Para dono da Innova, crise deixará mais falidos que falecidos
Lirio Parisotto diz que serão necessárias linhas de crédito emergenciais proporcionais à catástrofe
Quarta-feira, 25 de Março de 2020 - 00:04
Valor Econômico / Empresas
Banco Central - Perfil 3: Banco CentralBanco Central - Perfil 3: Banco Central do BrasilBanco Central - Perfil 1: Bacen
Stella Fontes
Aos 66 anos, o empresário gaúcho Lirio Parisotto, dono da Innova, isolou-se em casa fugindo dos riscos da covid-19, que tem se mostrado mais agressivo nos grupos de mais idade, seguindo à risca a orientação das autoridades médicas. Mas mesmo remotamente tem encarado aquele que é seu maior desafio no momento: manter a petroquímica em operação contínua, durante a pior crise que já viveu.
A avaliação é a de que o quadro macro deve se agravar. Para o empresário, a paralisia da atividade econômica é um remédio amargo e pode ser tão ou mais letal que o novo coronavírus. “É provável que, no final de toda essa pandemia, haja mais falidos do que falecidos”, afirmou, em entrevista ao Valor.
Para o empresário, o mundo vai mudar rapidamente com a covid-19. A produção local será valorizada, as empresas vão descobrir que não é preciso viajar tanto e as pessoas vão evitar grandes aglomerações. “Esse conceito [de aglomerar mais e mais pessoas], na minha opinião, será quebrado, mas não sei qual modelo vai prevalecer”, disse.
Diante da elevada probabilidade de que muitos de nós sejamos contaminados, seguiu o empresário, estamos agora “comprando tempo” — ao ganhar tempo, os casos são empurrados para a frente, talvez para o momento em que estejam disponíveis um tratamento eficiente ou uma vacina.
De qualquer maneira, para contribuir imediatamente, a Innova se uniu às empresas Altacoppo, Bellocopo, Copaza, Copobras, CristalCoppo, Danúbio, Prefesta, StrawPlast, Top Forme TotalPlast para produzir e doar a 20 hospitais 25 milhões de unidades de pratos, copos e talheres de poliestireno — resina produzida pela petroquímica —, levando em conta a necessidade de utilização de produtos descartáveis para conter o avanço da doença. Aos transformadores, caberá produzis os itens, que serão entregues em diferentes municípios.
Veja a seguir trechos da entrevista, concedida por e-mail e telefone ontem:
Valor: Como o senhor avalia as medidas que o governo tem adotado para tentar reduzir o impacto da pandemia na economia?
Lirio Parisotto: A suspensão das atividades no país é um remédio extremamente amargo. O preço é alto: a receita de muitas empresas vai a zero. Ainda assim, o mundo inteiro parece estar em consenso de que a atitude é necessária. A pressão mundial acabou nos conduzindo às medidas duríssimas, mas certas. É provável que, no final de toda essa pandemia, haja mais falidos do que falecidos. Virá então o trabalho árduo de reconstrução da economia mundial, espero que com muita saúde.
Valor: Como empresas e empresários podem contribuir para que os impactos da crise não sejam tão destrutivos?
Parisotto: Estamos sendo profundamente desafiados em manter as fábricas operando. As empresas são o pulmão do mundo mas precisam de ar, de mercado, de fluxo de capitais. Serão necessárias linhas de crédito emergenciais e de fato proporcionais à catástrofe, capazes de trazer de volta à vida pessoas e empresas.
Valor: Quais medidas a Innova adotou neste momento de crise quanto a produção, segurança de seus funcionários e gestão de caixa?
Parisotto: Desde que a epidemia se iniciou lá fora começamos a esboçar um plano de ação. Nossa tecnologia da informação acionou uma malha de comunicações e acesso remoto ao sistema SAP. Os colaboradores administrativos estão em home office e os industriais, nas três fábricas, duas em Manaus (AM) e uma em Triunfo (RS), operando estritamente sob as normas de segurança recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para prevenir o contágio. Em nosso quadro de mil colaboradores não tem até o momento pessoas infectadas e vinte colaboradores estão em quarentena preventiva por contato prévio com portadores. A Innova produz itens essenciais: laminados plásticos em bobinas usados em copos, pratos, potes de iogurte, filmes plásticos de polipropileno biorientado, o BOPP (celofane), cuja destinação é de 80% para a indústria alimentícia, tampas plásticas para água mineral, sucos e refrigerantes e o próprio poliestireno, todos esses itens com demanda aumentada.
Valor: Qual é o valor do investimento da Innova na campanha de doação de descartáveis para hospitais?
Parisotto: Essa é uma ação conjunta da Innova com nossos clientes que transformam a resina poliestireno em produtos finais. Estamos chamando Descartáveis para a Saúde e vamos atender os hospitais. O projeto envolve aproximadamente R$ 2 milhões, em que a Innova supre a matéria-prima e as demais empresas arcam com custos de transformação e frete. Serão 25 milhões de itens em copos, pratos e talheres doados aos hospitais. Estamos muito comprometidos por saber que esses itens descartáveis podem salvar vidas ao conter a disseminação do vírus. Aliás, o conceito dos descartáveis nasceu como forma de debelar a cólera e difteria no começo do século XX, espalhadas através de louças compartilhadas. Temos abordado muito o tema do preconceito e do banimento arbitrário dos descartáveis, coisa midiática, de rasa fundamentação. Mas agora é hora de agir rápido e sabemos o que fazer. Esses descartáveis vão chegar aos hospitais em questão de dias, horas.
Valor: Como investidor, qual tem sido sua posição neste momento?
Parisotto: Os verdadeiros fundamentos da bolsa podem talvez ser sintetizados em três palavras: ‘buy and hold’, comprar e segurar. É preciso poder segurar os investimentos e mirar o longo prazo. Está certo o Banco Central em injetar R$ 1,2 trilhão em liquidez na economia. Havia US$ 400 bilhões em reservas, criadas e mantidas a muito custo. Esse é um seguro para ser usado na hora de acidentes, ou seja, agora. As ações podem cair mais ainda, porém elas vão se recuperar no futuro. Hora de racionalidade e ficar quieto, observando algumas oportunidades pontuais. Quem pode esperar estará dentro do que a melhor teoria do mercado de capitais preconiza.
Lirio Parisotto diz que serão necessárias linhas de crédito emergenciais proporcionais à catástrofe
Quarta-feira, 25 de Março de 2020 - 00:04
Valor Econômico / Empresas
Banco Central - Perfil 3: Banco CentralBanco Central - Perfil 3: Banco Central do BrasilBanco Central - Perfil 1: Bacen
Stella Fontes
Aos 66 anos, o empresário gaúcho Lirio Parisotto, dono da Innova, isolou-se em casa fugindo dos riscos da covid-19, que tem se mostrado mais agressivo nos grupos de mais idade, seguindo à risca a orientação das autoridades médicas. Mas mesmo remotamente tem encarado aquele que é seu maior desafio no momento: manter a petroquímica em operação contínua, durante a pior crise que já viveu.
A avaliação é a de que o quadro macro deve se agravar. Para o empresário, a paralisia da atividade econômica é um remédio amargo e pode ser tão ou mais letal que o novo coronavírus. “É provável que, no final de toda essa pandemia, haja mais falidos do que falecidos”, afirmou, em entrevista ao Valor.
Para o empresário, o mundo vai mudar rapidamente com a covid-19. A produção local será valorizada, as empresas vão descobrir que não é preciso viajar tanto e as pessoas vão evitar grandes aglomerações. “Esse conceito [de aglomerar mais e mais pessoas], na minha opinião, será quebrado, mas não sei qual modelo vai prevalecer”, disse.
Diante da elevada probabilidade de que muitos de nós sejamos contaminados, seguiu o empresário, estamos agora “comprando tempo” — ao ganhar tempo, os casos são empurrados para a frente, talvez para o momento em que estejam disponíveis um tratamento eficiente ou uma vacina.
De qualquer maneira, para contribuir imediatamente, a Innova se uniu às empresas Altacoppo, Bellocopo, Copaza, Copobras, CristalCoppo, Danúbio, Prefesta, StrawPlast, Top Forme TotalPlast para produzir e doar a 20 hospitais 25 milhões de unidades de pratos, copos e talheres de poliestireno — resina produzida pela petroquímica —, levando em conta a necessidade de utilização de produtos descartáveis para conter o avanço da doença. Aos transformadores, caberá produzis os itens, que serão entregues em diferentes municípios.
Veja a seguir trechos da entrevista, concedida por e-mail e telefone ontem:
Valor: Como o senhor avalia as medidas que o governo tem adotado para tentar reduzir o impacto da pandemia na economia?
Lirio Parisotto: A suspensão das atividades no país é um remédio extremamente amargo. O preço é alto: a receita de muitas empresas vai a zero. Ainda assim, o mundo inteiro parece estar em consenso de que a atitude é necessária. A pressão mundial acabou nos conduzindo às medidas duríssimas, mas certas. É provável que, no final de toda essa pandemia, haja mais falidos do que falecidos. Virá então o trabalho árduo de reconstrução da economia mundial, espero que com muita saúde.
Valor: Como empresas e empresários podem contribuir para que os impactos da crise não sejam tão destrutivos?
Parisotto: Estamos sendo profundamente desafiados em manter as fábricas operando. As empresas são o pulmão do mundo mas precisam de ar, de mercado, de fluxo de capitais. Serão necessárias linhas de crédito emergenciais e de fato proporcionais à catástrofe, capazes de trazer de volta à vida pessoas e empresas.
Valor: Quais medidas a Innova adotou neste momento de crise quanto a produção, segurança de seus funcionários e gestão de caixa?
Parisotto: Desde que a epidemia se iniciou lá fora começamos a esboçar um plano de ação. Nossa tecnologia da informação acionou uma malha de comunicações e acesso remoto ao sistema SAP. Os colaboradores administrativos estão em home office e os industriais, nas três fábricas, duas em Manaus (AM) e uma em Triunfo (RS), operando estritamente sob as normas de segurança recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para prevenir o contágio. Em nosso quadro de mil colaboradores não tem até o momento pessoas infectadas e vinte colaboradores estão em quarentena preventiva por contato prévio com portadores. A Innova produz itens essenciais: laminados plásticos em bobinas usados em copos, pratos, potes de iogurte, filmes plásticos de polipropileno biorientado, o BOPP (celofane), cuja destinação é de 80% para a indústria alimentícia, tampas plásticas para água mineral, sucos e refrigerantes e o próprio poliestireno, todos esses itens com demanda aumentada.
Valor: Qual é o valor do investimento da Innova na campanha de doação de descartáveis para hospitais?
Parisotto: Essa é uma ação conjunta da Innova com nossos clientes que transformam a resina poliestireno em produtos finais. Estamos chamando Descartáveis para a Saúde e vamos atender os hospitais. O projeto envolve aproximadamente R$ 2 milhões, em que a Innova supre a matéria-prima e as demais empresas arcam com custos de transformação e frete. Serão 25 milhões de itens em copos, pratos e talheres doados aos hospitais. Estamos muito comprometidos por saber que esses itens descartáveis podem salvar vidas ao conter a disseminação do vírus. Aliás, o conceito dos descartáveis nasceu como forma de debelar a cólera e difteria no começo do século XX, espalhadas através de louças compartilhadas. Temos abordado muito o tema do preconceito e do banimento arbitrário dos descartáveis, coisa midiática, de rasa fundamentação. Mas agora é hora de agir rápido e sabemos o que fazer. Esses descartáveis vão chegar aos hospitais em questão de dias, horas.
Valor: Como investidor, qual tem sido sua posição neste momento?
Parisotto: Os verdadeiros fundamentos da bolsa podem talvez ser sintetizados em três palavras: ‘buy and hold’, comprar e segurar. É preciso poder segurar os investimentos e mirar o longo prazo. Está certo o Banco Central em injetar R$ 1,2 trilhão em liquidez na economia. Havia US$ 400 bilhões em reservas, criadas e mantidas a muito custo. Esse é um seguro para ser usado na hora de acidentes, ou seja, agora. As ações podem cair mais ainda, porém elas vão se recuperar no futuro. Hora de racionalidade e ficar quieto, observando algumas oportunidades pontuais. Quem pode esperar estará dentro do que a melhor teoria do mercado de capitais preconiza.
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