Reino Unido decreta o fim da pandemia. Foi a melhor decisão?
JULY 24, 2021
No dia 19 de julho o governo inglês revogou todas as medidas
de distanciamento social, o uso de máscaras e as restrições ao comércio. A vida
voltou ao normal em Londres. Os ingleses festejaram nos pubs e nas boates. A
festa do "dia da liberdade" virou a noite. As únicas restrições
mantidas se relacionam às viagens internacionais e ao ingresso de turistas.
A partir de agora, o controle da covid passa a ser uma
responsabilidade individual e não mais do governo. Ou seja, a covid vai ser
tratada como mais uma doença infecciosa. Cada um cuida de si e administra os
riscos que deseja correr. O governo informa a população, fornece os meios para
as pessoas se protegerem (vacinas) e hospitais para se tratarem.
A lógica por trás dessa decisão é que existem vacinas
capazes de evitar novos casos e mortes. Essas vacinas já foram oferecidas a
todos os maiores de 18 anos do país: quem quis foi vacinado com as duas doses.
Além disso, quem desejar vai receber um reforço nos próximos meses.
Os que não se vacinaram foram contatados por telefone e
e-mail e a vacina lhes foi oferecida. Com isso mais de 60% da população está
vacinada e os 40% restantes são crianças e os adultos que não querem se
vacinar. Testes rápidos de antígenos foram distribuídos e qualquer residência
pode ter um par deles na gaveta.
Tudo isso fez com que o risco da covid para a população
tenha se reduzido a níveis aceitáveis. E deve continuar assim pois a doença
está controlada e as novas cepas estão sendo constantemente monitoradas, como
fazem com a gripe.
Nesse contexto, o governo não acredita que seja justo
atrapalhar a vida de toda a população por causa de uma minoria que se recusa a
ser vacinada. O plano é que a covid seja incorporada à rotina da vida de todos
os ingleses, como já acontece com as outras doenças infecciosas: gripe,
sarampo, Aids e tantas outras.
A aposta da Inglaterra é arriscada. No exato momento em que
as medidas foram anunciadas o número de casos da variante delta está subindo
(~40 mil por dia) e se acredita que pode chegar a 100 mil por dia. Apesar desse
aumento de casos, o número de internações e óbitos continua baixo, como previam
os epidemiologistas. Se essa tendência continuar quando os efeitos da abertura
total forem sentidos nas próximas semanas, o governo inglês vai poder afirmar
que a pandemia realmente terminou. O Sars-CoV-2 passou a ser mais um vírus
“normal”, monitorado e combatido com vacinas.
Os otimistas acreditam que tudo vai dar certo e que essa
onda atual de casos ainda vai aumentar. Acham que ela vai ajudar o país a
atingir mais rapidamente a imunidade coletiva. Essa onda está sendo chamada de
“onda de saída”, uma consequência da liberação das medidas restritivas. São na
maioria casos leves, pois casos graves se concentram em pessoas não vacinadas.
Já os pessimistas estão com medo de que o atual crescimento
dos casos acabe lotando os hospitais e provocando um aumento de mortes, o que
obrigará o governo a voltar atrás. Ou seja, acreditam que a vacinação ainda não
desacoplou totalmente o número de casos do número de mortes. Além disso temem
que a circulação do vírus possa permitir o surgimento de novas variantes.
O fato é que a Inglaterra foi o primeiro país a decretar o
fim da pandemia e a volta à normalidade. Uma decisão baseada em análises feitas
por cientistas com base na enorme quantidade de dados que a Inglaterra vem
coletando. Logo saberemos se essa foi a decisão correta.
Se tiver sido, a Inglaterra vai mostrar ao mundo como será
nosso futuro. Ou então os ingleses terão que meter o rabo entre as pernas e
voltar atrás na sua decisão de decretar o fim da pandemia.
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