VALOR ECONÔMICO - 23/01/2017
"Retorno é uma boa palavra, rapaz", observou o ator Mickey Rourke, após viver um lutador afastado reconduzido a um renascimento na carreira. Será que 2017 poderá ser o ano em que os profissionais que garimpam ações poderão dizer o mesmo?
O ambiente pós-crise financeira tem sido cruel com a gestão ativa de investimentos, principalmente ações. A maioria das gestoras de carteiras não tem conseguido superar seus benchmarks mesmo sem descontar os custos. Isso acelera o movimento sísmico do investidor para veículos de investimento baratos, passivos, como os fundos de índice (ETFs, em inglês, os fundos negociados em bolsa).
A melhora de desempenho das gestoras de fundos de ações americanas observada no segundo semestre de 2016, aprimorou apenas cosmeticamente a aparência do que foi o monstro do ano. Savita Subramanian, do Bank of America, estima que apenas 19% delas superaram seus índices, percentual ainda pior que os 41% de 2015. Além disso, as retiradas alcançaram sua maior alta do pós-crise, enquanto os ingressos nos ETFs somaram, em média, US$ 1 bilhão ao dia, em termos mundiais - mais que US$ 12,3 mil por segundo, mesmo com o dia a mais do ano bissexto.
Mas finalmente há alguma luz no fim do túnel. Crescem as esperanças de que 2017 vai trazer de volta o brilho da tradicional gestão ativa. A expectativa é de que mais volatilidade e maior dispersão entre as ações e os mercados individuais permitirão que gestoras qualificadas brilhem mais prontamente. De fato, quase dois terços dos clientes consultados pela Tabb no ano passado consideram que a gestão ativa vai usufruir de um renascimento no novo ambiente de mercado com Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, que parece mais propício aos gestores ativos.
Em relatório intitulado "Making Active Management Great Again" ("Tornando a Gestão Ativa Grande de Novo"), que toma de empréstimo o slogan de campanha de Trump, o estrategista Jonathan Golub, do RBC, argumenta que as "investidas" do gestor ativo comum - como inclinar-se em favor de companhias menores e de ações mais baratas, e evitar empresas sólidas, de crescimento lento e generosas em dividendos que estavam a todo o vapor nos últimos anos - farão uma reaparição neste ano.
A queda das taxas de administração vai ajudar bastante. A concorrência dos veículos passivos baratos obrigou a maioria das gestoras a reduzir preços, o que facilita para os fundos superarem os índices após os descontos.
As relações de custo médias dos fundos americanos de ações caíram a partir dos cerca de US$ 0,99 para cada US$ 100 investidos, observados em 2000, para US$ 0,68 em 2015, e para o fundo de bônus médio de US$ 0,76 para US$ 0,54, de acordo com a associação nacional de fundos Investment Company Institute. E a maioria das gestoras de fundos ainda consegue superar o desempenho do mercado antes das taxas.
Os céticos poderão enfatizar que a volta da gestão ativa já foi anunciada muitas vezes. A volatilidade, que supostamente separa o joio do trigo, em vez disso, atrapalhou mesmo os maiores nomes do setor. Ponderado pelos ativos, o fundo de hedge médio ganhou menos que 3% no ano passado, de acordo com a empresa de pesquisa Hedge Fund Research, e os estrategistas do Bank of America não encontraram qualquer prova de que a alta das taxas de juros ou o aumento da volatilidade contribua para que os fundos mútuos tenham melhor desempenho.
Mesmo após a alta de muitos dos papéis preferidos pelos fundos no final de 2016, o simples ato de comprar ações das dez empresas menos requisitadas pelos fundos no início de 2016 - de acordo com o medido por suas carteiras - teria levado a um ganho 13,4% para um investidor em 2016, enquanto que as dez escolhas mais frequentes desses gestores subiram só 5,9%. Este é, pelo menos, o terceiro ano consecutivo em que teria valido a pena fazer o contrário do que fizeram os gestores ativos de ações, observa Savita.
Além disso, está longe de ser certeza que o novo ambiente será tão mais propício à gestão ativa de ações. Muitas gestoras esperam que a ascensão dos veículos de investimento passivo, como os ETFs, leve à perda de eficiência dos mercados, com mais distorções das quais elas possam se aproveitar.
Mas Michael Mauboussin, do Credit Suisse, mostra-se cético. Argumenta em nota que as gestoras de fundos ativos que foram obrigadas a sair foram, provavelmente, as mais fracas, o que deve, na verdade, dificultar ainda mais a tarefa de superar o mercado.
"Os investidores que se retiram das gestoras ativas são, provavelmente, menos bem-informados do que os que ficam. Isso equivale aos jogadores fracos que saem da mesa de pôquer", escreve ele. "Uma vez que vencedores precisam de perdedores, isso pode tornar o mercado ainda mais eficiente, e portanto menos atraente, para os que ficam."
Um novo ano deve ser um tempo de esperança, mas os especialistas em cinema se lembram que a carreira de Rourke voltou a estacionar logo após seu papel no filme "O Lutador", de Darren Aronofsky. Às vezes, uma reaparição mostra ser apenas um fenômeno transitório em uma trajetória firmemente decrescente.
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