sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Cenário macro benigno pode fazer Brasil emergir mais rapidamente da crise(Ana Botin, FSP, 13 11 20)

 Cenário macro benigno pode fazer Brasil emergir mais rapidamente da crise


sexta-feira, 13 de novembro de 2020 


 

Folha de S. Paulo  / Mercado


Ana Botín


De todas as visitas que fiz ao Brasil até hoje, esta é sem dúvida amais carregada de emoção. Vejo o país imerso em uma situação complexa, sob o fardo de mais de 10% dos casos de Covid-19 do mundo, só atrás de EUA e índia.


O índice de mortalidade, ainda que esteja em linha com os 3% vistos em outros países, representa um número de vítimas a lamentar sob qualquer perspectiva. Nada irá repor essas vidas perdidas.


Ao desembarcar aqui, porém, testemunho mais uma vez a força e a resiliência da população brasileira, que representa uma mensagem de otimismo ao restante do mundo. As iniciativas para mitigar os efeitos da pandemia, com o coronavoucher e as linhas de crédito emergenciais criadas pelo governo e executadas em parceria com o setor financeiro, ajudaram as pessoas e têm permitido a rápida retomada de importantes setores da atividade.


De fora do país é mais difícil entender o efeito positivo que uma taxa de juros estruturalmente baixa pode produzir em uma economia pujante como a brasileira.


Em vez de elevar o custo do dinheiro, como se faz em meio a crises, o BC teve condições de reduzi-la ainda mais. Com acesso ao crédito, empresas preservam empregos, pessoas podem pagar dívidas, consumir e poupar.


Quando os brasileiros compram suas casas - o crédito imobiliário cresceu44% neste ano, entre janeiro e setembro - , várias outras cadeias produtivas se mobilizam, e o impacto social é fantástico.


Esse cenário macro benigno pode permitir que o Brasil emerja mais rapidamente da crise. Vale ressalvar, evidentemente, que, para manter esse ciclo virtuoso em movimento, é fundamental levar adiante uma agenda de medidas que conduzam o país na direção da consolidação fiscal.


Estamos empenhados não só em seguir sendo parte dessa retomada mas em fazê-la acontecer de uma maneira sustentável e inclusiva.


O agronegócio, por exemplo, é uma das áreas em que mais temos avançado. Precisamos apoiar o setor que responde por cerca de 40% das exportações brasileiras. Mas fazemos isso sem abrir mão de revisar anualmente as práticas socioambientais de todos os nossos clientes, de modo a garantir a produção responsável. O mesmo vale para mais de 2.500 grandes empresas de diferentes setores que estão em nossa carteira de crédito.


Esse olhar criterioso também nos levou a participar, desde o início, da criação e do fomento das CBios, que são os títulos gerados na produção de biocombustíveis que as distribuidoras de combustíveis usam para compensar suas emissões. Um mercado que está decolando no Brasil e serve de exemplo para o mundo.


Globalmente, nosso grupo pretende alcançar a cifra de ? 120 bilhões em financiamentos verdes entre 2019 e 2025, e já em 2020 seremos neutros em carbono, compensando todas as emissões de nossas operações. Quem lidera o comitê que trata dessas metas é Sérgio Rial, o presidente do Santander Brasil.


Entendemos que o modo como crescemos é mais importante do que simplesmente avançar. Daí o nosso olhar diferenciado para o microcrédito, que gera riqueza e distribuição de renda para os mais vulneráveis do ponto de vista econômico e social.


Daqui do Brasil, exportamos para outras geografias o nosso Prospera - a maior operação privada de microcrédito do país - e a Superdigital, criada para estimular a inclusão financeira.


Essa expansão nos permitirá apoiar o desenvolvimento de mais de 600 mil empreendedores na América Latina até o fim de 2021.


E os pequenos negócios também serão beneficiados por soluções que estamos trazendo para o Brasil, como a Ebury, empresa de meios de pagamento e transações internacionais que já atua em diversos países.


Com o avanço da Covid-19, aprendemos que, unidos, somos mais fortes. O acordo único que celebramos com Bradesco e ltaú em prol da Amazônia é um grande exemplo da colaboração de que o mundo necessita.


Uma ideia que levarei comigo nesta viagem de volta, assim como a esperança de que, em meio a uma crise sem precedentes, seguiremos trabalhando juntos para construir o futuro que sempre sonhamos.


É fundamental levar adiante uma agenda de medidas que conduzam o país na direção da consolidação fiscal

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