VALOR ECONÔMICO - 25/01/2017
O cenário de recessão, impeachment, crise política e escândalos de corrupção não abalou o fluxo de Investimento Direto no País (IDP) que fechou 2016 em US$ 78,929 bilhões. Em relação ao Produto Interno Bruto, o IDP bateu recorde de 4,37%, ante 4,14% em 2015.
O ingresso de recursos, disseminado por diversos setores da economia, financiou com folga de mais de três vezes o déficit em transações correntes, que fechou o ano em US$ 23,507 bilhões, ou 1,3% do PIB.
Segundo o chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Fernando Rocha, o IDP foi o principal destaque no lado do financiamento do déficit externo, que se mostra resiliente, acima da linha dos US$ 70 bilhões, desde meados de 2015. "O que mostra, mais uma vez, o fato de que o IDP tem característica especifica, vinculados à decisão de longo prazo e puderam se manter mesmo em anos de atividade econômica fraca", disse.
Em dezembro, o IDP surpreendeu com US$ 15,409 bilhões, o que elevou acima dos US$ 70 bilhões estimados pela autoridade monetária para o ano. Para 2017, a previsão está em US$ 75 bilhões ou 3,82% do PIB.
A abertura do IDP mostra que foram os empréstimos intercompanhia e não o investimento propriamente dito que impulsionaram o resultado. Aportes para participação no capital foram de US$ 54,021 bilhões, recuando dos US$ 56,421 bilhões de 2015. Já as operações intercompanhia subiram de US$ 18,053 bilhões para US$ 24,908 bilhões. Isso pode ser visto como forma de as empresas com operações fora do país financiarem empreendimentos por aqui, conforme o custo do dinheiro bateu recordes ao longo de 2016 no mercado interno, enquanto as condições de liquidez continuaram relativamente melhores fora do país.
O forte ingresso de IDP também financiou saídas na conta financeira, já que os investimentos em carteira mostram saída de US$ 19,815 bilhões. O mercado de renda fixa puxou as saídas com retirada líquida de US$ 26,6 bilhões. Segundo Rocha, a saída reflete a perda do grau de investimento, taxa de câmbio e também uma realização de lucros depois de anos de firme ingresso de recursos externos para títulos.
Com déficit de 1,3% do PIB, após leituras próximas a 4,5% do PIB em 2015, o resultado indica que o ajuste das contas externas pode ter se encerrado, com a diferença entre o que país gastou e o que recebeu nas transações de comércio, serviços, rendas e transferências se estabilizando entre 1% e 1,5% do produto. O BC prevê déficit de 1,43% do PIB para 2017.
O resultado do ano é o melhor desde 2007, quando houve superávit de 0,03% do PIB. Ele encerrou uma janela de cinco anos de contras externas superavitárias, maior período de conta positiva da história do país.
Para Rocha, o comportamento das contas externas guarda forte correlação com os ciclos de preços das commodities, que impactam os termos de troca do país. A janela de superávits está dentro do chamado superciclo de commodities entre 2003 e 2007. A crise de 2008 interrompeu o movimento, mas houve recuperação de preços em 2009 e 2010. Depois disso os preços foram caindo de forma mais lenta até se estabilizarem no ano passado e esboçarem reação agora em 2017.
Segundo Rocha, a magnitude do ajuste externo pode ser visto entre 2014 e 2016. Com o déficit caindo de US$ 104,2 bilhões, ou 4,24% do PIB, para os atuais US$ 23,5 bilhões, redução de pouco mais de US$ 80 bilhões, ou queda de 77% no período.
A redução foi disseminada nas diversas linhas do balanço. Entre 2014 e 2016, a balança comercial teve melhoria de US$ 51 bilhões, saindo de déficit de US$ 6 bilhões para superávit de US$ 45 bilhões. Na conta de serviços queda de US$ 17,7 bilhões e na conta de rendas, que tem juros e lucros a redução foi de US$ 11,1 bilhões. "O ajuste foi feito em todas as transações correntes."
De acordo com Rocha, o ajuste responde à atividade econômica e à taxa de câmbio. "Tivemos o país em recessão desde meados de 2014, atividade muito fraca, que reduzir a demanda em geral e também por produtos e serviços importados. Além disso, a redução também mostra o papel desempenhado pelo câmbio flutuante, que permitiu esse ajuste nas transações correntes", explicou.
Na conta de serviços, o déficit de 2016 foi de US$ 30,449 bilhões, menor desde 2010 com redução de ao menos US$ 2 bilhões nas três principais contas que são aluguel de equipamentos, viagens e transportes.
Aluguel de equipamentos teve déficit de US$ 19,5 bilhões, redução foi de 9,4% sobre 2015. Em transportes, o déficit caiu de US$ 5,664 bilhões para US$ 3,731 bilhões, devido à queda das importações. Na conta de viagens o déficit foi de US$ 8,473 bilhões, contra US$ 11,5 bilhões em 2015 e recuando do recorde de US$ 18,7 bilhões de 2014. É o menor déficit desde 2009.
Em dezembro houve elevação no déficit, de US$ 941 milhões, contra US$ 653 milhões em dezembro de 2015. "Isso é explicado pela taxa de câmbio corrente que afeta as decisões de fazer a viagem, mas também pela decisão de compra de moeda para viagens futuras", disse Rocha.
O pagamento de juros ao exterior ficou em US$ 21,9 bilhões em 2016 mostrando estabilidade em relação a 2015. A razão para isso é que uma parte é prefixada e não responde a flutuações de taxa. A outra fatia pós-fixada captou ligeira subida de taxas no fim do ano, mas o impacto foi contido pela queda no estoque de endividamento externo. A dívida externa caiu de US$ 334,7 bilhões em dezembro de 2015 para US$ 323,7 bilhões em dezembro de 2016.
Na linha dos lucros e dividendos, Rocha apontou que eles continuaram caindo apesar do aumento do estoque de investimento externo no país. As remessas de US$ 31,2 bilhões de 2014 caíram para US$ 19,4 bilhões em 2016.
Para janeiro, o BC projeta déficit em conta corrente de US$ 6 bilhões que será integralmente financiado por um IDP estimado em US$ 9 bilhões. As parciais até dia 20 já mostravam ingresso de US$ 7,8 bilhões. Em janeiro de 2016 o déficit foi de US$ 4,815 bilhões. Para Rocha, ainda é cedo para associar esse aumento a uma melhora da atividade. A variação pode estar mais relacionada ao comportamento do câmbio.
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