O aperitivo já foi de amargar. Bastou que uma prévia eleitoral na Argentina indicasse favoritismo do candidato kirchnerista para que a mal ajambrada política econômica do atual governo Mauricio Macri desmoronasse. Até que ponto o novo desmanche argentino levará o Brasil a enfrentar novas turbulências?
Primeiro, a foto da hora. A inflação da Argentina saltou para 54,4% ao ano, o dólar disparou 37% em apenas quatro semanas ( veja o gráfico) e as regras do jogo do mercado de títulos da dívida argentina foram mais uma vez alteradas, a ponto de já apresentarem calote parcial.
A reação do governo Macri ao novo desastre foi distribuir mais reajustes salariais, congelamento de preços e fortes restrições às operações de câmbio para tentar conter a fuga de dólares. Ou seja, ficou tudo pior, porque mais distorções tendem a produzir ainda mais distorções.
A listagem de erros de condução do presidente Macri podem ajudar a entender o que aconteceu, mas não dizem muita coisa sobre o que virá agora nem sobre o impacto na economia brasileira.
O novo presidente virtual, que pode ser eleito em primeiro turno no dia 27 de outubro, é Alberto Fernández, um peronista moderado que no passado deu demonstrações de sensatez até mesmo enquanto as bruxas estiveram soltas nas repartições da Casa Rosada. O problema é que Fernández tem pacto com os diabos da estirpe dos Kirchners, especialmente com os da ex-presidente Cristina Fernández Kirchner (candidata a vice-presidente na mesma chapa). Enquanto governou, de 2007 a 2015, notabilizou-se pelo protecionismo, pelo excessivo intervencionismo e pelas falsas soluções. Além disso, o candidato está buscando votos com o discurso do "fora FMI", uma picada que vai dar no precipício.
Em todo o caso, sabe-se lá se, uma vez no governo, Fernández não fará tudo diferente, sem medo de ser chamado de traidor ou de estar produzindo estelionato eleitoral, por determinar uma política econômica na contramão de seu programa de campanha.
Para o experiente diplomata brasileiro José Alfredo Graça Lima, mesmo que a economia argentina desande mais do que já desandou, o risco de contágio da economia brasileira é baixo. Aquela velha cisma comum no exterior, de que Argentina e Brasil são farinhas do mesmo saco e a de que o que um é hoje será o outro amanhã, já não vale para os tempos atuais porque "já existe um descolamento entre os dois países do ponto de vista da qualidade
Domingo, 8 de Setembro de 2019 - 02:02
@economia
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