Pedro Doria - Desejo de ano-novo
sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
O Estado de S. Paulo
O Brasil nunca elegeu um extremista para a presidência - até que aconteceu, em 2018. A não ser que algo de muito improvável ocorra, pela primeira vez desde o início da reeleição o ocupante do terceiro andar do Planalto não ganhará um segundo mandato. Não importa o vencedor, por si só já é uma boa notícia. Teremos a mais agressiva eleição da Nova República. Derrotado, com ainda dois meses de mandato, não podemos esperar civilidade de Jair Bolsonaro. Mas podemos sonhar com 2023. Meu desejo para o Brasil é de que a esquerda encare uma de suas maiores contradições. É gostar de empresário grande mas ter horror a empreendedores.
O Brasil está em 8o.° lugar no ranking de competitividade global de talentos. Não é que não tenhamos cérebros qualificados. É que eles estão fúgindo para o exterior. Um governo de esquerda não teria dificuldades de investir em universidades e reter nossas melhores cabeças. Só que conhecimento vira riqueza quando negócios são criados a partir deles. E empreender é nosso fraco: somos o 124.0 país do mundo em facilidade para fazer negócios, segundo a OCDE.
Políticas econômicas defendidas pela esquerda despejam dinheiro para turbinar empresas gigantes. Se é para grandes empresários, aqueles mais afeitos aos corredores palacianos do que aos debates sobre inovação, aí os preconceitos desaparecem. A contradição parte de uma incompreensão: a esquerda acha que um bom negócio nasce da força bruta do dinheiro despejado, não do capital humano, das idéias e das capacidades de quem o ergue.
Noutros tempos, quando as regras que valiam eram as da Era Industrial, a política de jogar dinheiro público em quantidade para construir do zero um setor até funcionava. Mas o caminho para o Brasil encontrar seu lugar no século 21 será pela economia verde, este é um setor novo, e nele as regras ainda não estão dadas.
O método para o século 21 é o do Vale do Silício. Produz-se conhecimento e se cria um ambiente onde abrir e fechar empresa é muito fácil. Onde pequenos financiamentos para testar modelos são estimulados com a consciência de que, para cada cem apostas, noventa darão errado, oito serão empresas bacanas e duas se tomarão extraordinárias.
O Estado deve estar presente em políticas sociais. E fundamental que esteja. Mas, caso se livre de preconceitos e compreenda que não precisa controlar cada passo da sociedade, descobrirá que nossa criatividade não se limita aos esportes e às artes. Basta deixar o brasileiro tentar, errar - acertar. Todos nos beneficiaremos com o PIB criado. ?
JORNALISTA
A esquerda precisa parar de gostar de empresário grande e de ter horror a empreendedores