Quinta-feira, 24 de agosto de
2017 05:30
Valor Econômico | Finanças
Para Draghi, crise ensinou que os BCs devem ser mais ativos
Diego Viana | Para o Valor, de Lindau (Alemanha)
"Os Bancos
Centrais não são impotentes", afirmou ontem o presidente do Banco
Central Europeu (BCE), Mario Draghi, em palestra proferida na cidade
de Lindau, na Alemanha. Os últimos dez anos, com sua sucessão de crises,
ensinaram que a regulação e a supervisão dos sistemas financeiros é
indispensável, disse Draghi.
A confiança
excessiva em modelos macroeconômicos baseados na eficiência dos mercados para
garantir a estabilidade financeira ajudou a perpetuar a turbulência pós-2008,
principalmente na Europa, mas o aprendizado dos mecanismos de transmissão da
crise revelaram a importância do regulador central, segundo o executivo.
Draghi defendeu
não apenas a importância de uma autoridade monetária ativa, mas também a adoção
de políticas que não poderiam ter lugar há alguns anos. "A partir de certo
ponto, as políticas monetárias precisam sair do padrão", declarou. "Quando
a taxa de Juros chega a um certo piso, descobrimos que atitudes
heterodoxas são indispensáveis para evitar o aprofundamento da crise. Isso
inclui o chamado afrouxamento quantitativo."
Dirigindo-se a uma
plateia formada por economistas agraciados com o prêmio do Banco Central
da Suécia em homenagem a Alfred Nobel, Draghi traçou um histórico das reações à
crise iniciada em 2007 e defendeu a mudança de rumo que implementou na política
monetária europeia a partir de 2011, quando assumiu o cargo. Três anos mais
tarde, anunciou o início do programa de compra de ativos para estimular a
economia da região.
Segundo Draghi,
modelos que apontam a ineficácia das políticas de afrouxamento quantitativo
(QE, na sigla em inglês) não levam em conta os mecanismos de transmissão das
crises e as fricções do sistema financeiro. Para o presidente do BCE, foi o
ativismo dos principais Bancos Centrais que evitou uma quebra
generalizada de bancos e permitiu que se mantivesse um nível satisfatório de
empréstimos ao setor produtivo.
A crise mostrou
que a autoridade monetária, segundo Draghi, deve ser mais ativa do que foi no
período anterior às turbulências, principalmente na regulação e na supervisão
dos bancos e demais instituições financeiras. A lenta reação das autoridades
europeias, presas a modelos tradicionais, piorou a crise, afirmou. O presidente
do BCE elogiou a tendência de regras mais rigorosas de regulação financeira e
deu como exemplo o próprio velho continente, onde se estabeleceu o sistema
unificado de supervisão, de modo que "todas as instituições da Europa são
hoje supervisionadas diretamente de Frankfurt". A centralização evita o
pânico dos investidores diante de riscos soberanos específicos.
Draghi não deu
indicações sobre futuros movimentos da política monetária, mas sua palestra foi
marcada por um tom de nítido otimismo. O banqueiro evitou tratar diretamente de
temas ligados à atualidade, rescaldado pelas reações exageradas a declarações
feitas por ele em Sintra (Portugal) em junho. Na ocasião, ao celebrar os sinais
de recuperação nas taxas de crescimento europeias, Draghi provocou um movimento
de alta do euro em relação ao dólar.
@economia @crise financeira
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