Anos a fio, a
queixa recorrente dos empresários é a de que o dólar no Brasil está barato
demais (em reais) e que essa valorização da moeda nacional sepulta a
competitividade do setor produtivo. E reivindicam forte desvalorização do
real, “para estancar a de-sindustrialização”.
O pessoal da Fiesp e da indústria de máquinas não
diz outra coisa. Nesta quarta-feira, por exemplo, o representante da
indústria têxtil, Fernando Pimentel, repetiu essa queixa.
Boa parte do setor produtivo nacional não é
competitiva, ou seja, não consegue enfrentar nem a concorrência do produto
importado nem a competição no mercado externo. É uma situação que,
em princípio, apenas em parte tem a ver com o Câmbio.
A falta de competitividade se deve a grande
número de outros fatores: o custo Brasil muito mais alto do que em grandes
países do exterior, a precariedade da infraestrutura, o excesso de
proteção que deixa o setor mal-acostumado, a demasiada burocracia que emperra
os negócios, o alto custo do capital, Juros
altos demais, o baixo nível de educação e treinamento da mão de obra... e
por aí vai.
Um jeito de compensar esse jogo contra é promover
a desvalorização da moeda, recurso que barateia em dólares apro-dução local e
encarece o produto importado. O problema é que nem sempre é possível promover
essa desvalorização.
O Câmbio
é um dos preços da moeda (o outro são os Juros)
e, nesta condição, está sujeito à lei da oferta e da procura. Uma das
funções de qualquer Banco Central é
intervir para regular esse jogo ao nível pretendido pela política
econômica. Quando é preciso agir para valorizar a moeda nacional, o Banco Central aumenta ou permite que aumente a
oferta de moeda estrangeira no mercado, o dólar fica mais barato em
reais; quando decide desvalorizar, aumenta a procura por dólares, pela
compra no Câmbio interno ou por
permitir que se tome mais escasso.
O atual regime de Câmbio
no Brasil é o de flutuação suja. Nele, as cotações são determinadas pela
oferta e procura, mas com alguma intervenção a fim de eliminar grandes
oscilações. Neste momento em que as contas externas estão em excelente
condição e a entrada de investimentos corresponde a quase três vezes odéfi-cit
dos demais pagamentos, é inevitável que o País tenha de conviver com a
oferta folgada de dólares.
Empresários e muitos economistas que os
assessoram pregam mais intervenção. Querem que o Banco
Central compre mais moeda estrangeira ou coíba a entrada de
capital, por meio de medidas administrativas ou de impostos.
Mas aí há dois problemas. Primeiro, a compra de
dólares pelo Banco Central exige
emissão de reais, o que é inflacionário, ou aumento de dívida pública, já
alta demais. O outro problema é o de que o mercado global está
inundado de dólares, variável fora do controle do Banco Central. Assim,boa
parcela desses recursos continuará desembarcando no Brasil para negócios,
aumentando a oferta de moeda estrangeira.
Quanto mais saudável a economia, maior o afluxo
de moeda estrangeira, situação que tende a manter o Câmbio
relativamente valorizado. Paradoxalmente, a maneira mais fácil de provocar
maior procura de dólares é deixar que a crise derrube a economia.
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