segunda-feira, 30 de março de 2020

Comunidade cria supercomputador para buscar tratamentos



Dezenas de milhares de jogadores, "mineradores" de bitcoin e empresas estão participando de um esforço sem precedentes para reunir recursos de computação para acelerar a busca por tratamentos para o novo coronavírus. "É um remédio fantástico contra o sentimento de desamparo que temos no momento", disse, à agência France-Presse de notícias (AFP), Pedro Valadas, advogado de Portugal que coordena uma comunidade on-line de 24 mil fãs de computador e videogame que colaboram com a causa.

O projeto Folding@Home, organizado por biólogos da computação, conecta milhares de máquinas para criar um supercomputador virtual. É considerado o computador mais poderoso do mundo, capaz de executar bilhões de cálculos por segundo, o que deve ajudar a entender a estrutura do vírus.

Mais de 400 mil pessoas já baixaram o aplicativo para compartilhar dados e recursos de informática nas últimas semanas, de acordo com Greg Bowman, professor de bioquímica e biofísica molecular da Washington University em San Luis, nos Estados Unidos, onde o projeto é centralizado. "Muitos de nós sofremos ou vimos pessoas próximas sofrerem. O fato de que, em casa, com o seu computador, você pode fazer algo para ajudar a combater a doença, para o bem comum, é realmente motivador", diz Valadas.

Simulações

O projeto nasceu na Universidade de Stanford, no Vale do Silício, há 20 anos. Consiste em reunir recursos de computação para realizar simulações em larga escala de doenças e, especificamente, no processo de "dobragem de proteínas", que afeta a mortalidade de certos patógenos. "As simulações nos permitem observar como cada átomo evolui", diz Bowman.

Os pesquisadores querem encontrar algumas espécies de "bolsas" no vírus, onde moléculas terapêuticas podem ser inseridas para desarmá-lo. Bowman está confiante no método de concepção de medicamentos por meio da ciência da computação, porque isso já produziu frutos com o ebola e porque o novo coronavírus tem uma estrutura semelhante à do vírus da síndrome respiratória aguda grave (Sars), que tem sido objeto de numerosos estudos.

O projeto Folding@Home tem permitido levar as capacidades informáticas desse supercomputador virtual a 400 petaflops -- um petaflop corresponde a bilhões de cálculos por segundo --, o que o faz três vezes mais potente que os melhores supercomputadores do mundo. "Em princípio, não há limite para o poder de computação que podemos usar", diz Bowman. "Não importa se o computador seja de ponta, mesmo com um console PlayStation pode-se contribuir."

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