Notícias recentes da Coronavac mostram ação contra casos
graves, sem bloqueio total da transmissão
JULY 10, 2021
Na época em que o Instituto Butantan terminou o estudo de
Fase 3 da Coronavac, como se recorda, uma das razões para o atraso na
divulgação dos dados foi a existência de um estudo semelhante feito na Turquia.
Enquanto o estudo brasileiro indicava uma eficácia de ~50% contra o
aparecimento de casos sintomáticos de covid-19, o estudo turco obteve uma
eficácia de ~85%. Depois disso, a comunidade científica espera a revisão por
pares e a publicação definitiva dos resultados desses dois estudos para
entender o motivo da discrepância e a real eficácia da Coronavac.
Brasil chega a 14,16% da população com imunização completa
contra a covid-19
Até o momento o estudo coordenado pelo Butantan ainda não
passou pela revisão de pares e não foi publicado em sua forma definitiva. Mas
nesta sexta-feira, 9, foi publicado na revista The Lancet a versão revisada e
definitiva do estudo turco, acompanhado de um editorial elogiando-o por
fornecer dados sólidos sobre a eficácia da Coronavac. Dado seu pequeno tamanho
(11.303 voluntários, divididos entre o grupo controle e o vacinado), o estudo
somente foi capaz de avaliar a eficácia contra o aparecimento de casos
sintomáticos detectados por exames PCR. E a eficácia ficou em 83,2% (intervalo
de confiança entre 65,4 e 92,1%). Não foi possível calcular a eficácia da
vacina em prevenir internações ou mortes.
A eficácia medida nesse estudo é maior que a divulgada pelo
Butantan, e que está sob avaliação dos pares desde 14 de abril. Essa é uma boa
notícia para quem foi vacinado com a Coronavac, pois é o primeiro estudo da
eficácia dessa vacina publicado em uma revista científica. Mas é importante
lembrar que o estudo foi feito entre 14 de setembro de 2020 e 5 de janeiro de
2021, quando muito provavelmente somente a cepa original do coronavírus
circulava na Turquia. Frente a novas variantes, esse número deve ser menor.
Outra boa notícia é o estudo que foi publicado no The New
England Journal of Medicine, descrevendo os dados obtidos no Chile após a
vacinação com a Coronavac. São dados obtidos em condições reais de vacinação,
entre os dias 2 de fevereiro e 1.º de maio de 2021, quando provavelmente a cepa
presente no Chile era a original. Nesse estudo foi envolvido um número muito
grande de voluntários (10,2 milhões de pessoas, divididos em três grupos: os
não vacinados, os vacinados com uma dose e os vacinados com as duas doses). O
estudo mostrou que a efetividade da Coronavac em prevenir casos de covid com
sintomas foi de 65,9%. A vacina também preveniu 87,5% das hospitalizações,
90,3% das internações em UTis e 86,3% das mortes. Os intervalos de confiança
dessas medidas são pequenos, por causa do enorme número de voluntários
estudados.
Esses resultados são os primeiros de efetividade da
Coronavac e demonstram que ela impede grande parte dos casos graves e de
mortes. Por outro lado, a baixa efetividade contra casos mais leves (65,9%)
talvez explique por que no Chile o número total de casos por milhão de
habitantes continua alto. A interpretação mais simples é que a Coronavac impede
o surgimento de casos graves, mas não bloqueia completamente a transmissão do
vírus.
Os primeiros dados sobre a Coronavac estão aparecendo nas
revistas científicas. Confirmam que a vacina funciona, é muito útil em prevenir
casos graves, mas é menos efetiva em inibir o espalhamento do vírus.
Infelizmente a efetividade contra novas variantes ainda é desconhecida e os
poucos dados divulgados não foram publicados em revistas científicas. Hoje a cepa
original praticamente não existe mais, tendo sido substituída pelas novas
variantes, sendo a mais preocupante a delta. Nas próximas semanas vamos saber o
estrago que ela vai fazer no Brasil, onde poucos receberam as duas doses da
vacina.
MAIS INFORMAÇÕES: EFICACY AND SAFETY OF AN INACTIVATED
WHOLE-VIRION SARS-COV-2 VACCINE (CORONAVAC): INTERIM RESULTS OF A DOUBLE-BLIND,
RANDOMISED, PLACEBO-CONTROLLED, PHASE 3 TRIAL IN TURKEY. LANCET.
https://doi.org/10.1016/ S0140-6736(21)01429-X
2- EFFECTIVENESS OF AN INACTIVATED SARS-COV-2 VACCINE IN
CHILE. N.E.J.M. https://doi.org/10.1056/NEJMoa2107715
É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL
UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS,
ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS
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