sábado, 21 de abril de 2018

O caminho de volta... (Téta Barbosa)


Já estou voltando. Só tenho 50 anos e já estou fazendo o caminho de volta. 
Até o ano passado eu ainda estava indo... Indo morar no apartamento mais alto, do prédio mais alto, do bairro mais nobre.  Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda.

Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras.  Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe!  Mas, com quase cinquenta, eu estava chegando lá. Onde mesmo?  No que ninguém conseguiu responder. Eu imaginei que quando chegasse lá, ia ter uma placa com a palavra "fim".  Antes dela, avistei a placa de "retorno" e, nela mesmo, dei meia volta.  Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo).  É longe que só a gota serena! Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe. Agora tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo.  E não é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram quatro vezes em quatro anos), agora vêm pra cá todo fim de semana?  E meu filho anda de bicicleta, eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou). Por aqui, quando chove, a Internet não chega.



 Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo), abre um livro e, pasmem, lê.  E no que alguém diz: "a internet voltou!", já é tarde demais, porque o livro já está melhor que o Facebook, o Instagram e o Snapchat juntos. Aqui se chama "aldeia" e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de cama. Aos domingos, converso com os vizinhos. Nas segundas, vou trabalhar, contando as horas para voltar... Aí eu me lembro da placa "retorno", e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: "retorno – última chance de você salvar sua vida!"  Você, provavelmente, ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que disse: "Compre um e leve dois".  Nós, da banda de cá, esperamos sua visita.  Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta..."

CUIDE DO SEU TEMPO, CUIDE DA SUA FAMÍLIA. 
Que possamos encontrar a “placa de retorno” e valorizar o que realmente é importante!

Téta Barbosa - jornalista, publicitária e mora no Recife


@filosofia

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