções e tratar a mineração e o petróleo como o agronegócio é tratado, priorizando a produção e a geração de valor. As empresas e associações do setor de mineração e de petróleo e gás, a exemplo do que foi feito pelo agronegócio, têm um grande trabalho de comunicação e reposicionamento a fazer, talvez, por que não em conjunto? Minério e petróleo, parafraseando o slogan bem-sucedido das campanhas publicitárias do agronegócio, também são "pop", ou seja, também produzem muitos benefícios para os brasileiros. Mas melhorar a comunicação não é suficiente. A questão é muito mais complexa e ampla. Envolve não só a indústria, mas a sociedade como um todo, principal beneficiária dos investimentos e do crescimento da produção. A construção de um ambiente mais favorável ao aumento das operações de petróleo, gás e mineração é necessária para que o País aproveite essa oportunidade. Deveria ser uma prioridade para as lideranças políticas e empresariais brasileiras nesse momento em que recursos adicionais serão mais que bem-vindos.


*Décio Fabrício Oddone da Costa é CEO da Enauta S.A. Escreve mensalmente para o Broadcast Energia. Este artigo representa exclusivamente a visão do autor.


Broadcast Energia

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

O que não fazer no setor de petróleo e gás

 Décio Oddone: O que não fazer no setor de petróleo e gás


No final de outubro será realizado o segundo turno das eleições presidenciais. Sem um vencedor definido, as incertezas são muitas. Nos últimos meses, não faltaram sugestões sobre o que cada candidato deveria fazer no setor de óleo e gás. Embora não tenha havido clareza por parte das campanhas, as possibilidades vão de um reforço do papel estatal da Petrobras a uma possível privatização da companhia. Para permitir que o setor de petróleo e gás continue aumentando a sua contribuição para a economia brasileira, como tem feito nos últimos anos, no entanto, mais importante do que as medidas que o vencedor pode implementar, são as ações que não deveria tomar. A seguir, alguns exemplos, válidos independente de quem for eleito.


Não perder a última janela de oportunidade para produzir hidrocarbonetos. A necessidade de compatibilizar a oferta de energia com a segurança no abastecimento e com a redução das emissões de gases efeito estufa proporciona mais uma chance de utilizar os recursos oriundos da produção de petróleo e gás para reduzir a pobreza e ajudar a financiar a transição energética.


Não desrespeitar contratos. O Brasil tem uma tradição de cumprir acordos. Isso tem sido fundamental para o sucesso dos leilões e para a atração dos investimentos que fizeram a produção e a arrecadação atingirem níveis recordes.


Não piorar o regime tributário aplicável à exploração e produção de petróleo e gás. A taxação brasileira é elevada, complexa e regressiva, o que reduz a competitividade de projetos no País. Enquanto a reforma tributária pode ser usada para aprimorar a tributação do setor, a criação de impostos extraordinários sobre a exportação ou sobre os lucros teria efeitos indesejados, ao prejudicar investimentos, produção e arrecadação.


Não adotar políticas de conteúdo local ineficazes. A simplificação das regras de conteúdo local possibilitou a aprovação de diferentes projetos de produção e o fortalecimento de fornecedores brasileiros que atuam em âmbito global. Regras de conteúdo nacional devem privilegiar a simplicidade e a flexibilidade e estimular o desenvolvimento das cadeias produtivas que têm vantagens competitivas.


Não cobrar bônus e compromissos mínimos de trabalho elevados nos futuros leilões. Como as principais áreas conhecidas do pré-sal já foram ofertadas, para estimular a exploração e a aprovação de novos projetos de desenvolvimento, é aconselhável concentrar a arrecadação nas parcelas a serem recolhidas após o início da produção dos campos.


Não ofertar blocos em áreas em que há dúvidas sobre o licenciamento ambiental. O governo deve definir previamente as regiões em que a exploração de petróleo e gás deverá ser banida e as em que será permitida, se os requisitos pré-estabelecidos forem atendidos.


Não interromper o processo de abertura dos mercados de refino e gás natural, independente do papel a ser destinado para a Petrobras no futuro.


Não manter o atual modelo de leilões do setor elétrico, passando a incluir a localização das usinas e o consumo de gás doméstico dentre os critérios de avaliação das propostas.


Não tentar controlar o mercado. A história mostra que tentativas de administrar preços de commodities tiveram vida curta e nunca funcionaram. A adoção de preços de derivados que considerem os custos da produção doméstica e da importação seria excessivamente complexa em um mercado diversificado. A criação de um fundo de estabilização de preços é de muito difícil implementação e administração.


Não atuar para que os preços domésticos dos derivados fiquem muito defasados das cotações internacionais. Uma parcela significativa da demanda brasileira é atendida por importações. Até 2015, a Petrobras era o principal importador. Esse quadro mudou. O valor de referência por produto não é único. Depende de fatores como o valor de compra, o frete até cada local de venda, os custos de seguro e as perdas. Em função da dinâmica do mercado, os preços geralmente estão levemente acima ou abaixo dos internacionais. O importante é que mantenham uma relação coerente com as cotações externas. Em um ambiente com vários atores, a interferência nos preços, a ponto de inviabilizar a importação, pode resultar em desabastecimento. Além disso, preços desalinhados dos internacionais prejudicam a indústria de biocombustíveis e desencorajam investimentos.


Não buscar atrair investimentos que reduzam a dependência externa de derivados.


Não desperdiçar a oportunidade de implementar definitivamente a cobrança de um valor fixo de ICMS por litro e a monofasia tributária nos combustíveis, desestimulando a sonegação e a fraude.


Não aparelhar as empresas e os órgãos estatais do setor. A profissionalização dos quadros públicos é fundamental para a manutenção de um ambiente de negócios propício aos investimentos.


Não burocratizar e tornar mais complexas as normas, regulamentos e trâmites aplicáveis ao setor.


Não recomprar ativos já vendidos a investidores privados e não interromper, mas adequar ao novo momento, o processo de desinvestimento de ativos não essenciais da Petrobras. A venda desses negócios permite que outras empresas passem a investir em projetos que não sejam prioritários para a estatal, acelerando a execução de investimentos.


Não deixar, por fim, de aprender com os erros cometidos, evitando a adoção de ideias que já foram tentadas sem sucesso no passado. A repetição à exaustão não transforma uma proposta fracassada em solução milagrosa.


*Décio Fabrício Oddone da Costa é CEO da Enauta S.A. Escreve mensalmente para o Broadcast Energia. Este artigo representa exclusivamente a visão do autor.


Broadcast Energia

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Para ser potência em renováveis, o Brasil precisa de pragmatismo, não de euforia( Décio Oddone, 2022)

 Décio Oddone: Para ser potência em renováveis, o Brasil precisa de pragmatismo, não de euforia


Nelson Rodrigues, dentre seus vários talentos, tinha o dom de ser um grande frasista. Após a seleção brasileira ser derrotada na Copa do Mundo de 1950, em pleno Maracanã, criou a expressão "complexo de vira-lata", que descrevia uma potencial "inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo". Esse trauma só viria a ser superado com o otimismo dos "50 anos em cinco" do governo Kubitscheck, com a primeira vitória do Brasil num mundial, em 1958, e com a inauguração de Brasília.


Muita coisa mudou desde então. O País ganhou três Copas em 12 anos e levou para casa a cobiçada Taça Jules Rimet, depois roubada, derretida e perdida para sempre (um exemplo de como uma grande conquista pode produzir, também, uma frustração). Os governos militares lançaram campanhas promovendo a grandeza do País. Entramos em uma fase de ufanismo. O PIB cresceu quase o dobro da média mundial entre o maracanazo, como ficou conhecida a vitória dos uruguaios, e 1980, quando começou a década perdida na economia. O retorno à democracia e a aprovação da nova Constituição, a chamada constituição cidadã, no entanto, permitiram que o otimismo com os destinos do País seguisse prevalecendo. A partir do Plano Real e, particularmente, do início do século XXI, com o boom das commodities, entramos em nova espiral positiva. A descoberta do pré-sal foi colocada como um passaporte para o futuro.


Em resumo, se Nelson Rodrigues estava certo, em poucas décadas saímos da depressão para a euforia, deixando de lado o "complexo de vira-lata" para desenvolver uma espécie de mania de grandeza, que transformou o País numa grande Itu, a cidade paulista que passou a ser conhecida como a "cidade dos exageros", em função de um programa de TV popular nos anos 1960 que trazia histórias sobre coisas existentes no município que eram apresentadas maiores do que eram na realidade.


Recentemente, o fato de termos tido mais uma década perdida, a última, vem abalando as crenças na capacidade de crescimento do País. No setor de energia, no entanto, continuamos cultivando a ideia de que estamos fadados ao sucesso, independente das regras que estabeleçamos e das condições oferecidas aos investidores. Ao acreditar nisso, seguimos nos comportando com um otimismo exacerbado. O Brasil apresenta inúmeras oportunidades, se tornou um grande exportador de petróleo, tem uma matriz energética mais limpa que a maioria dos países e pode se transformar em uma potência das energias renováveis. Mas não vai chegar lá sem planejamento, investimentos e muito esforço. A percepção de que temos boas alternativas de negócio não deixa de ser verdade por um lado, mas mascara a realidade, repleta de desafios, como a tributação elevada, complexa e regressiva, e os longos processos de licenciamento, por outro.


Os leilões de áreas para exploração de petróleo conduzidos a partir de 2017 arrecadaram dezenas de bilhões de reais em bônus de assinatura, mas os resultados frustraram. Ao que se sabe, vários poços perfurados no pré-sal desde 2018 não tiveram sucesso. A tese da província petrolífera sem risco se revelou um equívoco.


No entanto, a produção de petróleo segue crescendo, em campos descobertos tempos atrás e que, com a revisão das regras conduzida a partir de 2016, estão podendo ser desenvolvidos. Talvez por essa razão, muitos continuem agindo como se o pré-sal não apresente riscos e os leilões com bônus bilionários fossem continuar para sempre. O processo de reabertura do setor e atração de capitais para realizar os investimentos que a Petrobras sozinha não podia fazer foi questionado. No entanto, se a estatal tivesse perfurado, como previsto pela lei que estabeleceu os contratos de partilha e a operação única, todos os poços sem petróleo, os prejuízos para a empresa, e seus acionistas, especialmente a União, teriam sido grandes.


O fim da operação única e a realização dos leilões permitiram que o Estado arrecadasse montantes bilionários a título de bônus de assinatura por blocos em que não havia petróleo. Evitaram, também, que a Petrobras assumisse todos os custos das explorações malsucedidas. A prática de preços desalinhados dos internacionais já foi tentada várias vezes, sem sucesso. A concentração do refino e da infraestrutura de gás natural em uma só empresa resultou em necessidade de importações.


Algo semelhante ocorre no setor elétrico. As intervenções produziram aumento nas contas de energia, enquanto os leilões atraíram capitais que permitiram a expansão acelerada da geração renovável e da transmissão. Nada disso, todavia, parece estar incorporado em algumas das propostas para o setor apresentadas neste período eleitoral, que não são realistas e alimentam ilusões, como a ideia de que, se alcançarmos a autossuficiência na produção de combustíveis, e até antes disso, poderemos nos desconectar dos preços externos e viver em uma realidade isolada do resto do mundo.


Agora, quando a transição energética está acelerando, abundam opiniões indicando que o Brasil será uma potência da energia renovável. Poderá ser, mas não será fácil. É preciso considerar que não temos reservas dos minerais necessários para a eletrificação, ou acesso a eles, nem a tecnologia utilizada nas baterias, nos painéis solares ou nos equipamentos para geração eólica offshore. Que ainda não planejamos adequadamente como integrar a geração de energia com a transmissão e a disponibilização de pontos de recarga de veículos elétricos, nem como fazer uma transição efetiva dos biocombustíveis para o transporte individual e de massas baseado na eletricidade. Que a produção de hidrogênio está em estágio embrionário no País. Assim, ao nos colocarmos prematuramente como uma potência da energia renovável, praticamos uma espécie de greenwishing, expressão que ouvi pela primeira vez recentemente, usada para retratar o desejo de ser verde, uma variação da mais conhecida greenwashing, que se refere a uma falsa aparência de sustentabilidade.


Se queremos efetivamente nos beneficiar das condições que a natureza nos proporcionou e desenvolver uma matriz energética ainda mais sustentável, temos que admitir que não há alternativa fácil para transformar potencial em riqueza. Precisamos reconhecer que o caminho  passa por abandonar o ufanismo e as receitas rápidas, fáceis e erradas, já tentadas infrutiferamente no passado, por admitir que a repetição à exaustão não vai transformar uma prática fracassada em solução, por respeitar as regras estabelecidas e por buscar de forma contínua e permanente, pragmaticamente, melhorias contínuas no ambiente de negócios. Dá trabalho, mas é a única forma de sermos bem-sucedidos na atração dos investimentos e na obtenção das tecnologias e recursos que necessitamos para alcançar a posição de potência da energia renovável.


Encerro esta coluna recordando Gerson Fernandes, uma referência para seus colegas da Petrobras, que nos deixou há alguns dias. Gerson foi o maior otimista que conheci. Mas era um otimista pragmático que, ao ser ao mesmo tempo positivo e realista, teve êxito em tudo que fez. Como na vida do Gerson, um otimismo pragmático é necessário para o sucesso. É a postura que precisamos adotar no Brasil.


*Décio Fabrício Oddone da Costa é CEO da Enauta S.A. Escreve mensalmente para o Broadcast Energia. Este artigo representa exclusivamente a visão do autor.


Broadcast Energia

terça-feira, 26 de julho de 2022

Governança é renúncia( Décio Oddone)

 Décio Oddone: Governança é renúncia


Por Décio Oddone*




Rio, 25/07/2022 - Nas últimas décadas tem crescido o esforço para melhorar a governança das instituições públicas e privadas. Os órgãos de controle do Estado e a bolsa de valores ficaram muito mais atuantes. Surgiu uma série de organizações que monitoram a atuação do governo, de empresas públicas e de companhias com ações negociadas na bolsa. A atuação dos gestores passou a ser cada vez mais escrutinada.


Se fortaleceram instituições voltadas à melhoria da gestão. Servidores públicos, executivos e conselheiros de empresas passaram a dispor de um variado cardápio de opções de treinamento para aprimorar sua formação. A bolsa de valores brasileira estabeleceu uma série de requisitos que as empresas devem adotar. Foram criados índices que avaliam o grau de evolução da governança nas companhias e requisitos para ingressar no chamado Novo Mercado, que estabelece os mais elevados padrões aplicados no Brasil. O avanço na adoção dos conceitos ESG (sigla em inglês para cuidados ambientais, sociais e de governança) ampliou o escopo do conceito de boa gestão para o campo do meio-ambiente, da maior inclusão social e da melhoria da gestão pública e privada.


A necessidade de reduzir as emissões de gases efeito estufa para atender as metas do Acordo de Paris, uma maior inclusão das minorias, com ampliação de oportunidades e mais justiça social, e o cuidado com o uso responsável dos fundos públicos e dos acionistas das empresas são aspectos importantes em um mundo cada vez mais complexo e competitivo, em que a disponibilidade de recursos para investir na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, no caso da gestão pública, ou no aumento da geração de valor e da sustentabilidade das empresas privadas passou a ser fundamental para o sucesso continuado. Enfim, a melhoria da governança passou a ser um assunto de interesse geral.


No entanto, problemas relacionados à má gestão continuam sendo comuns. Governantes ainda buscam burlar normas e regras para satisfazer objetivos políticos imediatos. Executivos privilegiam seus interesses, em detrimento do conjunto dos acionistas das empresas. Por isso, continuamos convivendo, no campo da economia, com baixa produtividade, inflação elevada, volatilidade no câmbio, alta carga tributária, regras trabalhistas e fiscais complexas, demora nos processos regulatórios e de licenciamento, e dificuldade em contratar funcionários com o adequado grau de escolaridade, conhecimento e experiência. No ambiente privado, têm sido escassos os avanços no processo de inclusão de minorias. Mas, ao mesmo tempo, boa parcela dos administradores segue valorizando as estruturas organizacionais pesadas, o status pessoal e os chamados "agency costs", ou custos do agente, benefícios pessoais para os executivos, com custos assumidos pelas corporações.


As razões são variadas e estão relacionadas a aspectos culturais. Avançar rapidamente em busca de uma melhor gestão é fundamental, mas também é importante admitir que a melhoria da governança é um processo. Os agentes políticos precisam entender que uma eleição não representa um cheque em branco, que uma votação consagradora não dá o direito de desrespeitar as regras e restrições estabelecidas. Têm que aceitar que os avanços alcançados devem ser mantidos e aprimorados. Uma boa governança só é alcançada pela melhoria contínua dos processos de gestão, não pela adaptação das regras aos desejos dos poderosos de plantão.


Isso também vale no ambiente privado. O acionista controlador de uma empresa negociada em bolsa, se quiser que a ação da sua empresa capture o potencial dos negócios que têm, precisa aceitar que as regras de mercado e os direitos dos acionistas minoritários devem ser respeitados. Um executivo escolhido para dirigir uma empresa deve entender que um bom Chief Executive Officer (CEO, na sigla em inglês para o principal executivo de uma empresa) deve respeitar as regras estabelecidas e evitar ações voluntaristas. Os melhores resultados se alcançam com perseverança, não como fruto da ação de um salvador da pátria.


Em uma frase, governança é renúncia. Renúncia ao poder discricionário, à tentação de mudar as regras para atingir objetivos de curto prazo. Renúncia ao desejo de interromper os processos de melhoria de gestão por interesses pessoais ou grupais efêmeros. Uma melhor governança só se consegue com o tempo, à medida que os que detêm o poder político ou empresarial vão aprofundando o entendimento de que podem alcançar resultados melhores se contiverem seus instintos de intervir em processos já estabelecidos e consolidados. Depende da melhoria do nível de educação e conscientização de todos, líderes e liderados, e da maturidade das classes política e empresarial. A governança evolui com a sociedade. Já avançamos bastante. Para melhorar, resta perseverar. E insistir no assunto.


*Décio Fabrício Oddone da Costa é CEO da Enauta S.A. Escreve mensalmente para o Broadcast Energia. Este artigo representa exclusivamente a visão do autor.


Broadcast Energia

sexta-feira, 3 de junho de 2022

A crise energética atual vem sendo construída há tempos(Décio Oddone, Broadcast Energia)

 Décio Oddone: A crise energética atual vem sendo construída há tempos


Antes do advento do shale, os ciclos de preço de petróleo eram longos, estimulando a indústria a buscar projetos de exploração em áreas de fronteira, de longo prazo de maturação. A produção no shale enterrou a teoria do peak oil, que indicava que o produto ia ficar cada vez mais escasso, com preços mais altos. Possibilitou aumentos rápidos na produção. Sem necessidade de exploração, reduziu a duração dos ciclos e aumentou a volatilidade das cotações.


Quando o preço despencou em 2014, as companhias cortaram investimentos, particularmente em bacias de fronteira. A questão climática acendeu os debates sobre o futuro da demanda. Pressões governamentais e sociais levaram empresas e instituições a reduzirem investimentos e financiamentos para a indústria.


Surgiu, então, a pandemia, a destruição da demanda e uma redução maior ainda dos aportes em petróleo e gás, pois ganhou força a crença que o consumo de hidrocarbonetos deveria cair, fazendo com que a transição fosse rápida.


No entanto, a realidade não se comportou como imaginavam muitos formuladores de políticas e formadores de opinião. Justamente quando a demanda começou a voltar, uma combinação de diminuição de oferta de renováveis, por mudança no padrão de ventos no Mar do Norte, com decisões políticas, erros de planejamento e redução de investimentos levou a um aumento no preço da energia na Europa.


O carvão e o gás passaram a ser mais demandados para gerar eletricidade, impactando o petróleo. A demanda começou a voltar com o fim da fase aguda da pandemia. Os preços explodiram, a ponto de surgir na Europa a expressão "heat or eat" (aquecer ou comer) para exemplificar a dificuldade das famílias em pagar a conta de energia. A produção industrial foi afetada.


Para piorar, houve a invasão da Ucrânia e as sanções à Rússia. Além do preço do carvão, gás e petróleo, o dos derivados, especialmente do diesel, também subiu muito. A falta de diesel começou a se delinear quando o preço do gás natural subiu na Europa no inverno passado, forçando as refinarias a baixarem o seu uso para gerar o hidrogênio utilizado na redução do teor de enxofre. Daí em diante, com a retomada pós-pandemia e a guerra, a situação foi se agravando. A ponto de se transferir para o outro lado do Atlântico.


A Rússia responde por cerca de um quarto das exportações globais de diesel. Além disso, refinarias localizadas no leste europeu processam petróleo russo e exportam diesel. Sem falar nos subprodutos importados por refinarias da Europa ocidental para produzir o insumo. Por isso, as medidas tomadas após o início da guerra tiveram um impacto forte no mercado. O preço do diesel, do querosene de aviação, um produto similar, e da gasolina bateram recorde nos EUA, subindo bem mais que o petróleo em função do aumento das margens de refino causado pelo fechamento de refinarias nos EUA e na Europa.


Ainda assim, a situação não reflete o que pode ocorrer se as sanções contra o petróleo russo forem efetivamente implementadas e a China levantar os lockdowns adotados para prevenir surtos de covid-19. Pode haver um movimento relevante no mercado, da ordem de uns 3 a 5 milhões de barris por dia, entre redução da oferta russa e volta da demanda chinesa, indicando que os próximos meses serão de volatilidade no mercado.


Em função disso, pode haver um aumento ainda maior dos custos da energia. E como a Rússia e a Ucrânia são importantes exportadores de milho, trigo e fertilizantes, também pode haver subida no preço dos alimentos. Isso tudo pode levar a mais inflação, insegurança energética e alimentar, aumento da desigualdade e insatisfação popular. O mundo tem tempos difíceis pela frente.


A visão eurocêntrica de uma transição energética rápida e com redução do uso de hidrocarbonetos ficou para trás. Trazia um equívoco conceitual. Desde o início da revolução industrial, quando a biomassa deixou de ser a principal origem da energia, nunca uma fonte foi substituída por outra. O carvão, o petróleo, o gás, a energia nuclear e as renováveis se desenvolveram ampliando a oferta, tanto que hoje, em termos absolutos, a biomassa é mais consumida que antes da revolução industrial. A oferta de energia abundante e acessível que permitiu a criação do mundo moderno e contemporâneo precisa continuar, ou o mundo continuará convivendo com mais de um bilhão de pessoas sem acesso à eletricidade.


Agora, além da necessidade de maior inclusão energética nos países menos desenvolvidos, ganhou força a preocupação com a segurança energética na Europa. Assim, líderes políticos têm o desafio de criar as condições para uma transição menos custosa, mais realista e com aumento da oferta, garantindo a segurança e a inclusão energéticas.


O Brasil tem enormes oportunidades nesse novo mundo, pois conta com condições para produzir mais energias renováveis, petróleo, gás, proteínas e commodities minerais e agrícolas. Mas precisa abandonar ideias ultrapassadas. A situação mudou nas últimas décadas. Nos anos 1970, o País importava petróleo e alimentos. Um aumento no preço das commodities tinha impacto duplo, na balança de pagamentos e na inflação. O Brasil empobrecia quando as commodities se valorizavam. Agora, não mais. Uma valorização das commodities é benéfica para a balança de pagamentos e para a arrecadação fiscal. Provoca mais inflação, é verdade, mas uma correta aplicação dos excedentes gerados pode mitigar o efeito nos brasileiros menos favorecidos.


Para transformar recursos em riquezas, o Brasil precisa desenvolver uma estratégia eficiente de desenvolvimento. Necessita investimentos. Para isso, as regras devem ser estáveis, claras e simples. Os preços devem seguir o mercado. A conjuntura que se formou pós-pandemia traz mais uma oportunidade. Ou o País abandona discussões decorrentes de pensamentos superados ou continuará cada vez mais distante do futuro que tanto almeja atingir, mas que, por culpa própria, nunca alcança.



*Décio Fabrício Oddone da Costa é CEO da Enauta S.A. Escreve mensalmente para o Broadcast Energia. Este artigo representa exclusivamente a visão do autor.



Broadcast Energia

domingo, 8 de maio de 2022

Mãe é quem fica(Cora Coralina)

 Cora Coralina 


 Mãe é quem fica. 

 Depois que todos vão. 

 Depois que a luz apaga. 

 Depois que todos dormem. 

 Mãe fica.


Às vezes não fica em presença física. 

Mas mãe sempre fica. 

Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. 

Uma parte sempre fica.


Fica neles. 

Se eles comeram. 

Se dormiram na hora certa. 

Se brincaram como deveriam. 

Se a professora da escola é gentil. 

Se o amiguinho parou de bater. 

Se o pai lembrou de dar o remédio.

Mãe fica. 


Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. 

Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.


É quando a gente fica que nasce a mãe. 

Na presença inteira. 

No olhar atento. 

Nos braços que embalam. 

No colo que acolhe.


Mãe é quem fica. 

Quando o chão some sob os pés. 

Quando todo mundo vai embora. 

Quando as certezas se desfazem.

Mãe fica.


Mãe é a teimosia do amor, que insiste em permanecer e ocupar todos os cantos. 

É caminho de cura. 

Nada jamais será mais transformador do que amar um filho. 

E nada jamais será mais fortalecedor que ser amado por uma mãe.


É porque a mãe fica, que o filho vai. 

E no filho que vai, sempre fica um pouco da mãe: 

Em um jeito peculiar de dobrar as roupas. 

Na mania de empilhar a louça só do lado esquerdo da pia. 

No hábito de sempre avisar que está entrando no banho. 

Na compaixão pelos outros. 

No olhar sensivel.

Na força pra lutar.


No coração do filho, mãe fica.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

Baixa produtividade também é fruto da cultura empresarial (Décio Oddone, Broadcast Energia)

Décio Oddone: A baixa produtividade também é fruto da cultura empresarial


A economia nacional convive com o chamado custo Brasil: a inflação mais elevada, a volatilidade do câmbio, a alta carga tributária, a complexa estrutura das regras trabalhistas e fiscais, a demora nos processos regulatórios e de licenciamento, a dificuldade em contratar funcionários com o adequado grau de escolaridade, conhecimento e experiência. São problemas objetivos que afetam a produtividade, sobre os quais os gestores das empresas não têm influência direta. Essas questões são muito conhecidas e debatidas, mas soluções definitivas parecem distantes. As responsabilidades pelas ações de melhoria recaem sobre os ombros dos governantes.


No entanto, os baixos ganhos de produtividade que experimentamos nas últimas décadas não são fruto apenas de questões estruturais, que dependem de decisões políticas. Existem aspectos menos discutidos da nossa realidade e cultura corporativa que podem ser influenciados pela atuação de líderes empresariais. Um bom exemplo são questões comportamentais, como a valorização das estruturas organizacionais pesadas e do status e o gosto por normas e regras complexas.


Muitos gestores apreciam organogramas vistosos, com excesso de subordinados, como se o poder de um gerente dependesse do tamanho do grupo que administra. Outros buscam a independência dentro da empresa e tentam criar a sua própria equipe de apoio. Não importa se replicando posições que já existem na companhia, aumentando os custos e diminuindo a eficiência e a produtividade da própria organização.


O excesso de assessores, seguranças, secretárias, carros e motoristas e o abuso na utilização de cartões de crédito empresariais e de viagens em aviões privados são usados como demonstrações de poder. Representam os chamados "agency costs", ou custos do agente, mencionados na literatura especializada, presentes no mundo todo, mas particularmente valorizados por alguns aqui. Resultam em gastos que executivos não assumiriam na conta pessoal, mas lutam para conquistar, ou facilmente aprovam, quando a despesa é corporativa.


O maior problema, possivelmente, na regulação e nas empresas, talvez seja os padrões técnicos demasiadamente exigentes e as normas e regras complexas e custosas. Enquanto outras culturas valorizam a simplicidade, no âmbito público e privado, optamos por soluções complicadas, mesmo para problemas básicos. Valorizamos a adoção e a multiplicação de padrões e limitações. Chegamos até a combinar, em algumas regulações, restrições adotadas em diferentes países.


Normas de engenharia, de segurança e de operação são mais numerosas, sofisticadas e conservadoras que as aplicadas em culturas de viés mais pragmático. Não faltam exemplos de regras que impedem o uso no Brasil de equipamentos e técnicas aceitos em países mais desenvolvidos. A desnecessária busca da excelência em atividades operacionais acaba prejudicando o alcance da eficiência. A excelência é fundamental em campos como a pesquisa, a saúde e a educação, não em atividades operacionais ou industriais, em que a melhoria da competitividade deve ser o alvo. Tudo isso produz aumentos de custos, que muitas vezes são percebidos erroneamente como melhorias.


Padrões, normas, regras e limitações são necessários, especialmente em atividades complexas, mas devem ser simples. Não devem inibir boas iniciativas, nem impedir que as equipes trabalhem com agilidade e flexibilidade. O mesmo gosto pela complexidade se percebe na construção e manutenção de instalações produtivas. Basta visitar plantas industriais no Brasil e nos Estados Unidos ou na Alemanha, por exemplo, para perceber a diferença. Onde colocamos asfalto encontramos cascalhos. Em lugar dos jardins que vemos em muitas instalações aqui encontramos grama ou terra nua por lá. Essas práticas aumentam os custos de execução de investimentos e de manutenção de ativos.


Também há os que resistem em aplicar a meritocracia e a responsabilização por resultados. Que preferem exaltar o igualitarismo e têm dificuldade em reconhecer e valorizar o mérito e o desempenho individual, preferindo assumir que a contribuição de todos para o alcance de resultados positivos é sempre a mesma, ou em estabelecer metas de rentabilidade e premiações por resultados. Que acham mais simples definir objetivos ligados a parâmetros operacionais. E que, na comunicação com a força de trabalho, evitam mencionar rentabilidade e retorno sobre o capital empregado, como se buscar gerar valor fosse pecado. Gostam de falar em crescimento, sustentabilidade, inovação, criatividade, busca da excelência, reinvestimento dos lucros. Mas não explicitam que, sem eficiência, rentabilidade e sustentabilidade financeira, uma companhia, mesmo estatal, não pode crescer, ser criativa, inovadora, sustentável. Sem sucesso econômico-financeiro, uma empresa não cria, nem inova. Não será ambiental nem socialmente responsável. Acaba fechando e eliminando empregos, ou repassando os custos para o contribuinte, quando é controlada pelo Estado.


Nesses tempos do politicamente correto e da preocupação com os aspectos ESG (meio ambiente, social e governança) dos negócios, pode parecer inadequado expressar alguns desses conceitos. Só pode parecer. Algumas das empresas mais bem sucedidas do Brasil aplicam ideias alinhadas com as apresentadas aqui. Não surpreende que a valorização da simplicidade, o corte de custos e a eficiência tragam bons resultados. O que falta para que outras companhias sigam o mesmo caminho? Os exemplos estão aí e são conhecidos. Não basta reclamar e lutar para que o ambiente econômico melhore, que a regulação e as normas de responsabilidade do poder público sejam simplificadas e que os trâmites burocráticos sejam agilizados. Executivos que não encontrarem coragem para enfrentar o corporativismo e o excesso de complexidade incrustrados nas suas próprias organizações terão que conviver com contínuos aumentos de custo e redução da competitividade. Não terão bons resultados para mostrar. E não poderão dizer que a culpa é só do ambiente político e econômico.


*Décio Fabrício Oddone da Costa é CEO da Enauta S.A. Escreve mensalmente para o Broadcast Energia. Este artigo representa exclusivamente a visão do autor.


Broadcast Energia

quinta-feira, 31 de março de 2022

TODO FILHO É PAI DA MORTE DE SEU PAI

 TODO FILHO É PAI DA MORTE DE SEU PAI*




" Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.


É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.


É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e intransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.


É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe.


É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.


E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.


Todo filho é pai da morte de seu pai.


Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.


E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.


Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.


Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.


A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.


Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.


A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.


Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.


Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?


Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.


E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.


Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.


No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:e


— Deixa que eu ajudo.


Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.


Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.


Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.


Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.


Embalou o pai de um lado para o outro.


Aninhou o pai.


Acalmou o pai.


E apenas dizia, sussurrado:


— Estou aqui, estou aqui, pai!


O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali. "

(Autor desconhecido)


quarta-feira, 23 de março de 2022

China Faces Worst Crop Conditions Ever Due to Climate Change(Bloomberg News, 23 3 22)

 China Faces Worst Crop Conditions Ever Due to Climate Change

The country’s agriculture minister said last year’s record-breaking floods have created “big difficulties” with food production 

https://www.bloomberg.com/news/articles/2022-03-23/climate-change-threatens-china-s-crop-yield-food-security?cmpid=BBD032322_GREENDAILY&utm_medium=email&utm_source=newsletter&utm_term=220323&utm_campaign=greendaily


Harvested rice is deposited in a grain hauler tractor in Shanghai.Photographer: Qilai Shen/Bloomberg

Bloomberg News

23 de março de 2022 00:00 BRT



More extreme weather caused by rising global temperatures — compounded by geopolitical turmoil and the pandemic — is hindering China’s effort to ensure food supplies for its 1.4 billion population. 


President Xi Jinping has made food security a priority for the world’s second-biggest economy, an effort to meet the soaring demand that’s pushed imports of corn, soybeans and wheat to record levels, making Beijing increasingly vulnerable to trade tensions and supply shocks. At the same time, climate change-induced disasters have caused widespread crop damage and shrunk the amount of arable land, making it harder to boost local production.



Tang Renjian, the country’s agriculture minister, brought up the threat at a high-profile government meeting in Beijing this month. “China faces big difficulties in food production because of the unusual floods last autumn,” he told reporters. “Many faming experts and technicians told us that crop conditions this year could be the worst in history.”


More than 860 people died or went missing in natural disasters last year, which damaged almost 30 million acres of crops. Record-breaking rains in the central province of Henan in July alone damaged 2.1 million acres of farmland. The floods delayed planting on more than 18 million acres of land, about one-third of China’s total winter wheat acreage. The amount of first- and second-grade crops, where there are more than 2.7 million seedlings on every acre of land, fell by more than 20% this year compared with normal years.


Climate change hurts China’s pursuit of food security in two ways, according to Zhang Zhaoxin, a researcher with the agricultural ministry. More frequent extreme weather events are already lowering crop yields. Meanwhile, increasingly unpredictable seasons can undermine farmers’ confidence and potentially worsen the sector’s existing labor shortage. 


Farmers in northern China are used to droughts, not floods, Zhang said. In many of the regions that were affected by torrential rain last year, farmers couldn’t harvest their corn because their machinery couldn’t handle the water. There wasn’t enough infrastructure such as pipes and systems to drain the field in time. 


Those issues are set to get more serious as the planet warms. Seasonal droughts will reduce yields of China’s three major staple foods — rice, wheat and corn — by 8% by the end of the decade, according to World Resources Institute. In the longer term, climate change also means rising coastal waters along the long and low eastern coal could further stress the agricultural industry.  


“As climate change continues to intensify in coming years, weather events are going to have a greater and greater impact on agricultural productivity,” said Even Pay, an agricultural analyst with Trivium. Ramping up imports isn’t a viable alternative, she added, pointing out that global warming makes food cultivation more challenging globally. “Climate change felt in the rest of the world could also impact China’s food security,” she said. 

-- With assistance by John Liu and Karoline Kan

sábado, 19 de março de 2022

Como a matemática pode predizer o futuro(Folha de S. Paulo, 19 3 22)

 Como a matemática pode predizer o futuro

sábado, 19 de março de 2022 


Jornal Folha de S. Paulo  | Folha Corrida   |   Murilo Bomfim

A quem pertence o futuro? Para a ciência, à matemática -ela nos oferece algumas formas de predição, sobretudo por meio das probabilidades. Um exemplo clássico é o jogo de cara ou coroa: ao lançar uma moeda para o alto cem vezes, espera-se que, em metade das ocasiões, ela caia com o lado cara para cima (e, na outra metade, o lado coroa, é claro).


Sabe-se, no entanto, que essa previsão não é muito precisa. Se de fato se lançasse a moeda uma centena de vezes, talvez o lado cara aparecesse em 46 das ocasiões. Ou em 58. Essa variação também não escapa à matemática: é analisada pela chamada distribuição normal. O conceito é bem ilustrado por um gráfico -a curva de Gauss- que mostra, nesse exemplo, as oscilações mais prováveis da moeda (por exemplo, quarenta caras e sessenta coroas) e as mais improváveis (como oitenta caras e vinte coroas).


Mas prever a face aparente da moeda não é tão difícil, afinal as opções são apenas duas. Como antever o comportamento de sistemas mais complexos, que dependem de muitas variáveis, como o organismo humano ou uma colônia de bactérias? Essa é a pergunta que orienta a pesquisa do matemático Dirk Erhard.


Apaixonado por probabilidade, o próprio Erhard foge à curva de Gauss: são raros os matemáticos medalhistas em salto de trampolim. Nascido e criado em Berlim, aos sete anos ele foi descoberto por um caça-talentos de ginástica olímpica. Depois de quase uma década de treinamentos intensos, o jovem percebeu que o sonho de ser campeão mundial em trampolim seria eternamente um sonho. 'Eu não era ruim, mas sabia que não era bom o suficiente para chegar ao topo', lembra o alemão. Entre os 11 ? 0S 17 anos, ele chegou a ser pentacampeão da modalidade na Alemanha -ele diz, porém, que a categoria juvenil não revela muito sobre o potencial do atleta.


Com baixas chances de se tornar um ginasta de sucesso, ele apostou suas fichas namatemática. Erhard é tão improvável que, nos primeiros anos de graduação, não gostava de probabilidade. À época, tinha afinidade mesmo com análise funcional - disciplina que trata do estudo das funções. Em um intercâmbio em Paris, o rapaz deu sorte: teve aulas com um ótimo professor, que explicava, justamente, as intersecções entre a análise funcional e a probabilidade. 'Foi a melhor disciplina que tive na vida, ensinada de uma maneira fácil de entender', lembra o matemático, que ãg top por seguir carreira acadêmica na área.


Entre mestrado, doutorado e programas de pós-doutorado, Erhard passou pela Alemanha, França, Holanda e Inglaterra, até finalmente chegar ao atual trabalho de professor na Universidade


Federal da Bahia -a ideia era ficar mais perto da família da esposa baiana, por quem se apaixonou nas andanças europeias. Mesmo morando em vários países, o matemático se dedicou a uma mesma investigação: tornar predições mais simples, principalmente de sistemas complexos. Em vez de analisar lançamentos de moeda, Erharâ se concentra em sistemas com diversas partículas que interagem entre si e apresentam comportamentos diferentes em pontos distintos do tempo e do espaço.


A pesquisa ainda tem caráter teórico, mas mostra seu potencial quando aplicada a situações práticas, ainda que hipotéticas. Um exemplo seria um lago amplo e profundo, onde peixes se reproduzem e, para isso, precisam de uma temperatura ideal. Em cada ponto do lago, a temperatura vai ser um pouco diferente, influenciada por variáveis como profundidade, incidência do sol, presença de cardumes. Erhard trabalha na criação de um modelo matemático que facilite a previsão da temperatura nas diferentes regiões do lago.


Enquanto o alemão investiga o movimento de partículas, ao menos uma possibilidade mais concreta de aplicação de seus estudos já esteve em pauta. 'Há alguns meses, tive uma conversa com um grupo de físicos que buscam entender mais sobre o cérebro humano', conta Erhard. Se será possível prever comportamentos do cérebro, ainda não se sabe -mas, se depender do matemático, a probabilidade é grande.

Não há vida fora da Inovação(Ricardo Ivanov, 18 3 22)

 TECNOLOGIA - NÃO HÁ VIDA FORA DA INOVAÇÃO

sexta-feira, 18 de março de 2022


Revista Isto É Dinheiro  | Dinheiro e Tecnologia   |   Ricardo Ivanov

Com aquisição de quatro novas empresas no Brasil em 2021, a consultoria Accenture usufrui hoje da mudança de rumo interna em direção ao “toda empresa é uma empresa digital”.





Por um tempo, o CEO da operação brasileira da Accenture, uma das Top 10 empresas de consultoria empresariais no mundo, pensou que poderia ser baterista, já que é um apaixonado por shows de rock. Mas Leonardo Framil, 52 anos, natural do Rio de Janeiro, encontra seu ritmo mesmo é no dia a dia da gestão, outsourcing e tudo o que diz respeito a tornar uma companhia eficiente tecnologicamente — já que desde 2013 a Accenture percebeu que toda empresa, na verdade, é uma empresa digital. “Antes de vender essa ideia, nos transformamos internamente. Fomos nosso melhor case. E quando 70% de nossa receita já vinha do Digital, Cloud e Security, a pandemia chegou”, disse o executivo, que está há 30 anos na Accenture e todo dia aperta o botãozinho na máquina de latinhas de energético na empresa, sem revelar quantas vezes faz isso em seu expediente.





Seguindo a direção da matriz irlandesa, no lugar de “parar e pensar” a pandemia, saíram fazendo aquisições, um passo que se mostrou acertado no momento emergencial. Foram quatro: a Organize Cloud Labs, que trouxe mais inputs em estratégia, migração, implementação e gerenciamento de Cloud; a Real Protect, somando mais segurança customizada e integrada; a Pollux, especialista em criação e implementação de linha de montagem com robôs e softwares especializados; e a Experity, que tinha na bagagem agilidade em comércio, marketing e dados na nuvem. Está clara a ideia do digital, não? É um movimento para quem pode, tem o cacife de prestar serviço para 18 das 20 maiores empresas do Brasil. Só no Cloud First, foi um investimento global de US$ 3 bilhões em três anos, o que fez pular o negócio da Accenture na área de US$ 12 bilhões para US$ 18 bilhões, aumento de 44%.





AQUISIÇÕES “Dentro dos números expressivos de investimento da Accenture globalmente estão, por exemplo, US$ 4,2 bilhões no último ano fiscal em mais de 40 aquisições ao redor do mundo (incluindo as do Brasil), US$ 1,1 bilhão em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias como blockchain, robótica, 5G, computação quântica; e US$ 900 milhões em aprendizado e desenvolvimento profissional.





Os números em consultoria empresarial são realmente astronômicos, basta ver as receitas de dois dígitos de bilhões das quatro principais no planeta: a McKinsey & Company, Boston Consulting Group, Bain & Company e Deloitte — a Accenture estaria em sétimo segundo pesquisa da Statista para 2021, com US$ 50,5 bilhões em 2021. Mas na lista anual das 50 melhores empresas americanas da Forbes com empresários, parceiros e consultorias de executivos, a Accenture estaria em primeiro em transformação digital, tecnologia, análise de dados e outras 19 de 32 categorias pesquisadas, com ascendências mais pontuais.





Essa é uma das atividades curiosas que a Accenture tem de fazer com alguns clientes: explicar o que fazem. “Não é difícil, é prazeroso mostrar como nos reinventamos para ajudá-los, de como suprimos desde demandas simples às mais complexas”. Um aspecto que ajuda a explicar é que a Accenture não tem em seu core oferecer infra-estrutura, como Cloud — para isso eles têm relacionamentos de nível 1 com os principais players de tecnologia global. “Oferecemos insights, análise de performance, potencial criação de valor, uso de plataformas como o myNav que permite acesso, design e simulações de Cloud, determinando o que é a melhor para o cliente.” Mas alguma empresa ainda tem dúvidas quanto a usar ou não Cloud? Segundo estudo da Accenture, sim. “Identificamos que no Brasil apenas 1% das empresas têm mais de 75% dos negócios na nuvem, enquanto mais de 80% têm menos de metade dos negócios nela.” Além disso, afirmou o executivo, 78% dos entrevistados estão na trajetória para adotar o uso da nuvem nos negócios, “mas ainda há um longo caminho para Cloud contínuo.”





A Accenture saltou em menos 10 anos de US$ 54 bilhões de valor de mercado para US$ 201 bilhões, graças à mudança para cultura full digital. “Aceitamos o desafio da transformação digital. E devolvemos US$ 5,9 bilhões aos acionistas”, disse o CEO. Só no Brasil, iniciou 2021 com 14,4 mil colaboradores e entrou 2022 com 17 mil, o que é perto de 50% da força de trabalho da América Latina. No imediatismo da pandemia, estavam com todas as ferramentas digitais a mão para prover soluções, numa indústria com receita de US$ 263 bilhões em 2021, segundo a IBISWorld. “Chegamos a um estágio em que precisamos aprender com o futuro, não mais com o passado.”

domingo, 13 de março de 2022

Generation CUB – how the events of Covid, Ukraine and Brexit will shape our teenagers’ lives forever

 

Generation CUB – how the events of Covid, Ukraine and Brexit will shape our teenagers’ lives forever

Our children have grown up in a febrile state of emergency. How will they deal with a changed state of mind in years to come?

Generation CUB
Generation CUB have been through a lot, at a tender age

In 1993, I turned 18. The Cold War had ended, ushering in the centrist Third Way, and the political scientist Francis Fukuyama had famously proclaimed that we had reached the “end of history”. 

This was the era of Generation X – wanderers through a cultural landscape that seemed both safe and strangely empty, where Friends captured the zeitgeist and wars were something that happened ‘over there’ or in the past.  

Now my children are coming of age, history seems to be crashing back. Generation CUB is a label that has been given to the four million British teenagers aged 14-19, who have lived through Covid, Ukraine and Brexit – three of the most disruptive events in modern Britain. 

Their formative years have been spent watching their families fracture over the shape of UK politics, before the world descended into Covid lockdowns and school closures.


Then along came war in Ukraine – now dominating the news as the ultimate existential threat. This is on top of the ‘climate emergency’ which, back in November, provoked Boris Johnson to warn that we were “one minute to midnight on that doomsday clock”. For adults, this is all confusing and exhausting enough. So what must it be like for the CUBs, growing up in a febrile state of emergency and to whom everything is happening for the first time?

As a sociologist, I have written about the dangers of over-generalising around young people’s experiences – particularly when based on our own preoccupations and anxieties. 

This concern is shared by Bobby Duffy, professor of public policy at King’s College London and former managing director of Ipsos Mori’s Social Research Institute. His recent book, Generations: Does When You’re Born Shape Who You Are?, analyses hundreds of studies about generational attitudes, finding that people rarely fit the stereotypes. 

This is particularly true of the young. In a 2018 Ipsos Mori report on Generation Z (those born between 1996 and 2010), he concluded: “Putting a whole generation into a box is never smart, but it’s particularly unhelpful with this varied and fluid generation.”

But while generational location doesn’t determine who you are or what you think, social events do have an impact. Think about those growing up through the World Wars, the 1960s or 9/11 – moments when the world seemed to shift on its axis, plunging the young into an existence that was markedly different to the one in which their parents grew up. Few would deny that such experiences affect young people. The more difficult question is: how?

Pandemic restrictions had a huge impact on young people’s lives, destabilising everything they took for granted. And the effect on their mental health during this period makes for sobering reading. 

NHS statistics published in 2020 found that over half of young people with a probable mental disorder were likely to say that lockdown had made their life worse. For young people with diagnosed mental health problems, the pandemic exacerbated these conditions, particularly given the difficulties accessing specialist services.


But not all of the problems facing young people during the pandemic can be explained in terms of mental health impacts – or assumed to have uniform or long-term consequences. Researchers at University College London followed families with children across the UK during the first and second lockdowns.

“Young people did show a great deal of resilience, but at the same time, they told us that the biggest challenge they faced was learning to try to cope with huge amounts of uncertainty in different parts of their lives,” explains Dr Humera Iqbal, associate professor of social and cultural psychology. 

“This was everything from levels of uncertainty around education, their own and family’s health, the future, for many their parents and family finances and even their friendships.”

Sarah Standish, a school counsellor in Harrow, north west London, has perceived a big improvement since regular service resumed. And as kids have regained their lives, they have been experiencing more of the ‘normal’ problems of growing up.

“I’m not seeing the numbers I saw a year ago; the anxiety presentations, the tics and so on,” she says. “Now I’m talking to them about relationship break-ups and parents getting divorced.”

Both Standish and Iqbal draw attention to the anxieties experienced by young people with regard to job losses and financial hardship: something that has gained relatively little attention. “The stress issues now are more about the economic crisis,” says Standish, citing “huge issues” with parental employment, and worries about how to pay for heating and petrol.

To the extent that wider social events affect young people, we should be wary about scripting a response that is driven by our own anxieties, not theirs.


In an astute commentary published in spring 2020, right at the start of the pandemic, politics professor Matthew Flinders noted that for young people, “the notion of crisis has simply become the new normal.

“They absorb doom-laden narratives about globalisation and suffer from the growth of economic precarity,” he wrote. “They hear about the ‘death’ or ‘end’ of democracy and catastrophic climate change. Is it any wonder that mental health and wellbeing services are generally discussed in crisis-laden terms?”

In attempting to predict how young people will respond to social shocks, commentators tend to fall into three camps: those who argue that teenagers suffering from ‘crisis fatigue’ will merely shrug off disasters; those who fear they will be overwhelmed; and those who hope the young people will be a newly radicalised force for progressive social change. Yet many young people express a more mediated and, dare I say, mature response than those pontificating about them.

Annabel, 19, is a university student. “The sense of crisis all the time feels like quite a lot to deal with as a teenager,” she says. Many of her peers “feel quite crushed by the weight of the world” and disconnected from wider events.

 “While people are upset about Ukraine, this tends to manifest itself on social media rather than real life,” she adds. “The sense that we’re going through these really dramatic catastrophic events has intensified, but it’s hard to know if this coincides with us becoming more aware of the world.”


This burgeoning awareness is the key point. Young people are coming of age trying to work out what it all means. And this is where the adults in the room need to take a long hard look at themselves. It is true that we are living through uncertain times. But our own complacency about the ‘end of history’ has driven us to engage with life as a constant state of emergency, absolving ourselves of the responsibility to help young people make sense of the world by indulging in our own fear.    

For all the destructive effects of the pandemic, it has had one potentially positive effect. Many parents, grandparents and young people told Iqbal that their relationships with each other had strengthened. Standish has noticed that young people have “grown in their appreciation of things they previously took for granted”, such as the importance of the school community and the value of social interaction with peers. 

Ultimately, it is teenagers’ sense of what is important to their own lives that gives them a resilience to events in the world out there – and what could mean the CUBs don’t become Generation Crisis after all.