O Estado de S. Paulo |
Economia
domingo, 13 de agosto de 2017
05:51
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CELSO.MING@ESTADAO.COM / COM RAQUEL BRANDÃO
O desemprego hoje não produz
tantos problemas como produzia, digamos, há 20 anos.
Houve surpresa dia 28, quando
o IBGE revelou que o desemprego está recuando, mas o trabalho informal, aumentando.
Mais surpresa ainda poderá provocar a afirmação de que o desemprego hoje não
produz tantos problemas como produzia, digamos, há 20 anos. Miguel Foguel,
coordenador adjunto de Mercado de Trabalho do Ipea, é um dos que pensam assim.
Em primeiro lugar, as defesas
sociais contra o desemprego são mais extensas e mais eficazes. Há, por exemplo,
o Bolsa Família, que atende 54 milhões de famílias, praticamente o equivalente
ao triplo do número de desempregados no País. E há o seguro-desemprego, regulamentado
em 1990, que, apesar de ter o acesso pouco mais restrito desde as alterações de
2015, atende 7 milhões de trabalhadores.
Em segundo lugar, o
desempregado conta com ferramentas com que não contava há cerca de 25 anos para
enfrentar a forte quebra do orçamento doméstico em consequência do desemprego.
A internet, as redes sociais, os aplicativos e o celular estão entre esses
recursos novos que ajudam muito a quem procura ocupação “por conta própria”.
Foguel fala da “abrangência”
produzida por esses recursos digitais: “Antigamente, se o desempregado tentava
produzir alguma coisa, só podia contar com clientela local, com indicações boca
a boca. Hoje, uma doceira consegue interessados quando recorre à internet e às
redes sociais”. É verdade que a tecnologia digital, a automação e a robotização
também são fatores de desemprego. Que o digam os comerciários, atingidos pelo
avanço do e-commerce, e os bancários, que vêm sendo dispensados pela
digitalização das operações financeiras. Mas, além de ajudar a arrumar um
dinheiro extra e de facilitar a vida de quem precisa enfrentar o olho da rua,
esses aplicativos ajudam o desempregado a encontrar fonte de renda extra e
reduzem um fator altamente perverso, que é o desalento. É o empreendedorismo
por necessidade, sugere o pesquisador do Ipea.
A internet e os aplicativos
empurram para a informalidade, como se viu, mas trata-se de informalidade
diferente da que se viu nas crises anteriores. Como diz Cimar Azevedo,
coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, em 2002 e 2003, quando o
desemprego chegou a 10,5% da força de trabalho, a informalidade também foi o
refúgio dos desempregados, mas concentrou-se no comércio. Agora, muitos
desempregados se transformaram em motoristas de aplicativos, como Uber ou o
Cabify. Ou, então, algo que a Pnad não registra, usam o Airbnb, observa Cimar,
para alugar temporariamente uma acomodação da casa ou algum imóvel e conseguir
uma fonte extra de sustento. No início deste ano, havia no Brasil 89,7 mil
anfitriões ativos da Airbnb. O “anfitrião típico” do aplicativo, como apontam
os relatórios da própria Airbnb, tem uma renda anual de R$ 6.070. São números
que tendem a crescer.
Dois outros fatores tendem a
reduzir os problemas dos desempregados. O primeiro deles é a queda da inflação.
Uma coisa é estar desempregado e enfrentar uma perda de renda (pelo aumento do
custo de vida) de 10% ao ano e outra, bem diferente, é o impacto de uma
inflação inferior a 3%, como agora. O segundo fator é a maior disponibilidade
de crédito. Os bancos cada vez mais trabalham com financiamentos automáticos a
pessoas físicas. E há o Crédito consignado que não existia há dez anos. São
recursos que um aposentado ou um funcionário público podem repassar mais
facilmente para um filho ou para um neto desempregado.
Mas não se pode ignorar que
esses novos mecanismos de ajuste, especialmente em períodos longos de
desemprego, produzem também certos efeitos colaterais negativos. Como muitos
desempregados são empurrados para atividades diferentes das habituais, em
muitas das quais não podem exercer suas habilidades profissionais, acabam por
encontrar ainda maior dificuldade para realocação depois, porque perdem
capacidade de competição. Do ponto de vista da sociedade, esse problema implica
perda de aproveitamento de gente longamente treinada e de mão de obra
qualificada.
Além de derrubar a qualidade
do emprego, o aumento da informalidade e do empreendedorismo popular tende a
derrubar a contribuição para a Previdência Social e, portanto, tende a destruir
ainda mais as finanças de um setor já tremendamente prejudicado.
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