quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Mercado e eleição turbulenta nos EUA(FT, Valor, 3 9 2020)


Mercado se prepara para uma eleição turbulenta nos EUA
quinta-feira, 3 de setembro de 2020 

  
Valor Econômico  / Finanças

Robin Wigglesworth Financial Times, de Londres

Operadores estão aumentando as apostas numa eleição presidencial particularmente turbulenta nos Estados Unidosem3 de novembro, e também num período posterior potencialmente complicado. Os contratos futuros do índice de volatilidade VIX – que usa opções para obter uma estimativa da oscilação futura do S&P 500—mostram o que alguns operadores chamam de “kink” (torção, numa tradução livre) por volta de outubro e novembro, uma aceleração que excede a de corridas anteriores à Casa Branca.

Os derivativos indicam que, apesar de o mercado de ações dos EUA ascender a novos patamares depois do maior rali em agosto desde 1986, a retórica cada vez mais beligerante entre Democratas e Republicanos e a possibilidade de instabilidade política estão deixando os investidores nervosos. As apostas compiladas pela Real Clear Politics mostram no último mês uma queda dramática nas expectativas de uma vitória de Joe Biden, o candidato Democrata.

“Há um solavanco perceptível” na volatilidade esperada”, diz Federico Gilly, gestor de fundos da Goldman Sachs Asset Management. Ele estima que as opções estão apontando para uma movimentação de pelo menos 3,5% no dia da eleição. “A volatilidade continuará em alta enquanto não tivermos uma melhor visibilidade sobre o resultado da eleição”, diz.

Jason Goldberg, gestor de portfólio da Capstone, um grande fundo hedge focado em volatilidade, aponta que o próprio índice VIX vem subindo no último mês, batendo nos 26 pontos nesta semana, pouco acima da média de longo prazo. Isso acontece apesar do forte movimento de alta das ações americanas – o oposto do que se poderia esperar normalmente. “Parece haver uma ansiedade crescente”, afirma.

Os contratos futuros mensais do índice VIX tendem a se inclinar ligeiramente para cima, uma vez que normalmente os investidores precisam pagar mais para se protegerem da volatilidade no longo prazo. Mesmo assim, os contratos com vencimento no fim de outubro e novembro estão extraordinariamente caros, sendo negociados a cerca de 33 e 32 pontos, respectivamente.

Esses ágios são consideravelmente maiores do que os registrados na mesma época da disputa presidencial de 2016 entre Donald Trump e Hillary Clinton.

Quatro anos atrás, o índice VIX no mercado à vista estava pouco abaixo de 14 pontos, enquanto os contratos de outubro-novembro eram negociados a 17 a 18 pontos. Nas eleições de 2012, os contratos eram negociados com um ágio de 5 a 6 pontos, e em 2008 foram negociados com um ágio de apenas 3 pontos, apesar da crise financeira.

“Apesar de as eleições, mesmo para presidente, não serem um catalisador confiável da volatilidade no passado, um grande número de classes de ativos já está incorporando nos preços de opções um ‘evento de risco’ historicamente alto”, disse Joshua Younger, analista do J.P. Morgan, em uma nota emitida a clientes.

Os contratos futuros do VIX com vencimento em dezembro e no começo de 2021 estão sendo negociados a um preço ligeiramente menor que os daqueles que vencem por volta das eleições presidenciais, tornando o baque da volatilidade computado nos preços, antes dessa disputa, particularmente notável.

No entanto, Goldberg diz que a volatilidade implícita para o fim do ano ainda é maior que o normal, indicando que os operadores estão se posicionando para a possibilidade de turbulências após as eleições. “O interessante não é o pico da eleição, e sim o fato de ele não cair rapidamente depois da eleição. O mercado está dizendo que poderemos não ter uma eleição limpa”, afirma ele.

Analistas do Bank of America afirmam que a volatilidade implícita no fim do ano poderá ser ainda maior, dada a possibilidade de contestação dos resultados da eleição. Os mercados globais também parecem injustificadamente complacentes , disseram esses analistas em um relatório divulgado na semana passada.

“Os mercados de opções dos EUA estão precificando uma volatilidade elevada para o que seria normal com um resultado tranquilo das eleições, mas estão menosprezando as chances de as eleições se estenderem para além de novembro”, disseram os analistas do Bank of America. “Além disso, acreditamos que as eleições nos EUA poderão afetar também os mercados globais de ações, especialmente no caso de uma contestação do resultado ou de uma possível crise constitucional.”

Por outro lado, os derivativos indicam que os investidores esperam tranquilidade no mercado de títulos do Tesouro americano no desenrolar das eleições. O índice Move – o equivalente ao VIX para os bônus do governo americano – permanece próximo de patamares recordes de baixa, sedados pelo agressivo programa de estímulo monetário do Federal Reserve (Fed).

Analistas do Goldman Sachs afirmam que os investidores em bônus podem estar tranquilos demais, dadas as chances de Biden derrotar seu adversário. Dados históricos sugerem uma maior volatilidade no mercado de Treasuries quando há uma mudança de controle na Casa Branca.

“O mercado parece de certa forma estar menosprezando o risco de mudança na presidência”, disseram analistas do banco em um relatório. “Em relação ao que está precificado, a história sugere que uma vitória de Biden, e mais especificamente a tomada do controle da Câmara dos Deputados e do Senado pelos Democratas, deverá resultar em um período mais longo no mercado de taxas de volatilidade elevadas.”

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