Daniel Rittner
Terça-feira,
19 de Março de 2019 - 05:24
VALOR
ECONÔMICO | ESPECIAL
A
um grupo de investidores americanos, o presidente Jair Bolsonaro foi
apresentado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como “um cara com colhões”
para controlar o gasto público e fazer a reforma da Previdência. Falando em
inglês, usou o termo “balls”, provocando risos na plateia da US Chamber of
Commerce (Câmara Americana de Comércio), que o interrompeu duas vezes para
aplaudir suas promessas de abertura comercial e simplificação tributária.
Em
referência à guerra comercial entre Estados Unidos e China, Guedes fez uma
provocação: o Brasil precisa de investimentos e atacar seus problemas de
infraestrutura, segundo ele, e os chineses sabem dançar bem a música. “E vocês,
nos Estados Unidos, o que vão fazer?”, questionou. Ele próprio respondeu de
forma divertida: “Temos um presidente que adora Coca-Cola e Disneylândia. É uma
grande oportunidade para investir no Brasil. Eu os convido para essa nova
parceria”.
O
ministro esteve ontem com duas altas autoridades do governo americano — Wilbur
Ross (Departamento de Comércio) e Robert Lighthizer (USTR, o Representante de
Comércio dos EUA, na sigla em inglês) — e disse ter sido questionado se não era
loucura falar em abertura comercial no meio das tensões EUA-China. A resposta?
O Brasil esteve dormindo por décadas e quer liberalizar sua economia. Fez, no
entanto, uma ponderação que remete também à promessa de comercializar com todo
o mundo — incluindo os chineses. “Eu digo ao presidente: nós amamos os
americanos, mas deixe-me fazer comércio com quem for mais vantajoso.”
Lighthizer
é tido, na equipe econômica e no Itamaraty, como principal obstáculo à entrada
brasileira na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Guedes aproveitou a deixa: “Por favor nos deem apoio para a OCDE.
Precisamos de apoio para entrar na primeira divisão do mundo”.
Guedes
elaborou uma longa narrativa para explicar como a economia brasileira entrou em
estagnação e como Bolsonaro foi eleito. Nos últimos 40 anos, o Brasil teve um
crescimento contínuo do gasto público, que saltou de 18% para 45% do PIB. Para
ele, a vitória de Bolsonaro resulta de uma aliança entre conservadores e
liberais, entre centro e direita, em torno de princípios e valores.
Numa
tentativa de afastar fantasmas sobre o presidente, disse que a democracia
brasileira jamais esteve sob risco. Guedes resumiu, então, acontecimentos como
os dois impeachments — de Fernando Collor e Dilma Rousseff — e os escândalos de
corrupção no Brasil. “Temos uma democracia vibrante, com freios e contrapesos.
Tivemos um impeachment da direita e um da esquerda. Quando se comprou apoio
parlamentar, o Judiciário colocou na cadeia quem comprou e quem vendeu.”
Em
dois meses de governo, disse Guedes, Bolsonaro mandou ao Congresso duas
propostas importantes: a reforma da Previdência e o pacote anticrime. “O
verdadeiro buraco negro do Brasil é o sistema previdenciário.” Quanto ao
projeto na área de segurança, fez uma comparação com a Guerra do Vietnã: a
quantidade de mortos em todo o conflito equivale ao número de vítimas anuais de
crimes violentos no país.
Guedes
prometeu uma reforma em que “ninguém será deixado de lado”, mas a “fábrica de
privilégios vai acabar”. Também assumiu outros três compromissos diante dos
investidores: simplificação tributária, abertura unilateral da economia e
privatizações. “Temos mais de 50 impostos e tributos hoje; vamos reduzir isso
para cinco a sete.”
Mais
cedo, em conversa com jornalistas, Guedes falou sobre a China, objeto de boa
parte da conversa no jantar de Bolsonaro com formadores de opinião ligados à
direita americana, no domingo. A China gera um “mal-estar na civilização
ocidental”, segundo ele. “Existe uma noção muito clara de que regimes políticos
fechados estão tendo desempenho econômico extraordinário mergulhando nos
mercados globais.”
A
região da Eurásia, afirmou, tem mais de 3 bilhões de pessoas saindo da pobreza
graças ao capitalismo global, incluindo ganhos no comércio exterior, por meio
da exportação de produtos industriais e o risco de desemprego no mundo
desenvolvido. “Isso bota uma pressão nas democracias ocidentais. Há um
mal-estar na civilização, que está se traduzindo na incapacidade da classe
política, que tem jurisdição muito estreita.”
@economia Global
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.