sexta-feira, 1 de junho de 2018

ANP diz que política de preços ajudará a atrair investidor para refino (Décio Oddone, Valor)

Por Cláudia Schüffner, Valor

31/05/2018 às 19h14

Rio - Depois da onda de protestos em todo o país por causa da política da Petrobras de repassar imediatamente para os preços dos combustíveis a volatilidade do mercado internacional, a decisão do governo de subsidiar até R$ 9,5 bilhões sinaliza para investidores que a abertura do setor de refino brasileiro é para valer. A avaliação é do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Décio Oddone, que foi pego pela greve dos caminhoneiros quando estava de férias nos Estados Unidos.
Segundo ele, as medidas anunciadas pelo governo mostram o grau de compromisso com as regras do jogo, respeito aos contratos e garantem práticas adequadas de operação em um mercado competitivo. O objetivo, segundo ele, é garantir a continuidade das mudanças no setor de refino, que estão começando com o projeto de parcerias da Petrobras na direção de tornar o mercado mais aberto e competitivo.
“No mercado do petróleo todos são tomadores de preço. Como a Petrobras tem o monopólio virtual do refino no Brasil, sua política de preços vira a única visível no país, estando sujeita a todas as pressões quando os preços internacionais sobem. Com a competição só vindo das importações, essa percepção não muda”, afirma Oddone.
Segundo ele, a única forma de o mercado brasileiro se livrar dessa situação é tendo mais refinarias sob controle de outras empresas. “Em um mercado mais diversificado e competitivo, o espaço para manifestações como as que temos visto cai muito. E a discussão sobre a formação de preços se limita à questão dos impostos”, pondera, frisando que não houve uma interferência na fórmula de cálculo do preço feita pela estatal.
“O Tesouro está arcando com a diferença do preço do diesel, não as empresas. Não há prejuízo para a Petrobras nem para nenhuma das empresas que fornecem diesel no Brasil. Houve um movimento político do governo de congelar o preço do diesel para o consumidor final por causa dessa discussão dos caminhoneiros”, diz.
Oddone frisa ainda que a mudança de preço, que será feita com recursos do Tesouro Nacional, é uma medida de cunho político que não afeta o balanço da Petrobras nem dos outros fornecedores de diesel. E lembra que não houve interferência nos preços praticados pela estatal.
“A Petrobras é uma companhia de capital aberto que toma suas próprias decisões. Ela continua fazendo os cálculos que sempre fez. A decisão política do governo foi a de assumir a diferença do preço do diesel a partir de um certo limite. O governo não está questionando nem a fórmula de preço nem o cálculo da Petrobras”, diz.
O executivo acha que esse ponto é importante para os investidores interessados em investir no refino brasileiro. Segundo ele, a maneira como o governo Temer resolveu o impasse mostra que em um momento de crise como o que o país está vivendo — uma situação difícil em ano eleitoral e com todas as dificuldades que existem e as pressões da rua — o resultado das empresas foi preservado.
Deixando claro que não vai comentar a política de preços da Petrobras — onde trabalhou por 30 anos, com passagens pela Líbia, Bolívia e Argentina e cinco deles como diretor indicado para a Braskem — Oddone é um entusiasta do que enxerga como sendo a primeira oportunidade criada no Brasil para atrair investimentos sustentáveis no refino.
Ele vê espaço para o aumento da capacidade do país de produzir combustíveis, diminuir a dependência de importações e criar um mercado mais dinâmico, competitivo e variado.
A ANP tem números mostrando que a dependência externa do país cresceu, traduzida em aumento de 24,7% das importações de diesel em 2017, de gasolina (12,5%), nafta (77%) e GLP (24,6%) ao mesmo tempo em que as exportações de petróleo bruto cresceram de 381 mil barris diários em 2013 para quase 1 milhão de barris cinco anos depois.
O custo desse “passeio logístico”, é enorme. O país paga frete para importar derivados do exterior e para exportar petróleo bruto que é a matéria prima desses derivados.
A dinâmica do mercado que ele enxerga com a entrada de sócios majoritários em dois conjuntos de refinarias da Petrobras nas regiões Sul, Norte e Nordeste difere da visão manifestada pelo ex-presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, para quem a medida quebra a operação verticalizada da Petrobras, que opera na exploração e produção do petróleo, transporte, refino e distribuição.
“Tendo mais atores, diminui a possibilidade de se ter interferência nos preços, o que não houve nesse caso mas já houve no passado”, observa. “Quando houve a interferência na política de preços da Petrobras lá atrás, que causou prejuízo extraordinário à Petrobras, a grita na sociedade foi enorme. A sociedade brasileira também não estava feliz. Ela também reclamou”, diz se referindo às perdas bilionárias sofridas pela estatal quando foi usada como instrumento de política econômica em anos recentes.
Oddone vê a possibilidade de empreendedores construírem pequenas refinarias em Estados produtores de petróleo leve em bacias maduras como a Bahia, Rio Grande do Norte, Sergipe e Alagoas quando a Petrobras conseguir compradores para os ativos colocados à venda.
Pelos cálculos do diretor da ANP, o Nordeste poderá ter uma série de novos operadores com acesso a aproximadamente 130 mil barris de petróleo. E por isso diz que “não é impossível” que encontrem compradores desse óleo em empresários interessados em produzir diesel em refinarias menos sofisticadas, com apenas uma torre de destilação próxima aos campos de produção. Ele viu isso na Bolívia e não vê razão para que esse tipo de investimento não aconteça no Brasil.
“Mas para isso precisamos de mais investimentos, de atrair capitais”. Oddone avisa que o número é impreciso, mas calcula que por baixo o país vai precisar de algo próximo de R$ 1 trilhão para investir na exploração do pré-sal, dos campos maduros, terminais, gasodutos, no parque de refino e em plantas de biocombustíveis.
“Esse dinheiro não cabe no balanço de nenhuma companhia, o que é prova de que precisamos de mais empresas investindo junto com a Petrobras no Brasil, para destravar esse potencial. Não podemos atrasar o desenvolvimento do Brasil porque a Petrobras já mostrou que não tem condições de arcar com tudo”, afirma.
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