Mesmo assim, quando a "Stanford Literary Lab" publicou um "paper" em 2015 analisando os relatórios do Banco Mundial, a palavra "e" não foi poupada. Os autores observaram que seu uso quase dobrou nos 70 anos anteriores e citaram, em tom de brincadeira, passagens em que substantivos horríveis e não relacionados foram colados a séries de conjunções.
Mas será que a culpa é realmente dessa pequena palavra? Ao longo da última semana, mergulhei em muitos textos, a começar com o trabalho de Martin Wolf, que escreve tão claro quanto qualquer economista com quem já me deparei. De fato, em sua última coluna, meu computador contou uma porcentagem admiravelmente modesta de 2,5% de "es". Em seguida, estudei uma coluna da Janan Ganesh, um homem cuja prosa é bastante admirada. Ele se saiu ainda melhor, com 2%.
Depois disso, ampliei meu leque e baixei da internet o "Rei Lear" inteiro, para descobrir que Shakespeare usou meros 19 "es" a cada mil palavras. Quando você considera que a maioria delas se trata de marcações cênicas - "Entram Kent e Gloucester" -, a verdadeira contagem é ainda menor.
Eu estava para concluir que Romer estava bêbado ou coisa assim, quando resolvi analisar minha própria escrita e descobri que na coluna da semana passada eu usei vergonhosas 30 vezes a palavra "e" por mil palavras. Romer teria ficado desesperado.
Em um esforço derradeiro para provar que ele está errado, examinei "Orgulho e Preconceito", o romance mais elegante da escritora mais elegante do idioma inglês. Baixei um capítulo aleatoriamente e, bingo: Jane Austen usou a enorme quantidade de 3,8% de "es".
No momento em que eu fazia isso, em um palco do Hay Literary Festival um ex-vice-presidente do Banco da Inglaterra dizia a uma plateia que para fazer seus economistas escreverem de maneira inteligível, o banco os fez estudar a obra de Dr. Seuss. Ao saber disso, fui direto para "O Gato do Chapéu" e para a minha alegria, encontrei "es" por toda parte - 46 por 1.000 palavras.
Isso prova que o "e" é um problema somente quando ele espicha os textos ou quando gera confusão. Dr. Seuss pode se dar ao luxo de usá-lo aos montes porque seu texto é bem enxuto. Em apenas 1.620 palavras ele conta uma história mais surpreendente e memorável do que qualquer coisa que houver em um relatório de banco.
Mas mesmo que os economistas fossem forçados e usar menos palavras, isso não solucionaria o problema. Longo quase sempre significa ruim, mas curto não quer dizer necessariamente bom. Um dos piores textos que li na semana passada foi uma carta que Alex Cruz, presidente da British Airways, enviou aos membros do Executive Club depois que um problema na área de tecnologia da informação deixou 75.000 passageiros retidos em aeroportos.
Ela tinha apenas 421 palavras e começa bem simples: "Eu queria entrar em contato pessoalmente para pedir desculpas". Embora nada especial, enquanto um e-mail de massa produzido por um robô, ele não poderia ser mais impessoal.
Além de ser simples e curto, um bom texto precisa ser sincero. Olhei para o texto de "Rei Lear" que baixei da internet e li na tela as linhas finais do Duque de Albay: [precisamos] "Falar o que sentimos, e não o que deveríamos dizer". Mas mesmo isso não vai ajudar os economistas. A compulsão por escrever baboseiras cheias de pompa é grande demais para que uma imersão rápida em Shakespeare ou Dr. Seuss possa mudar isso.
Qualquer economista dirá a você que a melhor maneira de mudar de comportamento é mudar os incentivos. Isso significa promover aqueles que escrevem bem. Não significa punir alguém que tentou fazer seus colegas escreverem textos que as pessoas possam querer ler.
@economia
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