Correio Braziliense | Economia
Depois de disparar 50% em uma semana e cair 10% em poucas horas, a mãe de todas as criptomoedas espalha dúvidas sobre o futuro de sua valorização, atormentando investidores
» Jaqueline Mendes
São Paulo -- Quem acreditava que a volatilidade das ações nas bolsas de valores no mundo todo era o máximo de adrenalina que os investidores poderiam sentir não conhecia o bitcoin (BTC). A mais famosa das criptomoedas chegou a valer, na quarta-feira, a impressionante cifra de US$ 13,8 mil, maior valor registrado em 2019, alta de 230% desde o começo do ano.
No dia seguinte, porém, a moeda virtual derreteu 10% em poucos minutos, uma queda de quase US$ 2 mil. A cotação caiu a US$ 11,9 mil em menos de uma hora, de acordo com a Refinity data, e voltou a suscitar dúvidas sobre a sustentabilidade da moeda. "Está muito claro que o bitcoin é para quem está preparado para enfrentar fortes variações, sendo uma aposta de altíssimo risco", disse o diretor de estratégia de crédito do Deutsche Bank, Jim Reid, em entrevista à CNBC.
As recentes altas, seguidas por fortes quedas, têm sido alimentadas principalmente pelo anúncio da libra, a criptomoeda liderada pelo Facebook, na última semana. Além disso, a guerra comercial travada entre os Estados e a China, com possíveis mudanças nas regras de mineração da criptomoeda, também são fontes de incertezas. "Até mesmo os mais otimistas diziam que um movimento de valorização de 50% em uma semana era rápido demais", afirmou Michael Moro, presidente da Genesis Global Trading. "Era natural que um salto desse tamanho, em um pequeno intervalo de tempo, não iria se sustentar."
Já o cofundador da Fundstrat Global Advisers, Thomas Lee, acredita que a volatilidade do bitcoin comprova a tese de que se trata de um investimento de longo prazo, e que não deve ser explorado como ativo de retorno rápido para investidores amadores. "O Bitcoin é um ativo hipervolátil. Para a maioria dos investidores, o mais apropriado é ter uma visão de longo prazo", disse ele.
Como não poderia ser diferente, voltaram a crescer as especulações de que a valorização é uma bolha. "O atual aumento de preço do bitcoin reúne muitas pessoas com medo de perder uma grande oportunidade de ganhar muito dinheiro. Mas comprar bitcoins ainda é semelhante a uma aposta", disse a economista Michelle Singletary, colunista do jornal americano Washington Post. "É preciso ter em mente que essas bolhas estouram."
A montanha-russa na cotação da moeda virtual está preocupando os bancos centrais. Como sabem que não podem proibir ou ficar de fora de um caminho sem volta da digitalização do dinheiro, a maioria dos BCs está desenvolvendo suas próprias criptomoedas. Segundo pesquisa elaborada pelo Bank for International Settlements (BIS), 70% dos bancos pesquisados já começaram a trabalhar em um Central Bank Digital Currency (CBDC, ou ativos digitais de bancos centrais) ou estão considerando a implementação e desenvolvimento de ativos digitais. A pesquisa mostra que 50% dos bancos disseram que já estão em um estágio de prova de conceito em seus empreendimentos no criptomercado.
O BIS é uma instituição comandada por diversos bancos centrais de todo o mundo e tem como foco principal providenciar uma melhor cooperação financeira e monetária internacional. De acordo com as informações publicadas, 63 bancos centrais participaram da pesquisa do BIS. Essas 63 instituições financeiras representam jurisdições que cobrem mais de 80% da população mundial. Os bancos que responderam à pesquisa têm mais de 90% da produção econômica mundial.
O Banco Central Europeu tem sido um dos mais agressivos nas críticas às criptomoedas. A instituição está semanalmente alertando sobre os riscos de se investir nelas. No fim do ano passado, o vice-presidente, Vitor Constancio, chegou a comparar o bitcoin às tulipas holandesas do século 17, responsáveis pela primeira bolha registrada na história econômica.
Nessa mesma linha, a China deixou claro que quer ter total controle sobre as criptomoedas. Reprimiu as exchanges e os ICOs e fala em emitir uma criptomoeda oficial do governo chinês. Enquanto isso, o presidente do Banco Central japonês, Haruhiko Kahoda, declarou que não há data definida, mas que existem estudos para se lançar uma moeda digital no país.
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