Domingo, 13 de Janeiro de 2019 - 05:41
O ESTADO DE S. PAULO | ECONOMIA & NEGÓCIOS
HÁ 10 ANOS, PAÍS TEVE DE CRIAR RENDA MÍNIMA PARA IDOSOS E
AGORA PROPÕE QUE OS EMPREGADORES TAMBÉM CONTRIBUAM
Pioneiro na Previdência de capitalização, o Chile passou a
ser alvo de críticas quando a primeira geração de trabalhadores enquadrada no
modelo começou a se aposentar, nos anos 2000.
Com um grande número de trabalhadores informais, que nunca
pouparam para suas aposentadorias, o Chile passou a ter milhares de idosos sem
nenhuma fonte de renda. O problema levou o governo de Michelle Bachelet a criar
em 2008 um pilar solidário, que garante uma renda mínima mesmo para quem nunca
contribuiu. Resolvida essa questão, o país enfrenta agora outro problema: o
baixo valor do benefício dos aposentados.
Segundo pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), os chilenos que se aposentam recebem o equivalente a 38% dos salários de
quando estavam na ativa. No Brasil, para quem se aposenta por idade, o
porcentual é de 80%.
Além do aumento da expectativa de vida, questões
relacionadas à administração das pensões explicam o atual problema
previdenciário. O economista Flávio Ataliba, que ajudou no desenvolvimento da
proposta híbrida do ex-candidato Ciro Gomes, explica que as aplicações
financeiras feitas pelos gestores de aposentadorias do Chile foram muito
pulverizadas. Diante de baixos retornos, as taxas de administrações cobradas
por esses gestores passaram a pesar mais, chegando a 20% em alguns casos.
O economista Paulo Tafner - que elaborou uma proposta de
sistema híbrido para o Brasil, ao lado do ex-presidente do Banco Central
Arminio Fraga - destaca que a concentração no mercado de administradoras de
aposentadorias também prejudicou o sistema chileno, pois permitiu taxas de
administração mais altas. 'É um problema de regulação econômica. Por isso,
estamos propondo que se crie também uma (empresa de) administração que seja
pública, para pressionar as taxas para baixo e criar concorrência.'
O economista frisa ainda que o sistema de capitalização
chileno foi uma experiência inovadora, embora muitos ressaltem apenas aspectos
ruins. 'É preciso lembrar que, apesar dos muitos problemas, o país só começou a
crescer de forma sustentável depois da reforma adotada.'
Na tentativa de resolver os atuais impasses previdenciários
chilenos, o governo de centro-direita de Sebastián Piñera encaminhou uma
proposta para o Congresso para que as empresas passem a colaborar com as
aposentadorias. Hoje, apenas o trabalhador é responsável por contribuir, com
10% de seu salário. A proposta de Piñera é que os empregadores recolham outros
4%.
Seguindo os passos do Chile, o México é outro que, em breve,
deverá enfrentar problemas com baixas aposentadorias. O país adotou um modelo
semelhante ao chileno, com quase 100% de capitalização, mas alíquotas de
contribuição inferiores às do sulamericano, além de altas taxas de
administração./L.D.
@previdência @Chile
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