O ESTADO de SÃO PAULO - 23/03/2017
Com mudança no projeto de reforma anunciada na terça-feira por Temer,
apenas os servidores federais civis vão se submeter às novas regras
previdenciárias propostas; de acordo com o governo, decisão foi tomada
por questões de autonomia federativa.
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,governo-deixa-86-dos-servidores-de-fora-da-reforma-da-previdencia,70001710513
A decisão do
presidente Michel Temer de retirar os servidores estaduais e municipais
da reforma da Previdência, anunciada na terça-feira, acabou deixando 86%
do funcionalismo público em atividade no País fora do alcance da
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que altera as regras de
aposentadorias e pensões em tramitação no Congresso Nacional.
Do
total de 6,214 milhões de servidores públicos (federais, estaduais e
municipais), 5,362 milhões não farão parte da reforma depois que o
presidente cedeu às pressão dos grupos organizados e parlamentares e
anunciou anteontem o recuo na proposta. O cálculo foi feito pelo
consultor legislativo do Senado e especialista em Previdência Pedro
Fernando Nery.
A decisão abre um precedente para que outras
categorias escapem também do alcance da reforma. A equipe econômica
passou o dia tentando minimizar o impacto da mudança para conter uma
piora da confiança no ajuste fiscal pelos analistas do mercado, mas, no
Congresso, a retirada de outras categorias do funcionalismo público
federal já é dada como certa, segundo apurou o Estado.
Os
policiais federais fazem forte pressão e as chances de conseguirem ficar
de fora da reforma com apoio dos parlamentares aumentou com a concessão
feita pelo Planalto. Juízes e procuradores federais vão brigar para
ficarem de fora e há emendas já apresentadas para isso. E os Estados,
que enfrentam problemas graves nas suas contas em razão do aumento
crescente do déficit da Previdência dos servidores, reclamaram da
decisão (ver página B4).
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles,
disse ontem que havia um risco grande de judicialização da proposta.
"Não é apenas uma questão de conveniência política ou viabilidade para
os governadores, é de autonomia federativa", afirmou. Segundo o
ministro, as regras para a Previdência dos servidores estaduais serão
tomadas por cada Estado.
"O governo tomou a decisão de
focar o seu trabalho no que é responsabilidade direta da União, que é o
Orçamento federal", completou. Para os servidores da União, não haverá
exceção. Um fonte da equipe econômica disse que o governo "não considera
a hipótese de retirar nenhuma categoria federal da proposta".
Troca.
Os dados apresentados pelo consultor do Senado levaram em consideração
os militares das Forças Armadas, que também, com muita pressão,
conseguiram escapar da reforma antes mesmo de a proposta ser enviada ao
Congresso no final do ano passado. Apenas 852,85 mil servidores civis da
União (14% do total do funcionalismo público brasileiro) serão afetados
pela PEC.
Para o consultor do Senado, o governo está
"trocando uma reforma por várias reformas". Segundo ele, o lobby para a
mudança partiu sobretudo dos juízes, promotores e professores. Pelos
dados do consultor, dos 5.593 entes federativos (Estados e municípios)
do Brasil, 60% (3.382) têm regime próprio de previdência social.
Na
avaliação de Nery, não se sabe ainda como o mercado financeiro vai
quantificar o impacto da mudança, já que aumentam as chances de o
governo federal ter de socorrer os Estados no futuro.
"A
gente sabe que no Brasil a União é sempre muito chamada a socorrer os
Estados. Não se sabe como o mercado vai 'preci-ficar' esse passivo
contingente, que é a possibilidade de no futuro o endividamento aumentar
porque ela vai ter que socorrer eventualmente Estados que não
conseguirem pactuar novas regras com as suas assembleias", avaliou.
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