Ponte para Temer - CORREIO ECONÔMICO - VICENTE NUNES
CORREIO BRAZILIENSE - DF: 12/01/2017
Na visão do Planalto, o BC tornou mais difícil tirar Temer do poder. Com a economia voltando a rodar, o capital tenderá a blindar o presidente e a base aliada se fortalecerá
Muita gente do mercado financeiro classificou como surpreendente a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de cortar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 13% ao ano, mas a verdade é que não havia outro caminho para a autoridade monetária. Depois de errar feio no fim de novembro último, quando, por excesso de cautela, reduziu a Selic em apenas 0,25 ponto, mesmo com a inflação desabando, se mantivesse o conservadorismo, o BC acabaria com qualquer chance de recuperação da economia neste ano. Felizmente, como diz um dos ministros mais próximos do presidente Michel Temer, prevaleceu o bom senso. "O BC estava medroso demais, sem necessidade", afirma. Sob o comando de Ilan Goldfajn, o BC ficou mais preocupado em não repetir os erros da gestão anterior, de Alexandre Tombini, do que em considerar o que estava ocorrendo na economia real. A meta principal foi manter a reputação a qualquer custo, a despeito de isso significar o prolongamento da recessão que já desempregou 12 milhões de pessoas. Foi preciso que todo o discurso da instituição se desconstruísse por completo para que a voz da razão falasse mais alto. Antes tarde do que nunca.
Em seus documentos oficiais, o BC condicionava a queda mais forte dos juros a um tombo da inflação. Isso vem ocorrendo há quatro meses. Dizia que as projeções futuras para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tinham de ceder e ficar ancoradas no centro da meta, de 4,5%, o que também aconteceu. Afirmava que era preciso avançar na reforma fiscal, e o Congresso aprovou a emenda à Constituição que limita o aumento dos gastos públicos. Por tabela, o Palácio do Planalto encaminhou ao Legilativo a proposta de reforma da Previdência.
Com a decisão de ontem, o BC zerou o jogo. Melhor: indicou, claramente, que os juros continuarão em queda forte, podendo repetir o 0,75 ponto percentual em fevereiro ou mesmo ampliar a tesoura para um ponto. Não haverá como recuar dessa direção porque os índices de preços continuarão fracos devido ao estrago provocado pela recessão. A demanda levará tempo para se recuperar. As feridas abertas nas finanças de empresas e das famílias são enormes. O efeito da queda dos juros agora será muito mais psicológico, mas vital para reverter o desatre.
Leitura política
No Planalto, a leitura política da queda dos juros é a melhor possível. Para assessores de Temer, o Banco Central mudou toda a dinâmica prevista para a primeira metade do ano. Foi como se o presidente do BC, Ilan Goldfajn, e seus subordinados construíssem uma ponte para o presidente. Sem notícias favoráveis na economia, com o fim do recesso no Congresso e a Lava-Jato, o risco de a política balançar o governo era enorme. Agora, com a perspectiva de mais queda da Selic e a inflação girando em torno da meta, a tendência é o empresariado buscar uma blindagem para Temer.
O mesmo ministro que ressalta o bom senso do BC diz que a autoridade monetária elevou o preço para se tirar Temer do poder. A economia voltando a rodar vai atrair o capital e, principalmente, os políticos. A base aliada tenderá a se fortalecer e mesmo projetos difíceis de serem aprovados, como as reformas da Previdência e trabalhista, devem andar mais rápido. "Não há exagero dizer que, neste momento, o polo de sustentação do governo saiu do Ministério da Fazenda e migrou para o BC", destaca. "A ponte construída por Ilan e companhia tende a fazer o país a sair do atoleiro mais rapidamente", emenda.
Na avaliação da equipe econômica, se havia algum receio em relação ao país, tudo deve se dissipar. Os investidores estrangeiros que já vislumbravam uma recuperação mais forte para a economia a partir de 2018 podem rever os planos e intensificar o fluxo de recursos para o país independentemente das incertezas provocadas por Donald Trump, que assumirá a presidência dos Estados Unidos em 20 de janeiro. A bolsa de valores pode subir mais e o dólar, cair.
A ordem, porém, dentro do governo é não se deixar levar pela euforia. Há muita coisa a ser feita, principalmente em relação aos estados, que estão quebrados. Sem um acordo viável com os governadores, impondo limites para gastos e reduzindo o inchaço das máquinas, não há como se falar em um ajuste fiscal efetivo. O Planalto precisa demonstrar que o arrocho é para valer, independentemente das esferas de governo. "A redução dos juros é importante, dá um novo fôlego à economia, mas está longe de resolver os problemas estruturais que precisam ser atacados", ressalta um técnico.
Para Carlos Thadeu Filho, sócio da consultoria MacroAgro, se houver surpresas em relação à inflação daqui por diante será para o bem. "Os preços dos alimentos continuarão em baixa e, sem crédito, não há como se falar em recuperação do consumo de bens duráveis", assinala. Ele ressalta que todos os números do IPCA são muito favoráveis à continuidade de uma queda acentuada dos juros. "Caso o Copom optasse por derrubar a Selic em dois pontos ontem, não haveria problemas. A inflação deixou de ser problema", enfatiza. Tomara que ele esteja certo.
Em seus documentos oficiais, o BC condicionava a queda mais forte dos juros a um tombo da inflação. Isso vem ocorrendo há quatro meses. Dizia que as projeções futuras para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tinham de ceder e ficar ancoradas no centro da meta, de 4,5%, o que também aconteceu. Afirmava que era preciso avançar na reforma fiscal, e o Congresso aprovou a emenda à Constituição que limita o aumento dos gastos públicos. Por tabela, o Palácio do Planalto encaminhou ao Legilativo a proposta de reforma da Previdência.
Com a decisão de ontem, o BC zerou o jogo. Melhor: indicou, claramente, que os juros continuarão em queda forte, podendo repetir o 0,75 ponto percentual em fevereiro ou mesmo ampliar a tesoura para um ponto. Não haverá como recuar dessa direção porque os índices de preços continuarão fracos devido ao estrago provocado pela recessão. A demanda levará tempo para se recuperar. As feridas abertas nas finanças de empresas e das famílias são enormes. O efeito da queda dos juros agora será muito mais psicológico, mas vital para reverter o desatre.
Leitura política
No Planalto, a leitura política da queda dos juros é a melhor possível. Para assessores de Temer, o Banco Central mudou toda a dinâmica prevista para a primeira metade do ano. Foi como se o presidente do BC, Ilan Goldfajn, e seus subordinados construíssem uma ponte para o presidente. Sem notícias favoráveis na economia, com o fim do recesso no Congresso e a Lava-Jato, o risco de a política balançar o governo era enorme. Agora, com a perspectiva de mais queda da Selic e a inflação girando em torno da meta, a tendência é o empresariado buscar uma blindagem para Temer.
O mesmo ministro que ressalta o bom senso do BC diz que a autoridade monetária elevou o preço para se tirar Temer do poder. A economia voltando a rodar vai atrair o capital e, principalmente, os políticos. A base aliada tenderá a se fortalecer e mesmo projetos difíceis de serem aprovados, como as reformas da Previdência e trabalhista, devem andar mais rápido. "Não há exagero dizer que, neste momento, o polo de sustentação do governo saiu do Ministério da Fazenda e migrou para o BC", destaca. "A ponte construída por Ilan e companhia tende a fazer o país a sair do atoleiro mais rapidamente", emenda.
Na avaliação da equipe econômica, se havia algum receio em relação ao país, tudo deve se dissipar. Os investidores estrangeiros que já vislumbravam uma recuperação mais forte para a economia a partir de 2018 podem rever os planos e intensificar o fluxo de recursos para o país independentemente das incertezas provocadas por Donald Trump, que assumirá a presidência dos Estados Unidos em 20 de janeiro. A bolsa de valores pode subir mais e o dólar, cair.
A ordem, porém, dentro do governo é não se deixar levar pela euforia. Há muita coisa a ser feita, principalmente em relação aos estados, que estão quebrados. Sem um acordo viável com os governadores, impondo limites para gastos e reduzindo o inchaço das máquinas, não há como se falar em um ajuste fiscal efetivo. O Planalto precisa demonstrar que o arrocho é para valer, independentemente das esferas de governo. "A redução dos juros é importante, dá um novo fôlego à economia, mas está longe de resolver os problemas estruturais que precisam ser atacados", ressalta um técnico.
Para Carlos Thadeu Filho, sócio da consultoria MacroAgro, se houver surpresas em relação à inflação daqui por diante será para o bem. "Os preços dos alimentos continuarão em baixa e, sem crédito, não há como se falar em recuperação do consumo de bens duráveis", assinala. Ele ressalta que todos os números do IPCA são muito favoráveis à continuidade de uma queda acentuada dos juros. "Caso o Copom optasse por derrubar a Selic em dois pontos ontem, não haveria problemas. A inflação deixou de ser problema", enfatiza. Tomara que ele esteja certo.
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