No curto prazo, a política econômica de Donald Trump será boa para a economia mundial. Mas é difícil imaginar o que acontecerá depois, até por sua postura errática. Para os emergentes, o risco é claro, com quatro possíveis altas de juros, e não três, pelo Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) durante 2017. É o que diz Kenneth Rogoff, professor de Harvard desde 1999 e ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) de 2001 a 2003, em entrevista ao Valor em Davos, onde não cessou de ser questionado sobre o futuro da economia americana e do mundo.
Principais trechos da entrevista.
Valor: O que se deve esperar realmente de políticas de Donald Trump e seu impacto sobre emergentes?
Kenneth Rogoff: Todo mundo nos países emergentes está nervoso com relação à política comercial, como seus mercados vão ser afetados. Não acho que isso possa acontecer rapidamente. Penso que o crescimento dos EUA será realmente bastante bom nos próximos dois anos, em parte porque está bom agora mesmo, e demora um pouco para as coisas mudarem. Embora eu discorde com muitas de suas políticas, no curto prazo Trump poderá remover muitas regulações que Obama estabeleceu e isso terá efeito muito forte no lado da oferta. Deve ter estímulos, com efeito em 2018. O crescimento será muito bom. Por outro lado, as preocupações que tenho em relação aos mercados emergentes, particularmente aqueles sensíveis aos fluxos de capital, é que a taxa de juros dos EUA pode subir surpreendentemente rápido. Poderemos ver uma inflação mais alta. Estou esperando quatro altas de juros pelo Fed, não três, totalizando um ponto percentual e não acho que será realmente suficiente. A inflação pode estar subindo, o prêmio de risco pode estar aumentando, vamos ver...
Valor: O senhor acha que as políticas de Trump serão "sugar rush" - sente-se bem no momento, mas elas não fornecem alimento econômico de longo prazo?
Rogoff: Bem que gostaria que o problema fosse só isso. Estou mais nervoso com sua personalidade radical. Acho que a economia vai ter um bom desempenho agora. A desregulamentação tem efeito secundário na oferta que pode durar, não subestime isso. Todo mundo na imprensa parece concentrado nos cortes de impostos. Mas isso não teria um grande efeito. O grande efeito é proveniente da desregulamentação que pode ser muito mais positivo para os negócios e também estimular investimentos das empresas.
Valor: Trump prometeu reduzir taxa sobre a repatriação de US$ 2,6 trilhões de empresas americanas no exterior. Qual será o efeito?
Rogoff: Acredito que a repatriação terá um efeito muito temporário. O fato é que as corporações já têm muito dinheiro e eu realmente não vejo como isso poderia mudar muito para elas. Eles [na equipe Trump] estão falando sobre reformas fiscais corporativas muito mais fundamentais, e isso seria ótimo. Provavelmente ampliaria o déficit, mas a taxação sobre empresas nos EUA está virando um labirinto.
Valor: Qual o risco de uma guerra comercial?
Rogoff: Que há risco, há, sem dúvida. Trump tem uma equipe muito inexperiente. Não acho que eles entendem a política ou a economia global. Há algumas pessoas boas, mas não sei o quanto Trump os ouvirá. Eles [o governo] podem cometer erros. Pensam que podem ganhar uma guerra comercial com a China. Eles estão brincando. A China não se deixará intimidar.
Valor: No geral, o senhor é mais otimista ou pessimista sobre a economia mundial?
Rogoff: No curto prazo, o crescimento dos EUA pode ser muito útil para a economia global. A longo prazo, não vejo o que poderia ser diante da postura errática que Trump tem mostrado.
Valor: Ou seja, é bom se preparar também para o pior?
Rogoff: Definitivamente é um período de muito risco para se ter como líder do mundo livre alguém sem experiência, com uma personalidade muito volúvel e sem interesse na política. Ele é um grande comunicador, com sete anos de experiência em show de televisão e muito popular no Twitter. Mas estou nervoso.
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