Hélio Schwartsman
John Ioannidis é um epidemiologista de primeira, acostumado a nadar contra a corrente. O “paper” em que mostrou que a maioria das conclusões de artigos científicos está errada se tornou um clássico instantâneo.
Ioannidis acaba de publicar outro texto polêmico, agora sobre a Covid-19. Ele diz que podemos tanto estar diante da maior pandemia como do maior fiasco científico do século. Não temos informação suficiente para julgar.
Sabemos que o número de pessoas que foram infectadas está subestimado, mas não temos ideia da escala. Pode ser por um fator 3 ou 300 —e isso faz toda a diferença, não apenas para o cálculo de taxas realistas de letalidade e de complicações.
A estratégia de enfrentar a epidemia com medidas duras de isolamento social faz todo o sentido se a virtual paralisação das atividades for por um período relativamente breve. Se paramos por dois ou três meses e o vírus sai de circulação ou a população já foi tão exposta ao contágio que a imunidade de rebanho aparece, vencemos. Mas, se isso não acontece, manter as curvas epidemiológicas achatadas para proteger os sistemas de saúde pode exigir vários meses ou anos de “shutdown”. Aí o remédio pode ter consequências piores do que a doença.
Acho que Ioannidis errou no tom do artigo. Um de seus argumentos é o de que a taxa real de letalidade da Covid-19 pode não ser maior do que a da influenza sazonal. Mas basta olhar para a Itália para ver que não estamos diante de uma gripe comum. A forma como as pessoas morrem faz diferença para a sociedade. Congestionamento de cadáveres é algo que não toleramos.
O autor, porém, tem razão em cobrar dados melhores, até porque são em tese fáceis de obter, com a realização de testes aleatórios (e não só em doentes) em amostras representativas da população dos países onde a epidemia está mais madura.
Em guerras, quase sempre vence quem tem as melhores informações.
Ioannidis acaba de publicar outro texto polêmico, agora sobre a Covid-19. Ele diz que podemos tanto estar diante da maior pandemia como do maior fiasco científico do século. Não temos informação suficiente para julgar.
Sabemos que o número de pessoas que foram infectadas está subestimado, mas não temos ideia da escala. Pode ser por um fator 3 ou 300 —e isso faz toda a diferença, não apenas para o cálculo de taxas realistas de letalidade e de complicações.
A estratégia de enfrentar a epidemia com medidas duras de isolamento social faz todo o sentido se a virtual paralisação das atividades for por um período relativamente breve. Se paramos por dois ou três meses e o vírus sai de circulação ou a população já foi tão exposta ao contágio que a imunidade de rebanho aparece, vencemos. Mas, se isso não acontece, manter as curvas epidemiológicas achatadas para proteger os sistemas de saúde pode exigir vários meses ou anos de “shutdown”. Aí o remédio pode ter consequências piores do que a doença.
Acho que Ioannidis errou no tom do artigo. Um de seus argumentos é o de que a taxa real de letalidade da Covid-19 pode não ser maior do que a da influenza sazonal. Mas basta olhar para a Itália para ver que não estamos diante de uma gripe comum. A forma como as pessoas morrem faz diferença para a sociedade. Congestionamento de cadáveres é algo que não toleramos.
O autor, porém, tem razão em cobrar dados melhores, até porque são em tese fáceis de obter, com a realização de testes aleatórios (e não só em doentes) em amostras representativas da população dos países onde a epidemia está mais madura.
Em guerras, quase sempre vence quem tem as melhores informações.
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