BJORN LOMBORG - Política climática contra países em desenvolvimento
terça-feira, 20 de abril de 2021
O Globo / Opinião
BJORN LOMBORG
À medida que aumentam os custos da política climática, os países ricos pressionam os mais pobres a pagar essa conta por meio de tarifas de carbono. O Reino Unido tem esse objetivo como prioridade de sua presidência do G7, e a União Europeia avança com seus planos de uma taxa de carbono própria. Já os países em desenvolvimento estão irritados com a ideia.
Apesar da retórica verde dos países ricos, eles ainda obtêm 79% de sua energia de combustíveis fósseis. Pôr um fim nisso será difícil e incrivelmente ineficaz.
As promessas do Acordo de Paris significam, na prática, reduzir as emissões mundiais em 7,6% ao ano nesta década. A ONU observa alegremente que isso quase foi alcançado em 2020, com as paralisações devido à Covid-19.
Neste ano, no entanto, precisamos de uma redução duas vezes maior. Ou seja, equivalente a duas paralisações como a de 2020. Em 2022, ela deverá ser três vezes maior, e assim por diante, chegando ao equivalente a 11 paralisações mundiais todo ano a partir de 2030. Os modelos econômicos mostram que isso custará dezenas de trilhões de dólares por ano.
Além disso, os cortes não terão muito impacto sobre o clima. Mesmo que todas as nações da OCDE cortassem por completo suas emissões de CO2, o modelo climático padrão da ONU mostra uma redução nas temperaturas de apenas 0,4°C em 2100.
O motivo? Seis bilhões de pessoas desfavorecidas que também querem ter acesso a energia abundante e barata para sair da fome e da doença. Mas as políticas climáticas prejudicam o mundo em desenvolvimento. Se o objetivo for uma redução de até 2°C na temperatura, um estudo recente revisado por pares indica que haverá 80 milhões a mais de pobres até 2030.
À medida que as políticas climáticas na Europa e nos EUA aumentarem os custos de energia, mais empresas migrarão para regiões menos sobrecarregadas, como a América Latina, a China e a índia. Estabelecer uma tarifa sobre as importações, conforme as emissões subjacentes, reduziria esse movimento.
Porém essas tarifas também tornariam mais difícil para os países em desenvolvimento competir, visto que a maioria dos ricos emite carbono de forma mais moderada. Em nível global, essas tarifas seriam ineficientes e tomariam as políticas climáticas ainda mais caras. Mais importante, no entanto, é que elas serviriam como um protecionismo de retaguarda para os países ricos.
Para que os países ricos cortem 20% de suas emissões, o custo será de US$ 310 bilhões por ano. Usando tarifas de carbono, os países ricos podem terminar com US$ 90 bilhões a mais, atraindo as empresas de volta. Em vez disso, eles impõem mais de meio trilhão em custos extras, todo ano, aos pobres do mundo.
A UE e outras partes acreditam que ameaças tarifárias forçarão países em desenvolvimento a adotar suas próprias políticas climáticas onerosas. Não vão. No caso da China, um estudo recente mostra que, mesmo que as tarifas de carbono dos EUA custem US$ 24 bilhões ao ano, um imposto doméstico para 0 carbono seria quase dez vezes mais caro.
Forçar os países em desenvolvimento a escolher entre perder um bilhão ou dez bilhões não levará a políticas climáticas efetivas. Levará a um profundo ressentimento em relação a países ricos que transferem seus custos climáticos aos pobres do mundo. Brasil, África do Sul, índia e China denunciaram recentemente essas tarifas como "discriminatórias", e as nações africanas acusam-nas de protecionistas.
Aplicar tarifas de carbono pode ser popular entre eleitores de países ricos, mas provavelmente levará a uma guerra tarifária, fazendo países em desenvolvimento criar um regime de livre comércio separado.
A maneira mais eficaz de lidar com o problema gerado pelas mudanças climáticas é aumentar drasticamente o investimento em pesquisa e desenvolvimento de energia renovável. Se fosse possível tornar a energia verde mais barata que a dos combustíveis fósseis, todos fariam essa troca tranquilamente.
O Brasil e seus parceiros precisam voltar a influenciar a política climática e insistir em inovações inteligentes e sustentáveis. Esses países devem deixar claro para um Ocidente arrogante que privar os pobres do mundo dos dois motores do desenvolvimento (energia abundante e livre comércio) é inaceitável.
Bjorn Lomborg é presidente do Consenso de Copenhague
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.