Imagine
uma quantidade de água subterrânea capaz de abastecer todo o planeta
por 250 anos. Essa reserva existe, está localizada na parte brasileira
da Amazônia e é praticamente subutilizada.
Até
dois anos atrás, o aquífero era conhecido como Alter do Chão. Em 2013,
novos estudos feitos por pesquisadores da UFPA (Universidade Federal
do Pará) apontaram para uma área
maior e deram uma nova definição.
"A
gente avançou bastante e passamos a chamar de SAGA, o Sistema Aquífero
Grande Amazônia. Fizemos um estudo e vimos que aquilo que era o Alter
do Chão é muito maior do que sempre se considerou, e criamos um novo
nome para que não ficasse essa confusão", explicou o professor do Instituto
de Geociência da UFPA Francisco Matos.
Segundo
a pesquisa, o aquífero possui reservas hídricas estimadas
preliminarmente
em 162.520 km³ --sendo a maior que se tem conhecimento no
planeta. "Isso considerando a reserva até uma profundidade de 500 metros.
O aquífero Guarani, que era o maior, tem 39 mil km³ e já era considerado
o maior do mundo", explicou Matos.
O
aquífero está posicionado nas bacias do Marajó (PA), Amazonas,
Solimões
(*AM*) e *Acre*
--todas na região amazônica--,
chegando
até a bacias subandinas. Para se ter ideia, a reserva de água equivale
a mais de 150 quatrilhões de litros. "Daria para abastecer o planeta
por pelo menos 250 anos", estimou Matos.
O
aquífero exemplifica a má distribuição do volume hídrico nacional com relação
à concentração populacional. Na Amazônia, vive apenas 5% da população
do país, mas é a região que concentra mais da metade de toda água
doce existente no Brasil.
Por
conta disso, a água é subutilizada. Hoje, o aquífero serve apenas para
fornecer água para cidades do vale amazônico, com cidades como Manaus
e Santarém. "O que poderíamos fazer era aproveitar para termos outro
ciclo, além do natural, para produção de alimentos, que ocorreria por
meio da irrigação. Isso poderia ampliar a produção de vários tipos de
cultivo na Amazônia", afirmou Matos.
Para
o professor, o uso da água do aquífero deve adotar critérios
específicos
para evitar problemas ambientais. "Esse patrimônio tem de ser
visto no ciclo hidrológico completo. As águas do sistema subterrâneo são
as que alimentam o rio, que são abastecidos pelas chuvas. Está tudo interligado.
É preciso planejamento para poder entender esse esquema para
que o uso seja feito de forma equilibrada. Se fizer errado, pode causar
um desequilíbrio", disse.
Mesmo
com a água em abundância, Matos tem pouca esperança de ver essa água
abastecendo regiões secas, como o semiárido brasileiro. "O problema todo
é que essa água não tem como ser transportada para Nordeste ou *São Paulo *. Para isso seriam
necessárias
obras faraônicas. Não dá para pensar hoje em transportar isso
em distâncias tão grandes", afirmou.
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