ALAIN CORBIN, o prazer do historiador
Entrevista concedida a Laurent Vidal
Tradução: Christian Pierre Kasper
RESUMO
Nesta entrevista, Alain Corbin explica
sua paixão pela história, tal como as leituras
e os encontros que determinaram
sua escolha da história das sensibilidades.
Ele detalha algumas das suas grandes
obras, precisa sua definição do campo
das sensibilidades, e evoca os desafios
da biografia dos indivíduos ordinários
em história. Ele insiste sobre a necessária
atenção do historiador ao inatual, ao
insólito e às banalidades do cotidiano.
Palavras-chave: Alain Corbin; Teoria da
história; Sensibilidades.
ABSTRACT
In this interview Alain Corbin explains
his passion for History, the readings
and
encounters that have influenced his
personal trajectory and historiographic
and thematic choices. He comments
some of his main works and
particularizes
his definition of sensibilities, besides
to point out the challenges of writing
the
biography of ordinary people. Corbin
affirms that historians need to turn
their
attention to what is unnatural and
unusual,
to banalities of daily life.
Keywords: Alain Corbin; Theory of
history;
Sensibilities.
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 25, nº 49, p. 11-31 - 2005
Nascido em 1936, na Normandia, Alain Corbin estudou na
Universidade
de Caen. Um de seus então professores, Pierre Vidal-Naquet,
lembra-se: “um
dos meus primeiros alunos foi Alain Corbin, que considero um dos
melhores
historiadores de sua geração”.1 Seu percurso universitário é
uma ilustração desta
brilhante carreira: Lycée de Limoges, Universidade de Tours e,
enfim, Paris,
onde é nomeado professor de história contemporânea na Sorbonne.
De rara erudição, dotado de um estilo de grande qualidade
literária, mostrando
um rigor analítico sem falha, Alain Corbin permanece todavia um
historiador
atípico, cuja originalidade se manifesta pela escolha de objetos
de estudos
inusitados para os historiadores: a história do olfato, da
miséria sexual
masculina, da paisagem sonora, da sensibilidade ao tempo que
faz. Inscrevendo-
se no prolongamento das obras iniciadas por Lucien Febvre,
Corbin define-se como um historiador do
sensível. Vários de seus livros inscrevem-se
nessa veia historiográfica: Les
cloches de la terre. Paysage sonore et culture sensible
dans les campagnes au XIXe siècle (Albin Michel, 1994), Le miasme et la
jonquille: odorat et imaginaire social. XVIIIe siècles (Flammarion, 1986).
Especialista da história da França no século XIX, ficou também
conhecido
por seus trabalhos consagrados à história da paisagem, com
livros clássicos
tais como: Le territoire
du vide: l’Occident et le désir de rivage (Flammarion,
1990), ou, ainda: L’homme
dans le paysage (Textuel, 2001).
Obteve, no ano 2000, o grande prêmio de história da Académie
Française
pelo conjunto de sua obra. Em setembro de 2002, a New York
University
consagrou um colóquio ao estudo de sua obra: “Alain Corbin and
the writing
of history”. Esta entrevista, realizada na Universidade de La
Rochelle, a 21 de
novembro de 2003, diante de um público estudantil, volta-se para
alguns momentos
de seu percurso.
O GOSTO PELA HISTÓRIA
Laurent Vidal:
O senhor pode nos explicar como surgiu seu gosto pela
história?
Alain Corbin: Isso é
difícil... Lembro-me que, quando eu estava no colégio,
gostava da história, mas nunca me questionei. Depois, já na
universidade,
eu me disse: “vou fazer história”. O que aconteceu?
Eu creio, de fato, que isso responde, em primeiro lugar, a uma
curiosidade,
que me parece fundamental: “Estamos aqui. Como eram as pessoas
antes
de nós? Como viviam?”. Essas questões propiciam uma verdadeira
mudança
de ares, e é isso que atiça a curiosidade.Mas, parece-me também,
em segundo
lugar, que é um prazer, que é preciso que a história seja um
prazer.Ouve-se dizer:
“Ah! não gosto de história!”. Não se deve fazer história se não
for com um
grande prazer. Nunca tive a impressão, na minha longa carreira,
de realmente
trabalhar, mas sempre de fazer o que me interessava. Chamava-se
isso, na época
clássica, o otium, o lazer cultivado. E eu não lamento essa escolha. Essa
curiosidade
com relação à história não se esgota, pelo contrário.
Penso também que os lugares, as tradições e a educação influem
nisso:
eu sou oriundo do campo, do bocage
normando, cuja paisagem formiga de
igrejas, de abadias, de testemunhos do passado... É possível que
essa inclinação
para o passado da região na qual eu cresci tenha favorecido o
interesse
Entrevista
12 Revista Brasileira de História, vol. 25, nº 49
pelo passado. Seria preciso fazer estudos sobre a origem
geográfica dos historiadores.
LV: Há, contudo, leituras que
o marcaram durante sua formação de historiador?
AC: Sim, mas isso já faz muito
tempo. É necessário, em primeiro lugar,
precisar que eu entrei na faculdade em 1952, há mais de meio
século. Naquela
época, a historiografia era muito menos rica do que hoje. Não
havia livros
de bolso, por exemplo. Não havia manuais impressos para os
estudantes do
ensino superior. Na época, já se falava em Fernand Braudel. O
professor que
nos falava dele era, de alguma forma, um fanático dos Annales. Fernand
Braudel
representava sua vanguarda, assim como, aliás, Lucien Febvre.
Febvre, cujos
artigos acabavam de ser agrupados sob o título Combats pour l’histoire.
Todo aquele campo que foi chamado de história das mentalidades —
ainda
que ele mesmo não o chamasse sempre assim: história das
sensibilidades, psicologia
histórica... É essa grande corrente de psicologia histórica que
percorre
a historiografia francesa desde Michelet. Lembro que, em meu
grupo de
amigos, estudantes de história, dizíamos um ao outro: “Oh, é
isso que precisamos
fazer, a história psicológica, a história das mentalidades, a
história da
sensibilidade”. Ora, naquela época havia uma concorrência forte
da história
quantitativa. São os anos em que Pierre Chaunu inventa, aliás, a
expressão
‘história serial’, e em que, sob a influência de François
Simiand, faz-se muita
história quantitativa. A grande escola dos Annales dividiu-se
então em duas
correntes: há aquela de Lucien Febvre e Marc Bloch, com — como
descendentes
— Duby,Marrou, Dupront etc.; e uma história mais quantitativista e
serial, com, por exemplo, Le Roy-Ladurie ou Chaunu.
LV: Houve encontros que, na
sua formação de historiador, também contaram?
AC: Evidentemente. Uma coisa
me impressiona muito: é que freqüentemente
os professores são julgados dez ou vinte anos depois. Isto é,
não se mede
sempre a contribuição de tal ou tal professor. Tive professores
dos quais
gostei muito: um professor de história da Idade Média, por
exemplo, aquele
que nos ensinava os Annales, ou, então, no campo da história antiga, um jovem
assistente que tinha apenas quatro ou cinco anos de carreira:
Pierre Vidal-
Naquet, com o qual mantenho forte amizade.
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Gostaria de dar um exemplo. Havia um professor de história da
Revolução
Francesa,Marcel Reinhard. Eis como dava suas aulas: primeira
meia hora,
uma narrativa, uma pilhagem ou um incêndio de castelo, por exemplo,
na
época do Grande Medo. Em seguida, ele retomava aquela história
de pilhagem
para tentar ver o que ela podia fornecer do ponto de vista
historiográfico.
Aquilo não nos agradava muito. Pensávamos no exame. Tínhamos a
impressão
de que não havia muito a retirar do relato da pilhagem, e que
seríamos
reprovados. Com o tempo, me dei conta de que sua maneira de
proceder era
extremamente rica, misturava o concreto, o efeito de realidade,
com a análise
das lógicas de comportamento: aquilo era extremamente forte.
Creio que tudo
que é da ordem da experiência humana é útil para o historiador,
mesmo
se essa experiência deriva de narrativas.Mais vale termos o
maior número de
experiências humanas possíveis na existência, quando nos
pretendemos historiador:
isso facilita a adoção de uma ótica compreensiva com relação às
pessoas
do passado.
LV: O senhor falava, há pouco,
de duas correntes dos Annales. Gostaria
justamente de evocar sua tese e seu percurso entre a escolha do
assunto e a
publicação da tese. Parece-me que isso ilustraria, talvez,
justamente a passagem
de uma corrente para a outra. Começar com um estudo de história
serial,
estudo dos preços, das rendas sobre “le Limousin et les Limousin
au XIXe siècle”,
e chegar a um resultado talvez mais próximo das preocupações da
antropologia
histórica com aquele título Arcaísmo
e modernidade, onde o senhor
fala dos migrantes, dos sedentários, e daquela descoberta da
organização da
sociedade em torno desses dois grupos.
AC: É preciso dizer que na
época, quando se queria estudar uma região,
era necessário dirigir-se ao ‘ditador’, se posso assim dizer,
isto é, ao grande
historiador Ernest Labrousse, que, de Paris, distribuía os
territórios franceses
como se fossem prefeituras. Georges Dupeux tinha trabalhado
sobre o Loiret-
Cher,2 André Armengaud sobre a Aquitânia. Havia ainda uma dezena de
teses em andamento. Então fui lá, timidamente. Era o final dos
anos 50. Eu
tinha acabado de ser nomeado no Liceu de Limoges. Labrousse não
estava interessado
— “mas eu vou encaminhá-lo para um professor de história
econômica
de Clermont-Ferrand que vai se encarregar de você”. Fui então
orientado
por um professor de história das técnicas e da economia:
Bertrand Gille.
E o importante é saber que aquelas teses ditas “labrousseanas”,
que cobrem
ao menos um terço do território francês, eram fundadas na
convicção de que
Entrevista
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era preciso estudar as infra-estruturas, a economia, notadamente
as rendas, e
depois estudar a sociedade para chegar, finalmente, às atitudes
políticas e a
uma história das mentalidades. Do porão ao sótão, de certa
forma. Então eu
comecei.Mas no Limousin, nada funcionava. Como calcular a renda
de um
camponês daquela serra, que vivia em parte de castanhas, de
caça, que tinha
uma horta, que pescava? Tudo isso era dificilmente
quantificável.
Então, passados dois anos, o professor Bertrand Gille disse-me: “Você
sabe,
desta maneira não vai chegar muito longe”. Depois, como ele era
professor
de história das técnicas, me disse também: “eu vou lhe dizer o
que o emperra;
é que aquelas administrações não tinham muito papel, e os
funcionários
mal dominavam a escrita e a leitura, então, todas essas
estatísticas, eu não
acredito muito nelas”. Isso me levou a uma mudança de rumo e a
me interessar
pelo que, de fato, me agradava mais: o comportamento biológico —
a alimentação,
a história cultural, a escola, as formas da miséria, a reação à
miséria,
enfim, todas aquelas séries de coisas que foram reagrupadas sob
o título
de antropologia histórica. Abandonei, então, grande parte
daquele modelo
labrousseano, para me interessar por este outro problema: “Por
que, desde a
Segunda República, desde o início do sufrágio universal, os
Limousins votaram
sempre na esquerda?”. Eu queria encontrar as chaves, as raízes
dessa atitude:
a migração temporária para Paris, da qual você falou, a
estrutura social,
a fraqueza da nobreza, a influência dos homens da lei, a
estrutura familiar,
enfim, toda uma série de chaves, de validade limitada, pois, com
o tempo,
acredito cada vez menos nas explicações mecanicistas na
história.
A causalidade é tão complexa nos fenômenos históricos que eu não
acredito
mais no velho plano: “as causas, os fatos, as conseqüências”.
Tomemos a
Primeira Guerra Mundial: não creio absolutamente que se possa,
no estado
atual das coisas, e até no futuro, explorar a extrema
complexidade dos mecanismos
que desencadearam uma tal aventura. Permaneço, portanto, muito
cético com relação a esse método, mas não quero lançar confusão
sobre o auditório.
O HISTORIADOR E A DISCREPÂNCIA
DAS SENSIBILIDADES
LV: Passemos da tese para uma
pequena seleção de sua obra, para que o
senhor nos esclareça certos aspectos de sua abordagem. Comecemos
com A
aldeia dos canibais.3 Como o senhor chegou àquele
linchamento público na
aldeia de Hautefaye, e em que momento veio essa intuição de que
era preciso,
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justamente, tentar explicar não as causas, mas antes o sentido
daquela atitude
da população?
AC: Escrevi aquilo em
1989-1990. Foi, portanto, 30 anos depois do que
estávamos comentando até agora. Quando eu trabalhava sobre o
Limousin,
tinha ouvido falar daquela aventura de Hautefaye, porque é bem
perto. O
Nontronais se parece muito com o Limousin: é, de certa forma, um
pedaço
do Limousin colocado na Dordogne. Portanto, eu me havia
interessado por
aquele caso... E 30 anos mais tarde, pensei que havia aí alguma
coisa curiosa:
nosso conhecimento sobre aquele acontecimento remete a uma
atitude bastante
grave, a meu ver — a prática da história teleológica. Explico.
Fez-se uma
história do século XIX em função de sua conclusão, em função do
que aconteceu.
A República triunfou. Então, já que a República triunfou, a
inclinação
natural consiste em analisar o conjunto do século XIX como
aquele da marcha
para a República, do triunfo da República. É uma forma de
história que
se poderia chamar de genealógica — perfeitamente legítima, aliás
—, que pretende
encontrar as raízes de um fenômeno.Mas o risco dessa história é
o de
fazer perder a realidade da substância daquele século. Chegou-se
a esquecer
que o século XIX, na França, é um século dominado pela presença
de soberanos.
Se você adicionasse todos os reinos dos reis e dos imperadores,
isso ultrapassa,
e muito, os momentos republicanos.
O caso de Hautefaye parecia-me apontar esse perigo, essa
complexidade,
por tratar-se de uma revolta de camponeses que atacam aqueles
que pensam
ser republicanos. Então, o que me interessava era buscar a
lógica de cada um
dos atores daquela aventura, e creio que é um método histórico
extremamente
frutífero quando se faz uma história do acontecimento. Em vez de
procurar
pelas causas, buscar colocar-se na pele dos atores, e
reconstituir a lógica
de cada um deles, ou de cada um dos grupos envolvidos, para
melhor entender,
em seguida, o enfrentamento e os resultados. Tudo isso funda-se
sobre a
análise dos sistemas de representação do mundo, de representação
do além,
do outro, do animal, do vegetal, do humano etc., para entender
como o texto
que se tem debaixo dos olhos pôde se formar.
Eu queria, então, tentar me colocar na pele daqueles camponeses
para
entender sua lógica.Mesmo que ela nos pareça totalmente
aberrante. E, em
paralelo, eu precisava tentar desvendar o sistema de
representação das elites
de Périgueux ou de Paris, frente a esses atores cujo gesto eles
não entendiam.
Creio, portanto, que aquela aventura sangrenta foi, antes de
tudo, fruto de um
Entrevista
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choque de representações do mundo e da política, e de uma
incompreensão
recíproca.
Podemos tratar de muitos acontecimentos desta maneira, mas
aquele
possuía outras dimensões de real interesse para o historiador:
mostrava que,
com relação à violência e ao homicídio, havia limiares de
tolerância que eram
diferentes segundo as categorias sociais — é sempre o caso.
Testemunhava
também fenômenos de inércia na história: em Hautefaye, formas de
sensibilidade
tinham sobrevivido, de alguma forma, à evolução do século XIX,
que
se caracterizava por uma intolerância crescente com relação ao
massacre.Creio
que é também algo importante. O que define a história cultural?
De certa forma,
os indivíduos que vivem um mesmo período não são contemporâneos.
A história cultural é feita de recobrimentos, de sedimentações,
de inércias, isto
é, não se sente as mesmas coisas, segundo uma série de
critérios: o sexo, a
idade, a categoria social, o local geográfico, a tradição, ou a
cultura que se recebeu.
O historiador da cultura deve sempre tentar entender essa
complexidade,
essa simultaneidade de atitudes muito diferentes segundo os
indivíduos
e segundo os grupos. E o caso de Hautefaye, que é, afinal, um
caso muito pequeno
— salvo para aquele que foi assado —, tem o mérito de poder
evidenciar
que aquelas pessoas não tinham, de forma alguma, a mesma
sensibilidade:
uns toleram o que outros não toleram.
LV: O senhor citou várias
vezes este termo, ‘sensibilidade’, e vamos falar
sobre ele. O senhor conhece certamente esta frase de Proust: “uma
hora não é
uma hora, é um vaso cheio de perfumes, de sons, de projetos e de
climas”. E
eu acho que se poderia colocá-la de epígrafe para apresentar sua
obra: Le miasme
et la jonquille, odorat et imaginaire social,4 Le désir de rivage,5 Les cloches de
la terre: paysage sonore et culture sensible.6 No livro de entrevistas com Gilles
Heuré, é sob o título de “historiador do sensível” que o senhor
se apresenta
ou é apresentado.7 Pode nos explicar, tomando, talvez, o exemplo de Le miasme
et la jonquille,
o que é um historiador das sensibilidades?
AC: Eu já mencionei a
necessidade, para o historiador, de tomar como
ponto de partida a maneira como as pessoas que se estuda
representavam-se,
e de entender a coerência de suas representações. Você reparou
como a quase
totalidade das revistas que se encontram nas bancas tratam da
mesma trilogia:
sentimento, paixão, emoção? E quando você consulta os trabalhos
dos
historiadores, há bem poucos estudos sobre a emoção, o
sentimento e a paixão.
Ora, Lucien Febvre, desde 1938, admirava-se: “não temos uma
história
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do amor ... não temos uma história da alegria”,8 e ia enumerando toda uma
série de sentimentos. No seu livro sobre l’incroyance au XVIe siècle,9 ele consagra
um capítulo à maneira como os franceses daquele tempo sentiam. E
nota
que, desde aquela época, assiste-se a um processo de
racionalização que poderia
ser comparado com o processo civilizador do qual fala Norbert
Elias,10
segundo o qual os sentidos, tais como o olfato, recuaram com
relação aos sentidos
julgados nobres desde Platão: a visão e a audição. Apelava,
portanto, para
uma história da utilização dos sentidos, da sensibilidade, e da
balança estabelecida
entre os sentidos, das correspondências eventualmente
estabelecidas
entre eles. Tudo isso forma uma antropologia sensorial
histórica. Ele não foi
seguido. Certamente, Robert Mandrou, no seu livro L’introduction à la France
moderne11 retoma o projeto de Lucien Febvre neste campo.Mas essa abordagem
foi muito pouco desenvolvida.
Ora, já que você fala do Miasme
et la jonquille, havia, parece-me, uma
expectativa
social muito forte. Se esse livro teve tanta repercussão, é — eu
não
me iludo — por causa do romance de Patrick Süskind, Le parfum.12 Süskind
inspirou-se no meu livro para escrever seu romance. O que tinha
chamado
muito minha atenção ao redigir o livro precedente, dedicado à
prostituição
(Les filles de noce),13 é que quando se descreve a Paris do século XIX, as prostitutas,
seus locais de atividade etc., as ocorrências olfativas são
extremamente
numerosas. Havia aí algo de surpreendente. Lucien Febvre nos
deixa entender
que o olfato tinha regredido: ora, depois da Revolução, a
medicina
clínica, então em expansão, dá muita atenção à observação
sensorial. Olhase,
escuta-se, às vezes cheira-se o doente. É possível também que a
Revolução
tenha destruído uma harmonia das ordens sociais, e que a
necessidade de vencer
a opacidade do social, das profundezas sociais e dos alicerces
sociais em
Paris, tenha levado a valorizar a ocorrência olfativa.
Eu quis estudar isso. Parece-me que eu mostrei que “o imaginário
social”
— é o subtítulo do livro —, isto é, as maneiras pelas quais se
representa o outro,
deve muito à olfação. Intitulei um dos capítulos como “O fedor
do pobre”.
As elites esforçam-se em desodorizar, em não deixar a
perspiração, isto
é, o odor do eu, transparecer — era o assunto de Süskind. Não é
o caso do
povo, que costuma ser visto sob a forma de uma ameaça — como o
tinha mostrado
Louis Chevalier.14 A olfação, por si só, permite detectar o pobre: os médicos
pensam então que as doenças são transmitidas, não pelo
contágio,mas
pela infecção — sobretudo da água e do ar. Na perspectiva dessa
medicina infeccionista,
o olfato serve para designar os perigos: perigo da fermentação
dos
alimentos, da podridão das carnes, do confronto com o outro,
que, justamen-
Entrevista
18 Revista Brasileira de História, vol. 25, nº 49
te, cheira mal. Esse processo de distinção social pela
desodorização me pareceu
essencial para entender a sociedade do século XIX. Veja o Germinal de
Zola: a mulher do grande patrão quer abrir as janelas depois da
visita de uma
delegação de operários. Seria isso, então, a história das
sensibilidades: identificar
a utilização dos sentidos que permitiu construir imagens do
outro, dar
forma ao imaginário social.
LV: Continuemos este passeio
pela sua obra, sem respeito pela ordem
cronológica. Há uma investigação coletiva que o senhor conduz
sobre o advento
dos lazeres,15 que cruza, ao que parece,
com a história das sensibilidades
e a história das sociabilidades.
AC: Sim, mas neste caso,
tratava-se de uma encomenda: é, portanto, um
pouco diferente.Mas creio que é um outro aspecto muito
interessante de se
estudar. O sociólogo Georges Gurvitch tinha proposto análises
extremamente
precisas da multiplicidade dos tempos sociais.16 Cada sociedade vive no
interior
de um arcabouço temporal, e mesmo, cada indivíduo. Vivemos em
sociedades,
digamos, cristãs, para as quais o tempo não é cíclico: o tempo é
linear
e se organiza na espera do retorno do Cristo. Contamos, portanto,
os anos
desde a presença do Cristo. Se fôssemos hindus, não seria a
mesma coisa.Gurvitch
já havia mostrado que o tempo da nobreza não era o tempo da
burguesia
— ainda no século XIX —, apesar das misturas. É, para a
burguesia, um
tempo da poupança e da construção do patrimônio, que não é
aquele da dissipação
aristocrática. As profissões, também tinham sua própria
temporalidade:
assim, os pescadores não tinham a mesma relação com o tempo que
os
empregados de escritório. Aí está um objeto histórico
interessante, que nos
remete à história das sensibilidades.
O século XIX é marcado pela aprendizagem dos tempos curtos. Você
está
acostumado agora com os centésimos de segundo, especialmente por
causa
das performances esportivas. Ora, o século XIX fez a aprendizagem do minuto,
quer dizer, da precisão. Em muitos textos que tinha estudado
para
escrever Les cloches de
la terre, dizia-se: “isso durou o
tempo de um Pater”, isto
é, da oração “Pai nosso”, ou “isso durou o tempo de uma Ave”, o
que deve
significar entre três e cinco minutos.
É preciso também levar em conta um outro fenômeno que toma forma
naquela época: a laicização do tempo. O minuto de silêncio é um
exemplo de
rito laicizado. Tomemos o debate que se desenrola hoje em torno
da supressão
de um feriado. Eu tinha, na ocasião das cloches de la terre,
reencontrado
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uma carta de Portalis ao primeiro cônsul: havia festas demais,
segundo ele,
feriados demais. Estuda, então, a questão e conclui: “importa é
que o povo
trabalhe”. E, em função desse axioma, decide reduzir para quatro
os dias de
festas conservados: Todos os Santos, Natal, Ascensão, Assunção.
Elimina, assim,
toda uma série de festas religiosas. Hoje — veja, quando eu
falava em arcabouço
temporal — existem festas laicas que vieram se enxertar: as duas
vitórias,
se podemos assim dizer — 11 de novembro e 8 de maio —,17 o dia do
trabalho — que se confunde com a antiga festa de Louis-Philippe —
e o Primeiro
de Janeiro. E como havia festas religiosas muito importantes,
como a
Páscoa e o Pentecostes, juntou-se a elas a segunda-feira
seguinte. Temos, então,
hoje, quatro festas religiosas conservadas, quatro festas
propriamente laicas,
e dois dias adjuntos a festas religiosas. Nosso arcabouço
temporal dos feriados
é assim majoritariamente referido à religião. Mas se você
perguntar
para as pessoas, na rua, o que é a Assunção, você talvez não
receberá muitas
respostas, e pouco mais sobre o Pentecostes.
O arcabouço temporal de nossas sociedades é assim marcado pela
vitória
progressiva de um tempo monocrômico. No século XIX, um artesão
pode
ser interrompido: vem-se buscá-lo, vai fazer outra coisa, volta,
e assim por
diante. Hoje, isso não parece mais imaginável. Os tempos são
mais determinados.
A aritmética dos dias é muito mais nítida. Lembro que nós
queríamos
fazer, com Michelle Perrot, uma investigação sobre o nascimento
da agenda.
Você não se dá conta de quanto isso foi importante, porque agora
todo mundo
tem uma. Quando comecei como professor do secundário, eu não
tinha
agenda: havia memorizado minhas horas de aula na semana, não
marcava horas,
e se eu devia jantar com amigos, lembrava que era na sexta ou no
sábado.
Hoje, parece absolutamente impensável viver sem agenda: tudo
desaba. É uma
prova da força do tempo determinado.
É, portanto, em razão de todas essas questões que eu pensei ser
talvez interessante
coordenar um livro sobre o advento dos lazeres, porque esse
advento
é evidentemente muito ligado às modificações do arcabouço
temporal.
Existem dois modelos de lazer, dos quais, aliás, ainda não
saímos. Há o modelo
do lazer cultivado, o otium
antigo. Jean-Pierre Chaline bem mostrou que,
no século XIX, numerosos médicos, magistrados, subprefeitos, não
tinham
muito que fazer.18 Ser burguês, nos diz Chaline, não é tanto ter muito dinheiro,
é dispor de seu tempo, ter o domínio de seu tempo. A partir daí,
faz-se o
que se quer: pode-se ir para as reuniões da sociedade de sábios,
ser eleito vereador,
praticar a filantropia e cultivar-se: conversação, meditação
filosófica
etc. É o otium antigo de Cícero e Sêneca, por exemplo. Há, também, o tempo
Entrevista
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de lazer consagrado à recriação da força de trabalho: aquele que
trabalha o
tempo todo deve parar absolutamente, porque está esmagado. Esse
é o domingo
desejado pela Igreja, e que suscitou tantos debates no século
XIX.
Esses modelos continuam postos hoje, e deslocou-se para o
trabalho toda
uma série de atividades que não eram consideradas como tais no
século
XIX. Pois aqueles indivíduos que praticavam o otium antigo eram freqüentemente
muito ocupados. As damas de caridade cumpriam o que seria para
nós
trabalho social; o trabalho intelectual é uma noção do século
XX: Montesquieu
certamente não se considerava como trabalhador intelectual, e,
no entanto,
deus sabe como trabalhava na sua biblioteca! Tomo esses dois
exemplos,
mas há toda uma série de outras maneiras de viver que caíram na
esfera
do trabalho e que não lhe pertenciam antes. Isso nos remete para
o domínio
das representações do tempo e das representações de si.
Tomemos um outro exemplo, concernente ao século XX: a
necessidade
absoluta da previsão. Lembro-me que, quando eu preparava minha
tese, à
noite, ao sair dos arquivos, passava diante da Ópera, e, se
aquilo me interessava
(“ah, é Mozart”), pegava um ingresso e entrava. Agora, é preciso
reservar
com três meses de antecedência, no mínimo. A mesma coisa para
uma exposição.
Lembro-me que, durante meus primeiros anos de professorado, eu
pegava
meu “2CV” ou meu “3CV”,19
e partia ao acaso para a Europa central, para
a Turquia etc., e à noite procurava um quarto de hotel, sem ter
preparado
absolutamente nada. Isto me parece quase impossível hoje: a
necessidade de
previsão limita nossa liberdade. É mais um exemplo de fenômenos
que concernem
à história do tempo.Mas, então, como se livrar disso — você vai
me
perguntar — como reencontrar a liberdade? É difícil imaginar-se
completamente
desconectado da sociedade.
LV: Thierry Paquot evoca
justamente uma arte de resistência a esse tempo
imposto, a esse tempo mercantil: a arte da sesta.20
AC: A sesta, sim.Mas me
permita um outro exemplo. Nos meus tempos
de estudante, era possível sair para dançar às nove da noite.
Hoje, isso parece
estapafúrdio. O horário recuou continuamente: dez horas,
meia-noite, uma
da manhã. Inversamente, se um de seus amigos diz: “Organizei uma
festa formidável,
você vem?” — “Quando?” — “Às nove da manhã”, isso vai parecer
uma total incongruência.Você não pensa que será possível
divertir-se, de qualquer
maneira que seja. Da mesma forma, surgiu o hábito de mudar de
boate
ao longo da noite. Na minha geração, ficava-se no mesmo lugar. Agora,
em
Alain Corbin • o prazer do historiador
Junho de 2005
21
Paris, pelo menos, é preciso mudar de lugar.Mal chegamos a um
lugar, temos
de ir para outro. Véronique Nahoum-Grappe chega à conclusão de
que talvez
o grande momento da noite acontece quando não estamos mais nem
em um,
nem em outro dos lugares escolhidos, mas justamente durante um
dos deslocamentos.
Tudo isso faz parte do arcabouço temporal. Simone Delattre
escreveu
um livro — As doze horas
negras21—para estudar a invenção do
noctambulismo.
É mais um grande fenômeno histórico do século XIX. Todos esses
exemplos estão, portanto, no coração da história do tempo, que
constitui um
campo de pesquisa a ser ainda explorado.
VIAGEM AO DOMÍNIO DAS SOMBRAS
LV: Tomemos um outro livro,
sobre o qual o senhor foi levado a se explicar
longamente: Le monde
retrouvé de Louis-François Pinagot: sur les traces
d’un inconnu (1798-1876) [O mundo reencontrado de Louis-François Pinagot:
no rastro de um desconhecido].22 Sua intenção era conduzir
uma pesquisa sobre
“a atonia de uma existência comum”.O senhor explica, na
introdução, que
passou muito tempo, a partir de 1995, a identificar um indivíduo
que não deixou
nenhum vestígio no curso de sua existência — um tipo de novo
soldado
desconhecido, em suma —, para “apoiar-se sobre o vazio e o
silêncio a fim de
aproximar um Jean Valjean que nunca teria roubado pão”. E, para
isso, o senhor
propõe usar uma técnica, que é a técnica cinematográfica da
câmera
subjetiva para recriar “o possível e o provável, esboçar uma história
virtual da
paisagem, da sociedade habitual e dos ambientes”. O senhor
aceitaria voltar
novamente a essa experiência?
AC: Trata-se, efetivamente, de
uma experiência. Entrei pela primeira vez
em arquivos em 1956, e você está falando de 1995, ou seja, 40
anos depois:
você sabe que não se pode fazer sempre a mesma coisa — seria
maçante. E se
a gente não se dá prazer, está perdido. Como a idéia me veio?
Foi no departamento
da Orne, no pequeno município de onde vem minha família: entro
um dia no cemitério, e vejo que metade dos túmulos tinham sido
destruídos
por um trator. Tive medo, em primeiro lugar, que túmulos que me
dizem respeito,
aqueles de meus antepassados, fizessem parte do lote. Não era o
caso.
Mas pensei, mesmo assim: aqueles túmulos, eu os via com minha
avó quando
era pequeno, e agora estão destruídos. Não sobrou nada deles,
ora, não
eram tão longínquos aqueles que estavam enterrados aí. Fui então
levado a
Entrevista
22 Revista Brasileira de História, vol. 25, nº 49
uma meditação sobre o desaparecimento. Quase dei este nome ao
livro: “Viagem
ao domínio das sombras”, como Virgílio indo aos infernos! Nossos
bisavós
— conseguimos apreender. Tataravós — começa a ficar complicado.
E, se
for o caso de ir mais além, você não sabe mais sobre seus
antepassados do que
sobre as pessoas da pré-história: estão desaparecidos,
definitivamente. É o que
leva tantas dezenas de milhares de genealogistas aos depósitos
de arquivos.
Vão reencontrar avô, bisavô, desse jeito eles conseguem voltar
no tempo, mas
só obtêm nomes. Quis, então, tomar um daqueles e tirá-lo da
sombra. Uma
ressurreição, em suma. Mas você sabe que eu fui criticado, a
esse respeito?
Lembro-me de uma estudante de mestrado que me retorquiu, eu não
tinha o
direito de fazer aquilo: “não tenho a menor vontade de que,
daqui a 150 anos”
me disse, “alguém venha me buscar assim”.
O que fazer, então? O melhor, pensei, é talvez ir aos arquivos e
proceder
ao acaso. Tinha achado isso divertido. É fácil deixar agir o
acaso: nos arquivos
da Orne, em Alençon, estão conservados os registros de estado
civil, por
município. Você não olha, coloca o dedo sobre um nome: “zás!
pronto”. Caio
sobre o pequeno município de Origny-le-Butin. Era perfeito.
Quatrocentos
habitantes na época, 250 hoje. Há, aliás, só — ou quase —
parisienses que
compraram casas de campo no município. O mais engraçado é que os
arquivistas
haviam pedido que eu preenchesse uma ficha de inscrição: “sobre
o que
o senhor trabalha? — Não sei, mas vou lhe dizer daqui a quinze
minutos”. Então
pedi as tabelas decenais — casamentos, óbitos etc. — e escolhi
três nomes.
Um morreu com vinte e poucos anos, portanto não me interessava.
E
havia aquele Louis-François Pinagot, que viveu 76 anos e que
tinha atravessado
o século, praticamente. Pensei: “é ele”. Não se toma uma tal
decisão sem
emoção: “Agora vou trabalhar — quanto tempo, não sei, sem dúvida
vários
meses —, sobre esse senhor que estava ali, completamente
adormecido”. E
não conseguia me impedir de pensar: “se há uma outra vida e eu a
encontrar,
será surpreendente”. Procurei, portanto, tudo que eu poderia
saber.
Mas há uma outra razão que me levou a fazer aquilo. Tinha
participado
da História da vida privada23 em 1986 e escrevera então
duzentas páginas sobre
o íntimo. Alguém tinha me dito que só falava do íntimo das
elites. Das
elites... certamente, porque não se pode estudar a intimidade, a
vida privada,
senão daqueles que deixaram alguma escrita de si (um diário
íntimo, correspondência,
uma autobiografia), ou daqueles que foram objeto de uma
descrição
muito precisa por parte de observadores. Podemos imaginar um
grande
homem que não deixou uma escrita de si, mas de quem se falou
tanto, de
quem se fizeram tantos retratos, que podemos penetrar sua
intimidade.Mas
Alain Corbin • o prazer do historiador
Junho de 2005
23
são quantas, essas pessoas? Aquelas críticas eram idiotas,
porque não podemos
fazer as coisas de outro jeito: fora esse talvez 1% de pessoas
que deixaram
uma escrita de si, o desaparecimento é irremediável. E eu queria
mostrálo
com o exemplo de Louis-François Pinagot. Portanto, procurei
realmente, e
encontrei muitas coisas: “ele media tanto”, “casou tal dia”, “teve
tantos filhos”,
“tinha uma vaca”, “votou”, “não votou”, “absteve-se em 1848”...Vasculhei
tudo
isso.Mas seus sentimentos, suas emoções, suas paixões: nada. E é
o caso de
99% das pessoas do século XIX.
Lembro que eu participava de uma reunião com Jacques Le Goff, no
curso
da qual ele disse que, no que diz respeito à Idade Média, há, no
máximo,
quatro pessoas que podemos conhecer um pouco: São Luiz, de quem
ele fez a
biografia, Frederico II, o imperador, e, não me lembro, talvez
São Bernardo.
Temos biografias de outros personagens, de Clóvis, por exemplo,
mas é como
com Louis-François Pinagot: fala-se de todo tipo de coisas em
torno dos problemas
do reino, mas sua intimidade, não se penetra nela. É o que
tentei mostrar.
Já que não se pode fazer um livro com indicações do tipo “ele
media tanto,
tinha tanto etc.”, pensei que era talvez a ocasião de
ressuscitar o que havia
à sua volta. Podemos, por exemplo, começar pelo judiciário: é
interessante, a
justiça de paz, o tribunal de polícia. Procurei por toda parte:
aquele coitado
não fez nada. Isto é, não se embebedou uma vez na vida, senão eu
o teria visto,
porque ele não se mexeu. Não roubou galinhas, não cortou lenha
na floresta,
enquanto seu pai foi pego nove vezes, suas primas também. Ele
não. Eu
não o fiz de propósito. Fui ver no seu lugarejo da Basse Frêne.
Encontrei os
vizinhos, os quais tiveram histórias. Você falava em câmera
subjetiva: é justamente
isso. Eu não conheço Pinagot, mas posso ver o que ele via. Eu
quis me
colocar no lugar dele. Então fui a pé até sua aldeia: percebi
que a Basse Frêne
ficava a um quilômetro e oitocentos metros da cidade, que era
uma descida,
o que não é indiferente. E na cidade, fui ver o que tinha. Ele
casou sua filha
com um alfaiate. Ele fabricava tamancos, eu vi onde eram as
lojas daqueles
trabalhadores da floresta. Pude assim reconstituir o mundo reencontrado de
Louis-François Pinagot.
Não pretendo que seja um método a ser utilizado. Dito isto,
encerrei, na
minha rede de historiador, Pinagot e seu mundo. Se tomarmos 25
Louis-François
Pinagot e 25 “mundos” daquelas pessoas num pequeno cantão ou num
quarto de cantão, vamos acabar por conhecer aquele cantão e as
pessoas que
ali viviam, talvez melhor de que pelo viés da história
labroussiana, da história
somente quantitativa.
O fato é que, quando estuda a história da vida privada e a
história do ín-
Entrevista
24 Revista Brasileira de História, vol. 25, nº 49
timo, o historiador é condenado a evocar apenas pessoas que
praticaram a escrita
de si, ou que foram colocadas sob uma luz particular, seja da
polícia, seja
do confessor, seja do médico.
LV: Esse trabalho sobre
Louis-François Pinagot coloca, com efeito, a questão
do indivíduo: como o historiador pode apreendê-lo?
AC: Em massa. A história
social apreende-o em massa. Ela deduz. Não é
nem a história da singularidade, nem a história da
subjetividade. Acho que os
historiadores praticaram por impostura. Deixaram acreditar que
podiam fazer
uma história do povo, daquelas pessoas que não tinham deixado
vestígios.
Mas é preciso, contudo, ter a coragem de dizer que não se pode
fazer a história
daquilo, mas uma história em massa: calcular taxas de
natalidade, de nupcialidade,
de mortalidade etc., tudo que encontrei para Louis-François
Pinagot.
Mas não se penetra absolutamente nas mentalidades. É
evidentemente
prático para os historiadores: isso facilita as declarações
peremptórias. O problema,
para o historiador, é de detectar, e não de decretar. Ora, eu
vivi uma
história social que era em grande parte decretada. Decidia-se
que as massas
eram assim, mas nada o comprovava. Por exemplo, não sei nem um
pouco
em que votou Louis-François Pinagot. Evidentemente, podemos
saber quanto
houve, no município, de sim e de não.Mas além disso, não se pode
saber.
Mas talvez não seja interessante fazer uma história do
indivíduo.
OS DESAFIOS DO INATUAL
LV: Tomemos um outro tema
sobre o qual o senhor se debruçou longamente:
o inatual. Em Les
cloches de la terre, o senhor diz “que convém
dar uma
atenção particular ao inatual, ao insólito, ao que é decretado
irrisório. Sem
dúvida, é preciso tentar um estudo da gênese da insignificância,
depois da
evolução e da difusão das formas da incompreensão”. O senhor
pode precisar
o que é o inatual para o historiador?
AC: Essa noção recobre dois
aspectos bem distintos. Há, em primeiro lugar,
o velho problema,muitas vezes enfatizado por Lucien Febvre, do
anacronismo
psicológico, que consiste em projetar na mente das pessoas que
estudamos
nossa própria maneira de ver o mundo. Isto coloca, por exemplo,
o
problema da legitimidade da biografia. Gostaríamos de pensar que
aquelas
Alain Corbin • o prazer do historiador
Junho de 2005
25
pessoas eram “irmãos de inquietudes”, para retomar a bela
fórmula de André
Maurois. Eu também poderia ter estado perto de Cleópatra: teria,
então, me
comportado como Júlio César? Evidentemente, isso faz viajar no
tempo, isso
embriaga, é tão apaixonante quanto ler um romance policial, mas
é errado:
isso não pode ser o método certo. Apenas um historiador familiar
aos pensamentos
de Júlio César pode se arriscar a escrever “Sem dúvida, Júlio
César
pensou que... Pode-se imaginar que, transpondo o Rubicão...”. É
o básico da
história: evitar o anacronismo psicológico.
Enfiar a pele dos outros é muito difícil, e mais ainda quando se
trata daqueles
que não são muito afastados de nós no tempo. Tome o exemplo do
debate
violento que se dá atualmente sobre a Primeira Guerra Mundial.
Há aqueles
que dizem: “os soldados foram para a guerra porque os policiais
colocaram-lhes as baionetas nas nádegas. Durante aqueles quatro
anos, milhões
de homens, na Europa, foram apanhados pela força pública”. E há
a tese de Stéphane
Audoin-Rouzeau,24 que diz, em substância:“Mas cuidado, eles já tinham
sido convencidos, sob a Terceira República, de que era preciso
defender a pátria,
defender o solo, a família, que era seu dever: havia, portanto,
um certo consentimento,
que oscila, evidentemente, segundo os meses, as circunstâncias,
os
lugares”. São duas maneiras de ver... E, entre as duas, a tese
lógica hoje, na hora
da guerra “zero morte”, é dizer que eles foram forçados a ir
para a guerra, porque
é difícil entendermos que tenha havido voluntários. E, no
entanto...
É isso, portanto, o problema do inatual. Para Alphonse Dupront,25 a grande
qualidade do historiador é “a candura”, isto é, a capacidade de
esquecer.
Digo freqüentemente que, frente a um documento, é preciso deixar
emergir
o sentido, não se deve impô-lo. Isso obriga o historiador a
refletir sobre seus
procedimentos: “Não estou enfiando aquilo dentro do que eu
penso, dentro
do que eu quero, dentro de minha ‘caixa’?”.
Um dos momentos mais interessantes para o historiador que
trabalha
em arquivos, ou, aliás, em biblioteca, é o tempo do
deslocamento. Se é preciso
meia hora de caminhada, temos o tempo de pensar: “Vejamos, vou
lá... com
quais intenções? O que eu quero ver? O que vou encontrar?” E
depois, quando
se volta — é também muito importante a reflexão ao sair dos
arquivos ou
da biblioteca — pensa-se: “Bem, o que encontrei, hoje? Como vou
poder organizar
aquilo?”. Essas interrogações podem ajudar, às vezes, a lutar
contra as
interpretações abusivas.
Mas o inatual recobra uma segunda significação: é um convite
para dar
uma atenção particular a pequenos objetos, a detalhes. A
história do detalhe
é, aliás, uma tendência dos historiadores da literatura:
Flaubert queria fazer a
Entrevista
26 Revista Brasileira de História, vol. 25, nº 49
história do nada. Escreve, até, na sua correspondência, que se
deveria fazer “a
história de um pedaço de grama”. Isso vai muito longe... Há, com
efeito, objetos
históricos de tamanhos diversos, e, entre eles, objetos muito
pequenos,
portadores “de uma forte carga de urânio”: potência de
irradiação, de revelação.
Não se pode, a meu ver, julgar um objeto histórico só pelo
tamanho, sem
saber o que é capaz de fazer dizer. Em Le village des cannibales,
eu me preocupava
com um pequeno acontecimento.
Quanto aos sinos, aí está um bom exemplo do inatual. Há, hoje,
mais sinos
do que no século XIX: os sinos são mais bem feitos, têm um
alcance maior.
E, no entanto, você não os ouve. Não os ouve porque não os
escuta. E você
não os escuta, porque não tem necessidade de ouvi-los. Se você
não tivesse
outra coisa a não ser os sinos para marcar o tempo, para lhe
assinalar os acontecimentos,
então você os ouviria. Isso coloca o problema naquele campo da
história da sensibilidade do qual falamos, da história da
atenção.
SOBRE ALGUNS TRABALHOS
RECENTES
LV: Do inatual ao inesperado,
chegamos à sua atualidade. O senhor trabalha
há algum tempo sobre um assunto pelo menos original: a
sensibilidade
à meteorologia. Explique-nos o que recobre esse campo de estudo.
AC: É, por enquanto, um
projeto que eu só abordei em pequenos artigos,
mas que me parece muito importante. Hoje, os programas de
televisão
mais assistidos são as previsões do tempo. O assunto mais
freqüente nas conversas
telefônicas é a meteorologia. E nas cartas também. Isto pode
parecer
insignificante, porque é também o assunto para quebrar o gelo.
Uma expressão
como: “Oh, está frio, hoje”, quer dizer que vamos nos falar, mas
que isso
não tem nenhum interesse. Uns ingleses chegaram a notar que essa
era a maneira
mais comum de evitar as discussões políticas. Quando se coloca a
discussão
sobre o terreno do tempo — embora a canícula seja política,
agora!
—, é uma maneira de dizer: “não vamos abordar os assuntos que
aborrecem”.
No entanto, há, hoje em dia, uma meteo-sensibilidade
extremamente forte.
Um antropólogo,Martin de la Soudière, passeia há dez anos na
França para
conhecer nossa meteo-sensibilidade.26 Ele notou que há pessoas que
assistem
até dez vezes por dia, e até um pouco mais, às previsões do
tempo. Essa
meteo-sensibilidade diz muitas coisas, de fato. E há um momento
da história
em que surgiu, ao que parece. Já era presente em madame de
Sévigné — há,
Alain Corbin • o prazer do historiador
Junho de 2005
27
eu creio, 476 ocorrências nas suas cartas —, mas não preocupa
muito o século
XVII, fora a preocupação com as colheitas. E há aquela frase de
Rousseau:
“Eu vou colocar um barômetro na minha alma”. Os românticos
estabelecem
então uma homologia entre a variabilidade do eu e a
variabilidade do tempo.
Isto é, que alguma coisa nas variações do tempo remete às
variações do humor,
às variações das disposições interiores, às variações íntimas.
Interessar-se pela meteorologia, é, evidentemente, uma maneira
de se colocar
à margem da história, é não se interessar pela grande história.
E, no entanto
— vou imitar Lucien Febvre —, não temos uma história da chuva,
mal
temos uma história da névoa, não temos uma história das
tempestades. Eu li
simplesmente um estudo sobre a névoa.27 A autora, que conduziu uma
pesquisa
entre quinhentas pessoas, constata que as moças gostam mais,
hoje em
dia, da névoa que os rapazes. Isso significa que um homem e uma
mulher não
representam a névoa da mesma forma. Além disso, há, também, as
representações
dos fenômenos meteorológicos que não têm correspondência com a
realidade. Se eu pergunto a você, por exemplo: “há névoa em Le Grand Meaulnes?
28”, você tenderá a dizer “sim”.
Na verdade, não há. E se eu lhe digo: “há névoa
em Macbeth?”, você tenderá também a dizer “sim”. Ora, isso parece ser
imaginário. É o contexto que nos incita a dizer “deve haver”, “havia
névoa”. O
imaginário da névoa não corresponde, portanto, à observação
meteorológica
da névoa: você sabia que não há mais névoa na Inglaterra, em
média, do que
nas regiões situadas no eixo Alençon-Arras? É nesse ponto que a
palavra “névoa”
inquieta. Nos contos, sua simples evocação serve para nos fazer
entrar
num outro mundo, um mundo imaginário. Aí está um belo tema. Ora,
não
há tese de história sobre essa meteo-sensibilidade histórica,
que faz parte da
história das sensibilidades. Eu creio que há, aí, belos temas
para os jovens historiadores
desenvolverem.Mas haveria tantos outros...
LV: O senhor pode dar
exemplos?
AC: No meu livro sobre a
história da prostituição na França, Les
filles de
noce, não se discute muito a
sexualidade. Desafio você a encontrar, nas quinhentas
páginas, a menor referência a uma prática. Ou tão pouco... há,
por
exemplo, a aprendizagem da felação por rapazes na casa de
prostituição de
Château-Gontier, segundo o doutor Homo. De fato, eu quis
escrever a história
da miséria sexual masculina, fazendo a história da prostituição.
Eu queria
compreender porque tantos homens desejavam a presença de
prostitutas. Daí
o subtítulo: “miséria sexual e prostituição no século XIX”. Não
é, portanto,
Entrevista
28 Revista Brasileira de História, vol. 25, nº 49
uma história da sexualidade.Mas: “uma história da sexualidade é
possível?”.
Eu altero aí uma questão de Michelle Perrot: “uma história das
mulheres é
possível?”. Evidentemente, há Michel Foucault: 150 páginas
geniais em A vontade
de saber. E depois,
pouca coisa. Sylvie Chaperon observou recentemente
que se escreveu muita coisa sobre a sexualidade, mas que se
esqueceram os
atos, isto é, o encontro dos corpos. É, evidentemente, um
desafio; tanto mais
que isso transgride as normas da conveniência universitária.
Quando comecei
a preparar Les filles de
noce, em 1975, a palavra
prostituição não constava
no índice bibliográfico da história da França.
Ora, parece-me que, para a primeira metade do século XIX, há
fontes que
permitem aproximar certas coisas. Penso, em particular, nas
observações clínicas
dos médicos, que estudei muito. Como escreveu Michel Foucault, a
coisa
mais importante do mundo, para a primeira metade do século XIX,
são efetivamente
as relações sexuais. Quando os médicos defrontam-se com uma
doença,
perguntam-se se ela não vem da maneira pela qual se faz amor.
Perguntam
freqüentemente, um pouco como os confessores: “Você se masturbou
na adolescência?
Quantas vezes? Você praticou o coito?”. Alguns perguntam “Como?”,
porque pensam nas conseqüências que isso poderia ter na doença
em estudo:
“Você praticou a abstinência?”.Hoje, evidentemente, isso faz
sorrir. Aí está mais
um exemplo de anacronismo psicológico: é preciso levar a sério
todas aquelas
interrogações e todos os conselhos que os médicos — inesgotáveis
no assunto
— nos dirigem: as coisas a fazer ou a evitar. Estudando aquelas
fichas, conhece-
se a idade da defloração, que é sistematicamente perguntada às
meninas do
povo admitidas no hospital. Novamente, é preciso voltar para a
escrita de si.
Ora, esta é muito dissimétrica: os homens do século XIX gostam
muito de contar
vantagens, de contar suas façanhas: Flaubert, nem se fala,
quanto a Michelet,
ele conta o número de suas relações sexuais com a mulher durante
anos.
As mulheres, por sua vez, demonstram conveniência e pudor. Não
há praticamente
nenhuma indicação nos seus diários íntimos.
Há, também, alguns etnógrafos que passearam pelas aldeias e que
viram
coisas. Não se pode saber o que foi dito em confissão durante a
primeira metade
do século XIX. Sabe-se que é normativo, isto é, o que não se deve
fazer,
ou o que se pode fazer. Há, todavia, uma exceção: é o padre de
Ars, que confessava
17 horas por dia. Ele não escrevia, mas era um confessor tão bom
que
os diretores espirituais recorriam a ele quando tinham
problemas. E estão
conservadas em Ars, segundo Philippe Boutry, quinhentas cartas
evocando
casos desesperados. Ele estudou o caso de irmã Marie Zoé, por
exemplo, com
toda uma série de aventuras: estuprada por seu tio, amante de
seu diretor es-
Alain Corbin • o prazer do historiador
Junho de 2005
29
piritual, praticava a masturbação etc. Tudo isso era contado
para o padre de
Ars. Não se conhece, é claro, sua resposta, mas é um tipo de
documento excepcional
para o século XIX.
Foucault teve o gênio de se dar conta de que aquele século
colocava a sexualidade
acima de tudo, e que, por conseguinte, ela governava a parte
física
e a parte moral do homem, sua história natural, também. O que me
interessa
é o período anterior à patologização que se desenvolve a partir
de 1860 —
aquele que Foucault estuda. Os médicos do final do século são
horrorosos de
ler. São apenas perversões e fetichismo. Michel Foucault
demonstrou que
aquele final de século quis criar uma ciência do sexo, uma
sexologia fundada
na taxonomia das perversões. É sinistro. Em compensação, tudo
está para ser
escrito sobre a primeira parte do século.
LV: Caro professor, obrigado
por esta entrevista...
AC: Permita-me um último
comentário. Se eu tivesse um conselho a dar
para aqueles que farão história, que serão professores de
história, seria de tentar
mudar de objeto de estudo ao longo das décadas. Não se deve
fazer sempre
a mesma coisa, para que o prazer não se embote. Este é meu
conselho... é
um pouco rude.
NOTAS
1 VIDAL-NAQUET, P. Le choix de l’histoire.
Paris: Arléa, 2004, p.29.
2 DUPEUX, G. Aspects de l'histoire sociale et politique du Loir-et-Cher,
1848-1914. Paris:
EPHE, 1962.
3 CORBIN, A. Le village des “cannibales”. Paris: Aubier, 1990.
4 CORBIN, A. Le miasme et la jonquille, odorat et imaginaire
social. Paris: Aubier-Montaigne,
1982. Tradução brasileira: Saberes
e odores, São Paulo, Companhia das
Letras, 1987.
5 CORBIN, A. Le territoire du vide:
l’Occident et le désir de rivage (1750-1840). Paris: Aubier,
1988. Tradução brasileira: Território
do vazio. São Paulo, Companhia das
Letras.
6 CORBIN, A. Les cloches de la terre:
paysages sonores et culture sensible dans les campagnes
au XIXe siècle. Paris: Albin Michel, 1994.
7 CORBIN, A. Historien du sensible, entretiens avec
Gilles Heuré. Paris: La Découverte, 2000.
8 FEBVRE, L. “La sensibilité
et l’histoire”. In: Combats pour l’histoire. Paris: Armand Colin,
1965. 2.éd., p.221-38.
Entrevista
30 Revista Brasileira de História, vol. 25, nº 49
9 FEBVRE, L. Le problème de l’incroyance au XVIe siècle. La religion de Rabelais. Paris: Albin
Michel, 1942.
10 ELIAS, N. La civilisation des moeurs. Paris: Calmann-Lévy, 1973 (éd. originale: 1939).
11 MANDROU, R. Introduction à la France moderne (1500-1640). Essai de psychologie historique.
Paris: Albin Michel, 1961.
12 SUSKIND, P. Le parfum. Paris: Fayard, 1986.
13 CORBIN, A. Les filles de noce.Misère sexuelle et
prostitution (19e siècle).
Paris: Aubier-
Montaigne, 1978.
14 CHEVALIER, L. Classes laborieuses et
classes dangereuses à Paris, dans la première moitié
du XIXe siècle. Paris: Plon, 1958.
15 CORBIN, A. L’avènement des loisirs. Paris: Aubier, 1995.
16 GURVITCH, G. Déterminismes sociaux et liberté humaine. Vers l’étude sociologique des
chemins de la liberté. Paris: PUF, 1955.
17 O dia do Armistício (final
da Primeira Guerra Mundial, 1918) e a rendição da Alemanha
(na Segunda Guerra Mundial, 1945), respectivamente. [N.E.]
18 CHALINE, J.-P. La bourgeoisie rouennaise
au XIXe siècle. Lille: ANRT, 1985; Sociabilité et
érudition: les sociétés savantes en France:
Paris: éd. du CTHS, 1995.
19 “Dois cavalos” e “três
cavalos”, carro popular nos anos 50-70, um pouco semelhante ao
‘fusca’. [N.T.]
20 PAQUOT, T. L’art de la sieste.
Paris: Zulma, 1998.
21 DELATTRE, S. Les douze heures de Paris:
la nuit à Paris au XIXe siècle. Paris: Albin Michel,
2000.
22 CORBIN, A. Le monde retrouvé de Louis-François Pinagot: sur les traces d’un inconnu
(1798-1876). Paris: Flammarion, 1998.
23 CORBIN, A. “La relation
intime ou les plaisirs de l’échange”. In: ARIÈS, Ph., DUBY, G.
(Dir.) Histoire de la vie privée, Tome 4, “De la Révolution à la grande guerre”, volume dirigé
par Michèle Perrot. Paris: Seuil, Coll. Points Histoire, 1999 (1.éd.: 1987),
p.461-519.
24 AUDOIN-ROUZEAU, S., BECKER, A. 14-18, retrouver la guerre. Paris: Gallimard, 2003.
25 DUPRONT, A. L’histoire et l’historien. Paris: Fayard, 1964.
26 DE LA SOUDIÈRE, M. Au bonheur des saisons.
Voyage au pays de la météo. Paris: Grasset,
1999.
27 ARNODIN-CHEGARAY, L. À la poursuite du
brouillard.
Enigmes et mystères. Mémoire
de DEA, Université de Paris VII, 1997.
28 Romance de Alain-Fournier.
[N.T.]
Alain Corbin • o prazer do historiador
Junho de 2005 31
http://www.scielo.br/pdf/rbh/v25n49/a02v2549.pdf
@social @história
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