THIAGO DE ARAGÃO - China e as estratégias para o pós-covid
segunda-feira, 19 de outubro de 2020
O Estado de S. Paulo / Economia
Entre o dia 26 e 29 de outubro, membros de alto escalão do Partido Comunista Chinês (PCC) irão se encontrar pela primeira vez em cinco anos. Essa reunião, que já seria importante dado o espaçamento entre encontros desse nível, ganha contornos ainda mais estratégicos. Abrigará o debate e a seleção de projetos que possam se enquadrar no redesenho político e econômico que Xi Jinping idealizou para o próximo quinquênio.
No último encontro, a China identificou que a relação com os EUA iria melhorar no curto prazo e depois iniciar uma curva de deterioração, enquanto o governo chinês teria entre 10 e 15 anos para se adaptar. Essa deterioração estaria ancorada na leitura chinesa de que a equalização tecnológica e a solidificação de relações estratégicas com diversos países levariam os EUA a iniciar um processo de busca e resposta por reconquista de espaço. Todo esse cenário foi acelerado pela pandemia, fazendo com que o PCC comandasse rapidamente um realinhamento estratégico.
A China acertou no diagnóstico e errou no timing. De fato, os EUA enxergam a progressão tecnológica chinesa e o grande volume de amarras comerciais e financeiras com terceiros como armas difíceis de serem enfrentadas. O presidente Donald Trump iniciou um processo de afastamento que era previsto pela China para ocorrer somente nos próximos 10 anos, obrigando o mundo a assistir e a se readequar dentro da readequação sinoamericana.
Xi irá enfatizar o aumento do consumo interno como o pilar essencial no reajuste de cresci- mento chinês. Para isso, o governo buscará ampliar programas na base da pirâmide social, estimulando um consumo maior; outra ideia é simplificar o pagamento de tributos para indústrias estratégicas com a finalidade de gerar um aumento de produção.
Mercado de capitais
O governo chinês simplificou o processo para empresas serem listadas nas bolsas do país, para indivíduos investirem e fortaleceu o yuan para acentuar a percepção de ganhos. Sabendo que o mercado de capitais americano ficará cada vez mais reduzido para empresas chinesas, o governo acelerou o plano de desenvolver o mercado chinês de capitais. A capitalização do mercado de capitais atingiu a marca de US$ 10 trilhões, gerando um crescente interesse em empresas e investidores individuais.
A reorganização estratégica chinesa impacta inúmeros países, inclusive o Brasil. Somos exportadores de commodities e a China quer, mesmo que a médio prazo, reduzir essa dependência e se tornar mais autossustentável Quando Xi esteve no mês passado visitando áreas férteis para plantio, ele enfatizou o interesse em ver a China produzindo uma variedade agrícola que não substituiria as exportações brasileiras, mas as reduziria.
O desenho estratégico chinês deveria obrigar o Brasil a produzir seu próprio desenho estratégico para os próximos 5 e 10 anos.
Mas dificilmente isso ocorrerá, pois não temos características de planejamento.
] DIRETOR DE ESTRATÉGIA DA ARKO ADVICE E COLUNISTA DO E-INVESTIDOR.
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