segunda-feira, 15 de abril de 2019

O outro lado de Harari(Arnaldo Niskier)


13 de Abril de 2019 - 02:02
CORREIO BRAZILIENSE | OPINIAO


ARNALDO NISKIER
Membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE-RJ



O escritor israelense Yuval Noah Harari tem feito muito sucesso com as obras em que discute o futuro do mundo. Tornaram-se best-sellers internacionais e são hoje leituras obrigatórias para quem quer se inteirar das ideias do escritor. Professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, Harari é especialista em questões que fazem a interligação dos fenômenos da transformação da natureza humana com os modernos conceitos da biotecnologia e da inteligência artificial, com foco em aspectos políticos e éticos. O sucesso de suas investigações tem sido tão grande que ele já é reconhecido como o "profeta dos novos tempos".

Em Sapiens, uma breve história de humanidade, lançado em 2011, ele investiga o futuro da humanidade em busca de uma resposta sobre qual será o destino da Terra, e afirma que a ascensão de ideias humanistas revolucionou o sistema educacional. Já no livro Homo Deus - uma breve história do amanhã, de 2016, trata das questões da humanidade e do mundo moderno, mostrando que a guerra se tornou obsoleta e que a morte é apenas um problema técnico. Previu também que os seres humanos vão se tornar deuses e controlar a natureza e a consciência, até serem controlados por algoritmos.

Fechando a trilogia, foi lançado entre nós o livro 21 lições para o século XXI, onde são abordados temas como desafios tecnológicos, desespero, esperança, verdade e resiliência, e os seus desdobramentos, dos quais podemos citar exemplos: trabalho, liberdade, igualdade, religião, imigração, terrorismo, justiça, educação e meditação. Mediante exposições sobre cada tópico que faz parte da obra, e sempre com argumentações convincentes, Harari tenta responder a questões que preocupam o mundo atual, como as soluções para o problema do aquecimento global, o surgimento da era Trump e a existência ou não de Deus.

O autor chega até a fazer conjecturas em torno de um possível desordenamento na força de trabalho, que deve afetar as nações, provocando mudanças profundas na vida emocional de todos. Sua abordagem sobre a ascensão da automação é marcante e poderia até ser entendida como preocupante, já que para ele as máquinas podem demonstrar mais simpatia do que os próprios seres humanos. Harari admite que muitas ocupações tradicionais são tediosas, difíceis e até insatisfatórias. E, já que se fala em desaparecimento de empregos, a sua teoria vai muito além da questão trabalhista em si, pois prega que quem deve ser protegido mesmo são os seres humanos. Mesmo assim, ele é categórico ao afirmar que, em termos econômicos, a automação tende a enriquecer alguns setores e aniquilar definitivamente outros, aumentando com isso a desigualdade mundial. Essa é a triste realidade.

Das 21 lições para o século 21 propostas por Yuval Noah Harari, a que envolve o conceito de inteligência artificial nos leva a ter múltiplos entendimentos sobre o assunto. Por exemplo, um paciente, ao ser atendido em um consultório dotado de equipamentos de última geração, como os sensores biométricos, terá as emoções muito bem monitoradas pelos simpáticos aparelhos, melhor até do que se fossem analisadas apenas pelo médico. Ao mesmo tempo, a mesma inteligência artificial poderá ser usada por regimes centralizadores, as ditaduras, com objetivo de criar banco de dados genéticos para catalogar e controlar a população.

Numa entrevista dada à revista Veja, Harari fez a suposição de que o Brasil proibisse armas autônomas e bebês geneticamente modificados. De que isso adiantaria se os Estados Unidos produzissem robôs assassinos e os engenheiros chineses fizessem humanos geneticamente aperfeiçoados? A consequência seria que o Brasil se sentiria tentado a quebrar a própria proibição para não ficar atrás. O autor israelense tem uma realidade ampla de perspectiva mundial: "O governo brasileiro não consegue proteger o país da guerra nuclear ou do aquecimento global, a menos que coopere com a China, os Estados Unidos e a Rússia". Harari trouxe mais polêmica para o debate que há tempos está sendo realizado sobre o futuro do planeta. Se levarmos em conta o passado, o presente e o futuro, nas três obras do autor, teremos a visão de um estudo sério e abrangente sobre o que entendemos ser o caminho da humanidade.

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