quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O que faz destes países os mais generosos do mundo? (BBC Brasil)

Generosidade dos Povos




Ajudar estranhos pode significar muito mais do que uma boa ação. Um estudo publicado pela empresa de consultoria Gallup revelou que a disposição de um país em ajudar o próximo é um forte indicador de fatores econômicos positivos, assim como outros múltiplos benefícios, como incentivar o bem-estar coletivo.
A consultoria entrevistou mais de 145 mil pessoas em mais de 140 países, perguntando se eles tinham doado dinheiro para alguma instituição de caridade, se fizeram trabalho voluntário em alguma organização, ou se ajudaram um estranho.
Os resultados foram apresentados no Relatório Global de Engajamento Cívico de 2016. Mianmar, EUA, Austrália, Nova Zelândia e Sri Lanka foram os países que lideraram a lista, com o Brasil na 34ª posição (e uma pontuação mais ou menos equivalente à metade do primeiro colocado).
China, territórios palestinos, Iêmen, Grécia e República Democrática do Congo ficaram na lanterna.
Para o instituto, os dados são encorajadores. De acordo com os dados do estudo, no período de um mês, 1,4 bilhões de pessoas doaram dinheiro para caridade, quase 1 bilhão fez trabalho voluntário, e 2,2 bilhões ajudaram estranhos.
A pontuação individual de cada país variou de maneira ampla, com os residentes de certos países se mostrando significativamente mais propensos a se envolver em causas filantrópicas.
Entrevistamos pessoas que vivem nos cinco países no topo do ranking para tentar descobrir a motivação por trás da generosidade e como isso afeta a sociedade local.
Mianmar
A maioria dos habitantes de Mianmar, no sudeste da Ásia, respondeu "sim" para cada uma das perguntas relacionadas a doações, o que fez com que o país conseguisse a maior pontuação no estudo.
Em Mianmar, doar comida para monges faz parte da tradição budista
A generosidade em Mianmar vem de uma forte tradição do budismo. "Qualquer boa ação que os budistas fazem é levada em conta para sua próxima encarnação, resultando em uma vida melhor para eles", explicou Hninzi Thet, nascida em Rangum, filha de um pai católico e uma mãe budista.
"Por exemplo, no aniversário de uma criança eles oferecem uma refeição para monges, que dependem do público para se alimentar. Isso trará mérito para os budistas", disse ela.
Segundo Hninzi, as doações de comida e dinheiro no país vão, em sua maioria, para monges e monastérios. "Só recentemente é que houve um esforço para direcionar doações a orfanatos", afirmou ela.
Além de ocupar o topo do ranking de países generosos, Mianmar também recebeu recentemente o título de país mais amigável do mundo na pesquisa InterNations Expat Insider, de 2015.
Estados Unidos
A generosidade na cultura americana varia de acordo com a localização no país, dependendo se a área é rural, suburbana ou urbana.
"Há muitas ONGs e organizações sem fins lucrativos na região de Washington DC, mas quando você se afasta do centro e vai até o subúrbio, muitas vezes escuto gente falando que não tem ideia de como fazer trabalho voluntário ou como e onde se envolver em causas do tipo", afirmou Naomi Hattaway, natural do Estado de Nebraska.
No entanto, na cidade de Lucketts, no Estado de Virgínia, ela encontrou uma situação diferente. "O espírito solidário, a filantropia e os atos caridosos parecem ser algo quase obrigatório para a maioria dos residentes", disse ela.
Atos generosos nos EUA envolvem organizações sem fins lucrativos, trabalho voluntário e atos de caridade
"Quando alguém manifesta uma necessidade, todos se prontificam a ajudar; durante eventos para arrecadar fundos, todos contribuem sem hesitar."
Essa é uma peculiaridade que vem sendo passada de geração para geração. "Nos dois lados da minha família, meu avós sempre doaram e doaram e doaram. Eles nunca contaram vantagem sobre isso, mas sempre lembravam de histórias nas quais organizavam eventos para dar comida e sopa durante a Grande Depressão e as Grandes Guerras", lembrou Zoe Helene, que mora em Massachusetts.
"Acho que eles queriam que eu aprendesse que a compaixão com o próximo é essencial para o caráter, e que as pessoas precisam cuidar umas das outras, caso contrário a civilização desmorona."
Austrália
Buscar que todos tenham a mesma chance de ser bem-sucedido é uma parte essencial da cultura australiana.
"Em outras palavras, é a possibilidade de ter êxito nas mesmas condições, sem desvantagem, em relação aos outros", disse Erik Stuebe, que mora em Melbourne, mas é natural de uma cidade pequena em New South Wales.
"Há um grande respeito com aqueles que conseguem ser bem-sucedidos e conseguem continuar humildes, ligados às suas raízes e dando apoio aos outros."
Melbourne, em especial, tem um forte espírito de comunidade e frequentemente organiza eventos que angariam milhões de dólares para causas locais e globais.
A Fundação Movember nasceu na cidade em 2003 e hoje estimula homens em todas as partes do mundo a deixarem o bigode crescer para aumentar a conscientização - e as doações - para a saúde masculina.
A Fundação Movember, fundada em 2003 na Austrália, promove a saúde do homem no mundo todo
As crises também despertam a generosidade nos australianos. Em 2009, quando diversos incêndios destruíram residências e causaram mortes, a população se mobilizou.
"Os residentes de Melbourne sobrecarregaram o sistema com doações de tempo, dinheiro, roupas, ofertas de abrigo e mensagens de apoio", disse Stuebe. "Acho que os australianos dão o que for preciso, de maneira generosa e no limite de suas habilidades."
Nova Zelândia
Residentes de uma pequena nação, em sua maioria rural, os neozelandeses têm uma longa tradição de cuidar de seus vizinhos.
"Às vezes parece que todo mundo conhece todo mundo ou está a 'dois graus de separação', então há um dever de cuidarmos uns dos outros", disse Katherine Shanahan, da capital, Wellington.
"Talvez esse forte senso de comunidade também seja a razão pela qual o país parece ter essa característica de caridade."
A cidade de Wellington organiza iniciativas como The Free Store ("A Loja Grátis", em tradução livre), na qual restaurantes e padarias doam comida que não foi vendida durante o dia para pessoas que não conseguiriam pagar por alimentos.
Participantes da corrida de fim de ano na Nova Zelândia na qual atletas se vestem de Papai Noel para ajudar crianças em situação de pobreza
Em 18 de dezembro, diversas cidades espalhadas pela Nova Zelândia também organizaram a Great Kids Can Santa Run (a "Corrida do Papai Noel e das Grandes Crianças Que Podem", em tradução livre).
É uma corrida de 2 a 3 quilômetros na qual todos os atletas se vestem de Papai Noel para arrecadar fundos para crianças em situação de pobreza.
Sri Lanka
Assim como em Mianmar, a generosidade no Sri Lanka tem grande influência da religião. "A maioria da população é de budistas e hindus, e ambas as religiões pregam a caridade e o compartilhamento", disse Mahinthan So, que mora na capital, Colombo.
A cidade de Matara, no Sri Lanka, organiza diversos eventos para promover a caridade e a benevolência
A vontade de ajudar o próximo é particularmente evidente na cidade de Matara, no sul do país. "Há um ditado no Sri Lanka que diz que 'não importa onde você vá na ilha, em caso de necessidade, você sempre encontrará alguém de Matara que certamente ficará feliz em ajudar'", disse Supun Budhajeewa, natural da cidade.
Desde doação de sangue a eventos de caridade em escola, há sempre alguma iniciativa em Matara que encoraja a benevolência.
Muitas organizações municipais e de bairro realizam com frequência barracas de comida de graça durante feriados e dias especiais. Feriados também são datas populares para fazer trabalho voluntário, como limpar ruas, ajudar em hospitais e construir casas para desabrigados.

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