Chineses
recorrem a três mecanismos para comunicar suas intenções aos países da
vizinhança
16.ago.2018
às 2h00
A
competição geopolítica entre China e Estados Unidos chegou com tudo à América
do Sul.
O
fenômeno não é novo, mas ganhou relevo com a visita do secretário de Defesa
americano aos quatro grandes países da região —Brasil, Argentina, Chile e
Colômbia.
A
pergunta que importa é simples: como a disputa entre Washington e Pequim
moldará o ordenamento regional sul-americano, e quem vem ganhando as primeiras
rodadas?
A
resposta passa pelos três mecanismos diplomáticos básicos que a China vem
utilizando para comunicar suas intenções aos países da vizinhança.
O
primeiro diz respeito ao modo pelo qual a diplomacia chinesa demanda concessões
dos governos sul-americanos.
O
melhor exemplo recente foi a intricada operação da China em Brasília para
abocanhar lotes do pré-sal e conseguir comprar um terço do setor elétrico
brasileiro, além de boa parte da produção hidrelétrica nas fronteiras.
A
negociação demandou dos chineses a capacidade de manter o fio da meada em meio
à turbulência que derrubou Dilma e que levou Temer ao Palácio do Planalto.
O
segundo mecanismo refere-se à forma como a diplomacia chinesa faz compromissos
críveis capazes de levar seus parceiros sul-americanos à mesa.
Aqui,
o melhor exemplo é a costura elaborada pela embaixada chinesa em Buenos Aires
para emplacar a construção de uma base de monitoramento de satélites e de
segurança cibernética na Patagônia.
A
manobra demandou trabalho minucioso para evitar reação adversa da opinião
pública e das Forças Armadas argentinas, que têm ojeriza à ideia de expor seu
território ao radar dos Estados Unidos.
O
terceiro mecanismo é composto pelos sinais que a China emite aos países da
região quando sente seus interesses ameaçados pelos Estados Unidos. Ela avança
e busca o conflito ou dá um passo atrás para evitá-lo?
A
ilustração mais contundente é a decisão chinesa de reduzir seu apoio ao regime
venezuelano depois que os desmandos do governo Maduro atiçaram a atenção do
Congresso americano.
A
explicação parece simplista, mas não é o caso. O futuro geopolítico da América
do Sul será, em grande medida, uma função desses poucos mecanismos de
sinalização adotados pela China (e da reação a eles dos países da vizinhança).
A
verdadeira notícia da semana, portanto, não é fala do chefe do Pentágono na
Escola Superior de Guerra, mas a dificuldade americana de responder à escolha
chinesa de fazer demandas moderadas, entregar promessas e recuar de situações
conflituosas.
A
entrada de uma potência no quintal de outra é sempre conflitiva. Pelo menos até
agora, a China tem uma estratégia ganhadora.
Matias
Spektor
Professor
de relações internacionais na FGV.
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