terça-feira, 17 de setembro de 2019

O mantra do cambio CELSO MING: Estadão 29 de setembro de 2017



Anos a fio, a queixa recorrente dos empresários é a de que o dólar no Brasil está barato demais (em reais) e que essa valorização da moeda nacional sepulta a competitividade do setor produtivo. E reivindicam forte desvalorização do real, “para estancar a de-sindustrialização”.
O pessoal da Fiesp e da indústria de máquinas não diz outra coisa. Nesta quarta-feira, por exemplo, o representante da indústria têxtil, Fernando Pimentel, repetiu essa queixa.
Boa parte do setor produtivo nacional não é competitiva, ou seja, não consegue enfrentar nem a concorrência do produto importado nem a competição no mercado externo. É uma situação que, em princípio, apenas em parte tem a ver com o Câmbio.
A falta de competitividade se deve a grande número de outros fatores: o custo Brasil muito mais alto do que em grandes países do exterior, a precariedade da infraestrutura, o excesso de proteção que deixa o setor mal-acostumado, a demasiada burocracia que emperra os negócios, o alto custo do capital, Juros altos demais, o baixo nível de educação e treinamento da mão de obra... e por aí vai.
Um jeito de compensar esse jogo contra é promover a desvalorização da moeda, recurso que barateia em dólares apro-dução local e encarece o produto importado. O problema é que nem sempre é possível promover essa desvalorização.
O Câmbio é um dos preços da moeda (o outro são os Juros) e, nesta condição, está sujeito à lei da oferta e da procura. Uma das funções de qualquer Banco Central é intervir para regular esse jogo ao nível pretendido pela política econômica. Quando é preciso agir para valorizar a moeda nacional, o Banco Central aumenta ou permite que aumente a oferta de moeda estrangeira no mercado, o dólar fica mais barato em reais; quando decide desvalorizar, aumenta a procura por dólares, pela compra no Câmbio interno ou por permitir que se tome mais escasso.
O atual regime de Câmbio no Brasil é o de flutuação suja. Nele, as cotações são determinadas pela oferta e procura, mas com alguma intervenção a fim de eliminar grandes oscilações. Neste momento em que as contas externas estão em excelente condição e a entrada de investimentos corresponde a quase três vezes odéfi-cit dos demais pagamentos, é inevitável que o País tenha de conviver com a oferta folgada de dólares.
Empresários e muitos economistas que os assessoram pregam mais intervenção. Querem que o Banco Central compre mais moeda estrangeira ou coíba a entrada de capital, por meio de medidas administrativas ou de impostos.
Mas aí há dois problemas. Primeiro, a compra de dólares pelo Banco Central exige emissão de reais, o que é inflacionário, ou aumento de dívida pública, já alta demais. O outro problema é o de que o mercado global está inundado de dólares, variável fora do controle do Banco Central. Assim,boa parcela desses recursos continuará desembarcando no Brasil para negócios, aumentando a oferta de moeda estrangeira.
Quanto mais saudável a economia, maior o afluxo de moeda estrangeira, situação que tende a manter o Câmbio relativamente valorizado. Paradoxalmente, a maneira mais fácil de provocar maior procura de dólares é deixar que a crise derrube a economia.


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