Vivaldo José Breternitz - Home office e inovação: um casamento difícil
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
Correio Braziliense / Opinião
» Vivaldo José Breternitz Doutor em ciências pela Universidade de São Paulo
A Microsoft acaba de publicar os resultados de uma pesquisa que desenvolveu acerca do trabalho na modalidade home office, que no exterior é mais conhecido como work from home, ou WFH. Foram ouvidos nove mil executivos e funcionários de empresas que operam em 15 países da Europa. O número de funcionários se dizendo satisfeitos por trabalhar em casa chegou a 69%, com justificativas como economia de tempo para deslocamento e de dinheiro, por fazer refeições em casa, a possibilidade de uso de roupa informal, de personalizar o ambiente de trabalho, de trabalhar próximo aos seus animais de estimação etc.
Também da parte dos gestores, algumas conclusões esperadas ficaram evidentes, como a possível redução de custos com escritórios. Mas, algumas informações interessantes vieram à tona, como a de que a esperada queda na produtividade dos empregados não aconteceu: 82% dos executivos disseram que a mesma se manteve ou aumentou. Além disso, acreditam que a oferta de oportunidades de trabalho na modalidade WFH será um fator que ajudará a reter seus atuais empregados e atrair novos talentos.
Acredita-se que esses números relativos à produtividade se devem ao fato de os funcionários não terem sua atenção desviada, como no escritório, por movimentos, ruídos e conversas com colegas. Pesquisa de 2019 mostrou que 52% apontavam estas como causas de perda de tempo, número que caiu para 41% após o início da pandemia.
Analisando os resultados da pesquisa, parece claro que as empresas devem, no pós-pandemia, manter políticas flexíveis para trabalho WFH. Essa é também a opinião do professor Michael Parke, da Wharton School da University of Pennsylvania, um dos responsáveis pela pesquisa, que chama nossa atenção para alguns temas mais delicados levantados, entre eles o fato de empregados perderem o senso de propósito de seu trabalho, que é obtido quando mantêm relações próximas com seus colegas e podem entender como suas tarefas se conectam com as de seus colegas e contribuem para que a organização atinja seus objetivos. Trabalhando de casa, fica muito mais difícil estabelecer e manter essas relações, levando os funcionários a se sentirem desconectados de sua empresa e, consequentemente, impactando a capacidade de inovação da mesma.
A pesquisa de 2019 apurou que 56% dos executivos consideravam suas empresas inovadoras em termos de produtos e processos. Esse número caiu para 40% neste ano, fato que se deve, na opinião dos entrevistados, pela impossibilidade da proximidade física e na dificuldade para a realização de brainstormings a distância.
Um recente estudo, conduzido pela HP, chegou a conclusões semelhantes, apontando também queda na lealdade dos empregados à empresa, especialmente no caso de pessoal mais jovem. Aproximadamente a metade dos pesquisados pertencentes à Geração Z, aqueles nascidos a partir de meados dos anos 1990, disseram sentir-se desconectados da cultura da empresa.
Manter talentos que se sentem assim é um desafio crítico para as organizações. Para continuar inovando, fator crítico para seu sucesso, a Microsoft recomenda aos seus gerentes de nível médio que empoderem seus subordinados, dando-lhes tarefas com mais responsabilidade e mais autonomia para tomada de decisões. Isso é mais fácil de dizer do que fazer, já que 60% dos profissionais da Microsoft que ocupam cargos desse nível disseram não se sentir preparados para trabalhar dessa forma.
Teremos tempos difíceis à frente: certamente as coisas não voltarão a ser como eram e, também, não permanecerão como estão. Para garantir seu crescimento e perenidade, as empresas só não podem fazer uma coisa: aguardar o desenrolar dos acontecimentos.
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