Néli
Pereira Da BBC Brasil em São Paulo - 16 março 2017
A
história de Emmy Noether - matemática alemã que desafiou as universidades em
1903 para cursar o ensino superior e que foi citada por Albert Einstein como
"genial" por sua contribuição à Física - inspirou leitores da BBC
Brasil:
Após a
reportagem ser citada no boletim de notícias ao vivo que a BBC Brasil transmite
pelo Facebook todos os dias às 12h45, leitores começaram a sugerir nomes de
mulheres que deveriam ser estudadas com mais ênfase nas escolas.
Entre as
diversas sugestões, que incluíram personalidades como a mexicana Frida Kahlo,
selecionamos dez brasileiras para destacar e relembrar a contribuição delas
para a nossa história.
As
trajetórias são muito diferentes entre si, assim como as áreas de atuação: da
música à política, das artes plásticas à dedicação religiosa. O que quase todas
têm em comum foi a luta por reconhecimento e pelos direitos da mulher.
1. Cora Coralina
Direito
de imagem Agência Brasil Image caption Cora Coralina era doceira e poetisa
Apesar de
ser considerada uma das poetisas mais importantes da literatura brasileira,
Cora Coralina, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, só
publicou o primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais,
aos 76 anos.
Antes
disso, criou quatro filhos trabalhando como doceira após a morte do marido e
não chegou a terminar o ensino fundamental.
Cora
ficou conhecida por escrever sobre a cidade de Goiás e, embora não falasse
sobre a questão de gênero na sua obra, é considerada por especialistas como uma
escritora pioneira e libertária que enfrentou os preconceitos da sociedade para
mostrar a contribuição das mulheres.
2. Irmã Dulce
Direito
de imagem Agência Brasil Image caption Irmã Dulce pode ser a primeira santa do
Brasil
Maria
Rita de Sousa Brito Lopes dedicou a vida a ajudar as pessoas carentes e é uma
das ativistas humanitárias mais importantes do século 20.
Ela
mostrou aptidão e desejo para essas atividades ainda pequena - aos 13 anos
transformou a casa dos pais em Salvador em um centro de atendimento aos
necessitados, pobres e doentes.
Conhecida
como "o anjo bom da Bahia", ajudou a fundar diversas instituições
filantrópicas, como o Hospital Santo Antônio. Foi indicada ao Prêmio Nobel da
Paz em 1988 e beatificada em 2011.
3. Lina Bo Bardi
Direito
de imagem Gabriel Grespan Image caption A convite de Assis Chateubriand, Lina
Bo Bardi projetou o Masp
Nascida
na Itália e naturalizada no Brasil, Lina nasceu Achillina Bo e veio para o
Brasil em 1942 para se afastar da instabilidade política da Europa, que a
deixava inconformada.
Aqui,
abriu caminho para as mulheres na arquitetura e foi responsável pelos projetos
do Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) e do Sesc Pompeia,
entre outros prédios emblemáticos.
Estudiosa
da cultura brasileira, Lina tinha um forte engajamento político e acreditava
que a arquitetura deveria simples e uma ferramenta para melhorar a vida da
sociedade e dos mais pobres - e criticava a ostentação.
Apesar da
contribuição para a arquitetura, ela não teve tanto reconhecimento em vida e
enfrentou muitos preconceitos por ser mulher e estrangeira.
4. Maria Quitéria
Direito
de imagem Pintura de Domenico Failutti Image caption Maria Quitéria se passou
por homem
Primeira mulher
a entrar nas Forças Armadas e a defender o Brasil em combate, Maria Quitéria de
Jesus Medeiros é frequentemente comparada a Joana d'Arc. Foi uma das heroínas
da Guerra da Independência.
O pai
dela não permitiu que se alistasse, mas em 1822 ela fugiu de casa, cortou os
cabelos, se vestiu como homem e se juntou ao Regimento de Artilharia.
Foi
descoberta pelo pai logo depois, mas teve a permanência na tropa defendida por
um major por causa de sua disciplina e destreza com as armas. Depois do serviço
militar, foi perdoada pelo pai, se casou e teve uma filha.
5. Clementina de Jesus
Direito
de imagem Image caption Clementina foi uma das sambistas mais
importantes do país
Uma das
principais sambistas de todos os tempos, Clementina foi empregada doméstica até
ser descoberta e reconhecida já com mais de 60 anos.
Famosa
pelo repertório de músicas de raízes afro-brasileiras tradicionais, ela foi
importante por registrar e divulgar cantos ancestrais dos escravos na história
da música.
Sua
biografia, intitulada Quelé - A Voz da Cor, foi lançada no ano passado.
6. Nise da Silveira
Direito
de imagem Retrato: Pedro Celso Cruz Image caption Nise foi ativista da luta
antimanicomial
Psiquatra
brasileira e aluna de Carl Jung, Nise ficou conhecida pela contribuição pela
luta antimanicomial e por ter implementado a terapia ocupacional e as artes no
tratamento das doenças psiquiátricas no processo terapêutico.
Ela se
formou em 1926 - era a única mulher em uma turma com 157 alunos. Chegou a ser
presa durante o Estado Novo, acusada de envolvimento com o comunismo, e dividiu
a cela com Olga Benário, militante do movimento no Brasil.
Nise
criticou, discutiu e revolucionou o tratamento psiquiátrico e as condições dos
manicômios no Brasil.
7. Zilda Arns
Direito
de imagem Wilson Dias/Ag. Brasil Image caption, vitimada pelo
terremoto no Haiti, 2010
Zilda foi
uma médica pediatra e sanitarista brasileira, responsável pela fundação da
Pastoral da Criança.
Ela
dedicou a vida à saúde pública com enfoque no combate à mortalidade infantil,
desnutrição e violência contra as crianças e desenvolveu uma metodologia
própria para realizar os tratamentos preventivos.
Irmã de
Dom Paulo Evaristo Arns, Zilda morreu no Haiti. Ela trabalhava em uma missão da
Pastoral quando o país foi atingido por um terremoto, em 2010.
8. Anita Garibaldi
Direito
de imagem Pintura de Gaetano Gallino Image caption Anita foi combatente.
Uma das
mulheres mais reconhecidas da história do Brasil, Anita Garibaldi é chamada de
"Heroína dos Dois Mundos" pela participação em diversas batalhas
tanto no Brasil como na Itália ao lado do marido, Giuseppe Garibaldi.
Anita foi
muito influenciada pelos ideiais do marido. Eles foram parceiros de vida e de
combate: ela aprendeu a usar armas e espadas e foi combatente na Revolução
Farroupilha e Revolta dos Curitibanos, entre outras.
9. Tarsila do Amaral
Direito
de imagem Divulgação Image caption Tarsila é expoente do modernismo
Um dos
principais nomes do modernismo brasileiro, Tarsila criou algumas das obras
emblemáticas do movimento, como o Abaporu.
Mesmo com
formação sólida em Artes Plásticas, nas escolas de Julian e de Émile Renard em
Paris, ela enfrentou dificuldades por ser mulher.
O
primeiro marido se separou dela porque não concordava com a sua dedicação à
arte, e não exclusivamente às tarefas do lar.
Tarsila
dizia querer ser a "pintora do Brasil" e dedicou várias fases de sua
obra às cores, paisagens e cultura brasileiras.
10. Chiquinha Gonzaga
Direito
de imagem Divulgação Image caption Chiquinha era uma ativista social e política
A
trajetória de Chiquinha Gonzaga é referência tanto para a música brasileira
como para a conquista dos direitos da mulher.
Ela
começou a carreira ainda na época do Segundo Reinado e, embora tocasse os
ritmos populares à época, como valsas e polcas, também se dedicou a conhecer e
divulgar os ritmos brasileiros. Foi autora de uma das primeiras marchinhas: Ó
Abre Alas.
Casou-se
aos 16 anos e aos 18 decidiu abandonar o marido, que não concordava com sua
atividade musical. Ficou conhecida pela militância política e foi ativista de
grandes causas sociais - especialmente a abolição da escravatura.
Também
foi a fundadora da primeira instituição arrecadadora e protetora dos direitos
autorais no país.
@história do Brasil
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