Folha de São Paulo (CLÁUDIA COLLUCCI)
30/04/2017
Ao chegar ao setor de hemodinâmica do hospital Albert
Einstein (SP) na última quarta (26) para uma angioplastia, o engenheiro civil
Antonio Sergio Cassavia, 62, estava nervoso. "A gente pensa nos riscos, na
família."
No entanto, ao ouvir os primeiros acordes que saíam das
caixinhas de som da sala cirúrgica, começou a se acalmar. "Foi dando uma
sensação boa de relaxamento, e, quando vi, o procedimento já tinha
acabado", lembra o engenheiro, fã de rock clássico.
"Songs Without Words", de Felix Mendelssohn, e
"Suite Bergamasque", de Claude Debussy, são algumas das músicas da
playlist Clássicos Palpitantes que Cassavia ouviu enquanto um stent era
colocado na sua artéria.
Além de
promover o bem-estar de pacientes e da equipe médica, essa
e outras 19 playlists criadas por profissionais do Einstein, músicos e
curadores da plataforma Spotify têm objetivos científicos.
A
proposta é verificar, por meio de estudos controlados, quais mecanismos
cerebrais são ativados de acordo com a seleção musical usada em diversas
situações clínicas.
As listas
foram criadas a partir do perfil dos pacientes, das sugestões de profissionais
que já trabalhavam com música dentro do hospital e do banco de dados de
usuários do Spotify.
Em três
setores do Einstein, os pacientes já estão acessando as playlists. No banco de
sangue, a pessoa ouve no celular dela, com o próprio fone de ouvido. Na
hemodinâmica, a música é ambiente. O doente escuta a seleção junto com a equipe
médica.
Na
ressonância magnética, ele escolhe a sua lista e a ouve por meio de um fone
especial, acoplado à máquina. "Não pode ter nenhuma estrutura com ferro
porque, nesse ambiente, que funciona um imã, seria sugado. Esse fone transmite
o som pelo ar", explica Ronaldo Hueb Baroni, coordenador médico do serviço
de ressonância magnética do Einstein.
Segundo
ele, de forma empírica é possível perceber que o paciente fica mais calmo
ouvindo música. A literatura médica aponta que até 10% das pessoas sentem
claustrofobia ou outros desconfortos durante o exame.
"Além
da música, lançamos mão de várias ferramentas, como salas com janelas, painéis
fotográficos e máquinas com túneis mais abertos e mais curtos, para tornar o
ambiente mais confortável e mais lúdico", diz Baroni.
A
pesquisadora do Einstein Eliseth Leão, coordenadora dos estudos, diz que, no
primeiro momento, a ideia é que as seleções musicais proporcionem
entretenimento.
Depois,
com os estudos aprovados pelo comitê de ética do hospital, serão investigados,
por exemplo, a associação de diferentes estruturas musicais, como o ritmo, às
respostas fisiológicas.
"Se
você gosta de música erudita e eu de MPB, posso verificar essas estruturas
musicais e avaliar se elas podem ser isoladas do gênero. E poder ofertar uma
playlist mais direcionada para o tipo de desfecho clínico que a gente quer
observar [como relaxamento e menos dor]."
PREFERÊNCIA
MUSICAL
Segundo a
pesquisadora, os desfechos independem da preferência musical. "Já usei
música erudita com os pacientes que tinham dor crônica e que, gostando ou não
do gênero musical, tiveram efeitos benéficos."
Playlist
Hospitalar
No
projeto de pós-doutorado, Eliseth, que é enfermeira de formação, pesquisou o
impacto da comunicação não verbal mediada pela música.
"A
música possibilita um caminho mais afetuoso entre o profissional de saúde e o
paciente. Isso colabora para a humanização do cuidado."
Na
psiquiatria, há estudos que apontam que é possível modular o estado de ânimo do
paciente com o repertório musical. Nas pesquisas com Alzheimer, observa-se que
a memória musical tende a ser uma das mais preservadas.
Um dos
curadores do projeto do Einstein é Walter Lourenção, 87, maestro que já regeu
as orquestras do município e do Estado de São Paulo.
"Estamos
discutindo sobre como deve ser essa música, se tem que ter orquestra grande ou
pequena, cordas, sopros, percussão, a música deve ser lenta ou rápida. Há um
campo enorme de pesquisa."
Lourenção
lembra que os benefícios musicais extrapolam a área da saúde. "Na Itália,
a música vem sendo muito usada na agricultura. As uvas ouvem música; tonéis de
vinho, também."
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2017/04/1879710-einstein-e-spotify-fazem-parceria-para-estudar-efeito-da-musica-sobre-a-saude.shtml@medicina @longevidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.