Segunda-feira, 2 de outubro de 2017
Ronaldo Lemos: Em inovação Brasil fala e Argentina faz
ENQUANTO
O tema da inovação no Brasil é tratado com um falatório interminável, que
se traduz em poucas ações, a Argentina avança com medidas concretas.
Na semana passada, o presidente
argentino, Maurício Macri, realizou o lançamento oficial de um novo sistema
para a abertura de empresas no país.
Por meio dele,
agora é possível abrir uma empresa em 24 horas por meio da internet. A
empresa já nasce com conta bancária operacional e com registro fiscal
imediato (o CNPJ argentino).
Além disso, foi
criado um novo tipo societário, chamado “Sociedade por Ações
Simplificada”. Essa modalidade foi concebida especificamente pensando nas
start-ups, empresas novas focadas em inovação e que querem crescer
rapidamente.
O custo? Todo o
trâmite custa aproximadamente R$ 800 e esse valor pode ser aportado como
parte do capital social. Todas as assinaturas necessárias são feitas
digitalmente. O mesmo vale para os livros societários, que são totalmente
digitais. O pagamento de impostos ocorre da mesma forma: tudo
pela rede.
Para ter uma ideia
de como o Brasil fica para trás diante dessas mudanças, o Banco Mundial aponta
que o tempo médio para se abrir uma empresa no Brasil é de 79 dias ao
custo médio de R$ 1500.
O processo exige
em média 11 procedimentos diferentes com muito papel envolvido. Já o tempo para
fechar uma empresa no país nem o Banco Mundial ousa medir. Pode levar
anos.
As mudanças
argentinas não param por aí. O país regulamentou também a possibilidade de se
adquirir participação societária em empresas por meio da internet
(o chamado “equity crowdfunding”).
Criou também um
fundo de capital semente de US$ 30 milhões para apoiar novas empresas
inovadoras, com taxa zero de Juros e sem a necessidade de garantias. As
empresas investidas recebem assesso-ria e acompanhamento gratuito.
A contrapartida é crescer. Se o negócio aumenta de tamanho, o prazo para
pagamento do empréstimo vai sendo dilatado.
Além disso, o país
implementou uma série de incentivos para investimentos privados em start-ups
inovadoras e fundos de “venture capital”. Até 85% do valor investido
é dedutível, limitado ao máximo de 10% do lucro anual.
Esse esforço
envolve não apenas o plano federal, mas também Buenos Aires. Foram criados
distritos de inovação na cidade, com benefícios para as empresas neles
instaladas. Além disso, foi criado um regime para apoiar empresas que exportam
software.
Essa iniciativa já
provocou o Uruguai a seguir pelo mesmo caminho. 0país está neste momento
realizando uma consulta pública para criar um pacote de medidas similares.
0 deputado epresidente da Comissão de Inovação, Ciência e
Tecnologia do país, Rodrigo Gohi, criou o portal “Ley Emprendedores”para
construir uma lei semelhante à argentina e ir além.
Enquanto isso o
Brasil fala, fala, fala, fala, fala e fala sobre inovação.
RONALDO
LEM0S é advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do
Rio de Janeiro.
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