terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Brasil é dos menos vulneráveis as políticas de Trump, diz o UBS

VALOR ECONÔMICO  - 17/01/2017
O Brasil é um dos países emergentes relativamente bem protegido de potenciais impactos da agenda de Donald Trump nos EUA, avalia o UBS, um dos maiores bancos do mundo em meio a inquietações no Fórum Econômico Mundial sobre a imprevisibilidade do futuro ocupante da Casa Branca.
Em entrevista ao Valor, o executivo-chefe de investimentos do UBS Wealth Management, Mark Haefele, avaliou que o dólar já valorizou muito e considerou possível um aumento da exposição do banco no Brasil em 2017.
"Está claro que a agenda de Donald Trump foca mais nos EUA e menos em ser um mercado em que os países podem exportar", afirmou o executivo, que vê pelo menos duas razões para que o Brasil seja menos afetado em relação a outros emergentes.
Primeiro, Haefele lembrou que o Brasil não é um grande exportador, "é fechado, com uma grande economia interna, e o crescimento que alcançar pode ser muito resiliente, indiferente do futuro ambiente econômico nos EUA".
Segundo, é verdade que as corporações brasileiras têm dívidas elevadas em dólar. Mas mesmo tendo que esperar para ver quanto estímulo fiscal Trump será capaz de colocar no sistema, o executivo destaca que a divisa americana já valorizou bastante entre 2015 e até agora, de forma que "muito da alta do dólar já aconteceu, por isso o otimismo com os ativos de emergentes e de riscos em geral".
Para Haefele, vários países no mundo, incluindo os EUA, poderão sofrer se o dólar subir muito. Um dólar mais forte poderia ampliar o déficit comercial americano, elevando pressões para Trump ampliar políticas protecionistas.
O UBS projeta um crescimento de apenas 1,5% no Brasil por ano, nos próximos cinco anos, enquanto a Argentina cresceria quase o dobro, 2,96% por ano no período. Mas Haefele, minimiza essa projeção explicando que os argentinos partem de base bem mais baixa.
"Para 2017 vemos perspectivas relativamente benignas globalmente, apesar de vários desafios, e somos relativamente positivos sobre o Brasil", afirmou. "O crescimento [brasileiro] ainda é bem baixo e há oportunidades para os juros caírem mais no país".
Mas no cenário internacional incerto, a situação brasileira não tende a piorar. "A América Latina como um todo passou por um período difícil, mas começou a estabilizar com a melhora nos preços das matérias-primas."
Nesse cenário, é "certamente possível", se o dólar não subir demais e os preços das commodities continuarem firmes, que as perspectivas para o Brasil voltem a melhorar e o banco amplie a exposição no mercado brasileiro.
Por sua vez, o Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa os maiores bancos do mundo, nota que vulnerabilidades de economias emergentes continuam nos holofotes do mercado. Vários emergentes enfrentam importantes necessidades de financiamento externo. Turquia e África do Sul, com deficit estrutural nas contas correntes, podem continuar sob pressão por algum tempo, avalia a entidade.
Fortes incertezas rodeiam a implicação de Trump para economias emergentes. Qualquer movimento protecionista pode ter efeito forte, especialmente no México, um alvo de Trump, mas também mais amplamente no mundo emergente, que tem se beneficiado da globalização.
Para o IIF, a ameaça mais palpável pelo momento, porém, continua a ser o risco de aperto monetário abrupto pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Isso não causaria problemas sistêmicos no mundo emergente, mas traria dores de cabeça para países com amplas dívidas em dólar, como Turquia e Chile, ou com necessidades importantes de financiamento externo, como Malásia e África do Sul.
Segundo o Banco Internacional de Compensações (BIS), uma espécie de banco dos bancos centrais, corporações de mercados emergentes têm US$ 120 bilhões de dívidas com vencimento em 2017, representando 10% do endividamento em dólar dessas economias.
Uma alta de juro mais forte pelo Fed teria implicações também sobre as moedas emergentes. A expectativa é de alta de algumas moedas de países produtores de commodities em 2017, em linha com uma ligeira alta nos preços dos produtos. Mas a maioria das demais divisas emergentes pode se desvalorizar contra o dólar.

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