As
cicatrizes do confinamento de descendentes de japoneses nos EUA durante a 2ª
Guerra
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caption Descendentes de japoneses fazem fila para jantar em um campo de
concentração em San Bruno, na Califórnia .
O ataque a Pearl Harbor moldou a vida dos japoneses-americanos muito depois da Segunda Guerra Mundial ter terminado. Enquanto o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, visitava na semana passada o local, que fica no Havaí, o tratamento dado a esse grupo durante o conflito continuava a ressoar na paisagem política.
O ataque a Pearl Harbor moldou a vida dos japoneses-americanos muito depois da Segunda Guerra Mundial ter terminado. Enquanto o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, visitava na semana passada o local, que fica no Havaí, o tratamento dado a esse grupo durante o conflito continuava a ressoar na paisagem política.
Em maio, Abe e o presidente dos EUA, Barack Obama,
estiveram juntos em Hiroshima e fizeram história: Obama tornou-se o primeiro
presidente norte-americano a visitar o local do ataque atômico. Na última
terça-feira, eles voltaram a se reunir em uma visita histórica a Pearl Harbor.
Quando os japoneses atacaram a base naval
norte-americana em 7 de dezembro de 1941, o resto do mundo já estava em guerra.
Pouco depois, os EUA se juntaram às forças aliadas.
Mais de 50 milhões de soldados e civis foram
mortos, tornando o conflito militar no mais letal da história.
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caption Ordens de exclusão distribuídas na Califórnia, dirigindo a remoção das
pessoas de ascendência japonesa.
Mas depois de Pearl Harbor houve consequências para
outro grupo: cidadãos americanos de ascendência japonesa.
"A raça japonesa é uma raça inimiga",
escreveu o tenente-general John DeWitt no Relatório Final - Evacuação
Japonesa da Costa Oeste, 1942.
"Enquanto muitos japoneses de segunda e
terceira geração nascidos em solo americano, possuídos de cidadania americana,
tornaram-se 'americanizados', as tensões raciais não estão diluídas".
Em fevereiro de 1942, o Presidente Franklin
Roosevelt emitiu a Ordem Executiva 9066, enviando 120 mil pessoas da costa
oeste dos EUA para campos de concentração por causa de sua origem étnica. Dois
terços deles nasceram na América.
Havia dez campos pelos Estados Unidos. Em média, os
internos japoneses-americanos passavam três anos atrás de cercas de arame
farpado.
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caption Família Mochida espera por um ônibus de evacuação em Hayward,
Califórnia, em 1942.
Seu encarceramento é relativamente bem conhecido,
mas suas lutas não terminaram aí, especialmente para os japoneses-americanos
como Lawson Iichiro Sakai, que tinha 18 anos em 1941.
"Tentei me alistar na Marinha dos EUA com três
de meus colegas de classe brancos. Eles foram aceitos, mas eu não fui",
disse.
"Eu disse 'Por que não? Sou um americano.' Mas
eles disseram que eu era um alienígena inimigo, então não era mais um cidadão
americano."
"Realmente me senti sendo rejeitado pelo meu
próprio país", lembrou o veterano de 93 anos.
Image copyright Lawson Ichiro
Sakai Image caption Iichiro Sakai foi inicialmente rejeitado pelo Exército dos
EUA apesar de ser um americano.
Quando os militares precisaram de mais soldados e
abriram o alistamento aos japoneses-americanos em março de 1943, Sakai
imediatamente se ofereceu.
Mais de 30 mil homens japoneses-americanos passaram
a servir no Exército dos EUA. Muitos eram parte de uma unidade segregada
conhecida como a 442ª Equipe de Combate Regimental.
Sob o slogan da unidade de "Go for
broke!" (Vá com tudo!), eles foram enviados para algumas das batalhas mais
duras.
A 442ª atacou Itália e França, e teve uma taxa de
acidentes excepcionalmente elevada. O próprio Sakai foi ferido quatro vezes e
recebeu uma Estrela de Bronze e um Coração Violeta, conderações militares.
Sakai disse que não se ressente com os militares
dos EUA por enviarem repetidamente sua unidade para regiões perigosas.
"Você pode culpar os generais por usarem o
melhor que tinham?" ele disse. "Ninguém quer morrer, e ninguém quer
ver seus homens morrerem, mas nós estávamos tentando ganhar a guerra. A essa
altura, nós já tínhamos provado que éramos americanos leais."
Quando a 442ª retornou aos EUA em julho 1946, o
presidente Harry Truman falou do trabalho da unidade em uma cerimônia na Casa
Branca. Em um discurso, ele disse aos veteranos: "Vocês combateram não
somente o inimigo, mas o preconceito - e vocês ganharam."
Para continuar provando sua lealdade aos EUA,
alguns japoneses americanos trabalharam como tradutores no Tribunal Militar
Internacional para o Extremo Oriente, comumente conhecido como o Tribunal de
Tóquio, criado para julgar os líderes do Japão por crimes de guerra.
David Akira Itami se ofereceu ao Exército americano
depois de passar um ano em um campo de concentração. Ele estava ligado à
inteligência do Exército, traduzindo documentos japoneses, antes de ser enviado
para o Japão como oficial da ocupação pós-guerra liderada pelos EUA.
Image copyright AFP Image caption Translators for the International
Military Tribunal for the Far East were torn between their two motherlands .
Havia poucas pessoas que pudessem falar inglês e japonês em 1946, de modo que o trabalho de Itami era assegurar-se de que os intérpretes fossem precisos. No registro de julgamento, ele tentou deixar os generais japoneses terminassem suas frases antes de serem interrompidos.
Havia poucas pessoas que pudessem falar inglês e japonês em 1946, de modo que o trabalho de Itami era assegurar-se de que os intérpretes fossem precisos. No registro de julgamento, ele tentou deixar os generais japoneses terminassem suas frases antes de serem interrompidos.
Mas as experiências de Itami podem ter tido um
preço. Ele tirou a própria vida aos 39 anos em 1950, pouco depois do fim dos
julgamentos.
O tratamento dos japoneses-americanos durante a
Segunda Guerra Mundial foi denunciado pelo presidente Ronald Reagan em 1988
como "uma política motivada por preconceito racial, histeria de guerra e
um fracasso da liderança política".
Ele assinou a Lei de Liberdades Civis para
compensar mais de 100 mil pessoas de ascendência japonesa que foram presas em
campos de concentração.
Mas no mês passado, Carl Higbie, apoiador do
presidente eleito Donald Trump, disse que o internamento de guerra dos
japoneses-americanos é um "precedente" para um registro de todos os
imigrantes de países onde grupos terroristas estão ativos, uma medida que iria
afetar largamente os imigrantes mulçumanos-americanos.
Image copyright Mike Honda Image
caption O congressista Mike Honda e seu pai quando sua família vivia
encarceirada em um campo no Colorado.
O congressista japonês-americano Mike Honda, que
foi enviado para um campo quando criança, disse que as observações são
"mais do que perturbadoras".
"Isso é ódio, não política", disse o
congressista de 75 anos de idade em um comunicado. "Essa política de
registro de uma minoria nos reduz, colocando nosso futuro nas mãos de um
intolerante de mentalidade restrita dos anos 40."
"Ninguém deve passar pelo que minha família e
120 mil pessoas inocentes sofreram, independentemente de sua raça ou religião
ou de qualquer outra forma que eles escolheriam para tentar dividir-nos."
Em uma entrevista à BBC, o congressista disse
esperar que Trump "prove que as pessoas estão erradas fazendo uma
declaração clara".
"Mas suas escolhas de gabinete até agora me
deixam nervoso", disse Honda. "Ele pode ser influenciado por aqueles
com opiniões mais extremas que selecionou para ser parte de sua
administração."
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