Valor - 24/5/18
O mercado de blockchain vive hoje um cenário semelhante ao do surgimento da internet comercial, com registro de cerca de dez plataformas disputando o interesse das empresas. Quase todas são privadas. A avaliação é de Fernando Ulrich, especialista em criptomoedas e blockchain do Grupo XP, que diz que a crença nas plataformas privadas de DLT (Distributed Ledger Technology, a base do blockchain) é semelhante à do início da internet, nos anos 1990, quando a rede era vista com desconfiança e acreditava-se que apenas as intranets seriam seguras para o ambiente corporativo.
"A internet era a rede aberta que qualquer um podia usar e inovar, e isso não era bem visto pelo mundo empresarial. Acredito que estamos num estágio similar com o blockchain, com plataformas abertas, como as do Bitcoin e do Ethereum, e outras que já nem são mais blockchain porque viraram soluções proprietárias. O tempo mostrou que a internet pode funcionar para os negócios", diz Ulrich.
Segundo ele, as principais plataformas em experimentação pelas empresas - como Hyperledger, apoiada por IBM e Oracle; Corda, do consórcio de bancos R3; Quorum, versão do Ethereum desenvolvida pelo JP Morgan; e em alguma medida o Ripple, que seria um modelo híbrido -- são voltadas para redes de blockchain fechadas. No caso do Ripple, empresa que conta com apoio do Santander, os bancos usam apenas o xCurrent, que substitui a rede Swift.
"Os bancos estão indo para essas plataformas privadas porque dois dos grandes atributos dos blockchains públicos, como o Ethereum e o Bitcoin, são a transparência e a possibilidade de ser acessado por qualquer pessoa. Os bancos querem saber quem está tendo acesso e ter o poder de vetar algum participante. Querem ter controle, o que em plataforma aberta não é possível", analisa Ulrich.
Guilherme Horn, líder de inovação da Accenture, observa que essas plataformas têm mais de uma versão/distribuição. A Accenture tem participação na Ripple e é parceira premium da R3. Ele diz que não há ainda uma plataforma que seja a mais indicada para o setor financeiro, embora algumas despontem como mais favoráveis para certas aplicações, como o Ripple para transferências internacionais e o Ethereuam para custódia de ações, por suas vantagens para contratos inteligentes. "Mas todas essas tecnologias estão em evolução e têm limitações que estão sendo superadas. Isso fará com que, daqui a um ano, os resultados dos testes possam ser diferentes. Vai haver uma consolidação no futuro, mas vai levar muito tempo."
Fábio Marras, CTO para bancos da IBM Brasil, diz que, desde os anos 2000, a empresa aposta no desenvolvimento em comunidade para a evolução das tecnologias. A empresa vê o Hyperledger como iniciativa da Linux Foundation, que reúne dezenas de empresas e desenvolvedores.
Para Carlos Henrique Duarte, CTO de blockchain da IBM Brasil, o fato de o Hyperledger utilizar o conceito de rede privada traz benefícios de controle, performance e governança. Outro diferencial é que o Hyperledger não tem uma criptomoeda. "Acreditamos que, no futuro, haverá mais de uma plataforma, e elas deverão ter uma certa interoperabilidade. Hyperledger será a DLT mais indicada para processos complexos", diz.
Fernando Lemos, vice-presidente de inovação e transformação digital da Oracle, diz que a empresa apoia um padrão aberto e a diferença do Hyperledger para o Ethereum, também baseado em padrões abertos, é que o Hyperledger é usado em redes permissionadas e o Ethereum pode ser usado em redes públicas ou privadas.
Ele destaca que a Oracle tem um grande número de aplicativos para os mercados financeiro, de seguros e de cartões de crédito, que estão sendo integrados ao conceito de distributed ledger para trabalhar com Hyperledger.
Gustavo Paro, especialista em blockchain na Microsoft Brasil, destaca que, embora a Microsoft apoie mais fortemente o Ethereum, não é exclusiva da plataforma, atuando no ecossistema de blockchain para facilitar o acesso às principais plataformas de DL.
"O Ethereum foi o nosso primeiro e continua sendo o principal parceiro porque tem a maior comunidade, com mais de 850 mil desenvolvedores. A Microsoft participa da Enterprise Ethereum Alliance, fundada com 30 membros e que hoje tem mais de 120 participantes. O objetivo é criar uma especificação com requisitos do mundo corporativo, pois hoje a plataforma é muito aberta", diz Paro.
Recém-instalada no país, a R3 contratou Keij Sakay, ex-CIO da Bovespa e de bancos como JP Morgan, para country manager da operação brasileira. Ele diz que uma de suas missões é o lançamento e consolidação da versão enterprise do Corda, que está sendo lançada neste mês. Consórcio de mais de 50 bancos, no Brasil, a R3 tem investimentos do Itaú Unibanco, do Bradesco e da B3.
"Investimos para nos aprofundar na plataforma e compará-la com as demais", diz Antranik Haroutiounian, diretor de pesquisa e inovação do Bradesco. Marcelo Câmara, especialista em blockchain do Bradesco, destaca como uma das vantagens do Corda o fato de permitir enviar a informação para o destinatário especifico, enquanto a maior parte das plataformas envia para todos.
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