CORREIO BRAZILIENSE - Simone Kafruni - 13/01/2017
Gasto de operadoras com atendimentos médicos cresce 19% em um ano. No país, já existem 60 empresas com patrimônio líquido negativo, prejudicando beneficiários. Número de internações e exames encarece tratamento
O envelhecimento da população e os avanços da tecnologia, com o surgimento de exames, remédios e procedimentos médicos cada vez mais complexos e caros, estão jogando os gastos com doenças na estratosfera. A inflação da saúde disparou nos últimos anos, sempre acima do custo de vida, e a tendência é que continue em alta, ameaçando a viabilidade econômica de planos privados e de autogestão, assim como o atendimento aos beneficiários. No ano passado, o aumento dos preços com saúde disparou 11,05%, a maior alta desde 2001 para o setor, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial, foi de 6,29%, de acordo com dados o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E a tendência, aponta a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é continuar subindo.
A instituição calcula que o custo da doença atingiu 9% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2010 e, no ano passado, ultrapassou a marca dos 10% do PIB. A estimativa da OCDE é de que, em 2050, encoste em 20% de todas as riquezas produzidas no país. Considerando a projeção do Ministério do Planejamento, de que o PIB do Brasil será de R$ 50,6 trilhões em 2050, o país gastará nada menos do que R$ 10 trilhões em saúde se nada for feito para a prevenção de doenças.
Para Rubens Sakay, especialista em comportamento humano, nada é capaz de inflexionar a curva de aumento dos gastos, a não ser a mudança nos hábitos de vida. "As doenças crônicas são responsáveis por 86% dos gastos com saúde e estamos padecendo mais delas, que são possíveis de prevenir, mudando o modo de vida sedentário e passando a se alimentar melhor", diz.
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são hoje responsáveis pela maioria das mortes em muitos países, seja de alta, média ou baixa condição socioeconômica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 72% das mortes antes dos 60 anos de idade são ocasionadas por doenças crônicas. Estimativas para o Brasil sugerem que a queda de produtividade no trabalho e a diminuição da renda familiar resultantes de apenas três DCNTs - diabetes, doença do coração e acidente vascular cerebral - levaram a uma perda na economia brasileira de US$ 4,18 bilhões entre 2006 e 2015. Também são consideradas crônicas doenças como o câncer, as respiratórias, a hipertensão, e as chamadas mentais, termo genérico que designa depressão, esquizofrenia e abusos de álcool e drogas.
"O doente crônico, depois de desenvolver o mal, passa 30 anos piorando de condições. Há uma preocupante expansão da morbidade no mundo, isto é, estamos percentualmente mais tempo doentes", alerta Sakay. Por conta disso, os planos privados, sobretudo, os de autogestão (sem fins lucrativos), são os que correm mais risco de se tornarem economicamente inviáveis, no entender do especialista.
Levantamento realizado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) mostra que, no período de cinco anos, entre 2007 e 2012, os gastos de uma operadora de plano de autogestão aumentaram 120,4%, enquanto a Variação de Custos Médico-Hospitalares (VCMH) foi de 88,1% e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), 31,9% no mesmo intervalo de tempo.
Pesquisa inédita da Associação de Planos de Saúde sem Fins Lucrativos e de Autogestão (Unidas), de 2016, aponta que o custo médio per capita para cobertura médico-hospitalar subiu 12,6% em 2015 e acumula alta de 61% nos últimos cinco anos. Somente as autogestões movimentaram R$ 20 bilhões em 2015. Do total, R$ 10 bilhões foram com internações. Dessas, 21% poderiam ter sido evitadas, segundo o estudo, com potencial para redução de despesas de cerca de R$ 2 bilhões ao ano.
João Paulo dos Reis Neto, vice-presidente da Unidas, explica que a inflação da saúde decorre de dois fatores iniciais: a idade e a variação do custo dos exames completos. "Cada vez as pessoas usam mais os planos de saúde. Isso está relacionado com a idade e doenças crônicas. Qualquer população que envelheça mais gasta mais com saúde", afirma.
No caso das autogestões, 30% dos beneficiários são idosos, diz Neto. "Os planos privados ficam muito caros e os idosos são expulsos. Eles não têm metade disso. As associadas da Unidas absorvem os aposentados, os parentes de funcionários ou agregados", ressalta. O especialista explica que há tratamentos que custam até R$ 500 mil por paciente, como os oncológicos para tratar câncer.
Neto acredita que não há muito a fazer porque as coisas vão continuar ficando mais caras e as pessoas, mais velhas. "Uma saída é trabalhar na revisão do modelo assistencial. Hoje, o doente é internado e nós pagamos os hospitais. Pagamos pela doença e não pela saúde. Porque os hospitais querem mais é que o doente fique hospitalizado. Depois, eles apresentam a fatura e os planos pagam", alerta. Já existem 60 operadoras com patrimônio líquido negativo no país. A Unimed Rio está falindo. É preciso tomar medidas para evitar internações por causas banais para economizar", apela Neto.
A Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi) é um plano de autogestão do Banco do Brasil (BB). "Hoje, o nosso grande desafio é oferecer aos associados um serviço de qualidade a um custo compatível com a capacidade de pagamento dessa população", afirma Carlos Célio de Andrade Santos, presidente da Cassi. O aumento nos custos, em 2015, foi de 14,6%.
Com 720 mil associados, a Cassi limita a adesão aos empregados da ativa, ex-funcionários, aposentados e pensionistas do BB e seus parentes até terceiro grau. Porém, o total da população atendida em 2015 foi de mais de 1 milhão de pessoas, pois inclui participantes de convênio de reciprocidade (operadoras que utilizam a rede credenciada da Cassi, mediante ressarcimento dos custos).
"Cada vez as pessoas usam mais os planos de saúde. Isso está relacionado com a idade e doenças crônicas. Qualquer população que envelheça mais gasta mais com saúde"
João Paulo dos Reis Neto, vice-presidente da Unidas
A instituição calcula que o custo da doença atingiu 9% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2010 e, no ano passado, ultrapassou a marca dos 10% do PIB. A estimativa da OCDE é de que, em 2050, encoste em 20% de todas as riquezas produzidas no país. Considerando a projeção do Ministério do Planejamento, de que o PIB do Brasil será de R$ 50,6 trilhões em 2050, o país gastará nada menos do que R$ 10 trilhões em saúde se nada for feito para a prevenção de doenças.
Para Rubens Sakay, especialista em comportamento humano, nada é capaz de inflexionar a curva de aumento dos gastos, a não ser a mudança nos hábitos de vida. "As doenças crônicas são responsáveis por 86% dos gastos com saúde e estamos padecendo mais delas, que são possíveis de prevenir, mudando o modo de vida sedentário e passando a se alimentar melhor", diz.
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são hoje responsáveis pela maioria das mortes em muitos países, seja de alta, média ou baixa condição socioeconômica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 72% das mortes antes dos 60 anos de idade são ocasionadas por doenças crônicas. Estimativas para o Brasil sugerem que a queda de produtividade no trabalho e a diminuição da renda familiar resultantes de apenas três DCNTs - diabetes, doença do coração e acidente vascular cerebral - levaram a uma perda na economia brasileira de US$ 4,18 bilhões entre 2006 e 2015. Também são consideradas crônicas doenças como o câncer, as respiratórias, a hipertensão, e as chamadas mentais, termo genérico que designa depressão, esquizofrenia e abusos de álcool e drogas.
"O doente crônico, depois de desenvolver o mal, passa 30 anos piorando de condições. Há uma preocupante expansão da morbidade no mundo, isto é, estamos percentualmente mais tempo doentes", alerta Sakay. Por conta disso, os planos privados, sobretudo, os de autogestão (sem fins lucrativos), são os que correm mais risco de se tornarem economicamente inviáveis, no entender do especialista.
Levantamento realizado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) mostra que, no período de cinco anos, entre 2007 e 2012, os gastos de uma operadora de plano de autogestão aumentaram 120,4%, enquanto a Variação de Custos Médico-Hospitalares (VCMH) foi de 88,1% e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), 31,9% no mesmo intervalo de tempo.
Pesquisa inédita da Associação de Planos de Saúde sem Fins Lucrativos e de Autogestão (Unidas), de 2016, aponta que o custo médio per capita para cobertura médico-hospitalar subiu 12,6% em 2015 e acumula alta de 61% nos últimos cinco anos. Somente as autogestões movimentaram R$ 20 bilhões em 2015. Do total, R$ 10 bilhões foram com internações. Dessas, 21% poderiam ter sido evitadas, segundo o estudo, com potencial para redução de despesas de cerca de R$ 2 bilhões ao ano.
João Paulo dos Reis Neto, vice-presidente da Unidas, explica que a inflação da saúde decorre de dois fatores iniciais: a idade e a variação do custo dos exames completos. "Cada vez as pessoas usam mais os planos de saúde. Isso está relacionado com a idade e doenças crônicas. Qualquer população que envelheça mais gasta mais com saúde", afirma.
No caso das autogestões, 30% dos beneficiários são idosos, diz Neto. "Os planos privados ficam muito caros e os idosos são expulsos. Eles não têm metade disso. As associadas da Unidas absorvem os aposentados, os parentes de funcionários ou agregados", ressalta. O especialista explica que há tratamentos que custam até R$ 500 mil por paciente, como os oncológicos para tratar câncer.
Neto acredita que não há muito a fazer porque as coisas vão continuar ficando mais caras e as pessoas, mais velhas. "Uma saída é trabalhar na revisão do modelo assistencial. Hoje, o doente é internado e nós pagamos os hospitais. Pagamos pela doença e não pela saúde. Porque os hospitais querem mais é que o doente fique hospitalizado. Depois, eles apresentam a fatura e os planos pagam", alerta. Já existem 60 operadoras com patrimônio líquido negativo no país. A Unimed Rio está falindo. É preciso tomar medidas para evitar internações por causas banais para economizar", apela Neto.
A Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi) é um plano de autogestão do Banco do Brasil (BB). "Hoje, o nosso grande desafio é oferecer aos associados um serviço de qualidade a um custo compatível com a capacidade de pagamento dessa população", afirma Carlos Célio de Andrade Santos, presidente da Cassi. O aumento nos custos, em 2015, foi de 14,6%.
Com 720 mil associados, a Cassi limita a adesão aos empregados da ativa, ex-funcionários, aposentados e pensionistas do BB e seus parentes até terceiro grau. Porém, o total da população atendida em 2015 foi de mais de 1 milhão de pessoas, pois inclui participantes de convênio de reciprocidade (operadoras que utilizam a rede credenciada da Cassi, mediante ressarcimento dos custos).
"Cada vez as pessoas usam mais os planos de saúde. Isso está relacionado com a idade e doenças crônicas. Qualquer população que envelheça mais gasta mais com saúde"
João Paulo dos Reis Neto, vice-presidente da Unidas
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