Ajudar
estranhos pode significar muito mais do que uma boa ação. Um estudo publicado
pela empresa de consultoria Gallup revelou que a disposição de um país em
ajudar o próximo é um forte indicador de fatores econômicos positivos, assim
como outros múltiplos benefícios, como incentivar o bem-estar coletivo.
A
consultoria entrevistou mais de 145 mil pessoas em mais de 140 países,
perguntando se eles tinham doado dinheiro para alguma instituição de caridade,
se fizeram trabalho voluntário em alguma organização, ou se ajudaram um
estranho.
Os
resultados foram apresentados no Relatório Global de Engajamento Cívico de
2016. Mianmar, EUA, Austrália, Nova Zelândia e Sri Lanka foram os países que
lideraram a lista, com o Brasil na 34ª posição (e uma pontuação mais ou menos
equivalente à metade do primeiro colocado).
China,
territórios palestinos, Iêmen, Grécia e República Democrática do Congo ficaram
na lanterna.
Para o
instituto, os dados são encorajadores. De acordo com os dados do estudo, no
período de um mês, 1,4 bilhões de pessoas doaram dinheiro para caridade, quase
1 bilhão fez trabalho voluntário, e 2,2 bilhões ajudaram estranhos.
A pontuação
individual de cada país variou de maneira ampla, com os residentes de certos
países se mostrando significativamente mais propensos a se envolver em causas
filantrópicas.
Entrevistamos
pessoas que vivem nos cinco países no topo do ranking para tentar descobrir a
motivação por trás da generosidade e como isso afeta a sociedade local.
Mianmar
A maioria
dos habitantes de Mianmar, no sudeste da Ásia, respondeu "sim" para
cada uma das perguntas relacionadas a doações, o que fez com que o país
conseguisse a maior pontuação no estudo.
Em Mianmar, doar comida para monges faz parte da tradição budista
A
generosidade em Mianmar vem de uma forte tradição do budismo. "Qualquer
boa ação que os budistas fazem é levada em conta para sua próxima encarnação,
resultando em uma vida melhor para eles", explicou Hninzi Thet, nascida em
Rangum, filha de um pai católico e uma mãe budista.
"Por
exemplo, no aniversário de uma criança eles oferecem uma refeição para monges,
que dependem do público para se alimentar. Isso trará mérito para os
budistas", disse ela.
Segundo
Hninzi, as doações de comida e dinheiro no país vão, em sua maioria, para
monges e monastérios. "Só recentemente é que houve um esforço para
direcionar doações a orfanatos", afirmou ela.
Além de
ocupar o topo do ranking de países generosos, Mianmar também recebeu
recentemente o título de país mais amigável do mundo na pesquisa InterNations
Expat Insider, de 2015.
Estados Unidos
A
generosidade na cultura americana varia de acordo com a localização no país,
dependendo se a área é rural, suburbana ou urbana.
"Há
muitas ONGs e organizações sem fins lucrativos na região de Washington DC, mas
quando você se afasta do centro e vai até o subúrbio, muitas vezes escuto gente
falando que não tem ideia de como fazer trabalho voluntário ou como e onde se
envolver em causas do tipo", afirmou Naomi Hattaway, natural do Estado de
Nebraska.
No entanto,
na cidade de Lucketts, no Estado de Virgínia, ela encontrou uma situação
diferente. "O espírito solidário, a filantropia e os atos caridosos
parecem ser algo quase obrigatório para a maioria dos residentes", disse
ela.
Atos generosos nos EUA envolvem organizações sem fins lucrativos,
trabalho voluntário e atos de caridade
"Quando
alguém manifesta uma necessidade, todos se prontificam a ajudar; durante
eventos para arrecadar fundos, todos contribuem sem hesitar."
Essa é uma
peculiaridade que vem sendo passada de geração para geração. "Nos dois
lados da minha família, meu avós sempre doaram e doaram e doaram. Eles nunca
contaram vantagem sobre isso, mas sempre lembravam de histórias nas quais
organizavam eventos para dar comida e sopa durante a Grande Depressão e as
Grandes Guerras", lembrou Zoe Helene, que mora em Massachusetts.
"Acho
que eles queriam que eu aprendesse que a compaixão com o próximo é essencial
para o caráter, e que as pessoas precisam cuidar umas das outras, caso
contrário a civilização desmorona."
Austrália
Buscar que
todos tenham a mesma chance de ser bem-sucedido é uma parte essencial da
cultura australiana.
"Em
outras palavras, é a possibilidade de ter êxito nas mesmas condições, sem
desvantagem, em relação aos outros", disse Erik Stuebe, que mora em
Melbourne, mas é natural de uma cidade pequena em New South Wales.
"Há um
grande respeito com aqueles que conseguem ser bem-sucedidos e conseguem
continuar humildes, ligados às suas raízes e dando apoio aos outros."
Melbourne,
em especial, tem um forte espírito de comunidade e frequentemente organiza
eventos que angariam milhões de dólares para causas locais e globais.
A Fundação
Movember nasceu na cidade em 2003 e hoje estimula homens em todas as partes do
mundo a deixarem o bigode crescer para aumentar a conscientização - e as
doações - para a saúde masculina.
A Fundação Movember, fundada em 2003 na Austrália, promove a saúde do
homem no mundo todo
As crises
também despertam a generosidade nos australianos. Em 2009, quando diversos
incêndios destruíram residências e causaram mortes, a população se mobilizou.
"Os
residentes de Melbourne sobrecarregaram o sistema com doações de tempo,
dinheiro, roupas, ofertas de abrigo e mensagens de apoio", disse Stuebe.
"Acho que os australianos dão o que for preciso, de maneira generosa e no
limite de suas habilidades."
Nova Zelândia
Residentes
de uma pequena nação, em sua maioria rural, os neozelandeses têm uma longa
tradição de cuidar de seus vizinhos.
"Às
vezes parece que todo mundo conhece todo mundo ou está a 'dois graus de
separação', então há um dever de cuidarmos uns dos outros", disse Katherine
Shanahan, da capital, Wellington.
"Talvez
esse forte senso de comunidade também seja a razão pela qual o país parece ter
essa característica de caridade."
A cidade de
Wellington organiza iniciativas como The Free Store ("A Loja Grátis",
em tradução livre), na qual restaurantes e padarias doam comida que não foi
vendida durante o dia para pessoas que não conseguiriam pagar por alimentos.
Participantes da corrida de fim de ano na Nova Zelândia na qual atletas se
vestem de Papai Noel para ajudar crianças em situação de pobreza
Em 18 de
dezembro, diversas cidades espalhadas pela Nova Zelândia também organizaram a
Great Kids Can Santa Run (a "Corrida do Papai Noel e das Grandes Crianças
Que Podem", em tradução livre).
É uma
corrida de 2 a 3 quilômetros na qual todos os atletas se vestem de Papai Noel
para arrecadar fundos para crianças em situação de pobreza.
Sri Lanka
Assim como
em Mianmar, a generosidade no Sri Lanka tem grande influência da religião.
"A maioria da população é de budistas e hindus, e ambas as religiões
pregam a caridade e o compartilhamento", disse Mahinthan So, que mora na
capital, Colombo.
A cidade de Matara, no Sri Lanka, organiza diversos eventos para
promover a caridade e a benevolência
A vontade de
ajudar o próximo é particularmente evidente na cidade de Matara, no sul do
país. "Há um ditado no Sri Lanka que diz que 'não importa onde você vá na
ilha, em caso de necessidade, você sempre encontrará alguém de Matara que
certamente ficará feliz em ajudar'", disse Supun Budhajeewa, natural da
cidade.
Desde doação
de sangue a eventos de caridade em escola, há sempre alguma iniciativa em
Matara que encoraja a benevolência.
Muitas
organizações municipais e de bairro realizam com frequência barracas de comida
de graça durante feriados e dias especiais. Feriados também são datas populares
para fazer trabalho voluntário, como limpar ruas, ajudar em hospitais e
construir casas para desabrigados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.