Sábado,
12 de Janeiro de 2019 - 07:39
O
GLOBO | ECONOMIA
Sentado
na primeira fileira do auditório do Banco Central no Rio, Roberto Campos Neto
viu passar pela sua frente flashs da história da instituição que deve presidir.
Ex-presidentes contaram momentos dramáticos e decisões difíceis, crises da
dívida, quebras de bancos, hiperinflação, reformas monetárias. Ao longo das
falas no seminário ontem sobre a História Contada do Banco Central, ficou clara
a dimensão da instituição.
Ilan
Goldfajn, o atual presidente, resumiu ao fim da tarde e de três painéis
mediados pela jornalista Claudia Safatle, do “Valor”, a evolução que houve: Não
se fala mais de negociação da dívida externa, que foi o assunto dos primeiros
depoimentos, porque ficou para trás. Espero que a inflação também tenha ficado
para trás. Temos independência de fato, mas não temos ainda de direito.
O
assunto fiscal permanece conosco. O BC foi criado por lei em 31 de dezembro de
1964, mas começou oficialmente em 1965. Completa 54 anos em 2019, mas o evento
era para lembrar o registro histórico dos primeiros 50, que começou a ser feito
com o CPDOC, em 1989, e foi retomado no período de Alexandre Tombini e
completado agora com Ilan.
Ernane
Galvêas, aos 96 anos e lúcido, contou que o BC foi filho da conferência que
organizou o mundo monetário após a 2ª Guerra Mundial: Bulhões voltou de Bretton
Woods com essa ideia de que o Banco do Brasil não podia ser a autoridade
monetária. Carlos Langoni foi presidente no começo dos anos 1980, quando
estourou a crise da dívida externa que arruinaria a década. O Brasil não tinha
dólares, créditos, nem petróleo: —O presidente Figueiredo me chamou e disse:
‘pode negociar com os bancos, mas não deixa haver racionamento de combustível’.
Ele
voou para Riad para negociar a liberação dos petroleiros com suprimento para o
Brasil. Lá, por sorte, o presidente do BC era PhD pela Universidade de Chicago.
Os colegas se entenderam. Fernão Bracher contou como conseguiu manter o sistema
financeiro em pé quando três bancos quebraram no governo Sarney:Comind,
Auxiliar e Mais on nave. Fernando Milliet falou da tentativa de negociar com os
bancos estrangeiros, completamente hostis, depois da moratória de 1987. Wadico
Bucchi narrou as dificuldades daquele final do governo Sarney em plena
hiperinflação. Ibrahim Eris não estava, mas seu período foi o do calote da
dívida interna no governo Collor. Pedro Malan foi presidente no Plano Real, que
venceu a hiperinflação, e havia sido o negociador da dívida externa: Era uma
guerra de trincheiras entre os países em desenvolvimento e os bancos.
Malan
foi o responsável pelo acordo de paz nessa guerra. Persio Arida disse que olhou
seu discurso de posse e sabatina e concluiu que a agenda continua a mesma: o
crédito direcionado, a crise fiscal e a independência do BC. Gustavo Loyola
enfrentou a mais violenta crise bancária do país, em que quebraram Econômico,
Nacional e Bamerindus, mantendo o sistema em pé, através do Proer. E saneou os bancos
estaduais. Gustavo Franco manteve o câmbio no primeiro período do Plano Real,
um tempo de enorme pressão.
Cada
um aqui vivenciou coisas diferentes, mas ninguém sentiu monotonia disse. Chico
Lopes foi o responsável por uma instituição que é a semente do Banco Central
independente: o Copom. Ele disseque discordado ministro Paulo Guedes quando ele
diz que a social-democracia levou 30 anos para aprender o que é preciso fazer
na economia:
Acho
injustiça do meu amigo Paulo Guedes porque os social-democratas fizeram um
grande trabalho. Deixaram tudo preparado para a liberal-democracia. Para não
acertar o gol sós e erra rabola. Armínio introduziu as metas de inflação,
política que está completando 20 anos, masse ute moré o rom bodas contas
públicas: —Não há Banco Central do mundo que resista à continuação de um acrise
fiscal como a nossa. Uma reformada Previdência mais ou menos não será
suficiente.
Henrique
Meirelles contou como conseguiu na prática que o Banco Central fosse
independente no governo do ex-presidente Lula. O net ode Roberto Campos, um dos
criadores do BC, ouviu os recados dos que o antecederam entremeados de elogios
ao seu avô. Armínio disseque chega a ser“desconcertante” ler como os alertas
que ele fez nos anos 1970 sob recontas públicas permanecem atuais.
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