Empresas de petróleo dos EUA estão repetindo a
trajetória das mineradoras de carvão, entrando com pedido de recuperação
judicial sem cortar produção
Por John W. Miller
Seus proprietários podem estar quebrados, mas as
grandes minas de carvão da Bacia do rio Powder, no Estado americano de Wyoming,
continuam produzindo. A mesma história agora se repete em campos de petróleo da
costa do Golfo do México e em poços de gás de xisto de outras regiões dos
Estados Unidos.
Investidores da indústria petrolífera há muito
alimentavam esperanças de que o colapso dos preços do petróleo se resolveria à
medida que produtores mais fracos quebrassem, estancando o excesso de oferta.
Mas, apesar do aumento do número de pedidos de recuperação judicial do setor
nos EUA, o impacto deles nos mercados do combustível é praticamente
inexistente.
Cerca de 70 empresas americanas de petróleo e gás
iniciaram processos de recuperação judicial em 2015 e 2016. Elas agora produzem
o equivalente a cerca de 1 milhão de barris por dia, aproximadamente o mesmo
que produziam antes de quebrar, segundo a Wood Mackenzie, firma de pesquisa e
consultoria do setor. Isso representa cerca de 5% da produção de petróleo e gás
atual do país.
Essa capacidade de resistência tem mantido os estoques
em alta e colocado um freio nos preços.
A cotação do barril chegou à faixa de US$ 50 em meados
do ano, mas tem tido dificuldade de avançar muito além dessa marca. Ontem, os
futuros de petróleo caíram 0,65% em Nova York, fechando em US$ 50,52 o barril.
A teoria de que as recuperações judiciais nivelariam o
mercado “era equivocada”, diz Roy Martin, analista de pesquisa da Wood
Mackenzie. “E as pessoas começam a se dar conta disso agora.”
O processo de recuperação judicial americano foi
projetado justamente para salvar as empresas que têm condições de sobreviver, e
muitas firmas do setor de petróleo estão usando os tribunais para aliviar sua
pesada carga de dívidas, adaptar-se aos tempos de vacas magras e continuar
produzindo.
Peabody Energy Corp., Arch Coal Inc. e Alpha Natural
Resources Inc. — três das cinco maiores produtoras de carvão dos EUA —
iniciaram processos de recuperação judicial nos últimos 18 meses. Elas
responderam por 36% de todo o abastecimento de carvão dos EUA no primeiro
semestre de 2015. Este ano, a produção diminuiu apenas em linha com o resto da
indústria e a participação das três empresas no primeiro semestre permaneceu
inalterada, em quase 33% do total produzido, segundo a consultoria IHS Global
Energy. A Arch Coal e a Alpha Natural Resources saíram da recuperação judicial
recentemente.
“É frustrante”, diz Adam Wise, diretor-gerente da John
Hancock Financial Services, firma de serviços financeiros que ajuda a
administrar uma carteira de cerca de US$ 7 bilhões em investimentos ligados a
títulos e ações do setor de energia. “Muitas dessas empresas continuam operando
como operavam antes da recuperação. Isso definitivamente não ajuda.”
O petróleo atingiu um recorde de baixa este ano e,
embora tenha se recuperado um pouco, a faixa de US$ 50 o barril é só a metade
do nível de três anos atrás. O excesso de oferta continua golpeando o mercado e
forçando analistas a descartar previsões anteriores de que o preço chegaria a
US$ 60 ou US$ 70 hoje.
Mesmo contando com reduções recentes, produtores e
importadores de petróleo acrescentaram 18 milhões de barris aos estoques dos
EUA neste ano, elevando o total ao volume quase recorde de 469 milhões de
barris, segundo os dados mais recentes da Agência de Informação sobre Energia
dos EUA.
O prolongado declínio dos preços levou muitas empresas
à recuperação judicial, mas também forçou cortes substanciais de custos que
ajudaram os produtores a manter poços e minas rentáveis.
Desde 2012, a Peabody Energy demitiu 1.650 funcionários
e cortou seus gastos anuais de US$ 997 milhões para US$ 111 milhões. Como
resultado, três grandes minas na bacia do rio Powder registraram uma margem de
lucro de US$ 3,46 por tonelada em 2015, ante US$ 3,45 em 2011. As operações da
Peabody na região produzem mais de 100 milhões de toneladas por ano, o
suficiente para abastecer 16 milhões de residências com energia, diz a
mineradora.
No setor de petróleo, a Midstates Petroleum Co. entrou
em recuperação judicial e começou a perfurar um novo poço no dia seguinte. A
empresa interrompeu os serviços de algumas sondas de perfuração em antecipação
ao processo judicial, mas continuou operando após iniciá-lo. Muitas empresas
continuaram a honrar alguns contratos de serviços de sondas e poços,
programando a perfuração de poços com meses de antecedência, e ainda precisam
produzir receitas para pagar credores.
Outras empresas que passaram pelo processo de
recuperação agora estão voltando rapidamente à estabilidade e até ao
crescimento. Hálcon Resources Corp. , SandRidge Energy, Inc., Goodrich
Petroleum Corp. e Penn Virginia Corp. recentemente saíram dos tribunais de
concordata, após passar de dois a seis meses em reestruturação. Juntas, elas se
livraram, aproximadamente, de US$ 7 bilhões em dívidas.
A Goodrich planeja elevar a produção “drasticamente”,
diz seu diretor-presidente, Robert Turnham. A recuperação recente nos preços do
gás no país torna a perfuração mais rentável, e a empresa está empregando novas
técnicas para economizar dinheiro. Uma mudança no processo de fraturamento
hidráulico, ou “fracking”, por exemplo, ajudou a reduzir o tempo de extração em
mais da metade, diz Turnham.
Os bancos credores do setor, sem disposição de tomar
posse dos ativos utilizados pelas empresas de petróleo como garantia para seus
empréstimos, também têm colaborado com as empresas em dificuldades. Durante a
recuperação judicial, Halcón, SandRidge, Goodrich e Penn Virginia conseguiram
captar um total de US$ 1,3 bilhão em dívida, a maior parte em renovações de
linhas de crédito por seus bancos.
The Wall Strett Journal
Postado há 25th October 2016 por Brasil Soberano e
Livre
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