quarta-feira, 20 de março de 2019

China deveria inspirar EUA, provoca Guedes(Daniel Rittner, Valor Econômico)


Daniel Rittner                                                                         

Terça-feira, 19 de Março de 2019 - 05:24
VALOR ECONÔMICO | ESPECIAL


A um grupo de investidores americanos, o presidente Jair Bolsonaro foi apresentado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como “um cara com colhões” para controlar o gasto público e fazer a reforma da Previdência. Falando em inglês, usou o termo “balls”, provocando risos na plateia da US Chamber of Commerce (Câmara Americana de Comércio), que o interrompeu duas vezes para aplaudir suas promessas de abertura comercial e simplificação tributária.

Em referência à guerra comercial entre Estados Unidos e China, Guedes fez uma provocação: o Brasil precisa de investimentos e atacar seus problemas de infraestrutura, segundo ele, e os chineses sabem dançar bem a música. “E vocês, nos Estados Unidos, o que vão fazer?”, questionou. Ele próprio respondeu de forma divertida: “Temos um presidente que adora Coca-Cola e Disneylândia. É uma grande oportunidade para investir no Brasil. Eu os convido para essa nova parceria”.

O ministro esteve ontem com duas altas autoridades do governo americano — Wilbur Ross (Departamento de Comércio) e Robert Lighthizer (USTR, o Representante de Comércio dos EUA, na sigla em inglês) — e disse ter sido questionado se não era loucura falar em abertura comercial no meio das tensões EUA-China. A resposta? O Brasil esteve dormindo por décadas e quer liberalizar sua economia. Fez, no entanto, uma ponderação que remete também à promessa de comercializar com todo o mundo — incluindo os chineses. “Eu digo ao presidente: nós amamos os americanos, mas deixe-me fazer comércio com quem for mais vantajoso.”

Lighthizer é tido, na equipe econômica e no Itamaraty, como principal obstáculo à entrada brasileira na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Guedes aproveitou a deixa: “Por favor nos deem apoio para a OCDE. Precisamos de apoio para entrar na primeira divisão do mundo”.

Guedes elaborou uma longa narrativa para explicar como a economia brasileira entrou em estagnação e como Bolsonaro foi eleito. Nos últimos 40 anos, o Brasil teve um crescimento contínuo do gasto público, que saltou de 18% para 45% do PIB. Para ele, a vitória de Bolsonaro resulta de uma aliança entre conservadores e liberais, entre centro e direita, em torno de princípios e valores.

Numa tentativa de afastar fantasmas sobre o presidente, disse que a democracia brasileira jamais esteve sob risco. Guedes resumiu, então, acontecimentos como os dois impeachments — de Fernando Collor e Dilma Rousseff — e os escândalos de corrupção no Brasil. “Temos uma democracia vibrante, com freios e contrapesos. Tivemos um impeachment da direita e um da esquerda. Quando se comprou apoio parlamentar, o Judiciário colocou na cadeia quem comprou e quem vendeu.”

Em dois meses de governo, disse Guedes, Bolsonaro mandou ao Congresso duas propostas importantes: a reforma da Previdência e o pacote anticrime. “O verdadeiro buraco negro do Brasil é o sistema previdenciário.” Quanto ao projeto na área de segurança, fez uma comparação com a Guerra do Vietnã: a quantidade de mortos em todo o conflito equivale ao número de vítimas anuais de crimes violentos no país.

Guedes prometeu uma reforma em que “ninguém será deixado de lado”, mas a “fábrica de privilégios vai acabar”. Também assumiu outros três compromissos diante dos investidores: simplificação tributária, abertura unilateral da economia e privatizações. “Temos mais de 50 impostos e tributos hoje; vamos reduzir isso para cinco a sete.”

Mais cedo, em conversa com jornalistas, Guedes falou sobre a China, objeto de boa parte da conversa no jantar de Bolsonaro com formadores de opinião ligados à direita americana, no domingo. A China gera um “mal-estar na civilização ocidental”, segundo ele. “Existe uma noção muito clara de que regimes políticos fechados estão tendo desempenho econômico extraordinário mergulhando nos mercados globais.”

A região da Eurásia, afirmou, tem mais de 3 bilhões de pessoas saindo da pobreza graças ao capitalismo global, incluindo ganhos no comércio exterior, por meio da exportação de produtos industriais e o risco de desemprego no mundo desenvolvido. “Isso bota uma pressão nas democracias ocidentais. Há um mal-estar na civilização, que está se traduzindo na incapacidade da classe política, que tem jurisdição muito estreita.”


@economia Global

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