É humanamente impossível escrever uma coluna de tecnologia
para o último dia do ano sem cair em retrospectivas ou previsões ainda mais
quando o ano é um falso começo de década, até mais potente, simbolicamente, do
que o começo verdadeiro: 2020 não parece muito mais ponto de largada do que
2021?
Tantas coisas foram anunciadas e prometidas, tantas deixaram
de se realizar, tantas aconteceram sem que ninguém desse por elas. Se nos
antigos anos 20, aqueles, que ficaram lá atrás, alguém dissesse que passaríamos
o dia grudados a pequenos retângulos de metal e vidro e que não haveria aspecto
das nossas vidas que não fosse influenciado por esses pequenos retângulos,
nossos avós, que se achavam - e eram - avançadíssimos com seus Fords e suas
saias pelos joelhos ficariam assombrados.
Mas não é preciso ir tão longe. Era difícil imaginar, mesmo
há dez anos, o espaço universal que os smartphones ocupariam hoje, e o estilo
de vida que desenvolvemos a partir de seus aplicativos. O Uber foi lançado em
2010, e só chegou ao Brasil quatro anos depois; o iFood foi criado em 2011; o
mobile banking, que no ano passado ultrapassou todos os outros canais na
preferência dos correntistas, incluindo o internet banking (aquele que se usa
no computador), mal chegava a 10% dos usuários em 2014.
Nas previsões para a próxima década, porém, não só o mobile
banking perderá espaço, à medida em que suas funções forem se integrando a
outros aplicativos, como os próprios smartphones poderão desaparecer. Esse
palpite é de ninguém menos do que DJ Koh, o CEO da Samsung, que acha que, muito
em breve, graças ao desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) e à
universalização do 5G e da internet das coisas, usaremos apenas vestíveis -
como pulseirinhas e óculos inteligentes. Isso vai acontecer de forma tão suave,
diz DJ Koh, que sequer vamos reparar que estamos usando telas. Os objetos à
nossa volta serão inteligentes e obedecerão a comandos de voz.
Isso ainda parece estranho para mim, que venho do milênio
passado e tenho a sensação de estar falando sozinha quando dou ordens a
assistentes digitais, mas é perfeitamente natural para os meus netos, que
nasceram em 2010 e só se comunicam com os seus smartphones por voz. Eles acham
engraçado o meu hábito antigo de digitar, e imagino que, em algum momento do
futuro, vão comentar com os seus filhos como se lembram da avó, uma pessoa
nascida antes da internet, que precisava de teclados (teclados, imaginem!) para
se comunicar com os aparelhos.
A década que vem por aí será também a do fim do dinheiro e
dos cartões de crédito reais, de pegar, tais como os conhecemos. Em breve todas
as nossas transações financeiras serão realizadas por meio dos celulares, de
pagamentos importantes a esmolas na rua. Na China, mendigos já usam cartazinhos
com códigos QR para facilitar a vida dos cidadãos de bom coração. A geração que
vai olhar moedas e notas de dinheiro com nojo, imaginando como tínhamos coragem
de pegar coisas que haviam passado por tantas mãos desconhecidas, já nasceu há
alguns anos e brinca por aí.
"Quem nasceu depois de 2010 vai achar - estranho que -
alguém use um teclado ou manipule moedas e notas"
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