Trump pensa como um mercantilista do século 17, diz banco
Folha de São Paulo 9/5/18
Uma guerra comercial poderá reduzir o crescimento da economia global e, a depender da severidade da crise, levar o mundo a uma recessão. A avaliação é do MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group), o maior banco privado do mundo.
Uma projeção doProduto Interno Bruto mundial do ano passado cairia de uma estimativa de 3,7% para 0,4%, caso as tarifas globais tivessem um aumento médio de dez pontos percentuais para todos os produtos, primários ou manufaturados —cenário considerado “não trivial”, porém tampouco o mais pessimista possível, afirma o economista chinês Cliff Tan, chefe de pesquisa de mercado para Ásia do banco japonês.
Para ele, o presidente americano, Donald Trump, pensa como um “mercantilista do século 17” —perspectiva que ajuda a entender suas decisões, diz o economista.
“Para um mercantilista, qualquer déficit bilateral é ruim. Para Trump, olhar o déficit com a China, o México, o Canadá, é ruim. Mas se a balança comercial total do país não vai mudar, os déficits bilaterais vão apenas se transferir para outros países.”
No entanto, a projeção é que os Estados Unidos não seriam tão afetados quanto outras economias por uma guerra comercial.
“O dólar americano poderia ficar mais forte. 0 mundo é estruturado de forma que a economia americana, apesar de ter se aberto muito nos últimos anos, ainda é relativamente insular em comparação com o mundo. Ela se afeta, mas não tanto quanto outros mercados”, diz Tan.
Já a China teria um impacto bastante mais significativo: no cenário de alta de dez pontos percentuais das tarifas globais, PIB chinês desaceleraria de 6,8% para 4,5%.
A redução das taxas de crescimento seria preocupante para o país, que hoje tem de lidar com uma dívida equivalente a cerca de 300% de seu PIB.
“Se a economia chinesa de-sacelerasse em 2,5 pontos percentuais, o problema da dívida poderia até mesmo se tornar catastrófico”, afirma.
Outros países, como lapão, Canadá, México, Reino Unido e os membros da União Européia seriam ainda mais afetados e chegariam a uma recessão dentro desse cenário.
O Brasil, diz ele, tampouco deve se animar: “se entrarmos em uma guerra comercial, haverá uma recessão global. E ninguém vence em uma recessão desse gênero.”
Em relação às negociações entre Estados Unidos e China, Tan se mostra pouco otimista quanto às exigências feitas por parte do governo americano na semana passada — uma delegação liderada pelo secretário do Tesouro Steve Mnuchin entregou uma lista de demandas que incluía uma redução de US$ 200 bilhões do déficit comercial entre os países, além do fim de subsídios estatais a indústrias estratégicas na China.
Para o economista, Trump está basicamente pedindo que o presidente Xi Jinping abandone totalmente o programa “Made in China 2025” — plano estatal para promover a liderança chinesa em setores estratégicos, como energias renováveis, carros elétricos e tecnologia da informação.
“Isso mostra uma falta de entendimento completa da política chinesa. Para Xi Jinping, o plano é central para manter o partido comunista no poder”, afirma.
Brasil e mais 40 países pedem que OMC evite guerra comercial
Diogo Bercito
Madri
Em um contexto de crescente preocupação quanto à escalada da tensão entre Estados Unidos e China, um grupo de 41 países —incluindo o Brasil— apresentou um manifesto à OMC (Organização Mundial do Comércio) pedindo que essa entidade impeça uma guerra comercial.
O texto circulou por impresso na segunda (7) durante um encontro informal das delegações em Genebra, antecedendo a reunião oficial do Conselho Geral nesta terça-feira (8). Os signatários incluem Argentina, Chile, Coreia do Sul e Turquia. Poucos países europeus, com a exceção de Suíça e Islândia, participaram.
“Estamos preocupados com as crescentes tensões comerciais e com os riscos relacionados a elas para os sistemas multilaterais de troca”, diz o texto. “Encorajamos os membros da OMC a se abster de adotar medidas protecionistas e resolver as diferenças por meio de diálogo.”
O Brasil foi abordado pelos coordenadores do manifesto e avaliou que o texto refletia as preocupações do país —que se concentram principalmente nas sobretaxas impostas pelos EUA sobre o aço.
Em outras ocasiões, a OMC emitiu alertas sobre os riscos desse tipo de embate para o crescimento global. Em discurso na OMC na segunda (7), em uma manifestação individual paralela ao manifesto, o embaixador brasileiro Evandro Didonet pediu que os países-membros evitem novas fricções comerciais.
@Trump @comércio @economia internacional
Uma guerra comercial poderá reduzir o crescimento da economia global e, a depender da severidade da crise, levar o mundo a uma recessão. A avaliação é do MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group), o maior banco privado do mundo.
Uma projeção do
Para ele, o presidente americano, Donald Trump, pensa como um “mercantilista do século 17” —perspectiva que ajuda a entender suas decisões, diz o economista.
“Para um mercantilista, qualquer déficit bilateral é ruim. Para Trump, olhar o déficit com a China, o México, o Canadá, é ruim. Mas se a balança comercial total do país não vai mudar, os déficits bilaterais vão apenas se transferir para outros países.”
No entanto, a projeção é que os Estados Unidos não seriam tão afetados quanto outras economias por uma guerra comercial.
“O dólar americano poderia ficar mais forte. 0 mundo é estruturado de forma que a economia americana, apesar de ter se aberto muito nos últimos anos, ainda é relativamente insular em comparação com o mundo. Ela se afeta, mas não tanto quanto outros mercados”, diz Tan.
Já a China teria um impacto bastante mais significativo: no cenário de alta de dez pontos percentuais das tarifas globais, PIB chinês desaceleraria de 6,8% para 4,5%.
A redução das taxas de crescimento seria preocupante para o país, que hoje tem de lidar com uma dívida equivalente a cerca de 300% de seu PIB.
“Se a economia chinesa de-sacelerasse em 2,5 pontos percentuais, o problema da dívida poderia até mesmo se tornar catastrófico”, afirma.
Outros países, como lapão, Canadá, México, Reino Unido e os membros da União Européia seriam ainda mais afetados e chegariam a uma recessão dentro desse cenário.
O Brasil, diz ele, tampouco deve se animar: “se entrarmos em uma guerra comercial, haverá uma recessão global. E ninguém vence em uma recessão desse gênero.”
Em relação às negociações entre Estados Unidos e China, Tan se mostra pouco otimista quanto às exigências feitas por parte do governo americano na semana passada — uma delegação liderada pelo secretário do Tesouro Steve Mnuchin entregou uma lista de demandas que incluía uma redução de US$ 200 bilhões do déficit comercial entre os países, além do fim de subsídios estatais a indústrias estratégicas na China.
Para o economista, Trump está basicamente pedindo que o presidente Xi Jinping abandone totalmente o programa “Made in China 2025” — plano estatal para promover a liderança chinesa em setores estratégicos, como energias renováveis, carros elétricos e tecnologia da informação.
“Isso mostra uma falta de entendimento completa da política chinesa. Para Xi Jinping, o plano é central para manter o partido comunista no poder”, afirma.
Brasil e mais 40 países pedem que OMC evite guerra comercial
Diogo Bercito
Madri
Em um contexto de crescente preocupação quanto à escalada da tensão entre Estados Unidos e China, um grupo de 41 países —incluindo o Brasil— apresentou um manifesto à OMC (Organização Mundial do Comércio) pedindo que essa entidade impeça uma guerra comercial.
O texto circulou por impresso na segunda (7) durante um encontro informal das delegações em Genebra, antecedendo a reunião oficial do Conselho Geral nesta terça-feira (8). Os signatários incluem Argentina, Chile, Coreia do Sul e Turquia. Poucos países europeus, com a exceção de Suíça e Islândia, participaram.
“Estamos preocupados com as crescentes tensões comerciais e com os riscos relacionados a elas para os sistemas multilaterais de troca”, diz o texto. “Encorajamos os membros da OMC a se abster de adotar medidas protecionistas e resolver as diferenças por meio de diálogo.”
O Brasil foi abordado pelos coordenadores do manifesto e avaliou que o texto refletia as preocupações do país —que se concentram principalmente nas sobretaxas impostas pelos EUA sobre o aço.
Em outras ocasiões, a OMC emitiu alertas sobre os riscos desse tipo de embate para o crescimento global. Em discurso na OMC na segunda (7), em uma manifestação individual paralela ao manifesto, o embaixador brasileiro Evandro Didonet pediu que os países-membros evitem novas fricções comerciais.
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